terça-feira, 30 de dezembro de 2014

BUF078. Encontro marcado com a morte



(Coleção Búfalo, nº 78)
 
 
 
É o encontro  a que ninguém consegue escapar. Só que, no velho Oeste, por vezes, ocorria demasiado cedo. Neste caso, há a considerar a heroicidade de um homem que se sacrificou pelos companheiros.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

BUF077. Vingança sem quartel



(Coleção Búfalo, nº 77)
 
 
Butte era uma povoação dominada pelo medo a um rancheiro que se soubera rodear de pistoleiros para impor a sua lei e executar os roubos com que fazia crescer o seu património.  O próprio representante da lei, o velho xerife Leo, sabia que era melhor ignorar a atividade do bandido do que fazer-lhe frente e morrer calçado.
A Butte chegou precisamente o jovem Creig. Acompanhavam-no quinze anos de desejos de vingança e a esperança de chegar ao local onde esta se poderia consumar. Os pais de Creig tinham sido assassinados por Goodman e a sua quadrilha que, para além disso, tinham raptado a sua irmãzita.
O livro de Tarif é assim a narrativa da vingança de Creig e da regeneração do povo cobarde de Butte que pegou em armas contra os bandidos quando se sentiu acompanhado por ele. E, tal como diz o título, foi uma vingança sem quartel. Um a um os bandidos caíram às mãos de Creig.
A capa, excelente, quase faz lembrar um filme com Gary Cooper e alguma bela estrela da década de cinquenta.

domingo, 28 de dezembro de 2014

PAS417. Cobarde!

A escuridão, era completa. Phil cavalgou toda a noite sem parar. Chegou à cidade ao amanhecer. Foi direito à casa grande de Ben. Desatou o corpo do irmão, tirou-o de cima do cavalo, pô-lo aos ombros e subiu as escadas. A porta da casa estava fechada, mas Phil abriu-a, com um pontapé e entrou no vestíbulo. Com muito cuidado pôs o corpo no chão e esperou.
Uma porta do fundo abriu-se e apareceu Ben. Deteve-se ante o estranho, espetáculo. Viu o corpo de Frankie e olhou para Phil que continuava em pé, observando-o tranquilamente. Desde o primeiro instante, Ben compreendeu que a sua vida estava em perigo.
— Tentou trazer-me aqui e matei-o — explicou. Phil sem afastar os olhos do juiz.
— Porquê? É terrível o que fizeste — gritou Ben em tom que pretendia ser amável
— Sim, é terrível! E você vai fazer-lhe companhia — disse PhiI, tirando o revólver do coldre.
— Não! Espera um momento — implorou Ben, suplicante. — A culpa não é minha! Eu...
— Eu não sou Frankie! Não vim aqui para falar.
— Tem calma, rapaz. Não deves pôr-te assim. Além disso, lamentarias bem depressa o teu acto pois prender-te-iam logo! A morte de um juiz não pode ficar impune.
— A única coisa que me podem fazer é enforcar-me. Nada mais.
— Pensa no teu irmão! Ele nunca faria isso...
— Já falámos de mais — interrompeu-o Phil, sem fazer caso dias palavras desesperadas do juiz, que procurava ganhar tempo a todo o custo. — Eu não sou tão inteligente nem tão valente como Frankie, mas nada me impede de levar até ao fim o meu intento.
 -- E porque o mataste? Porquê? — perguntou Ben, tentando distrair o rapaz. 
— Por sua causa. Não podia permitir que mais ninguém, além de mim, fosse iludido por si. Não, não podia consenti-lo.
--- Mas eu... — tentou desculpar-se o juiz.
— Cala-te já, maldito, canalha!
Ben fez um último esforço,
— Está bem, mata-me. Um estúpido como tu não sabe o que faz. Posso dar-te tudo o quiseres, podes viver mais cinquenta anos e ter junto a ti Janette. Mas não; tu és teimoso. Vais perder tudo para fazer que desejas, tu não pensas. Vá, dispara e vê se ficas satisfeito.
Phil olhou-o, furioso.
— Sim, é melhor. —  E, dizendo isto, apertou o gatilho.
Ben foi de encontro à parede e caiu. Levantou as mãos; os seus olhos estavam aterrorizados.
— Espera! —  gritou. —  Eu posso explicar-te...
Phil descarregou todo o tambor da arma no corpo de Ben. O vestíbulo encheu-se ide fume e as detonações ecoaram por toda a casa.
O rapaz olhou em volta, esperando que alguém aparecesse mas a casa continuou tranquila e em silêncio. Sentiu um estranho desassossego, como se os acontecimentos das últimas horas  tivessem sido um sonho.
Carregou, com custo, às costas, o corpo de Frankie, saiu e atou-o ao cavalo. Desatou os dois animais, e, depois de tirá-los da cerca, montou e dirigiu-se para a loja de Pete Lunge. Enquanto o rapaz ia pela rua principal, alguns homens que o viram, largaram os seus trabalhos para o observar. Quando chegou à loja de Pete, este estava à porta', esperando-o. Phil desmontou e, entregando-lhe as rédeas do cavalo, de Frankie, perguntou:
— Sabe onde foi enterrado o índio?
— Sim, sei — respondeu Pete, assombrado.
— Faça-me um favor. Enterre Frankie a seu lado.
— Pois sim, rapaz.
Phil ia a afastar-se, quando Pote deteve:
— Que sucedeu? — inquiriu, curioso.
— Meu irmão foi ajustar contas com o juiz Fisher! Creio que já não voltará a roubar mais ninguém.
— Que dizes? — perguntou Pete, muito excitado,. -- O teu irmão Frankie matou o juiz?
— Sim — afirmou Phil, imperturbável.
— E quem matou o teu irmão, rapaz?
— Foi o juiz Fisher. Frankie pensou que estava morto e, ao sair, o juiz ainda teve forças para disparar sobre ele e feri-lo de morte. Também podes enterrar Fisher...
Dito isto, Phil esporeou o cavalo com energia e seguiu rua abaixo, perdendo-se ao longe. Nos seus ouvidos, ainda ressoavam as últimas palavras do irmão moribundo:
— «Phil! És um cobarde!...»

sábado, 27 de dezembro de 2014

PAS416. O último passeio a cavalo

Era quase noite quando Frankie abandonou a cidade à procura de Phil. Cavalgou toda a noite através da planície extensa, em direção ao norte, pois calculou que seu irmão voltaria para casa.
Encontrou-o no dia seguinte. Viu-o de longe, sentado à sombra de uma árvore, com a cabeça entre as mãos, absorto.
Apeou-se do cavalo e, levando-o pela rédea, foi-se aproximando do rapaz.
— Foste um cobarde, Phil — disse Frankie já perto dele. Phil levantou a cabeça e olhou-o, como que idiotizado. — Como pudeste acusar Adam para te salvares a ti?
— Custou-me muito, mas fi-lo.
— Porque és um cobarde! Também o índio, como tu, tinha gosto pela vida. Cumpriu-se uma injustiça, mas tu não quiseste ser a vítima dela e descarregaste toda a tua responsabilidade sobre Adam.
— Já tudo está acabado! — volveu o rapaz.
— Toda a tua vida sentirás o remorso da tua cobardia.
— Deixa-me, Frankie! Vim para aqui para estar só.
— Deves reparar a tua cobardia, voltando, à cidade e pedindo ao juiz Justiça pela sua precipitação em condenar um inocente.
— Não, não irei — negou-se Phil, com decisão.
— A tanto chega o medo, tanta é a tua cobardia, que não me queres acompanhar à cidade?
— Já te disse que não quero sair daqui. E vai-te de uma vez. Estás a aborrecer-me com a tua impertinência — respondeu ameaçador.
— Quero que venhas, e se não vens a bem, levar-te-ei a mal.
— Experimenta! — exclamou Phil, levantando-se e empunhando o revólver. 
— Vá, pelos vistos gostas do brinquedo que te comprei! Não me assustas. Guarda a arma, porque vou levar-te, quer queiras quer não.
— Frankie, rogo-te, suplico-te, ordeno-te: deixa-me em paz.
— Não, tens de vir comigo. E, a passo e passo, ia-se aproximando, olhando-o fixamente na cara.
— Não dês nem mais um passo, Frankie! Não avances mais! — ameaçou Phil desesperadamente.
Frankie viu-o indeciso e tentou atirar-se sobre ele.
Quando deu o salto, ouviu-se uma detonação.
Frankie estremeceu caiu sobre o_ Phil.
— Irmão!... — exclamou corre voz sumida. --- Que fizeste...?
Phil, assustado, separou-se, pouco a pouco do corpo do irmão, que caiu para o solo, coberto de sangue.
Olhou-o, aterrado.
— Frankie! — gritou.
— Cobarde! Fos…te... um cobar… de… a… té para me ma… tar… —  sussurrou num fio de voz.
— Avisei-te que não te aproximasses, Frankie!
Phil, entre choroso e assustado, correu a socorrê-lo.
— Dei... xa-me. Não... me... to... ques. — E um novo vómito de sangue subiu-lhe à boca.
— Frankie! Frankie! — gritou Phil, aterrado,. — Frankie! Não queria matar-te! Só queria assustar-te! Vou-te levar para a cidade! Sou teu irmão e não posso deixar que morras assim!
— Não... és meu... ir... mão. Um... cob... bar... de... é... o... que... tu... és!
E outro vómito calou-o. O moribunda _lançou um gemido tão terrível que ressoou na vale.
— Frankie! Chorou Phil, que caiu aniquilado, arrepelando os cabelos, de desespero.
Depois, levantou--se lentamente, dirigiu-se para os cavalos e levou-os piara a local onde estava o irmão. Atou o cavalo ele Frankie a uma árvore próxima do lugar onde este repousava. Dobrou cuidadosamente uma manta e pô-la sobre o dorso do animal. Em seguida, pôs o irmão sobre a sela.
— É a última vez que o levas. Tem cuidado! — A solidão obrigou Phil a falar com o animal.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

PAS415. Execução

Frankie cavalgava a toda a brida a caminho da cidade. Tinha decidido ir a Saryvillla e correr a mesma sorte do índio e do seu irmão. Tinha de comunicar também ao sacerdote Griver a notícia da mudança da reserva índia antes que fosse demasiado tarde,
Quando chegou aos arrabaldes da cidade, pressentiu que algo de anormal se passava. Não viu ninguém. Esporeou o cavalo, obrigando-o a correr ainda mais. Um pressentimento estranho apoderava-se dele. Quando se aproximava dia praça, ouviu o rumor de grande multidão. Um medo indescritível percorreu todo o seu corpo. Esporeou mais uma vez o cavalo. Dobrou a esquina da rua principal e viu o que tanto temia. A população inteira dia cidade estava reunida à porta do ferrador. No centro, de pé, mais alto que os presentes, viu Adam com as mãos atadas. Vários homens tinham acabado de colocar a corda na trave do estábulo, e ajustavam-na paira que não escorregasse.
Frankie deteve a sua montada e gritou:
— Adam!
O índio levantou as mãos para o saudar. Frankie saltou do cavalo como um louco. Na sua cega fúria abriu passagem por entre a multidão, descarregando com violência os seus punhos. Chegou junto de Adam. Vários homens contiveram-no. Soluçando e gritando lutou com toda a força para se soltar. Alguns afastaram-se, assustados com energia ide Frankie, que dava pontapés, esquivava-se e mordia, lutando como um animal selvagem, até que por fim o dominaram e retiveram a uns dez pés do índio, que tinha assistido à luta com selvagem prazer...

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

BUF076. Cobarde!



(Coleção Búfalo, nº 76)
 
 
Frankie Lewis decidiu sair de sua casa no Nebraska e partir à aventura para Oeste, pensando enriquecer na Califórnia. Na despedia, o pai entregou-lhe algum dinheiro para as primeiras dificuldades. Frankie estava longe de pensar que o irmão, Phil, lhe seguiria as pisadas com a diferença de roubar ao pai uma quantia igual à que este lhe tinha dado.
Na sua caminhada para Oeste, tornaram-se amigos de um índio, Adam, que se dedicava a lutas organizadas e suportadas em apostas, mas, num momento negro num bar, uma monumental cena de pancadaria terminou com a morte dum ajudante do xerife. Frankie conseguiu escapar e Adam e Phil foram presos e preparou-se o seu julgamento por assassínio, embora muita gente sustentasse que o desacato no bar tivesse levado morte daquele por acidente.
Acontece que o juiz estava interessado em expulsar os índios de uma reserva às portas da cidade para lhes ficar com as terras, e a prisão do índio deu-lhe um pretexto para consumar a sua expulsão. O julgamento teve assim como motivação passar uma má imagem sobre os índios e a impossibilidade de convivência com os mesmos. O juiz conseguiu ainda convencer Phil a testemunhar contra o seu amigo índio a fim de sair em liberdade. Tudo se conjugou para enforcar Adam.
Frankie ficou revoltado com a atitude de Phil, mas este acabou por o abater e escapar sentindo no seu cérebro uma palavra a persegui-lo: «Cobarde»!
Esta novela, muito leve em determinados momentos, tem assim uma parte final muito carregada que a torna extremamente interessante. Um bom momento da coleção Búfalo com um autor que se reencontraria apenas com o número 97 da Bisonte (A burla da montanha).


quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

BUF075. O vale das aparições



(Coleção Búfalo, nº 75)
 
Uma mulher com poderes estranhos assombrava aquele vale, do qual o próprio Sol parecia desviar-se, e todos os que lá viviam. Até que um dia lá chegou alguém disposto a assumir o que lhe coubera por herança.
J. Salgado é um autor com um livro publicado em Portugal. Este... o qual não deixa de ser estranho já que apresenta tradutor e a capa é assinada por Carlos Alberto.
São as dificuldades já apresentadas pela APR ao falarmos na Coleção Arizona. Cortado o vínculo com a Brugera, esta editora procura os seus livros na Toray, na editora Mateu e na prata local.
 
 

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

BUF074. O falso rancheiro



(Coleção Búfalo, nº 74)
 
Dois agentes federais procuram um indivíduo responsável pela morte de um rancheiro com o objectivo de o roubar. Na mesma altura a filha do rancheiro desapareceu.
A sua pesquisa leva-os até uma povoação, não muito afastada de Abilene onde começam a surgir fenómenos como assassínios e roubo de gado durante o transporte. Uma jovem rancheira vê-se na contingência de perder os seus bens devido a uma hipoteca que pesa sobre os mesmos e à incapacidade de realizar a venda do gado.
Mas a ação dos federais vai transformar todo este ambiente e um falso rancheiro acaba por ser responsabilizado por crimes anteriores e pelos que assolam a povoação.
Este livo de J.A.Tarif é de agradável leitura, um fresco com bons ingredientes das novelas do Oeste.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

BUF073. Os vigilantes




(Coleção Búfalo, nº 73)
 
Parecia uma povoação pacífica e organizada, mas o xerife, o ricalhaço e o irmão da jovem que lhe vendera o rancho faziam parte de uma quadrilha que assaltava os mineiros e roubava o gado. Alguns moradores, secretamente, formaram um grupo de resistência a esta canalha que designaram por "Vigilantes". É neste contexto que chega à cidade a personagem central desta novela, homem valente e hábil com as armas. A oposição de uma mulher e de um facínora pouco significaram contra a sua vontade e finalmente acabou por se estabelecer no rancho de que tanto gostara.
Pat Donovan, com apenas duas obras registadas em Portugal, ambas na Colecção Búfalo, evidencia qualidades excelentes para a elaboração deste tipo de novelas.
A capa, não assinada, mostra um aspecto de ataque a um rancho com um homem a ser atingido por disparos.

domingo, 21 de dezembro de 2014

PAS414. Adeus, amigos! Daqui a um mês em Escanaba

— Que se passa? — perguntou secamente.
— Buck, estás metido num sarilho — disse Romaine, sem mais palavras. — Levantaram um auto contra ti por teres matado Colwer.
— Isso nao pode ser! — exclamou Buck, desconcertado, — Havia muitos homens no bar. Todos viram o que aconteceu. Todos sabem que o matei em defesa legítima.
— É verdade; mas o velho Curty comprou uns  poucos e juraram que te viram puxar a pistola primeiro e procurar a disputa ,deliberadamente, com a intenção clara de assassinar Colwer. Dizem qua este só disparou para se defender.
— Isso é mentira! — protestou Buck. — Não podem dizer uma coisa dessas! 
— O mesmo disse eu a Romaine quando me veio buscar — interveio, irritado, Mc Leed. — Afirma ele que até te podem prender.
— É verdade — concordou Romaine. — Curty é quem faz a Lei na cidade. Suponho que pessoalmente pouco lhe deve importar a morte de Colwer. Mas era um dos seas homens e, alem disso, importante. Há anos que o velho procura consolidar o mito de que a Companhia é intangível, e que ninguém pode pedir-lhe contas por nada que faça. Removerá o céu e a terra para demonstrar que nem tu nem ninguém pode matar o seu superintendente e ficar tranquilo...
— Sente-se e vamos falar no assunto — disse Buck, sem tentar dissimular a sua ansiedade.
— Não há nada que falar, Buck, Unicamente o quo tens a fazer é fugir. Quando saí da cidade, Lorton andava a procurar um ou dois dos seus homens. Podes ter a certeza de que a esta hora devem estarquase na margem do rio. Vim tão depressa quanto pude e só. parei uns segundos para trazer comigo Mc Lead.
— Não fugirei, Gib — declarou, reso1uto, Buck.
— Não sejas louco. Prender-te-ão e submeter-te-ão a julgamento. Eu estou a teu lado, Buck. Mas, sei muito bem o que a Lei pode fazer quando se torce. Temos muito mais possibilidades para combater se estiveres livre. Dá-me_ algumas semanas. Pode ser que o caso se apresente de tal forma que o possa rebater, apesar de Curty. Não tentes ocultar-te na margem do rio. Dariam logo contigo. Atravessa a fronteira e vai para Wisconsin. Conheces Escanaba?
-- Nunca lá estive. Sei que é para o Norte, sessenta ou setenta milhas para além da fronteira.
-- Não te custará encontrar essa cidade. Procura lá estar dentro to de um mês a partir de hoje. Vai ao Correio. Se nessa altura já puderes voltar sem perigo, encontrarás la uma carta a dizer-to.

sábado, 20 de dezembro de 2014

PAS413. Tecido comprometedor

Foi pela rua abaixo e penetrou em casa do alfaiate Darley. Nunca tinha comprado nada ali. Sempre solucionara os seus problemas de vestir no armazém geral de Jamestown. Darley era o único alfaiate da cidade e tinha fama.
 — Em que posso servi-lo? — perguntou, ao vê-lo entrar.
— Queria que me fizesse umas calças, se encontrar alguma coisa que me agrade — replicou o rancheiro.
— De acordo. Tenho umas fazendas caras, mas muito bonitas... Vou mostrar-lhas.
Buck olhou para cima do balcão para as peças que estavam expostas, à procura de alguma que fosse igual ao pedaço de fazenda que tinha no bolso (e que tinha retirado da boca do cão «Ting» quando este fora morto. Por fim, deu com ela e afastou-a num gesto de repugnância.
— É demasiado gritante. Isso não é para mim, mas sim para um menino da moda — disse. — Não será fácil desfazer-se dela.
— Pois não! Race Colwer esteve aqui há três semanas. Fez um fato completo que lhe agradou muito.
 Com que então, tinha sido Colwer!
Buck saiu sem ter encontrado nada que lhe agradasse. Dirigiu-se ao café situado do outro lado da rua, e ali esteve durante mais ode uma hora, tentando par em ordem as sues ideias. Nao sabia que fazer, se enfrentar-se com o assassino ou... Mas, de repente, teve um. pensamento luminoso. Meter o pedaço de fazenda num sobrescrito e enviá-lo ao seu dono polo cerrei-o. Colwer compreenderia logo o seu significado. Aquila dar-lhe-ia a entender claramente quo o tinha descoberto.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

PAS412. Tragédia depois ds debulha

Uma grande multidão acorreu à festa da debulha. Era divertido ouvir o martelar e o ruído das serras. A mulher de Hanks e as suas duas filhas mais velhas iam e vinham da cozinha, trazendo diversos manjares. Abundavam os frangos assados, os biscoitos e o vinho. Quando Hanks ordenou que parasse o trabalho, era meio-dia e a mesa estava cheia de iguarias e de guloseimas.
Durante uma hora esqueceram-se das complicações e pesadelos daqueles dias. Como de costume em tais reuniões, Glen bebeu demasiado, coisa rara num homem do seu temperamento. Nunca se excedia quando estava alegre. Transformava-se num pacífico palhaço que fazia rir toda a gente.
— Não o deixem subir para o telhado — disse Buck, quando voltaram ao trabalho. — Que fique em terra firme e que se limite a colaborar no que puder.
Terminou-se o telhado ao meio da tarde. O resto foi rápido. Por volta das cinco, o celeiro estava pronto. Então, novamente foram convidados a comer e a beber antes de irem para suas casas. O bom humor e a falta de preocupações naquele dia refletiam-se nos seus rostos quando partiram, montados nos seus cavalos.
— Foi um dia formidável, o melhor de todos durante muito tempo — afirmou Irving. — Nos velhos tempos, não existia esta cordialidade que nos une intimamente uns com os outros. Espero que os velhos tempos nunca voltem'.
— Isso só nós podemos decidir — replicou Buck. – -Para isso lutamos, não é verdade?
Seguiam a linha do rio. Quando se aproximavam de casa, sentiram a falta dos ladridos do cão. Era raro que não aparecesse a receber quem quer que se aproximasse.
— Está a ficar velho — disse Buck, enquanto se aproximava da porta.
— Falarei ao teu pai. — indicou Mc Leed. — É já tarde.
— Deve ter adormecido, se não já estaria aqui. Vou chamá-lo.
Buck entrou em sua casa. Quando transpôs o limiar, ficou paralisado. Seu pai estava estendido no chão, no meio de um charco de sangue, e a seu lado, morto também, o cão.
O grito involuntário de Buck atraiu os seus amigos. Saltaram apressados da sela e entraram em casa.
— Meu Deus! — exclamaram os dois ao mesmo tempo: Mc Leed ajoelhou-se e tocou na cara de Roy. A seguir, fechou-lhe os olhos.
— Assassinaram-nos a ambos — murmurou, ao examinar a espingarda do velho, caída no mesmo, sítio onde se 'abe tinha escap:a4o das mãos. — Não disparou — disse.
Ambos se voltaram para Buck. Viram que fazia um, esforço para Se refazer. Aquela vontade de ferro que todos lhe conheciam susteve-se naquele momento dramático. Apenas uma palavra se ouviu dos seus lábios sem cor, com toda a clareza:
— Colwer!...
— Colwer? — repetiram, como se fossem um só, Irving e Mc Leed.
— Quem., senão ele? Foi ele... Ou alguém por ordem sua. Toda a gente sabia que quase todos nós estaríamos hoje em casa de Hanks durante o dia. Não esperou muito para começar a sua vingança.
Ficaram em silêncio... Num silêncio insuportável.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

PAS411. Proposta inaceitável

«Ting» começou a ladrar.
— Vem aí alguém — disse o velho Shonts.
Não tinha nenhum motivo para se inquietar; no entanto, não estava tranquilo. A seu filho acontecia o mesmo. Levantou-se da mesa e assomou-se à porta. Viu aproximar-se um homem, montado num cavalo, a galope.
— É Colwer — murmurou. — E traz consigo quatro dos seus homens.
Na esplanada que se abria entre a casa e a alameda havia um jardim. Era muito grande. Os cavaleiros avançaram de frente com a intenção manifesta de pisarem as plantas e os canteiros de verdura que o pai de Buck tratava com tanto gosto. O velho saiu para fora de casa, com o rosto, lívido de fúria, e deitou a mão à espingarda para jogar pelo, seguro:
— É melhor que saiam já do jardim — avisou-os.
Tinha fama de pôr a bala onde pusesse o olho e Colwer sabia-o. Dominou o seu cavalo e afastou-o do caminho proibido. Os seus homens seguiram-lhe o exemplo. Chegaram a casa e detiveram-se com o mesmo ar arrogante, como se fossem os donos de tudo aquilo.
Colwer desmontou. As suas maneiras eram ofensivas e vexatórias.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

PAS410. Encontro pouco recomendável

Pela meia tarde, Buck ia a caminho de regresso. Ia tão absorto nos seus pensamentos que afrouxou as rédeas e deixou que as mulas seguissem à sua vontade. Conheciam o trajeto tão bem como ele.
O rio tinha muitas zonas de areia movediça. Para evitar acidentes, os lugares transitáveis estavam marcados com estacas de ambos os lados. A carruagem meteu-se por entre estas. De repente, as mulas caíram e o carro afundou-se até um palmo por cima das rodas. Buck voltou à realidade, consciente de que se encontrava em terra pantanosa. Puxou freneticamente as rédeas para sair do perigo. Era inútil. Os animais não encontravam terra firme debaixo das ferraduras. Tinha ouvido tantas histórias de desaparecidos naqueles sítios... Sabia que se não conseguia uma ajuda rápida, perderia o carro e as mulas. Ele não estava em perigo. Podia sair a nado. Não se preocupou a perguntar quem era o culpado daquilo. Só lhe interessava salvar-se e, se possível fosse, os animais e o carro.

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

BUF072. Entrega-te, Buck


(Coleção Búfalo, nº 72)
 
Buck e um conjunto de vaqueiros e pequenos rancheiros reuniam-se frequentes vezes para discutir os problemas que os afetavam e onde se destacava a falta de financiamento para a atividade e as pressões recebidas provenientes do banqueiro Curty para a venda das suas terras.
Perante a nega destes homens, o banqueiro não desistia e um dia enviou o seu homem de confiança, Cowler, acompanhado de vários pistoleiros ao rancho de Buck com uma proposta de compra que o rapaz recusou.
Algum tempo depois, no regresso a casa este encontrou o cão e o seu pai mortos e uma pista quanto ao assassino que concluiu ser aquele lacaio de Curty. Preparou-lhe uma armadilha e acabou por o abater num duelo honesto, mas o banqueiro conseguiu comprar testemunhas que o incriminaram.
Começou então a longa fuga de Buck que veio a descobrir uma aptidão invulgar, desenvolvendo-a num local pouco agradável, a prisão, e, mais tarde, reencontrando a sua noiva depois de um percurso atribulado.
 
 

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

PAS409. Um homem marcado diz adeus

Eram três horas. E quem não dormia a sesta ou a borracheira estava abrigado no fresco interior das casas. Um vento quente como o fogo varria a pulverulenta rua principal, erguendo redemoinhos de pó. Tinham sido retirados os cadáveres que esperavam a hora do enterro na casa do antigo médico. Os enforcados dependurados continuavam. Um ou outro cão vadio caminhava à procura de uma sombra melhor. O armazém encontrava-se com todas as portas e janelas abertas e com muitos géneros espalhados pelo passeio e pela rua. A maior parte tinha sido sequestrada em proveito próprio, no uso do direito do vencedor.
Gordon, o dono da cavalariça, dormitava sentado numa velha cadeira debaixo do alpendre. Estava satisfeito. Os acontecimentos tinham acabado em bem para a cidade e para os seus habitantes honrados e pacíficos, graças à atuação desse homem extraordinário chamado Lee Yancev. Podia ser um proscrito, um foragido… Mas o dono da cavalariça sabia que em Westcliffe nunca lhe faltariam amigos, fizesse daí em diante o que fizesse. O som de uns passos despertou-o. Ficou a olhar a alta figura de aspeto cansado que se acercava e, quando a teve à sua frente, comentou:
— Não faz demasiado calor para andar a passear, senhor Yancey?
Lee concordou. Levava o braço esquerdo ao peito e roupas novas e limpas. O chapéu era também novo. Aquilo, algumas camisas e mudas de roupa constituíam a sua parte na pilhagem. — Faz bastante calor, sim. Gordon reparou então que lhe faltava alguma coisa.
— Que fez da sua estrela, xerife?
— Aqui a tem. Pode devolvê-la ao, presidente da Câmara.
Gordon levantou-se, pegou na insígnia e olhou fixamente para o seu interlocutor.
— Isso significa que nos vai deixar?
— Exatamente. Aqui já fiz o meu trabalho e -tenho de continuar o meu caminho. Quer ajudar-me a selar o cavalo? Gostava de estar longe quando dessem pela minha ausência.
Gordon nada disse e afastou-se para junto do baio. Depois de selado o animal, Lee montou agilmente e estendeu a mão sã ao outro homem.
— Bem, Gordon. Gostei de o ter conhecido.
— Também, eu, Yancey. E se algum dia necessitar de um refúgio seguro, venha a Westcliffe. Deixou aqui amigos.
— Alegro-me. Adeus.
Conduziu o cavalo para a saída e tornou a olhar para o dono da cavalariça.
— Quero pedir-lhe um favor, Gordon. Se vir «miss» Maxwell diga-lhe...
— Creio que será melhor dizer-lhe o, senhor. Aí a tem.
 Lee voltou-se rapidamente, empalidecendo.
Reina Maxwell aproximava-se pelo passeio. Parou quando reparou que ele a tinha visto. E depois recomeçou a andar mais vagarosamente.
Ele tinha ficado rígido sabre a sela. A rapariga chegou a seu lado, pôs-lhe uma das mãos sobre a coxa varonil, erguendo o rosto. Estava muito pálida, tremiam-lhe os lábios e havia nos seus formosos olhos profundidades insondáveis.
Reinou o silêncio durante um longo espaço de tempo. Gordon contemplava interessado a cena. Depois, ela falou:
— Ias-te embora sem me prevenir?
— Sou um proscrito, Reina. Um homem marcado. E a sua voz varonil estava enrouquecida e nervosa.
— Continuas a ser o homem a quem tanto lhe faz morrer como viver?
— Bem sabes que não.
— Aonde vais agora?
— Não sei. A qualquer parte onde... possa acariciar um sonho. Um sonho muito formoso e impossível.
— Esperar-te-ei.
— Não faças isso. Talvez não volte.
— Voltarás. E eu esperarei. Não te esqueças, Lee Yancey. Passe o tempo que passar. E agora vai-te embora.
Ele inclinou-se, pegou-lhe na mão e levou-a aos lábios. Depois fitou-a no fundo dos olhos. E soube que ela não falara apenas por falar.
Com um profundo suspiro, disse:
— Obrigado, Reina. Acredita que voltarei.
A seguir picou de esporas saindo para a rua. E foi-se perdendo ao longe, enquanto a mulher, de pé e no meio do passeio, o via desaparecer com os olhos marejados de lágrimas.
Gordon fez meia volta e foi coxeando encher o seu velho cachimbo. Era um fatalista. E agora estava firmemente convencido de que não morreria sem ver cavalgar por aquela rua os filhos de Yancey, o proscrito, e de Reina Maxwell, a rainha do West Mountain Valley, a rapariga mais formosa de todo o Colorado do Sul...
 

domingo, 14 de dezembro de 2014

PAS408. Uma presa na cave

— Faça os planos que quiser, Radison. Todos lhe sairão errados, tal como o de utilizar Kane para assassinar meu pai, provocando a catástrofe. Lee Yancey é uma peça demasiado grande para os seus enredos. E há-de matá-lo a si.
Os olhos de Radison tornaram-se mais pequenos e a voz fez-se mais suave:
— Está muita segura a respeito desse Yancey. Não se dará o caso de existir entre os dois algo mais do que um conhecimento recente? Gostava de saber como ele aqui apareceu com as botas de Jim Kane.
As faces de Reina ficaram encarnadas, mas aguentou impávida o olhar do bandido.
— Pergunte-lhe a ele, se é homem — desafiou ela: — Quanto ao que há entre nós dois não é assunto lhe diga respeito.
— É mais um motivo para que eu o mate.
— Só se for pelas costas...
— Os lobos matam-se de qualquer maneira.
A rapariga ia a responder quando se ouviu a voz do pistoleiro que a surpreendera:
— Radison, aí vêm eles.
Os três homens trocaram um olhar sombrio. Radison fez um gesto imperioso com a cabeça e o médico e Fulton subiram depressa a escada. Ao ficarem sós, o dono do armazém encarou com Reina e disse-lhe-lenta e friamente:
— Há seis meses recusaste casar comigo, Reina Maxwell. Pois bem. Só sairás viva daqui se eu entender. Lee Yancey morrerá dentro de pouca tempo e teu pai também. Se perder a partida venho meter-te uma bala no peito antes de eu estoirar com os miolos.
Ela respondeu com um sorriso altivo e desdenhoso:
— És um ser sujo e imundo, Bert Radison. Digno apenas de ser pendurado numa corda.
Ele perdeu as estribeiras, levantou a mão e esbofeteou-a. Depois, deu meia volta sobre, si mesmo e subiu a correr a escada, porque de fora tinham chamado novamente.
Caiu a tampa sobre o alçapão e Reina ficou sozinha apenas com os seus desagradáveis pensamentos. A não se dar um milagre, a sua sorte estava traçada. E o pensamento de que nada podia fazer para o impedir fazia-lhe bulir nas veias o sangue impetuoso. Não temia tanto por ela, mas por seu pai, por seu irmão e por Lee Yancey, o proscrito que, em poucas horas, se tinha apossado do seu coração.
Primeiro subiu a escada e tateou a tampa do alçapão. Nem se moveu. Tornando a descer, pegou na lanterna e pôs-se a inspecionar a cave contendo penosamente os nervos.
Havia montes de mercadorias mas nada que pudesse servir-lhe. Mas... Quase gritou de alegria ao tropeçar com qualquer objeto duro, nada menos nada mais do que uma pesada barra de ferro. Uma boa arma nas mãos de uma mulher forte e decidida...
Voltou para o centro da cave. O seu plano já estava feito. Quando Radison abrisse a tampa do alçapão, ela apagaria a lanterna e aguardaria, escondida nas trevas. Ele não sabia que ela estava armada. Quando se aproximasse suficientemente, poria à prova a dureza do seu crânio.
Entretanto foi sentar-se nos últimos degraus, tentando averiguar o que se passava em cima. Pareceu-lhe ouvir ruído de tiros. Estariam a assaltar o armazém? Era o mais provável. Em tal caso restava uma esperança de o canalha morrer.
Sem saber o que se passava, metida ali dentro, o tempo custava tremendamente a passar. Teria dado meia vida para o saber e tomar parte na luta. Subitamente pensou ouvir passos a aproximarem-se. E seguir um ruído de vozes ininteligíveis, cortado de repente pelo rouco estrondo de muitos tiros, por cima da sua cabeça. Depois um súbito silêncio, embora se escutassem vagos ruídos ao longe. Em seguida um barulho em cima da sua cabeça, na tampa do alçapão.
Rápida como o pensamento, Reina apagou a lanterna que tinha na mão e desceu a escada com a bar na mão direita, pronta para se defender e matar quem quer que fosse.
O alçapão abriu-se. Uma figura varonil recortou-se contra um fundo um pouco mais claro. Ao mesmo tempo tornaram a ouvir-se pela porta aberta os tiros com mais nitidez.
— Está aí, Reina?
Caiu-lhe a barra das mãos. E um segundo mais tarde voava pelas escadas acima, gritando com toda a sua alma:
— Lee Yancey! Sim, estou aqui!
O homem estendeu uma das mãos para a ajudar e recebeu-a nos seus braços quando ela, impulsiva mente, se atirou para ele, beijando-o sem o menor rebuço.

sábado, 13 de dezembro de 2014

PAS407. O homem a quem não interessava morrer ou viver

Os vaqueiros dos ranchos pareciam ter-se congregado no «Gamblers» quando Lee e os ganadeiros passaram para o salão. Mas não havia algazarra. Os mortos tinham sido retirados e os homens bebiam ou falavam em voz normal. Oitenta pares de olhos hostis e curiosos seguiram Lee enquanto se encaminhava para a porta de saída. Colding estava atrás do balcão, pálido e impassível. Os dois homens altos que tinham interferido em defesa de Lee já ali não se encontravam.
Reina foi atrás de Yancey, sem fazer caso do gesto do pai. Ao chegar à porta Lee voltou-se para ela.
— Aonde vai?
— Se sair consigo, não se atrevem a disparar.
— Isso é o que lhe parece. Não quero sobrecarregai a minha consciência com a sua morte. Fique aqui.
Maxwell levantou a voz:
— Bert, Rawhide, Crane, Holly. Vão até à rua e vejam se há novidade.
Os quatro, homens obedeceram em silêncio, olhando de soslaio para Lee. Os outros escutavam atentamente o que se passava.
— Não era necessário, Maxwell — disse Lee dispondo-se para sair. — Se a minha bala me aguarda lá fora, nada há que a detenha. Reina caminhou atrás dele e alcançou-o mesmo à porta, murmurando:
— Quero falar-lhe. Continue a andar.
Ele apertou os lábios e saiu.
Sob as estrelas e o vento que soprava, a rua estava deserta. Estranhamente silenciosa também, embora profusamente iluminada. Os quatro vaqueiros de Maxwell, de revólver em punho, estavam espalhados em várias direções.
Reina saiu e encarou-o.
— Quem o mandou vir? — inquiriu em voz tensa.
Sustentando o olhar, Lee levou dez segundos a responder:
— Bort Radison. Ele, o doutor, Colding e Fulton, o dono da mina Pine Creek formam a sociedade. Mas Radison pensa ficar dono único de tudo. Não diga nada a seu pai. Caso eu não regresse, então, conte-lhe tudo.
À rapariga tremiam-lhe levemente os lábios, a ponto de chorar:
— Tem de voltar, Kane. Quero que volte.
— O meu nome não é Kane. Kane morreu em Oklahoma quando se dirigia para aqui. Eu vesti o fato dele, calcei as botas e vim para aqui, sem saber ao que vinha.
— Matou-o?
— Encontrei-o morto.
— Quem é você, então?
— Chamo-me Yancey. Lee Yancey. Talvez tenha ouvido falar de mim.
— Lee Yancey... de Texas?... — e as palavras saíram quase inaudíveis por entre os lábios feminin6s. — Sim, creio que ouvi falar de si...
— Então já sabe a razão por que me é impossível regressar. Volte para dentro e cale-se por enquanto. É o único favor que lhe peço.
Ela reteve-o por um braço:
— Espere. Continuo a querer que regresse. Por cima do ombro ele procurou o olhar dela.
— Porquê?
— Não gosto que seja um homem a quem tanto lhe faz morrer como viver.
Ele levou outra vez tempo a responder. E falou com um tom de amargura na voz:
— Isso era dantes. Mudei de ideias há algumas horas. Adeus.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

PAS406. Em defesa de uma mulher

Rindo-se fortemente, os dois homens encaminharam-se para o armazém. A sua confiança e sentido de segurança eram evidentes. Nem se tinham incomodado a olhar para Yancey.
Este acabou de enrolar o cigarro e acendeu-o calmamente, dando uma boa fumaça e dirigindo-se para o armazém. Dez metros antes de chegar à porta já ouvia vozes encolerizadas. Era a de Winfield a que se escutava mais facilmente.
— Vocês não passam de uns malditos pistoleiro Mas a mim não conseguem abalar-me.
— Você está a falar muito alto, Winfield, porque tem a sua filha a seu lado. — Era Clem quem falava. — Mas se é homem saia para a rua a fim de resolver esta questão.
— Não trago revólver...
— Isso arranja-se já. Jack, empresta-lhe um dos seus.
— Não vás, pai — atalhou a filha. — Maxwell enviou estes dois matadores para te assassinarem, mas não se sairão com a sua...
Clem atalhou insolentemente:
— Ouça, rapariga. Não me agradam os insultos. Se for preciso dar-lhe uma bofetada para o cobarde do seu pai se portar como um homem, não hesitarei e fazer isso.
— Bandido!
 Soou algo como um choque seco, seguido de um grito angustiado de mulher. Lee estava já junto à porta. Chegou a ela numa passada e bastou-lhe um olhar para se inteirar da situação.
No armazém havia talvez umas vinte pessoas, na sua maioria mulheres. Toda a gente, à exceção de cinco pessoas tinha corrido para a parte de trás e observava a cena com apreensão. Radison, pálido e carrancudo, estava atrás do balcão com as mãos apoiadas no mesmo. Na sua frente e quase de costas para a porta, os três homens de Maxwell enfrentavam Winfield e a filha. O primeiro devia ter recebido um golpe na cabeça, pois estava quase caído sobre o balcão e o sangue corria-lhe pela cara. A jovem aguentava-o de pé, enquanto afrontava, pálida, assustada, mas em atitude reptadora, os agressores. Clem empunhava um revólver com a mão direita, sem dúvida a arma com que tinha agredido Winfield.
No preciso instante em que Lee chegava à porta, o mineiro soltou-se da filha e fez um gesto para se atirar ao seu agressor. A rapariga tentou impedi-lo, mas um dos outros meliantes agarrou-a rudemente, separando-a do pai. E Clem levantou ide novo o revólver com intenção de tornar a bater...
O estalido seco de um tiro fez que todas as testemunhas da cena reparassem na nova personagem. O revólver voou da mão de Ciem para o balcão e de ali caiu no chão, do outro lado. O homem proferiu uma praga e voltou-se rapidamente, segurando a mão entumecida. Também os seus companheiros se voltaram levando a mãos às armas... mas imobilizaram-se, olhando o fumegante cano do comprido revólver que lhes estava a ser apontado e o rosto severo de quem o empunhava.
No meio do súbito silêncio, Lee entrou no armazém e encostou-se à parede, ao lado da porta.
— Na terra de onde sou, insultar e ofender uma mulher é negócio de cobardes. As feições dos três pistoleiros tingiram-se de vermelho. Clem falou por eles.
— Maldito sejas! Quem te mandou meter onde não és chamado?
— Ontem, mal aqui cheguei, assisti a um cobarde assassínio. Dois é já demasiado. Deitem os revólveres para o chão. Depressa!
Os três homens trocaram rápidos olhares. E quanto Clem principiava um gesto que parecia natural o companheiro a quem quase tapava puxou rapidamente do revólver, não para o atirar para o chão, mas para o apontar à barriga de Yancey.
Não teve tempo de apertar o gatilho. Lee disparou e a sua bala destroçou a mão e o pulso do pistoleiro arrebatando-lhe a arma. O homem deu um grito e caiu ao chão, de joelhos, meio desmaiado pela dor.
— Mãos no ar! Depressa!
Clem e o outro não tinham esperado por aquele desfecho. Pálidos, praguejando entre dentes, obedeceram. Lee tornou a falar, desta vez para Winfield que, como os restantes, contemplava aturdido a sua intervenção.
— Reviste-os, Winfield.
No meio de impressionante silêncio, o mineiro obedeceu. Lee avançou então, vagarosamente, e enfrentou-se com Clem. O seu olhar fixou-se no do pistoleiro. Depois, deliberadamente lento, levantou a mão esquerda e esbofeteou-o duas vezes.
O pistoleiro rangeu os dentes e disse um palavrão. A voz fria e cortante ide Lee interrompeu-o.
— És um nojento e cobarde, um assassino de más entranhas. Não me agrada a tua cara. Pega num desses revólveres e salta para a rua. Vou matar-te.
Nenhum dos presentes esperava tal atitude. Clem menos do que ninguém. Passou a língua pelos lábios secas e nos seus olhos apareceu o temor.
-- Não posso mover a mão — resmungou. — O que pretendes é o que se chama um assassínio.
— Winfield não trazia armas quando o insultaste na presença da filha. E acompanhavam-te mais dois. Também o mineiro ferido, esse a quem Macklin liquidou ontem na rua a sangue-frio, não tinha qualquer arma. Agora sou eu que tenho vontade de matar alguém. A ti mesmo. Sai para a rua. Podes manejar a arma com a mão esquerda. Vamos.
O silêncio podia cortar-se faca. Ciem estava branco como a cera e não podia afastar o olhar dos frios olhos do seu implacável inimigo. Era um homem acostumado a jogar a vida entre dois tiros e possuía coragem, mas não era o mesmo lutar em condições de igualdade, ou sabendo-se superior ao adversário, do que fazê-lo assim a sangue-frio, sabendo que estava irremediavelmente perdido.
Tentou procurar ajuda. Mas um dos companheiros estava pronto, com uma das mãos desfeita. E o outro, desarmado como ele, nada podia fazer. Leo agarrou-o pelo colarinho e fê-lo rodar, enviando-o com um empurrão para a porta da rua. Depois seguiu atrás dele. Clem principiou a retroceder de costas, encolhido. Saiu assim para a rua, cheia de sol. O medo de morrer lutava dentro de si com o ódio e o desejo de lutar virilmente. Postado na soleira da porta, Lee viu o que se passava e um sorriso duro entreabriu-lhe os lábios. Lentamente, levantou a arma até à cara do aterrorizado pistoleiro.
— Há uma maneira de falar com os cães danados — disse devagar. — Dá-se-lhes um tiro na cabeça...
Uma mão pequena mas firme tocou-lhe no ombro. E a voz de May Winfield soou, rouca e alterada, aos seus ouvidos:
— Por favor! Seria outro assassínio!
Lee fitou-a. Depois concordou com a cabeça. E encarou de novo com o pistoleiro.
— Isto salva-te, Clem. A diferença entre um homem e um assassino a soldo. Pega no cavalo e não voltes a Westcliffe. Se voltares, traz o revólver engatilhado, mas então não escaparás com vida.
O pistoleiro percebeu que estava salvo e endireitou--se. A humilhação fez-lhe saltar lampejos de ódio aos olhos. Mas o receio não tinha ainda desaparecido por completo.
Os outros dois e o ferido, apoiando-se no que estava são, saíram para a rua, olhando de soslaio para o homem que os vencera. Lá fora, muita gente assistia a tão insólita cena. Winfield, ainda aturdido e carregado com o arsenal apreendido aos pistoleiros, também saiu e preparava-se para falar, mas Lee impediu-o, ordenando:
— É melhor ir buscar as espingardas aos cavalos. Os bandidos podem ter alguma má ideia...
Winfield concordou o dirigiu-se aos cavalos, depois de meter os revólveres nas algibeiras. Jake tinha tirado o lenço ido pescoço e vendava com ele a mão e o pulso do seu abatido companheiro. Clem pôs-se a ajudá-lo silenciosamente.
Quando Winfield regressou com as espingardas, Lee ordenou-lhes:
— E agora, ponham-se a andar.
Os três homens não refilaram e ajudaram o ferido a subir para o cavalo, montaram nos seus e dirigiram--se para o ribeiro. Ao passarem em frente do grupo parado diante do armazém, Jake ameaçou:
— Voltaremos à tua procura, forasteiro.
— Bem. Aqui estarei.
Depois de os homens se afastarem, Winfield e a filha olharam para o seu salvador.
— Você arriscou a vida por nossa causa, Kane — disse Winfield. — Foi um grande gesto mas incompreensível. Ontem...
-- Deixemos isso... Não gosto de assassínios a frio e muita menos que se ofenda uma mulher.
— Tenho de lhe apresentar as minhas desculpas, senhor. — A cara de May Winfield estava corada e os olhos brilhantes. — Pela sua coragem e por ter feito caso do meu pedido. Muito obrigada.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

PAS405. Não mais haverá descanso para quem calçar as botas do morto

— Lamento, amigo, — disse para o cadáver — mas tu já chegaste ao fim do caminho e eu quero prolongar o meu até poder. De modo que vou calçar as tuas botas.
Vestiu depois, uma a uma, todas as peças do vestuário do morto, ajustando o cinturão. E depois vestiu-o com as suas. Assentavam-lhe bastante bem e enganariam o mais desconfiado depois dos abutres completarem a obra. Colocou o cadáver tal e qual o encontrara e passou quase meia hora a apagar cuidadosamente todos os vestígios da sua presença. Depois, foi aos cavalos, desatou-os e montou naquele que pertencia ao desconhecido, deixando o seu em liberdade. O animal estava tão cansado que não ia sair do local encharcado e com erva. Ali o encontrariam os seus perseguidores, a quem calculava levar oito a dez horas de vantagem. Chegariam ao anoitecer e nessa altura já os abutres teriam deixado sem carne a cabeça do morto...
Esporeou o cavalo. Era um baio nervoso, com uma bonita cabeça. Valia a pena conservá-lo.
Pouco depois de se afastar olhou para trás. Os abutres encarniçavam-se já sobre a presa enquanto outros se aproximavam a toda a pressa voando sob o céu azul.
Tinha deixado todos os seus pertences nas algibeiras do fato que vestira ao morto. Inclusivamente o dinheiro, salvo uma centena de dólares. Não se podiam cometer erros com os Rurais. E até ao por do sol, quando acampou na margem do Kiamichi, não se atreveu a revistar as roupas e o equipamento, do falecido.
O homem não era um viajante vulgar. Levava com ele uma excelente provisão de camisas, peúgas e outras peças de roupa interior, devidamente acomodada. Sobre a roupa havia urna bolsa para tabaco de fabrico índio, um livro de mortalhas, uma navalha, um relógio, um lenço, vinte e dois dólares e trinta cêntimos em moedas, um isqueiro e um lápis. Pouca coisa, é claro, que excitasse a curiosidade. O revólver era tão bom como aquele que se tinha visto obrigado a abandonar e a «Winchester», completamente nova, era melhor do que a sua. Tal qual como as botas, o cinto era de fino cabedal avermelhado, sendo as botas providas de altos tacões e de esporas prateadas. As roupas, de excelente fabrico, tinham sido compradas recentemente. Além do cinto com balas via-se também na bagagem uma caixa de munições. A sela, sem dúvida, boa e cómoda. Havia ainda um outro fato, convenientemente dobrada e em estado novo, uma manta de lã e um impermeável amarelo. O cantil, uma frigideira pequena, a cafeteira, a colher e até um garfo, eram novos da mesma forma que o prato. Sem dúvida, o morto era pessoa de bom gosto, cioso das suas comodidades e que se preparara conscienciosamente para aquela viagem interrompida. Quem seria e para onde se dirigia? O território índio não era o lugar indicado para viagens de prazer... 
Ao pegar no fato novo, os seus dedos tocaram em alguma coisa dura. Uma carteira nova, de cabedal avermelhado, que estava no bolso interior do colete. E Lee assobiou ao abri-la e descobrir o seu conteúdo.
Seiscentos e vinte dólares em notas de Banco, novas em folha! E uma carta. Contou primeiramente as notas, tornando a colocá-las na carteira. Olhou depois para o sobrescrito. Estava dirigido ao senhor James Kane, em Nova Orleães e tinha sido reexpedida desta cidade a
Shireveport onde, ao que parecia, o senhor Kane estivera alojado, no hotel «Texas».
Já tinha ume nome. A carta deu-lhe um ponto de destino, outros dois nomes… e pouco mais.
«Senhor James Kane, Estalagem «Os Três Reis» — Nova Orleães.
Caro senhor: 
De acordo com o que combinámos, incluo um cheque passado a seu favor na importância de mil dólares. Uma vez recebido o mesmo, queira pôr-se a caminho imediatamente de forma que possa aqui estar em 4 de Julho. Convém que tome a barco até S. Luís ou Independence, continuando depois a cavalo para se habituar ao seu papel. Já sabe que tem de apresentar-se aqui como um cavaleiro errante. Quando chegar dirija-se primeiro ao «Frenchy Hotel». Depois virá ao meu escritório, como se fosse de passagem. Tenho a dizer-lhe que o nosso comum amigo Fallon teve a pouca sorte de tropeçar há dias com uma bala. Portanto, como o não conheço pessoalmente, dê o seu nome ao chegar. Espero que cumprirá literalmente as minhas instruções a fim de o nosso assunto ficar depressa resolvido satisfatoriamente para ambos. Até o ver em Westcliffe, aceite as cordiais saudações do amigo
Bert Radison»
À luz da pequena fogueira que tinha acendido, Lee releu três vezes a carta. Esteve até à meia-noite a dar voltas a cada, uma das suas frases. Por fim ficou com uma ideia aproximada da questão. O homem chamado Kane tinha recebido mil dólares do autor da carta a fim de se transladar a uma povoação chamada Westcliffe onde, aparentando ser uni vaqueira vagabundo, efetuaria determinada negócio para o qual havia de tomar precauções. Morrera o amigo pessoal que ali tinha e o seu sócio não conhecia Kane pessoalmente. Kane tinha de estar a 4 de Julho em Westcliffe. Como estavam em fins de Maio o homem dispunha de cinco, semanas. Ou seja, que Westcliffe se achava em algum ponto a leste do Mississipi, provavelmente nas Montanhas Rochosas. Kane não estava em Orleães quando recebera a carta mas em ShirevePort. Devia ter recebido ali mesmo o dinheiro e decidido fazer acto contínuo a viagem a cavalo. Dada a rota que escolhera, Westcliffe, devia achar-se a Noroeste, talvez para os lados de Kansas ou Colorado. E Kane não era exatamente um homem do campo, um vaqueiro. Que espécie de homem seria e qual o seu negócio com Radison? Só havia um meio de o saber: ir a Westcliffe.
Ao chegar a este ponto das suas congeminações, Lee Yancey deixou-se ficar a olhar para as brasas quase apagadas. Porque não?... Qualquer sítio era bom e tanto lhe dava um caminho como outro, desde que se afastasse de Texas. Radison tinha pago mil dólares a Kane para este o ajudar em alguma coisa e não devia ser defraudado. Provavelmente, terminado o negócio, haveria mais dinheiro para Kane. E qualquer coisa existia na carta que o fascinava. Qualquer coisa nas entrelinhas que tinha ficado por dizer... 

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

BUF071. Ratoeira mortal


Coleção Búfalo, nº 70)
 
Lee Yancey era um jovem proscrito, vítima das sequelas da guerra civil e da vingança dos vencedores contra os que apoiaram o Sul. Muito jovem foi desapossado da sua terra e, vingando-se, condenado a pesada pena de prisão. Após ter morto o ladrão dos seus bens, fugiu, praticou vários assaltos e o autor vai encontra-lo a caminho de Westcliff, uma povoação cuja paz assentava sobre um barril de pólvora devido à inimizade entre granadeiros e mineiros explorada por algumas personalidades com menos escrúpulos.
Na sua fuga incessante, Lee depara com um morto portador de uma carta de apresentação naquela cidade e resolve tomar a sua identidade para assim enganar os rurais que o perseguiam. Mas não tardou a perceber que se metera numa ratoeira com todas as caraterísticas para se tornar mortal.
Este livro de Cliff Bradley é um pouco mais maçudo que o habitual neste autor e é com dificuldade que se descobrem algumas passagens dignas de registo. A capa, não assinada, é apresentada como da autoria de Carlos Alberto Santos, mas sugere muito o traço de Longeron… Aliás o livro foi originalmente publicado em Espanha na coleção Seis Tiros da Editorial Toray, com a mesma capa, sendo pouco provável a autoria de capa atrás referido