domingo, 13 de outubro de 2013

PAS117. Uma luz nas trevas

Donald, arrogantemente, passeava o olhar altaneiro de um lado para o outro, quase desejando que alguém se excedesse, dando motivo a um prólogo da tragédia. Mas ninguém se moveu, ainda que as expressões se tornassem mais duras e hostis.
Um rumor surdo, vindo do alto da praça, começou a ecoar: «Vem aí… Já a trazem…»
Todas as cabeças foram girando naquela direção.
Rodeada pelo xerife e não poucos pistoleiros, apareceu Vivian sobre um pequeno carro desmantelado, puxado por um anémico cavalo. Trazia as mãos atadas às costas. O cabelo caía-lhe como uma cascata de negruras sobre os ombros. Uma densa palidez espalhava-se-lhe pelo rosto. Os seus olhos, desmesuradamente abertos, exprimiam uma amargura sem limites. Era mais uma estampa de assombro que de terror. Tudo aquilo lhe parecia monstruoso, inconcebível. Iam matá-la por ter defendido a sua honra!; matá-la em frente do povo, para maior ignomínia, sem que uma só voz se elevasse em seu favor, sem que uma simples mão amiga se lhe estendesse!
Onde estavam os que disseram um dia amá-la? Por que ninguém ao menos se aproximava para lhe levantar o espírito?
Os pensamentos galopavam numa vertigem desenfreada pelo seu cérebro febril.
Não, não era possível que a tivessem abandonado. Seguramente, se não vinham em sua ajuda era porque a força de Donald Grant o impedira. Talvez até já nem pertencessem ao número dos vivos aqueles que a poderiam amparar.
De entre todas as ideias persistia em realce a esperança posta em Turban. Não o tinha voltado a ver, mas custava-lhe admitir que o tivessem conseguido eliminar.
Naqueles dramáticos momentos percebia – como Bradley noutros semelhantes – uma pequena luz a quere furar as trevas do seu cérebro e do seu coração.
O carro deteve-se ante o patíbulo. Grimme e outro tipo da mesma ferocidade, sem consideração pela infeliz, empurraram-na para tablado.
Dir-se-ia que, na praça, ninguém respirava.
O juiz Durking adiantou-se, com as pernas a tremer, e deu uma ordem que mal lhe saiu dos lábios. Grimme, nas funções de «executor da justiça», examinou o nó corredio. Um sorriso gelado entreabriu-lhe a boca. De repente, o sorriso converteu-se numa última careta dolorosa: do meio da multidão acabava de surgir uma bala que lhe furou os miolos. Girou sobre os pés e caiu, produzindo um ruído surdo.
Vivian, que tinha fechado os olhos, abriu-os não podendo dar crédito ao que via. A sua luzinha interior, quase a apagar-se, adquiriu nova chama.
(Coleção Búgfalo, nº 36) 

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