O revólver do «Tarefas» disparou três vezes seguidas e
outras tantas garrafas ficaram sem gargalo, começando o líquido a gotejar pelas
prateleiras abaixo.
- Vá, O’ Hara, sobe e traz para baixo essas garrafas. Não
dirás que não te ajudamos. Assim não tens necessidade de lhes tirares as
rolhas.
Os outros três bandidos riram-se da graça e até alguns entre
o público esboçaram sorrisos ou se riram a meia voz, sem demasiado entusiasmo.
O’ Hara voltou a subir pela escada de mão até às garrafas,
que se encontravam na prateleira superior.
Nesse instante, Noel Logan entrou no estabelecimento.
Ninguém deu pela sua entrada, atentos como estavam à cena em que o dono da
taberna servia de protagonista e aos comentários dos quatro bandidos.
Noel ouvira os três tiros e não hesitou nem um segundo em ir
ver o que se passava. Empurrou a porta de vaivém e encostou-se à parede, a um
lado. Num instante abarcou a situação e verificou que os tiros não tinham
servido para matar ninguém nem tinham sido originados por qualquer duelo entre
vaqueiros, mas que faziam parte de um divertimento dos homens tão seus
conhecidos.
Olhou em volta e verificou que não fora notado por nenhum
dos presentes. Deslocou-se, então, lentamente, pegado à parede e, sem que
ninguém desse por ele, foi até muito próximo do balcão onde chegou precisamente
quando O’ Hara descia, trémulo, com as garrafas a derramar licor.
Os risos atroavam a casa e os murros dos quatro meliantes
sobre o balcão de madeira repetiam-se como um malho de ferreiro.
Noel encostou os cotovelos ao extremo do balcão, indiferente
na aparência, mas atento a tudo o que ocorria.
O’Hara depositou as garrafas sem gargalo no balcão e limpou
o copioso suor que lhe cobria a testa. Depois, colocou umas duas dezenas de
copos em fila e foi-os enchendo com «whisky».
- Vocês! – ordenou Mock, com a atitude de um general no
campo de batalha, para os que estavam espalhados pela sala. – Vão passando em
fila e levem cada um o seu copo.
Os homens puseram-se em movimento, primeiro com timidez,
depois mais resolutamente. Alguns, dissimulando a repugnância que sentiam;
outros, contentes por beberem um trago de boa marca sem depois terem
necessidade de pagar…
Foram passando em fila por diante do balcão e regressaram
depois aos seus lugares, de copo na mão.
Quando o último se afastou, Mock voltou a tomar a palavra:
- Brindemos então agora porque o xerife tenha um bonito
enterro e por que a sua linda cara não fique demasiado desfigurada ao receber
as seis balas que eu lhe vou enfiar entre os olhos e a boca.
Ergueu a mão direita com o copo, e os amigos imitaram-no.
Muitos dos presentes fizeram o mesmo, mas três ou quatro suspenderam o gesto e
ficaram com os copos meio erguidos, olhando com receio e certa surpresa em
determinada direção.
Os que estavam próximos, admirados com a atitude daqueles,
olharam e ficaram paralisados de assombro. Pouco a pouco, antes que o brinde se
levasse a efeito, todos os que estavam no salão olhavam para o canto onde Noel
Logan se encontrava. Os últimos a darem pela presença de Noel foram
precisamente os quatro bandidos. Mas acabaram por voltar a cabeça e repararam
em Noel. Este não se movera. Encostado com certa negligência sobre o balcão em
que apoiava um dos cotovelos, olhava com um sorriso estranho para o homem que
acabava de pronunciar o brinde.
Mock mudou de cor. De encarnado, como estava a princípio,
devido à excitação, passou a pálido; depois, verde, e novamente encarnado.
- Continua, Mock – disse Noel com toda a tranquilidade. – A
mim não me dás um copo de «whisky»?
E agora? As coisas parecem estar complicadas? Irá Mock
oferecer uma bebida ao xerife ou tentará assassina-lo com a ajuda dos outros
bandidos? Já sabe, a resposta está em “Mãos ao ar, xerife!”
(Coleção Pólvora, nº 31)
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