Helga levantou os olhos para a porta que se abria. O jovem
ficou um momento imóvel, como que surpreendido.
A rapariga não pôde esconder um rubor. Tinha pensado muito
nele, desde que o vira no dia anterior pela primeira vez. Agora estava ali. Sem
dar por isso, olhou-o no fundo dos olhos. Viu neles a mesma expressão, ainda
que um pouco velada. A jovem pensou qual seria o motivo porque o homem de ferro
tinha no fundo da alma uma dor tão grande.
- Queria alguma coisa? – perguntou.
Latimer, com a sua voz bem timbrada de entoação lenta,
explicou:
- Queria ver o seu pai, o juiz. A criada fez-me entrar para
aqui, sem dúvida, devido a qualquer engano. Desculpe tê-la incomodado.
- O meu pai não está em casa – disse ela.
- Então – respondeu o xerife – tenho que pedir-lhe de novo
que me perdoe. Voltarei mais tarde. Bom dia.
- O meu pai não deve demorar-se – apressou-se Helga a dizer.
– Se quiser pode esperá-lo.
Depois quase se envergonhou de dizer aquilo, mas um impulso
que não pôde conter fizera-a falar, quase sem dar conta do que dizia.
O jovem inclinou-se novamente, esboçando um tão leve sorriso
que não passou dum movimento de lábios. As suas pupilas não modificaram a
expressão que tanto a tinham incomodado.
Aproximou-se de uma cadeira e sentou-se, deixando o chapéu
noutra. Depois, pegou num cigarro, ao mesmo tempo que perguntava:
- O fumo incomoda-a, «miss» Helga?
A rapariga negou com um sorriso.
- Não, «mister» Latimer. No oeste todos os homens fumam.
Perry acendeu o cigarro sentindo-se um pouco aborrecido, mas
ao mesmo tempo interessado como nunca estivera.
Tinha visto Helga uma vez apenas mas o aspeto da rapariga
causara-lhe vivíssima impressão. Ainda que ele não quisesse reconhecê-lo,
despertava-lhe a recordação de algo muito afastado na sua memória, mas que não
deixava de ser doloroso.
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