terça-feira, 15 de outubro de 2013

PAS120. A visão de Helga

Helga levantou os olhos para a porta que se abria. O jovem ficou um momento imóvel, como que surpreendido.
A rapariga não pôde esconder um rubor. Tinha pensado muito nele, desde que o vira no dia anterior pela primeira vez. Agora estava ali. Sem dar por isso, olhou-o no fundo dos olhos. Viu neles a mesma expressão, ainda que um pouco velada. A jovem pensou qual seria o motivo porque o homem de ferro tinha no fundo da alma uma dor tão grande.
- Queria alguma coisa? – perguntou.
Latimer, com a sua voz bem timbrada de entoação lenta, explicou:
- Queria ver o seu pai, o juiz. A criada fez-me entrar para aqui, sem dúvida, devido a qualquer engano. Desculpe tê-la incomodado.
- O meu pai não está em casa – disse ela.
- Então – respondeu o xerife – tenho que pedir-lhe de novo que me perdoe. Voltarei mais tarde. Bom dia.
- O meu pai não deve demorar-se – apressou-se Helga a dizer. – Se quiser pode esperá-lo.
Depois quase se envergonhou de dizer aquilo, mas um impulso que não pôde conter fizera-a falar, quase sem dar conta do que dizia.
O jovem inclinou-se novamente, esboçando um tão leve sorriso que não passou dum movimento de lábios. As suas pupilas não modificaram a expressão que tanto a tinham incomodado.
Aproximou-se de uma cadeira e sentou-se, deixando o chapéu noutra. Depois, pegou num cigarro, ao mesmo tempo que perguntava:
- O fumo incomoda-a, «miss» Helga?
A rapariga negou com um sorriso.
- Não, «mister» Latimer. No oeste todos os homens fumam.
Perry acendeu o cigarro sentindo-se um pouco aborrecido, mas ao mesmo tempo interessado como nunca estivera.
Tinha visto Helga uma vez apenas mas o aspeto da rapariga causara-lhe vivíssima impressão. Ainda que ele não quisesse reconhecê-lo, despertava-lhe a recordação de algo muito afastado na sua memória, mas que não deixava de ser doloroso.

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