segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

CLT024.02 Sangue sob o Sol

Aquele era o primeiro Verão de paz no sudoeste dos Estados Unidos. Desde Texas a Utah, pela primeira vez em quatro anos, o sol derramava-se generosamente sobre as terras pacíficas. E fazia-o tão alegremente, que as terras, os rebanhos e os homens se secavam de calor.
Uma poeira seca e asfixiante cobria as antigas rotas dos exércitos, por onde agora cavalgavam Rody e seu filho. Era o primeiro Verão que presenciava a união de todo o país depois da vitória dos exércitos do Norte sobre os do Sul.

domingo, 30 de dezembro de 2018

CLT024.01. A emboscada

O carro avançou silenciosamente pelo caminho, aproximando-se do povoado. Ainda que a lua começasse já a elevar-se sobre as montanhas do horizonte, não se distinguiam os objetos a dez jardas de distância. Isto favorecia o condutor, que se introduziu por uma rua dos arrabaldes levando a passo o seu cavalo.
Golden Hill fervia de animação àquela hora, mas só nas duas ruas principais. O resto estava silencioso como numa cidade esquecida.
Voltando duas vezes à direita, o carro enfiou para a parte traseira das casas que davam para a rua principal.

sábado, 29 de dezembro de 2018

Encontro com «Mão Morta»


Alguém me garantiu ser este um dos melhores livros do grande Silver Kane. Adquiri-o e digitalizei-o, pensando estar perante uma grande obra deste tipo de literatura. Pouco a pouco, à medida que a ia conhecendo, vi que algo havia de errado. 
Não que a trama fosse muito má… Silver Kane imagina uma situação em que a mão do pistoleiro morto lhe é amputada e «enxertada» no filho a quem uns malvadas tinham dilacerado a própria. A mão «pegou», ficou um certo trambolho durante algum tempo, mas com o passar do tempo, o jovem decepado acabaria por recuperar toda a rapidez de movimentos e pôde proceder à vingança perante os que lhe executaram o pai. 
O problema do livro é a linguagem/tradução qualquer coisa de deplorável e que acontece muito com os livros da IBIS. Os verbos estão em tempos errados, quando se desconhece uma palavra para substituir a original espanhola é esta que continua num texto que aparece assim cheio de «chasquidos», «lancas», etc. etc. Mas, dado que já fiz este esforço, aqui fica o livro para desfrutarem...

quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

CLF125. Homens rudes do Oeste


(Coleção Califórnia, nº 125)

Jeff Duchesne, um pistoleiro famoso, chegou a Criple Creek, esperando encontrar o seu irmão. Sam era um rapaz ingénuo que não usava armas e passava a vida a pensar em filões auríferos e de petróleo. Ao que parece, tinha conseguido o seu objectivo e Jeff pretendia convencê-lo a proceder à venda do jazigo e afastar-se para um local onde pudesse comprar um rancho e estabelecer-se.
Mas Sam tinha sido assassinado e a sua propriedade tinha passado para a posse de um poderoso da região. Começou então a luta de Jeff para apurar quem o tinha matado e o que tinha acontecido ao que o irmão tinha descoberto. E descobriu que, afinal, um poderoso rancheiro que parecia tudo dominar estava nas mãos de uma quadrilha de indesejáveis.
Eis uma novela dura de Joe Sheridan mais uma vez com uma marca geográfica bem definida…


terça-feira, 18 de dezembro de 2018

KNS128. Epílogo

Dois dias depois, realizou-se o julgamento do juiz e dos pistoleiros sobreviventes.
O júri foi inflexível, condenando à morte esses criminosos. Lawrence Godfrey, o homem soberbo, ávido de poder e dinheiro, manteve-se firme, imperturbável. Ninguém o viu estremecer. Nem mesmo no momento de parar a sua montada, debaixo da árvore onde seria enforcado, nem quando sentiu na garganta o nó da corda de cânhamo. Os outros também sofreram a mesma pena.
Quando tudo acabou, as gentes mais destacadas da povoação afastaram-se. O xerife ia à frente, ao lado de Ron e de Babe.
— Nunca esqueceremos o que o senhor fez, Ron Delaney. Por que não aceita o cargo de juiz?
— Obrigado. Não posso aceitar. Deve haver gente mais competente para isso, do que eu... De resto, vou vender o «saloon» e deixar Broad Pace...
— O senhor afirmou que a nossa terra teria um futuro brilhante.
— E repito-o. Mas Babe e eu partiremos.
— O senhor não pode fazer isso, não deve...

segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

KNS128.10 Armadilha na Passagem do Urso

Logo que pôde, Babe informou Ron do descabelado projeto de Virgínia. O jovem franziu a testa.
— Ela está doida?! Isso é perigoso! A sua expressão mudou subitamente.
— Mas, espera... Também é eficaz...
— Que queres dizer?
— Parece-me uma excelente ideia... É uma bela oportunidade para surpreender Savold.
— Deixarás essa rapariga afrontar o perigo ?
— Deus bem sabe quanto lamento. Mas assim é preciso...
— Ela quer partir amanhã, pois seu irmão já tinha tudo preparado.
— Então, não há tempo a perder. É necessário falar com o xerife esta noite...
Já a noite ia bastante avançada, quando teve oportunidade de dirigir-se ao escritório do xerife.
Savold já tinha saído. Provavelmente, o malvado rancheiro adotaria a mesma tática das vezes anteriores. Inteirado já da decisão de Virgínia Hamilton, estava preparado para sair ao seu encontro. Assim, permaneceu no «saloon» até bastante tarde, para não despertar suspeitas.
Entretanto, Ron andou cautelosamente, para não ser surpreendido. Quando chegou a casa do xerife, empurrou a porta e entrou. Este era bastante confiado, além de que tinha o sono bastante leve. De súbito, ouviu-lhe a voz:
— Quem anda aí ?

domingo, 16 de dezembro de 2018

KNS128.09 O traidor denuncia-se

Logo que amanheceu, dois cavaleiros saíram de Boad Pace. Eram Ron Delaney e o xerife. Cavalgavam num galope não muito puxado.
Nos seus rostos havia uma sombria expressão que refletia bem a indignação que lhes ia na alma pela nova façanha de Bert Savold e dos seus homens.
Era penoso que um grupo de vaqueiros valentes e abnegados tivesse caído numa emboscada. Aquilo não devia repetir-se. Era preciso impedi-lo, a todo o custo.
Para não ser espoliado, Mike Food resolvera levar o seu gado a Phoenix, onde lho pagariam pelo seu verdadeiro valor. Mas a morte saíra-lhe ao encontro.
O xerife parou por um momento no alto de uma colina, estendeu o braço direito e apontou na direção do desfiladeiro Dourado, que já se via ao longe. O reflexo dos raios do Sol causava um efeito estranho — uma mancha de ouro no meio do verde-escuro dos bosques e da planície — o que originara o seu nome.
—É ali!

sábado, 15 de dezembro de 2018

KNS128.08 O «trust» ataca no desfiladeiro

Três dias depois, apareceu em Broad Pace outro rancheiro com uma excelente manada. Os vaqueiros entraram a gritar, na Rua Maior. Mas os seus gritos, embora alegres, não eram espontâneos. Esforçavam-se por mostrar um júbilo que não sentiam.
Bert Savold já estava na povoação, acompanhado de seis dos seus homens. O seu rosto oferecia um aspeto horrível, trazia um olho fechado pela inchação, tinha muitas feridas e hematomas. Foi ao encontro do rancheiro, formulando a sua pergunta habitual:
— Então? Como foi a jornada?
— Menos mal. O gado é que perdeu algum peso... Qual é o preço, Savold?
— O mesmo que da vez anterior.
— Isso é muito pouco. Estou tentado a reatar a marcha...
— Isso é consigo... O senhor precisa de uma boa equipa de vaqueiros para poder resistir às quadrilhas de salteadores que infestam a região.
— Eu sei, senhor Savold — disse o rancheiro com tristeza...
— E expõe-se portanto, a perder tudo...
— Sim... Não posso pôr em perigo as vidas dos meus homens.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

KNS128.07 Visitas inesperadas

Ron viu entrar o empregado e com um movimento de cabeça perguntou-lhe o que queria.
— A menina Hamilton deseja falar com o senhor.
— Como ? Sem poder conter-se, pôs-se em pé de um salto.
Custava-lhe a crer no que ouvia. Não era possível que Virgínia Hamilton estivesse lá em baixo.
— A menina Hamilton...
— Já sei. Ouvi muito bem.
Quando saiu, caminhou depressa, mas mantendo o mesmo aspeto correto e elegante. Viu Virgínia. A sua esbelta figura parecia empequenecida e frágil no meio da sala vazia. Sentiu o desejo de correr para ela e estreitá-la entre os seus braços, para defendê-la contra todos os infortúnios que a ameaçassem.
— Disseram-me que deseja falar comigo...
— Assim é...
— Quer ter a bondade de subir ao meu escritório ?!
— Não tenho nenhum inconveniente.
Ron subiu atrás dela, admirando o harmonioso corpo da jovem, que se deteve no patamar. Ele indicou-lhe o escritório, cuja porta ficara aberta. Virgínia fez um gesto de assentimento, mas quando ia a entrar deteve-se. Babe acabava de aparecer.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

KNS128.06 Entra o irmão da beldade

Ron Delaney passeava pelo «saloon», que a essa hora estava cheio. Os clientes pareciam satisfeitos com ele. A sova dada a Savold granjeara-lhe simpatia e popularidade.
Entraram três jovens vaqueiros. Como sempre fazia com novos clientes, Ron examinou-os dos pés à cabeça. Um deles chamou-lhe mais a atenção do que os outros dois. A sua fisionomia era-lhe quase familiar. De súbito, recordou-se. Devia ser irmão da beldade que o ia atropelando.
Precisamente nesse momento, o jovem Hamilton dirigiu-se-lhe:
— É o senhor Ron Delaney?
— Exatamente.
— Estava com imenso desejo de conhecê-lo. Tenho ouvido falar muito no senhor. Sobretudo por causa da tareia que propinou a esse javali do Savold.
— Cala-te, Danny — apressou-se a dizer um dos seus companheiros...
— Porque me hei-de calar? Há muito tempo que ele precisava de uma lição dessas. Só lamento que não fosse eu quem lha desse.
Já estavam ao balcão, a beber.
— E lamento também não ter visto o espetáculo.
— Foi uma coisa sem importância. Uma simples peleja de «saloon».

quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

KNS128.05 Uma sova das antigas

No «saloon» fez-se um profundo silêncio. Alguns homens tinham-se apressado a afastar mesas e cadeiras para junto das paredes, deixando o espaço suficiente para os contendores.
Savold olhou desdenhoso a elegante figura do seu inimigo. Cerrou os punhos com força e deu um passo em frente. Não o golpearia com força excessiva, mas o bastante para aturdir o aventureiro e dominá-lo, recreando-se no castigo que lhe propinaria; e, apesar da presença do xerife, não descansar enquanto não o liquidasse. Tinha de aproveitar essa oportunidade, que se lhe apresentava tão inesperadamente.
Os seus braços robustos moveram-se apressadamente e os seus punhos estavam preparados para esmagar Ron. Um sorriso de antecipado triunfo assomou aos seus lábios. Atirou o seu braço direito com toda a força, de punho fechado, mas não encontrou o desejado alvo. Perdeu o equilíbrio ; mas antes de retomá-lo, recebeu um potente soco na face esquerda, que o fez retroceder alguns passos.
Ouviu-se uma exclamação de assombro. Os espectadores animaram-se, ao ver a aparente facilidade com que Delaney evitou o formidável soco de Savold, ao mesmo tempo que lhe atirava um esquerdo à cara, com uma precisão matemática.

terça-feira, 11 de dezembro de 2018

KNS128.04 Serpente pronta a dar a picada

Delaney reuniu o pessoal do «saloon» e todos o escutaram em silêncio. Quando acabou de expor o sucedido, Ron acrescentou:
— Todos podem ficar nos lugares que ocupam, com o mesmo ordenado. Não lhes prometo mais nada. Só o futuro dirá o que poderei fazer mais tarde. Entretanto, quero adverti-los de que não tolerarei aqui trapaças no jogo. E cada um terá a responsabilidade de fiscalizar as mesas, onde se jogar. Independentemente disso, vou abastecer o «saloon» das melhores qualidades de bebida.
As suas decisões calaram no ânimo de todos. A mudança de patrão foi acolhida com verdadeiro agrado e os empregados dispuseram-se a trabalhar com renovado ardor.
Babe Custer tinha exatamente a mesma autoridade no «saloon», que o seu amigo. O aspeto do pessoal agradava-lhe inteiramente, com exceção de um empregado de mesa, que ele prometeu a si próprio vigiar com o maior cuidado. Se se provasse alguma coisa, despedi-lo-ia. Ron e Babe foram nesse dia ao cartório do juiz, que era em sua própria casa.
Sem saber bem porquê, o jovem pressentia estar em frente de um inimigo. Um homem, que permitia a atuação de um poderoso «trust» numa povoação, cujos destinos regia, não podia ser honrado. Já não pelo facto de permitir a sua existência, mas pela ilegalidade dos seus processos. Lawrence Godfrey devia contar cinquenta anos, era de estatura média e seco e tinha um olhar duro. Foi ao encontro dos seus visitantes. Vestia um fato cinzento, de riscas brancas. Não mostrou a menor amabilidade ao dirigir-se-lhes:
— Que desejam?

segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

KNS128.03 Organizados para adquirir gado e jogar

O repto fora lançado com toda a regra. Todos os habitantes da localidade se inteiraram dele. O elegante forasteiro demonstrou claramente não recear Bert Savold nem a sua equipa. O seu companheiro demonstrou da mesma forma o que era capaz de fazer, tanto com o revólver, como com os punhos.
Quando soube disso, Savold encheu-se de cólera. A sua primeira intenção foi saltar sobre o seu cavalo e correr à povoação para dar ao atrevido o castigo que merecia. Não obstante, conteve-se.
Ron Delaney acabava de matar um dos seus vaqueiros, precisamente o mais rápido no manejo das armas. O seu rosto contraiu-se. Crispou os punhos. Havia de chegar a oportunidade de torná-lo a ter em seu poder, gozando em socá-lo, sem piedade, para o deixar como um frangalho, destroçado, a seus pés.
A este pensamento, sorriu satisfeito, com a certeza de que essa ocasião não tardaria.
Ron e Babe passearam todo o dia pelos arredores.
Existiam inúmeros ranchos e puderam certificar-se de que o maior pertencia precisamente a Bert Savold.

domingo, 9 de dezembro de 2018

KNS128.02 Um rancheiro muito agressivo

Dois cavaleiros aproximavam-se de Broad Pace. Quando chegaram ao alto de uma lomba, detiveram-se para admirar o soberbo vale. A povoação estava situada no meio dele.
À simples vista desarmada, podia apreciar-se que se tratava de uma localidade importante.
O caminho seguido pelos viajantes, desde que se internaram no Arizona, foi árido, escabroso, zonas monótonas, desertas, para cavalgar por um dédalo de vales e desfiladeiros, até chegar àquele magnífico vale, no seu caminho para Phoenix.
— Que esplêndido isto é, Babe ! — exclamou um dos cavaleiros. — Dá a impressão de um paraíso...
— Tenhamos cuidado... As aparências enganam...
Como se as palavras de Ron Delaney tivessem sido um mau presságio, ouviu-se o tropel de cavalos. Os dois amigos voltaram-se, e viram surgir de trás de algumas árvores, à sua direita, cinco cavaleiros. Ron ficou com a impressão de que eles estavam à sua espreita. O que vinha à frente era um homem de compleição robusta. A sua atitude era francamente ameaçadora. Os outros avançaram atrás dele, formando um semicírculo, no meio do qual ficassem os dois amigos. Estes permaneceram numa serena atitude.
— Onde vão, forasteiros? — inquiriu o cavaleiro da frente.
— Com que direito me pergunta isso? — quis saber Ron.
— Não tem que me perguntar coisa alguma. Eu é que quero a sua resposta.

sábado, 8 de dezembro de 2018

KNS128.01 Expulsos de São FRancisco

Ron Delaney contou as notas de Banco, com um ar impassível, como se se tratasse de um assunto corrente.
Não era assim na realidade. Acabava de trespassar o seu «saloon», onde pusera todas as suas ambições, julgando ter encontrado ali o pedestal da sua fortuna. Mas isso não acontecera e resignava-se com o seu fracasso. Mercê da sua honradez, só granjeara poderosos inimigos.
Apesar de ser um aventureiro nato, que não hesitava em empreender qualquer empresa, sem olhar aos perigos que dela pudessem advir, nunca foi capaz de cometer a mais pequena injustiça.
 Quando jogava, os parceiros contrários podiam ter a certeza de que não faria batota, embora na parada estivesse a sua fortuna. Mas o seu olhar de águia advertia rapidamente qualquer irregularidade ou falsidade no jogo e o seu autor podia considerar-se em perigo de morte.
A rapidez de Ron Delaney era proverbial em S. Francisco.
Babe Custer olhava com admiração as feições nobres do seu amigo. Não lhe era possível conter a indignação de que estava possuído. O seu semblante de expressão ameninada demonstrava, com bastante evidência, o seu estado de espírito ; os seus olhos azuis moviam-se iracundos; as suas pálpebras agitavam-se continuamente, e os seus lábios apertava-os com toda a força. A sua corpulenta humanidade não podia permanecer quieta.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

KNS128. O «trust» da morte

(Coleção Kansas, nº 128)
Em Broad Pace, uma lucrativa aliança entre um rancheiro e o juiz fazia com que a maioria dos rancheiros vendessem o gado a baixo preço contribuindo assim para a sua ruína. Quem o não fizesse e tentasse chegar a Phoenix pelos seus meios era sujeito a uma cilada no caminho da qual ninguém escapava com vida. O agravar da situação fazia com que muitos vendessem as terras a baixo preço o que fazia engrossar o património dos membros do «trust».
Ali chegaram dois forasteiros provenientes de São Francisco, terra de onde um deles tinha sido expulso por matar um indivíduo em duelo legal. Depois de uma receção que nada teve de amável, Ron Delaney acabou por adquirir um «saloon» da cidade e, com a ajuda de um xerife honesto, conseguiu aniquilar o «trust», encontrando em simultâneo alguém para partilhar a vida futura.
Obra interessante de Orland Garr embora com uma escrita demasiado escorreita. Parecia que tudo se passava em segundos e sem dificuldades. Mas… aqui vai ficar…

KNS127. Mulheres com revólveres

(Coleção Kansas, nº 127). Capa e texto indisponíveis

KNS126. Novos caminhos

(Coleção Kansas, nº 126). Capa e texto indisponíveis

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

BIS170.11 Assalto ao quartel dos bandidos

Os coiotes uivavam no descampado e o ulular dê um mocho fez-se ouvir entre os algodoeiros próximos. A noite era escura e tranquila, com um céu repleto de estrelas brilhantes e um vento brando do sul. A madrugada ia adiantada e faltariam cerca de duas horas para o alvorecer quando Rand Allen desmontou com extrema cautela, deixando o cavalo em liberdade.
Aquele animal havia pertencido a um dos homens do rancho e o dono nem soubera do empréstimo. Rand havia-o encontrado ao anoitecer, preparando o jantar, apenas a umas quatro milhas do lugar onde o tinham torturado. Estava só e bastara uma bala para resolver o assunto. Mais tarde, quando encontrassem por ali o animal, de manhã, fariam muitas conjeturas, mas, sem dúvida, ninguém adivinharia a verdade.
Entretanto, ele ia introduzir-se no rancho dos seus inimigos e ajustar as contas com eles.
Chegou facilmente junto da cerca alta, feita de adobe, que rodeava as construções. Aquela hora da madrugada não deviam ter grandes desejos de vigiar, certos de não existir nenhum perigo imediato. Havia-se recomposto quase totalmente da sova brutal recebida pela manhã e, inclusivamente os pulsos, cuidadosamente curados, tinham recuperado a elasticidade, apesar de ainda lhe doerem muito.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

BIS170.10 Prisioneiro por traição e pronto para a vingança

Caminharam juntos na direção do «saloon», com o companheiro de Douglas — a quem este apresentou laconicamente como Stubbs — indo do outro lado de Rand.
Douglas ia curiosamente excitado pela situação, causando a Rand a impressão de um leopardo que sente o cheiro de sangue. Mostrou-se muito cortês deixando-lhe a passagem livre para entrar no estabelecimento e, por um instante, Rand temeu que fosse um truque para lhe disparar pelas costas. Contudo, não tardou a abandonar tal ideia.
Frankie Douglas era, segundo parecia, um pistoleiro nato e o que ora suspeitava sobre a sua habilidade com uma arma de fogo na mão levá-lo-ia a provocá-lo para um duelo de morte, no lugar e momento previamente escolhidos, mas nunca o levaria a matá-lo pelas costas nem permitiria que outros o fizessem. De certo modo havia-o marcado como sua presa privativa.

domingo, 2 de dezembro de 2018

BIS170.09 A desconfiança é a melhor aliada

Rand cavalgou para o Norte diretamente durante algumas léguas. Mas uma vez que passou para além dos últimos pastores e se internou nos bosques que formavam como uma barreira fronteiriça entre Valle Hermoso e os terrenos circundantes, modificou o seu rumo, procurando o rio Braços, o qual atravessou num ponto onde as águas, na estiagem, eram pouco profundas.
Na outra margem cavalgou na direção do Oeste, através dum terreno de colinas onduladas cheias de vegetação e de caça e, segundo parecia, também de índios, a julgar pelos sinais que ia encontrando.
Contudo, não se encontrou com nenhum pele-vermelha e apenas viu um caçador na margem de um regato, ocultando-se antes de que ele o visse. Não estava nos seus planos ser visto por alguém.
Caminhou durante todo o dia, descrevendo um arco de círculo que, ao anoitecer o deixou a sudoeste da povoação de Waco e a uns vinte quilómetros da mesma. Dormiu abrigado numa gruta profunda até ao nascer do sol e não se apressou a partir, parando também ao meio-dia durante várias horas.
Começava a entardecer quando avistou a primeira granja, onde um homem e um rapaz que trabalhavam num milheiral o olharam com desconfiança.

sábado, 1 de dezembro de 2018

BIS170.08 Casa comigo ou irei para freira

— Sairei daqui amanhã.
Rand, Barclay e os Cortés estavam a comer na espaçosa sala de jantar da fazenda. Lá fora anoitecia lentamente após um longo e quente dia de Verão. Dom Pablo colocou o seu copo sobre a mesa e Isabel ficou com o garfo no ar. Os outros também deixaram de comer.
— Amanhã ?
— Sim. Quero chegar ao limite das terras de Seth Markham ao anoitecer.
Houve um breve silêncio. Dom Pablo quebrou-o com a sua voz calma.
— Muito bem. Darei ordem para lhe prepararem um cavalo e tudo o necessário para a viagem. Não se falou mais sobre o assunto durante o jantar.
Mais tarde, no alpendre cheio de luar. Rand sentou-se a ouvir o planger das guitarras e as canções dos vaqueiros no pátio. Isabel Cortés e sua irmã ocupavam pesadas cadeiras de balouço à sua direita, e dom Pablo ocupava outra à sua esquerda. Pedro Cortés estava encostado à balaustrada e Marclay fumava sentado nos degraus, com as costas apoiadas contra um dos pilares de adobe.

sexta-feira, 30 de novembro de 2018

BIS170.07 Elogio do pele-vermelha

Os dois feridos de Markham haviam sido atados a pesadas argolas numa cave do edifício, ficando ali à mercê da febre e da dor, sem mais que uma cura sumária, sem delicadeza. Estavam assim há setenta e duas horas quando Rand Allen, coxeando e apoiado no ombro dum vaqueiro entrou no sombrio calabouço. Um deles estava quase agonizante, com a cabeça caída sobre o peito. O outro olhou-o com expressão alucinada, ofegando roucamente:
— Malditos sejam! Matem-nos de uma vez…
— Agua... água...
Rand esperou que lhe colocassem a cadeira que outro vaqueiro trazia e que entrasse dom Pablo Cortés. Sentaram-se os dois vagarosamente sem fazerem caso dos pedidos, maldições e súplicas dos prisioneiros. Dois vaqueiros trouxeram uma pequena mesa e uma toalha sobre a mesma. Depois, ele e um dos vaqueiros colocaram sobre a mesa comida apetitosa, uma cesta repleta de fruta fresca, uma garrafa de vinho, uma jarra de água... Depois de a mesa estar pronta dom Pablo fez um sinal com a mão e os criados saíram, fechando a porta. A luz de um cadeeiro iluminava a expressão ávida e febril dos dois presos.

quinta-feira, 29 de novembro de 2018

BIS170.06 O retrato do canalha Seth Markham

Dava a impressão de ser uma verdadeira povoação fortificada e não outra coisa a fazenda dos Cortés em Valle Hermoso.
Um muro de pedra e argila, de três jardas de altura, circundava o cabeço baixo e arborizado onde se erguia a casa dos donos, formosa e ampla, sólida, de estilo colonial. De espaço a espaço, havia guaritas no muro, preparadas para as sentinelas e apenas duas portas davam acesso ao interior, ambas grandes, resistentes e bem protegidas.
Os pavilhões de adobe dos vaqueiros agrupavam-se a ambos os lados do pátio, havia ainda um moinho de vento e um poço, um grande chafariz para os cavalos e um tanque onde algumas mulheres lavavam roupa, redis para guardar gado, hortas bem cuidadas, árvores de fruto...
Quando a caravana se aproximou saíram-lhe ao encontro vários cavaleiros, à frente, dos quais ia um rapaz espigado, muito parecido com Isabel. A rapariga adiantou-se ao seu encontro e os dois irmãos abraçaram-se alegremente. Depois, ela apresentou-o a Rand.
— Meu irmão Pedro. O senhor Rand Allen, de Marzdland.
O rapaz estendeu-lhe francamente a mão delgada e morena, nervosa como o seu olhar.

quarta-feira, 28 de novembro de 2018

BIS170.05 Caminhar na noite, mesmo feridos

Kent Barclay recebera uma segunda ferida, mas ambas eram de pouca importância, por sorte. Chegou junto deles quando a coxa de Rand já estava a descoberto, pois Isabel havia cortado habilmente a perna das calças com uma tesoura e deitou uma olhadela à ferida que os outros dois também observavam.
O projétil havia atravessado a coxa uns vinte e poucos centímetros acima do joelho, saindo, segundo parecia, sem atingir o osso. A ferida era muito aparatosa e sangrava com abundância. Rand começava a sentir-se mareado e a perna intumescia.
— Façam um torniquete com uma corda molhada — resmungou. — É preciso estancar a hemorragia o mais rapidamente possível.
— Fique um momento com ele, Kent. Volto imediatamente.
A rapariga dirigiu-se apressadamente para o carro e Kent ajoelhou-se com esforço, fazendo uma careta. Rand, entretanto, tapava os orifícios com algodão enrolado num lenço que Isabel trouxera.
— Ao fim e ao cabo tivemos sorte, Allen — comentou. — Estamos vivos e essa gente foi-se, segundo parece sem vontade de voltar por agora.

terça-feira, 27 de novembro de 2018

BIS170.04 Emboscada

A pequena caravana avançava lentamente sob o sol brilhante pela margem duma pequena corrente de água que se encaminhava para o sul e pela parte oriental de um largo vale, entre colinas arborizadas dum lado e lombas de vegetação luxuriante do outro.
Eram dez da manhã do décimo dia de marcha. Isabel cavalgava entre Torres é Rand, uns cem metros adiante do carro e do resto da escolta. A jovem ia falando:
— Chegaremos a casa amanhã ao meio-dia. Este é o rio Navasota. Valle Hermoso fica do outro lado, dessas colinas. Há-de gostar de Valle Hermoso, senhor Allen. Quatrocentos e cinquenta quilómetros quadrados da melhor terra do Texas, oito mil reses e vinte mil ovelhas. Tudo é nosso.
— Têm muita gente ao vosso serviço?
— Sessenta vaqueiros, oitenta pastores de ovelhas e quarenta camponeses. Valle Hermoso é uma verdadeira povoação, de quase quinhentos habitantes. Além disso estamos em relativas boas relações com os peles-vermelhas, pois não esquecem que meu pai foi sempre seu amigo.
— Compreendo. Onde fica o rancho de Seth Markham?
Isabel e Torres trocaram um olhar rápido. A jovem cerrou os lábios e indicou o norte com o indicador.

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

BIS170.03 Em defesa dos índios

Descobriu que o grupo de mexicanos os aguardava e que também havia um carro novo, sólido, pequeno, puxado por quatro excelentes mulas, onde foi metida a bagagem, bastante volumosa, de Isabel.
Com certa surpresa, viu que ela tinha pensado em tudo, pois havia ainda um baio de boa estampa preparado para ele. A jovem sorriu, divertida, quando se referiu ao assunto.
— Não se trata de bruxaria. Em Alexandria mandei um recado ao chefe dos meus homens por um barco que se preparava para zarpar quando nós chegámos. Não se lembra? De resto, eles estão aqui há apenas quatro dias. Quando nos encontrámos a primeira vez, eu não ia para Shreveport, mas sim para Galveston, para, dali, tomar um barco para Nova Orleães. Foi uma casualidade afortunada o facto de nos encontrarmos a bordo do outro...
Possivelmente. Mas agora ele, Rand Allen, sentia que tinha sido como aprisionado numa teia de aranha gigantesca, e aquela aranha tinha os olhos mais belos e mais aveludados do mundo.

domingo, 25 de novembro de 2018

BIS170.02 Como abdicar da liberdade numa partida de cartas

O forasteiro estava a acabar de comer a sua pouco refinada mas abundante refeição quando a rapariga entrou na sala de jantar do hotel dirigido pela senhora Hogdson. E não pôde deixar de lhe dirigir um olhar.
Ela era de estatura mediana, cintura estreita e busto opulento; vestia de azul-escuro e usava o cabelo, de um castanho brilhante, preso num rolo gracioso, sobre a nuca. Não devia ter muito mais de vinte anos e era, sem dúvida, uma beleza, sobretudo comparada com as mulheres que, então, se podiam encontrar no Texas. Também tinha todo o ar de uma senhora.
Acompanhavam-na dois tipos jovens, um alto e o outro de estatura média, ambos bem armados e vestidos de maneira diferente. O mais baixo era, sem dúvida, um mexicano, o outro, americano.
Segundo parecia, os dois homens constituíam a sua escolta, muito necessária, realmente...
A rapariga distinguiu-o com um olhar rápido, indo depois ocupar, com os seus companheiros, uma mesa afastada. Enquanto lhe serviam o jantar não deixou de o olhar com uma intensidade superior à normal numa rapariga da sua classe aparente.

sábado, 24 de novembro de 2018

BIS170.01 O orador é executado

— Neste Estado de Texas, soberano e livre, nesta primavera de 1843, toda a gente faz o que lhe apetece, com a única condição de ter força suficiente para impedir que outros lho proíbam.
O orador foi premiado com uma salva de palmas unânime. A reunião política efetuava-se no estabelecimento mais amplo da cidade de Westdale, comunidade do uns quatrocentos e oitenta habitantes brancos, fundada havia cinco anos precisos, aquando da independência do Texas, por um punhado de aventureiros procedentes do Nordeste e chegados ali, como quase todos os americanos que se dirigiam para o flamante Estado, com a esperança de enriquecerem rapidamente.
As cento e tantas famílias em que se tinham convertido as trinta e duas primitivas, falavam alto das ótimas condições das terras dos arredores e, na verdade, poucas se poderiam encontrar tão boas para pastagens e agricultura nas margens do rio Trinidad.
Também é verdade que, pelo menos uma quinta parte dos duzentos homens da comunidade trabalhava o menos possível; mas isso era pecha do lugar e da época, se bem que o facto sempre tenha sido um fator comum a todos os lugares e a todas as épocas do mundo.

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

BIS170. Texas, terra da violência

 
(Coleção Bisonte, nº 170)
 

No estado de Texas, soberano e livre, nesse verão de 1843, toda a gente fazia o que lhe apetecia, com a única condição de ter força suficiente para impedir que outros lho proibissem.

Nesse contexto, a vingança era algo que estava sempre presente no dia a dia dos habitantes.
Rand Allen foi contratado para vingar a esposa de um velho texano que tinha sido abatida numa emboscada movida por um americano presente na região e que tudo conseguia sem escrúpulos. Vários fatores facilitaram o contrato, a beleza de uma jovem e o facto de ter contas pendentes com o abusador.
 
Este livro de Jess McCarr é extremamente palavroso e constitui, por vezes, uma oração a favor dos índios despojados das suas terras pela invasão branca. É, nesses moldes, um tanto diferente de tantos outros que já apresentámos do mesmo autor debaixo desse pseudónimo ou sob o de Cliff Bradley que em determinado momento até considerámos profundamente reacionário.

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

BIS169. O degenerado

 
(Coleção Bisonte, nº 169)
 
O xerife Fischer, da pequena povoação Little Mountain, procurava infrutiferamente apanhar um bandido autoapelidado de «Jaguar» que não deixava em paz os ranchos da região nem o transporte de valores sendo responsável com a sua quadrilha por inúmeros crimes. Os poderosas já falavam em o demitir.
Decidiu, por isso, apelar a três amigos para o apoiarem. Conheciam-se desde os tempos da guerra civil e a sua amizade era inquebrável. Apenas um faltou ao apelo... e um dia em que Fischer viu o «Jaguar», entendeu que algo de conhecido havia nele...
A suspeita está presentea do princípio ao fim nesta obra de Louis Rock até no desfecho em nada esperado pelo xerife…


(Publicado no Novelas do Oeste Distante)

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

BIS168.11 O derradeiro combate / Conclusão

«O destino é mais forte do que tudo», pensou McGinnis, enraivecido com a sua própria pessoa, na incómoda posição em que se encontrava, acocorado no interior do roupeiro de Mabel Lee, Mabs para os íntimos, a rapariga de Hook.
Franck estava bêbado um segundo antes daquelas pancadas na porta; agora, sentia-se, perfeitamente, lúcido.
Escondera-se ali, mais pela rapariga do que por ele mesmo. Se Hook o descobrisse, um dos dois morreria... Ouvia-os falarem:
— Olá, Hook.
— Boas noites.
— Não te esperava. Que sé passa?
— Nada. Estou aborrecido.
— Porque estás a olhar para todos os lados?
— Por nada e deixa-te de fazer perguntas.
— Estás zangado comigo?
— Onde estavas?
— Deitada.
Foram momentos de expectativa. McGinnis do seu esconderijo ouvia tudo. Pensou que ia ficar toda a noite no meio das roupas de Mabel, até que ouviu o rancheiro dizer:
— Vou-me embora.

terça-feira, 20 de novembro de 2018

BIS168.10 Chega o terror

O chicote sibilou no ar e quando bateu nas costas nuas daquele homem deixou ficar uma marca sanguinolenta. Um dos dois homens que o seguravam foi também atingido e praguejou enraivecido: — Diabo, chefe. Não estou a gostar de fazer isto.
— Cala-te! Para tipos da laia desse canalha o chicote é bom demais. Só uma bala entre os olhos — e Hook enraivecido ia bater segunda vez.
O castigado, um vaqueiro pago por ele, chorava de dor e balbuciou:
— Não tive culpa. Ela... — calou-se ao ser golpeado pela segunda vez, com os músculos crispados. Forcejou por libertar-se, mas estava bem preso pelos dois companheiros.
— Se me bates... outra vez... mato-te! — berrou encolerizado.
Ouvindo isto, Graham ficou ainda mais furioso e ia canalizar a sua fúria para a ponta do chicote que empunhava, quando a porta da dependência onde se encontravam os quatro homens se abriu para dar passagem a Patrícia Hook. Esta olhou admirada para aquela cena e depois explodiu:
— Como te atreves? Desgraçado!
— Cala-te! — berrou o irmão. — Por tua causa sou escarnecido pelo mais ínfimo dos meus homens.
— Sou maior e posso escolher as minhas companhias — desafiou.
— Sai! Não és digna sequer de falar para mim!

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

BIS168.09 A tentação surge onde menos se espera

Aqueles três dias de inatividade e falta de notícias passaram penosamente para McGinnis.
Na manhã do quarto dia, resolveu ir ao rancho sob mil e um pretextos que escondiam o principal, e entre estes a escassez de alimentos e tabaco. Entregou a chefia do posto a Grant e partiu. Cavalgava não muito depressa, seguindo a cerca que dividia as duas fazendas em litígio. Resolvera seguir aquele itinerário para verificar o estado daquela. Só muito tarde avistou o cavalo que pastava calmamente do lado dos terrenos de Hook e o vulto caído por terra.
— Socorro! Parecia uma voz de mulher.
McGinnis parou.
— Ajude-me, por favor.
Aquilo podia ser um ardil, pensou o preto.
— Que lhe aconteceu? — gritou. — Caí do cavalo. Creio que tenho qualquer coisa partida porque não me posso mexer! — e juntou um gemido às palavras.
Para o diabo com as precauções — congeminou Franck fazendo a montada saltar por cima da cerca. Ela era jovem e bonita. Estava caída por terra, uma perna dobrada por baixo da outra.

domingo, 18 de novembro de 2018

BIS168.08 Traidor executado

— Passo!
— E tu?
— Fico!
A noite tinha caído há já duas horas. Russel estava de posto e os outros quatro, incluindo Franck, jogavam às cartas. Os três vaqueiros olharam fascinados para as mãos de McGinnis que, com uma mestria surpreendente, baralhava as cartas. Isso vinha provar que, além de bom atirador, era hábil ao jogo.
— Três pedras! — disse Grant.
— Lembra-te do limite — observou McGinnis.
— Qual limite?
— Duas pedras, o máximo.
— Hoje estabelecemos qualquer limite?
— Não. Mas a combinação já vem das outras noites.
— Está bem. Seja. Duas pedras! Vocês viram logo que eu tinha bom jogo e não me querem deixar enriquecer.
Os companheiros riram. Jogavam a pequenas pedrinhas que ali faziam a vez de dinheiro. McGinnis não permitira que se jogasse a dinheiro, o que, aliás, não tirava interesse às jogadas.
— Então, Richard? Decide-te, homem — dizia Grant. — Por mais que olhes para as tuas cartas não consegues valorizar o teu jogo e, já sabes que o meu é bom...
— Passo!
— Passo! — repetiu Franck.
Green ficou indeciso. Olhou para Grant tentando adivinhar a verdade das suas palavras. Estava convencido que o jogo dele não era tão bom como apregoava. Já tinha perdido muitas pedras naquela noite. Desistiu.

sábado, 17 de novembro de 2018

BIS168.07 Vigiando dia e noite

O cavalo veio por ali fora naquela tarde ensoleirada, envolto numa espantosa nuvem de poeira que nada deixava distinguir, galopando endiabradamente e, ao passar defronte dos vaqueiros que tinham sido colhidos de surpresa, algo caiu ao chão rebolando alguns metros.
Era um homem!
O vaqueiro Jenkins logrou segurar o solípede e os restantes correram para o corpo imóvel estendido no solo. O homem chamava-se Tono e era um dos guardadores do gado de Estapoole.
Apresentava pelo corpo indícios seguros de ter sido sovado e o vestuário encontrava-se em farrapos. Pegaram nele e levaram-no para cima de uma pilha de feno, num local abrigado dos raios do Sol.
Nessa altura chegaram Estapoole, o filho Allan, McGinnis e o capataz Mac Donald.
— Que se passa aqui? — perguntou o velho rancheiro.
O pessoal abriu fileiras para ele passar.
— É o Totto — disse um do grupo. — Parece que se meteu em apuros!
Alguém atirou água para cima do rosto do inconsciente, mas demorou muito tempo até este recobrar o conhecimento. Joseff Mac Donald encarregou-se de o interrogar.
— Ouve, Totto, o que foi que te aconteceu?
O ferido rebolava os olhos dentro das órbitas, todavia, parecia ainda distante em pensamento do sítio onde se encontrava. Em voz muito débil, perguntou por sua vez:
— Onde estou eu?
— Estás em casa, homem. Eu sou Mac Donald. Precisamos de saber o que te aconteceu.
O vaqueiro cerrou novamente os olhos. Via-se que sofria. O capataz pegou num cantil com água e introduziu-lho na boca.
— O que se passou, Totto?
Um silêncio de chumbo pesava sobe os circunstantes. Se um cavalo relinchasse ali naquela altura, o som que produziria seria tão atroador como o tiro de um canhão.
— Foi Hook... — sussurrou o ferido.
— O que se passou?
— Eu apanhei Hook... no nosso terreno... levando cinco vacas... estava sozinho...
Hook atirou-se a mim com os seus cinco homens... amarraram-me as mãos a uma corda comprida e arrastaram-me durante muito tempo... atrás de um cavalo... depois fiquei ali... A cabeça do ferido pendeu novamente para o lado, ficando inconsciente.
— Levem esse homem para o seu quarto e prestem— lhe a devida assistência — ordenou a voz crispada do velho Estapoole.
— Sabemos agora — dizia o rancheiro ao jantar —que o nosso gado não foge para o terreno de Hook. Ele é que vem ao nosso terreno apanhá-lo para o levar para lá, onde o marcam com o ferro deles.
— Graham Hook é um canalha e merecia o mesmo castigo que deu ao Totto! — exclamou a voz exaltada de um dos vaqueiros.
— Quando aqui cheguei, rapazes — continuou o rancheiro — o assunto era tratado de modo muito diferente. Imperava a lei das armas e a do mais forte. Um dos dois tinha de morrer... Hook ou eu! Agora temos de agir de outra maneira. Vigiaremos noite e dia os limites do terreno deste rancho e, se esse canalha tentar repetir esta ação, castigá-lo-emos ali mesmo...
A refeição decorreu, a partir daqui, entre conversas exaltadas que visavam um só assunto.
A manhã ainda tardaria muito tempo a romper, quando os cinco homens abandonaram o edifício principal do rancho e se dirigiram para o barracão onde estavam os cavalos. Eram eles Allan, McGinnis, Mac Donald e mais dois vaqueiros.
Começaram a selar as respetivas montadas, sem dizerem uma palavra sequer. À luz difusa da manhã, algo de sinistro luzia na cinta daqueles homens. Armas! Os dois vaqueiros levavam carabinas.
— McGinnis! — chamou uma voz de mulher do exterior.
As cinco cabeças moveram-se para a porta do barracão. Era Helena Estapoole!
— McGinnis! — repetiu.
O preto caminhou na sua direção e ficou parado a alguns passos dela. A jovem olhou em silêncio para a coronha do Colt que sobressaía do coldre suspenso do cinturão. Compreendeu que o homem que estava à sua frente não era o vaqueiro McGinnis, mas o pistoleiro McGinnis, a quem chamavam o pistoleiro preto. Por força das circunstâncias e, quem sabe, talvez por amor à sua pessoa, Franck pusera de parte o seu sonho de uma vida pacífica e ia retornar aos seus tempos passados, numa palavra — lutar! Deram as mãos. Apercebendo-se do embaraço em que se deviam achar os dois jovens pelo facto de estarem a ser observados por todos, Allan disse em voz alta, de modo a ser ouvido por todos:
— Eh, Joseff, fecha-me essa porta. Está uma corrente de vento dos diabos!
Isto equivalia a um pacto entre eles!
— Minha mãe sabe que nos amamos — disse Helena. — Mandou-me entregar-te esta corrente de prata com uma medalha, para que nada te aconteça.
McGinnis não era religioso. Não sabia mesmo rezar. Mas às vezes, quando passava as noites pela pradaria tendo por tecto o céu estrelado, punha-se a pensar que havia de haver uma força poderosa a regular todas as coisas, os homens, as estrelas e as plantas. Deixou que ela pusesse o fio em volta do seu pescoço. As suas mãos estavam frias. Abraçou-a e beijaram-se.
— Adeus, Helena... Até ao regresso...
— Adeus, McGinnis... — e ela afastou-se apressadamente, quase correndo, para que ele não a visse a chorar.
Franck retornou ao barracão. Allan acabara de selar a sua montada.
— Obrigado, Allan... por teres acabado o meu trabalho — montou agilmente, sem pôr os pés nos estribos, à maneira índia.
— Vamos embora antes que amanheça.
No silêncio da manhã ouviu-se o tropel dos cinco cavalos. Por detrás dos vidros de uma janela, um rosto feminino via-os partir, enquanto grossas lágrimas deslizavam suavemente pelo bronzeado da sua pele. E, na janela ao lado, um rosto de homem também seguia com o olhar os cavaleiros matutinos. Era Estapoole...
Os cinco cavaleiros chegaram ao local onde pastava o grosso da manada e foram recebidos pelos gritos de entusiasmo dos vaqueiros que ali se encontravam, que recebiam desta maneira jubilosa o reforço armado.
Desde o que acontecera ao Totto, os guardadores viviam em sobressalto. Havia um homem que eles receberam com mais entusiasmo. Era McGinnis! Sabedores da fama que ele arrastava consigo como atirador — embora nenhum deles o tivesse visto atirar! — a presença dele ali era como uma barreira de segurança contra todos os possíveis inimigos, uma vez que nenhum dos vaqueiros possuía uma arma sequer.
Dada a má vizinhança com Graham Hook, que se arrastava já há um ror de anos, ameaçando de dia para dia tornar-se numa guerra aberta entre os dois rancheiros e, tendo em atenção a extensão do terreno de pastagem — mais de três quilómetros! — Estapoole resolvera montar três postos de vigilância ao longo da vedação que separava as suas terras das do vizinho beligerante.
Em dois deles, encontravam-se sempre quatro homens, noite e dia. O pessoal destes postos era rotativo, mudando-se ao fim da semana, de uns para outros.
No terceiro posto — chamar-se-ia, com propriedade, posto-central — encontrava-se o restante pessoal.
Estes homens viviam em barracões de madeira, onde faziam toda a sua vida, desde o dormir até ao próprio cozinhar das suas refeições. Mensalmente, eram rendidos por pessoal vindo de cima e Estapoole dava-lhes dois dias para se divertirem... e embebedarem! — no povoado.
McGinnis e os companheiros desmontaram defronte do posto-central, um barracão de madeira enegrecida por cuja chaminé saía um fumozinho preto.
— Alô, pessoal! — saudou o capataz.
— Bons dias. Sejam bem aparecidos! Chegam mesmo na altura do café!
— Vamos a ele.
E, ruidosamente, encaminharam-se para a porta da entrada do barracão. Sem ninguém dar por isso, Franck separou-se do grupo, dirigindo-se em direção diferente. Quando notou a sua falta, Allan chamou-o:
— Eh, McGinnis! Não vens?
— Não demoro nada. É só um momento.
Debruçou-se sobre a vedação de toros de madeira, que marcava o limite das terras de Estapoole. Para lá, era zona proibida. No entanto, dum lado e do outro, a paisagem era realmente a mesma: prados verdejantes que se estendiam até perder de vista. Por vontade dos homens, aquela terra igual dividia-se naquele ponto. Para cada um dos proprietários, o lado contrário era zona proibida...
McGinnis demorou-se ainda ali algum tempo. Depois tomou o caminho do barracão. Mac Donald trouxe-lhe uma caneca com café e pão com fiambre. À socapa, os vaqueiros presentes olhavam com admiração para aquele preto musculoso, que diziam ser hábil no manejo do único Colt que trazia pendente do cinturão de couro, repleto de balas. Quando acabou de comer, Franck fez um gesto com ambas as mãos e as conversas morreram ali.
— Tenho um plano para todos...
Sentou-se na mesa, brincando com uma faca de cozinha e os outros chegaram-se para o pé dele.
— Temos três postos de vigilância — continuou. — Cada um de nós — e designou-se a si, a Allan e ao capataz — chefiará esses postos. Mac Donald, a tua presença é mais precisa aqui do que em qualquer outro lado... Allan ficará no posto Sul e eu no do Norte.
O posto Norte era aquele onde se dera o incidente com Tono. Voluntariamente ele oferecia-se para o posto mais visado por Hook e Allan compreendeu, porque começou a dizer:
— McGinnis eu...
— Fico no posto Norte, Allan! — disse terminantemente o preto. — Ninguém te garante que o do Sul não seja brevemente o atacado...
Allan calou-se.
— A gerência e normas de vigilância de cada posto ficarão ao cuidado do chefe do mesmo. No meu, estabelecerei turnos de guarda, rendidos de duas em duas horas. Se se der algum incidente, imediatamente avisaremos o posto a seguir e este, por sua vez avisará o outro. Okay?
— Okay! — responderam-lhe, quase em uníssono, Allan e o capataz.
— Boa sorte — desejou o preto aos seus dois amigos, juntando às palavras uma palmada amigável nas costas de cada um e, dando o exemplo, saiu e montou, partindo em direção ao posto que destinara a si próprio.
Joseff e o filho de Estapoole saíram logo a seguir. Quando McGinnis avistou o barracão de madeira, mais pequeno que o do posto-central, que seria a sua casa durante os tempos mais próximos, abrandou a marcha do solípede. Compreendeu imediatamente a razão porque Hook tinha escolhido aquela zona para as suas surtidas. O terreno era um bocado sinuoso, com altos e baixos, o que facilitava a aproximação dos inimigos. Ia com os olhos fixos no barracão e estranhava por não ver fumo sair pela chaminé, nem ninguém presente ao redor do mesmo. Onde estaria o pessoal? E, o seu coração começou a bater com mais força: teriam sido novamente atacados? Ia esporear a montada, quando uma voz à sua direita lhe freou os intentos:
— Mãos no ar!
Obedeceu prontamente, mas continuou sem ser ninguém. O atacante estava escondido atrás de uns arbustos mas, por qualquer motivo, não queria mostrar-se.
— Faz marcha atrás e vai dizer ao porco do Hook que nós estamos armados e à espera dele. Armados, percebes? E agora desaparece, antes que eu... — a voz soava com bastante aspereza.
McGinnis ficou nó mesmo sítio e fez prodigiosos esforços para não romper às gargalhadas. Sabia agora porque era que o seu atacante não queria mostrar-se...
— Sei que você não tem qualquer arma... — disse. — A sua sorte é eu pertencer ao pessoal do Estapoole e vir como amigo — desmontou. — Venha daí dar um abraço.
O vaqueiro levantou-se imediatamente e ficou hesitante.
Era um homem forte, com a barba hirsuta e o aspeto de quem não pregava olho há muito tempo.
— Chama-se McGinnis?! — perguntou, ainda pouco convencido e receando, talvez, ter caído num ardil.
— O meu nome é Franck McGinnis!
O homem veio quase a correr, aos tropeços, de mão estendida. Parecia que ia chorar de alegria.
— Desculpe. Mas nós não temos armas... e depois do que aconteceu ao Totto! Que havíamos de fazer, senão jogarmos aos policias e ladrões como os meninos da escola? Chamo-me Grant — depois de apertar a mão ao preto, levou ambas as mãos à boca, em forma de concha e chamou: — Richard! Green! Venham cá!
McGinnis viu-os levantarem-se dos sítios onde estavam dissimulados e ficarem em expectativa. Grant repetiu a chamada:
— Venham cá! É um amigo...
— Falta um — disse o preto. — Onde está?
—É Russel, um valente. Está mais longe e tenho de ir lá chamá-lo. Foi ele quem se ofereceu para ir para lá!
Caminharam ao encontro dos outros dois homens. O aspeto era igual em todos: a barba por fazer e os olhos vermelhos de cansaço.
— Não temos medo, McGinnis — afirmou um deles, depois dos cumprimentos. — Se tivéssemos uma arma cada um!
— Vocês devem estar esfomeados!
— Esfomeados?! — desataram a rir. — Não comemos nada desde que Totto foi atacado!
— Se não se importam, sou o novo chefe deste posto — exclamou Franck. — Acho que vamos ser uns companheiros esplêndidos até nos virem render — riu. — Agora, Grant, pegue o meu cavalo e vá chamar esse Russel de uma figa. Entretanto, Richard é mestre cozinheiro e Green é o ajudante da cozinha. Eu ficarei cá por fora.
Os três homens entreolharam-se surpreendidos. Depois trocaram um olhar de inteligência acompanhado de um sorriso, Grant montou o cavalo dele desaparecendo em cavalgada e Richard e Green encaminharam-se para o interior do barracão.
Dentro de minutos, a chaminé fumegava. Russel chegou logo a seguir. Era um mocetão alourado e cumprimentou McGinnis com alegria. O preto afastou-se depois alguns metros da cabana. Ouvia-os a trautear lá dentro, enquanto se barbeavam. Richard surgiu à porta.
— Não vem comer, McGinnis?
— Não, obrigado. Já almocei.
— Bom.
Demoraram-se alguns minutos, até que saíram todos para o exterior. Pareciam outros, lavados e bem-dispostos. Rodearam Franck que estava sentado no alto de uma pedra. Este passou a olhar por todos eles.
— A ordem agora é dormir — exclamou o chefe meio sorridente.
— Mas... — ia a protestar Grant.
— Eu disse, dormir! Okay? Eu ficarei por aqui.
Os quatro vaqueiros não tiveram outro remédio senão dar meia volta e regressar ao barracão. — Este é de fibra — ouviu Russel dizer para os outros. Deviam ter adormecido imediatamente e o silêncio caiu sobre aquelas paragens.
Grant foi o primeiro a acordar e verificou, espantado, que a noite descera. Soergueu-se e viu Richard, Green e Russell a dormirem a sono solto, nas camas ao lado. «O preto deve ainda estar de posto! — pensou. — Uma vergonha!»
Levantou-se, rapidamente, enfiou as botas e renunciando a passar um pouco de água pela cara, para não perder tempo, saiu do barracão. Na claridade da noite, descobriu McGinnis ao fundo, sentado sobre uma pedra. Aproximou-se. O negro volveu o olhar para trás e continuou na mesma posição.
— Está uma noite sem estrelas — disse Franck.
Grant olhou o céu e viu que, realmente, a noite não estava estrelada.
— Se calhar vai chover — concluiu o preto.
Grant, que esperava ouvir uma reprimenda pelo facto de se terem deixado adormecer, ficou boquiaberto com aquelas considerações meteorológicas.
— Desculpe, McGinnis. Adormecemos estupidamente...
— Estavam de facto muito cansados... — concordou o outro e prosseguiu: -- Este lugar de sentinela faz-me lembrar os tempos de tropa, quando nos exercícios cavávamos uma trincheira e ficávamos vigilantes toda a noite, embora soubéssemos que não havia qualquer inimigo...
Grant reparou que ele estava com um cobertor pelas costas.
— Vá-se deitar, McGinnis. Já esteve aqui tempo demais.
O preto passou-lhe o cobertor.
— Tenha particular vigilância ali — e estendeu o dedo em determinada direção. — Daqui por duas horas chame o Richard, este chamará o Green, depois o Russel e, a seguir, eu. Entendido?
— Okay!
— Pegue na minha arma. Raramente me separo dela... mas agora é um momento especial. Entregou-lhe o Colt. — Você fez mal em levantar-se — exclamou. — Está frio! De dia faz calor, mas à noite o vento sopra gelado — e afastou-se para o barracão.
Grant viu-o afastar-se. Depois sentou-se sobre a mesma pedra e concentrou a sua atenção na escuridão envolvente.
— Este preto desconcerta... — murmurou.
Dez dias! Mais de uma semana tinha passado, desde a chegada de McGinnis àquele posto de vigilância. Ocorrências: nenhumas! Tudo calmo, tão calmo como as longas tardes escaldantes, com o Sol a pino e sem uma aragem a refrescar. O cow-boy criara novo ambiente no barracão. Mandara deitar fora as latas de conserva empilhadas a um canto e que quase já atingiam as vigas do tecto, o chão foi varrido, as camas alinhadas, a cozinha lavada, o tecto arranjado e substituídas as tábuas por onde o vento entrava livremente à noite. Resumindo, a cabana ficara com um aspeto mais habitável...
Depois deste serviço, nada mais havia a fazer, pois raramente apareciam por ali algumas vacas de Estapoole, dado que aquele terreno era rochoso e de má pastagem. McGinnis jogava às cartas com os companheiros durante o dia e à noite, quando não estava de turno, pensava em Helena Estapoole, acariciando o fio de pescoço que ela lhe dera. Os dias passaram-se assim, monótonos e sem vida, até ao momento em que Russell, que estava de vigilância, gritou:
— Vem aí um cavaleiro!
McGinnis, Grant, Richard e Green que estavam sobre nas camas, saltaram para o chão como impulsionados por molas. Chegados ao exterior, olharam para os dois lados e não viram nada. Mas não tardou a aparecer o cavaleiro, ao longe, oculto num baixio do terreno.
— Que fazemos? — inquiriu Grant dirigindo-se a McGinnis.
— Aguardamos! — foi a resposta. Pediu a arma a Russel e, quando o cavaleiro desapareceu noutro declive do terreno, correu velozmente para os arbustos ressequidos de onde tinha sido surpreendido por Grant, à sua chegada.
Seguindo o seu exemplo, os quatro vaqueiros dispersaram-se também. O cavaleiro estava agora mais próximo. Trazia um volume atrás na montada. McGinnis esperou que ele passasse à distância de alguns metros do sítio onde se encontrava escondido. Depois quando o recém-chegado estava de costas, levantou-se rapidamente e saltou para o caminho.
— Faça alto e levante as mãos!
O cavaleiro parou e obedeceu, sem se voltar. Franck rodeou-o até ficar de frente.
Era um homem aí de uns quarenta anos, forte, que trajava à vaqueiro, sem armas. Os olhos estavam cravados na arma que o preto apontava.
— De onde vem e quem é?
O homem não chegou a responder, porque a voz de Grant deu a resposta nas costas de McGinnis:
—É o Hunster! É dos nossos, McGinnis.
— Não o conheço — disse este.
—O Estapoole tinha-o mandado às margens do Rio Cimarron levar uma carta a um irmão dele que lá vive. Quando Franck guardou a arma, o homem desceu do cavalo e abraçou os companheiros.
— Que trazes aí? — quis saber Russel, apontando para o embrulho.
— São armas para vós.
— Bravo! — gritou Grant e atirou-se logo à embalagem.
Eram carabinas de repetição, novinhas em folha.
— O velho comprou isso agora. A acompanhar as armas vinha uma caixa de munições.
— Distribuí igual quantidade nos outros postos — informou o visitante. — Allan manda dizer que qualquer dia aparece aqui.
Hunster naquela noite ficou ali, pois os companheiros estavam ávidos em saber notícias do rancho e do povoado. E, ele trouxe uma novidade: Hayman City brilhava agora com mais uma beldade.
Chamava-se Mabel Lee e não era osso para qualquer. Tinha havido cenas de tiroteio por causa dela e o xerife Flanagan via-se em apuros com tanto serviço.
Toda a gente lamentou que, naquela noite, não tivesse havido nada que originasse a estreia das novas armas. Mas McGinnis meditou até altas horas da noite que, embora sem notícias de Estapoole, se ele mandava aquelas armas era porque a situação se agravava...
Dois dias depois de Hunster partir, chegou Allan. Desta vez, ele foi recebido a pé firme e de armas na mão por todos e ninguém teve necessidade de se esconder. Para um só homem, cinco chegavam e sobravam...
Allan desmontou, abraçou McGinnis e perguntou se não se arranjava nada de comer. Grant, que estava de cozinheiro naquele dia, correu para a cozinha e, daí a segundos, o filho de Estapoole estava diante do melhor manjar que era possível arranjar: carne enlatada e café! Todavia, Allan pareceu não notar a frugalidade da refeição e comeu com apetite. No fim, afirmou:
— Vocês estão mais abastecidos do que nós! Hoje os meus homens ficaram só a café! Que raio de vida! Meu pai parece que quer obrigar-nos a uma prova de sobrevivência!
A seguir a alguns minutos de cavaco com os vaqueiros daquele posto, Allan acompanhou McGinnis num passeio pelos arredores.
— Tens recebido notícias do rancho, Allan?
O jovem olhou-o e sorriu. Sabia em que ele estava a pensar.
— Não, amigo. Parece que se esqueceram que nós existimos!
— Teu pai mandou-nos armas. Isso pode significar um agravamento no caso. Mas continuamos às escuras, como náufragos agarrados a uma tábua, à espera nem sabemos de quê... Meus homens são formidáveis. Recusaram-se a serem rendidos no prazo habitual e formamos um autêntico bloco. No entanto, não me sinto satisfeito. Que diabo, precisamos de saber o que se passa!
— Tens razão, McGinnis. Concordo contigo. Porque não dás lá uma saltada? — sugeriu o jovem, mais na intenção de proporcionar ao amigo um motivo para ir ao rancho e consequentemente visitar a irmã, do que qualquer outra razão.
— É o que vou fazer se continuarem a olvidar-nos.
Allan permaneceu todo o dia naquele posto e à noitinha partiu, debaixo de uma ruidosa despedida.

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

BIS168.06 A história de Mc Ginnis

No Oeste, como aliás em todos os países de clima quente, quando acontece chover a água cai do céu em torrentes e alaga tudo em muito pouco tempo.
Naquela manhã, Joseff Mac Donald que além das suas funções de capataz parecia ter vocação para adivinho meteorológico, já por mais de uma vez plenamente comprovada, anunciou que, dentro de uma hora, o máximo, ia chover torrencialmente. Em face deste aviso, toda a gente se entregou à faina de arrecadar tudo o que se encontrava no exterior que ficasse prejudicado com a chuvada. McGinnis estava entre eles e ouviu um dos vaqueiros avisar:
— Aí vem Hook!
Franck olhou pelo canto do olho e viu efetivamente Graham Hook e mais três correligionários aproximarem-se a passo lento das suas montadas. Enquanto Hook continuava na direção onde eles se encontravam, os três companheiros ficaram parados à porta do edifício principal e distanciaram-se entre si. Todos os vaqueiros estavam desarmados e McGinnis que trabalhava dentro do armazém, ao lado de Allan, voltou as costas para a entrada para não ser reconhecido.
— Eh, rapaziada, onde está o vosso patrão? — bradou Hook do cimo da sua montada.
— Deve estar em casa — disse um dos vaqueiros.

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

BIS168.05 Baile no rancho dos Harrison

Por ordem de poderio, o rancheiro Harrison estava em terceiro lugar, a seguir a Hook e a Estapoole. Raro era o mês que passasse sem uma festa em casa dos Harrison e, esse facto devia-se à gente nova que lá habitava. Os filhos do casal eram cinco: Greaf de vinte e cinco anos, Tommy de vinte quatro, Sofie de vinte e dois, Red de vinte e um e Marie de dezoito. McGinnis foi convidado por Allan Estapoole.
— Não sei se vá... — tartamudeou ele. — Essa gente nem sequer me conhece...
Allan compreendeu a razão das evasivas de Franck: a eterna questão da sua cor! Mas, isso não obstava à sua ida. Os Harrissons eram gente decente e, certamente, já tinham ouvido falar nele.
— Isso não é motivo, McGinnis. Se não fores zango--me... Os Harrisson são boas pessoas.
O cow-boy compreendeu o alcance das palavras «os Harrisson são boas pessoas» e concordou.
Assim, na manhã seguinte, obtida a aquiescência do velho Estapoole, Allan, o capataz MacDonald e McGinnis, partiram montados nos seus cavalos.
O rancho Harrison ficava situado no fundo de um vale e, do alto dominava-se toda a fazenda. Os três cavaleiros chegaram lá ao anoitecer e todas as janelas do edifício principal estavam iluminadas.

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

BIS168.04 Um rancho para trabalhar

Seguindo as instruções que o xerife lhe fornecera, McGinnis deu sem dificuldade com o rancho de mister Max Estapoole.
Era uma bela fazenda, que se adivinhava extensíssima, delimitada por uma cerca construída com toros de madeira, a toda a volta. À entrada havia um arco, com os dizeres:
 
RANCHO ESTAPOOLE

Ao fim desse caminho, ficavam as casas de habitação.
Quando entrou, dois vaqueiros, que se encontravam sentados sobre a cerca, olharam-no com curiosidade e surpresa.
McGinnis levava o seu Colt suspenso do coldre à cinta, acedendo assim aos rogos de Flanagan que o convidara a que fosse armado. O bom homem, certamente, receava que ele fosse atacado, mas tal, em boa verdade, não acontecera, e a viagem desde o povoado decorrera sem incidentes de qualquer espécie.
Franck desmontou defronte da entrada principal do edifício. Um vaqueiro abeirou-se dele. Era, ainda, bastante novo e trajava, genuinamente, à moda dos vaqueiros.
— Quem procura aqui?
— Quero falar com mister Estapoole.
— Sou Allan Estapoole! — e o jovem estendeu a mão ao forasteiro. Foi aquele aperto de mão, afinal, que viria a selar uma grande amizade. — Meu pai espera-o.

terça-feira, 13 de novembro de 2018

BIS168.03 A última morada de Lily Carmena

— Que tal se sente? — esta voz libertou McGinnis dos seus pensamentos.
O xerife Flanagan sorria-lhe da entrada, mas no seu semblante adivinhava-se uma certa apreensão, talvez pelo rumo que os acontecimentos estavam a tomar.
O cow-boy ficou calado e tentou sentar-se, o que conseguiu embora sentindo dores enormes em todo o corpo. O xerife foi lá dentro buscar uma cadeira e veio sentar-se ao pé dele.
— Livrou-se de boa! Hook ia matá-lo, não tenha dúvidas. Consegui arrancá-lo às mãos dele e minha mulher fez-lhe os primeiros curativos.
— Agradeço a ambos.
— Falei com Max Estapoole sobre um emprego para si. Está tudo arranjado. Logo que possa deve dirigir-se àquele rancho. Estapoole é uma excelente pessoa e vai ver que vai ficar contente.
— Lily Carmena? — perguntou, simplesmente, McGinnis como exteriorizando um problema que lhe dominava a mente. Jack Flanagan franziu o sobrolho.
— Morreu! — disse.
Notou que os punhos de Franck se fechavam com desespero.

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

BIS168.02 Pratos para o homem branco

Vista de longe, Hayman City nem chegava sequer a parecer uma cascata. Era, simplesmente, um aglomerado de barracões, alinhados uns ao lado dos outros, que tinham sido aproveitados para armazéns e dois saloons, onde os rancheiros que viviam nas vizinhanças, e eram em grande número, vinham aprovisionar-se de víveres e outras coisas mais necessárias nas suas fazendas.
O forasteiro montava um belo cavalo malhado e entrou em passo moderado na povoação, olhando com curiosidade para todos os lados. Vestia um blusão de couro, calças pretas que terminavam dentro das botas de montar e na cabeça trazia um enorme chapéu de abas de corvo que o resguardava do sol. À cinta sobressaía do interior do coldre a coronha de uma arma.
Toda a gente veio à porta para observar o estranho. Os forasteiros eram raros no povoado, porque Hayman City ficava longe das rotas das diligências. Mas não era bem isso que atraía a curiosidade daquela gente. Era a cor do forasteiro! Ele era preto, não mulato cor de café com leite, mas preto retinto!
— Um cow-boy preto! — houve quem murmurasse com assombro.