segunda-feira, 25 de maio de 2020

KNS039. EPILOGO

— ...E aqui têm o verdadeiro assassino de James Taft.
E David Murray apontou Clem Gainer, ao terminar o seu brilhante libelo. Gainer sorriu ironicamente, e inclinando a cabeça, fez uma saudação trocista. Dois comissários agarraram-no, levando-o para fora da sala do julgamento, enquanto Jimmy Derek ia ao encontro do seu defensor e lhe apertava a mão com força.
Nancy e Weeks encontravam-se junto de David.
— Como poderemos pagar-lhe tudo o que fez por nós, David? — disse a jovem.
— Não se preocupe, Nancy. Depois lhe apresentarei os meus honorários. Agora não podemos perder tempo; a senhora Mulloy está à nossa espera com a mesa posta.
—É verdade — concordou Jimmy, com os olhos brilhantes de entusiasmo. — Não podemos fazer esperar a boa senhora. Estou ansioso por conhecê-la; Nancy fartou--se de a gabar, e eu gosto de me sentar ante uma mesa bem preparada.
— Não terás razão de queixa, Jimmy — assegurou David, dando-lhe uma palmada amigável. — A senhora Mulloy preparou algo de especial para ti, que será surpresa.
— Abençoada seja.

domingo, 24 de maio de 2020

KNS039.10 O bandido escondia-se atrás da estrela

David, entrou decidido no vestíbulo do hotel; atravessou-o ante a expressão admirada do porteiro. Sem vacilar, cumprimentou-o:
— Boas tardes.
Esta saudação conteve o porteiro, que se decidia a interrogar o jovem. David subiu a escada sem pressa aparente, mas quando chegou ao cimo, em rápidas passadas foi até à porta do quarto da cantora e, tocando-lhe levemente, verificou que estava aberta; com um brusco empurrão, abriu-a de par em par. Permaneceu imóvel no umbral, vendo como Strond tentava colocar a almofada sobre o rosto da jovem. O «pistoleiro» soltou-a, sobressaltado pela inesperada intervenção do seu inimigo.
— És um cobarde, Strond! Só tens valentia para as mulheres.
— Maldito advogado!
E Strond, com um rápido movimento, puxou do revólver. Mas os seus lábios lançaram uma horrível imprecação ao sentir um doloroso impacto no peito. As suas mãos poisaram com angústia sobre a mortal ferida, enquanto o seu «Colt» caía no chão. Cambaleante, deu alguns passos para David, que permanecia imóvel, olhando-o fixamente, compreendendo que poucos segundos tinha de vida. Caiu no chão como fosse uma pedra.
Perla levantou-se da cama a soluçar e lançou-se noa, braços do jovem. David apertou-a com afeto, tentando tranquilizá-la.

sábado, 23 de maio de 2020

KNS039.09 Tiroteio no rancho / Uma mulher em perigo de morte

David despertou sobressaltado. Acabava de ouvir um grande tiroteio. Ao princípio julgou ser vítima dum pesadelo, mas ao continuar a ouvir os tiros, compreendeu que não estava a sonhar; bastante próximo dele estava a desenrolar-se uma luta feroz.
Pôs-se em pé dum salto e começou a vestir-se apressadamente. Apanhou o revólver, mas ficou pensativo. Aquele não era o seu. Provavelmente tinha sido Weeks que o pusera no seu coldre, sem que ele desse por isso, devido ao seu cansaço. Alegrou-se pela precaução adotada pelo capataz.
Estavam a bater à porta e ele abriu-a, afastando-se para um lado para apontar o revólver ao visitante. Baixou a arma ao reconhecer Nancy.
 — Estão a assaltar o rancho? — perguntou David.
— Sim, dois homens tentam entrar em casa, os restantes atacam os vaqueiros.
— Fique neste quarto, aqui estará em segurança.
A jovem olhou-o, altiva.
— Volto para o lado de Harold. Vim chamá-lo; julguei que não tivesse acordado.
David não pôde deixar de olhar para ela com admiração. Que bela estava naquele momento!

sexta-feira, 22 de maio de 2020

KNS039.08 Escapada para o rancho

Art Kearney tinha tudo bem preparado; provavelmente pagara ao dono da casa para a deixar livremente à sua disposição. Desta maneira podia manobrar à vontade.
David compreendeu que estava perdido. O seu cadáver não tardaria a ser encontrado numa rua solitária. Lamentava o facto somente devido a Jimmy Derek; a sua inocência não podia ser provada. Para ele era completamente indiferente; jamais tivera apreço à vida.
De repente compreendeu que estava equivocado, ao evocar a imagem de Nancy. Sim, queria continuar a viver, gostava da jovem e tinha a certeza de ser correspondido. Esforçou-se por se conter e não agredir Kearney. Isso constituiria um verdadeiro suicídio.
Foi obrigado a entrar na casa. Esta achava-se mobilada com uma mesa rústica e duas cadeiras. Por uma pequena janela entrava 'a ténue claridade do entardecer.
— Acende o candeeiro, Strond, para vermos melhor a cara do advogado.
O pistoleiro obedeceu. A uma indicação do rancheiro afastou a mesa para um canto, deixando sobre esta o candeeiro de petróleo. Kearney concordou, satisfeito, com um movimento de cabeça e disse:
— Sente-se, Murray.

quinta-feira, 21 de maio de 2020

KNS039.07. Apanhado

O juiz Phillip Neil achava-se ocupado na sua distração favorita: a leitura. Também tinha outra que vencia a sua vontade: a bebida. Phillip Neil adorava beber «whisky». Começava por beber um copo e depois já não era possível parar; continuava esvaziando copos com rara facilidade, pois mantinha-se de pé quase sem esforço, denotando somente o nariz o abuso do álcool.
Teria sido um grande juiz, se não fosse aquele vício que o dominava. Algumas vezes tentou lutar contra o vício de beber, mas não foi possível vencer. A sua resistência durava um par de horas, mas decorrido esse espaço de tempo, decidia-se a beber um copo, afirmando a si mesmo que seria o único, mas já não era possível parar.
Este vício obrigara-o a aceitar dinheiro de Art Kearney, dobrando-se aos seus desejos e cometendo várias injustiças. Ao encontrar-se sóbrio, arrependia-se da sua vil conduta, mas o «whisky» não tardava a fazer-lhe esquecer os seus escrúpulos.
Vivia sozinha numa casa sórdida. Esta fora-lhe cedida por Kearney e era outro fator pelo qual não se podia negar aos seus desejos.
Ouviu bater à porta e levantou-se, não sem ter lançado uma maldição contra o importuno visitante. Achou-se em presença dum alto vaqueiro. Não o conhecia e perguntou-lhe em tom colérico:
— Que quer o senhor?
— Desejo falar consigo, juiz Neil.

quarta-feira, 20 de maio de 2020

KNS039.06 Emboscada falhada

Art Kearney empalideceu ao ver David Murray dirigir-se ao seu encontro. No entanto, com um poderoso esforço de vontade, permaneceu impassível. Andrew Strond fingiu não dar pela sua presença. David deteve-se ao lado da mesa que os dois homens ocupavam juntamente com Perla Day. O seu aspeto era calmo e não denotava qualquer disputa.
— Olá, Wallace! — saudou Kearney, correspondendo ao aceno mudo do jovem. —Vejo que o xerife fez uma bela aquisição.
—Ele assim o afirmou quando me ofereceu este cargo
— De facto, não se pode negar que o senhor é «alguém» com um «Colt» na mão.
— Sei usá-lo.
—Eu não lhe guardo rancor — disse Kearney, sorrindo. — A nossa disputa foi uma patetice e estou agradecido por não me ter ferido.
— Só atiro para matar quando é necessário.
— Magnífica fórmula. No entanto, devo confessar-lhe que se tivesse conseguido atirar, destroçava-lhe a cabeça estava furioso. Quer beber um copo de «whisky»?
— Se a senhora o permite — disse David, fazendo uma leve inclinação a Perla.
— Não há nenhum inconveniente nisso — respondeu a cantora com um sorriso maravilhoso. —Interessa-me estar bem com a Lei.
—Tem toda a razão, miss Day — assentiu David, sentando-se. — Quando estiver em apuros, achar-me-á ao seu dispor. E o senhor, como se encontra, Strond?

terça-feira, 19 de maio de 2020

KNS039.05 O novo comissário tem uma revelação

Embora David receasse que alguém pudesse andar a espiá-lo, nunca acreditara na certeza desta suposição. Três homens estavam à sua espera no «saloon», vigiando a sua entrada. Deixou o cavalo na cavalariça e encaminhou-se para o «saloon». As horas que galopara sob um sol escaldante provocaram-lhe urna sede terrível, e nada melhor para extingui-la que uma boa caneca de cerveja.
Abriu a porta de guarda-vento, e com um golpe de vista observou os escassos clientes. A sua atenção foi atraída imediatamente pelos três homens que se apoiavam com aspeto descuidado ao balcão. Sem dar mostras da menor desconfiança, colocou-se muito perto deles e pediu ao «barman»:
— Um copo de cerveja!
Este apressou-se a servi-lo. Presenciara os potentes golpes assestados a Andrew Strond, que o pusera fora do combate, e a incrível habilidade e rapidez com que destroçara o revólver de Art Kearney; de nenhuma maneira queria incorrer no seu desagrado.
David, de um trago, esvaziou a metade do conteúdo do copo, acalmando a sede que o atormentava. Agora já se achava cm condições de responder à provocação daqueles «pistoleiros». Estes tinham-se enganado; deveriam tê-lo provocado quando entrara no «saloon».
— Muita sede, amigo? —perguntou-lhe um dos três «pistoleiros».
— Sim.
— A cerveja é um remédio eficaz.
—O mais prático que conheço — respondeu, jovial. —Convido-os a beber também.
— Obrigado, vaqueiro, estamos a beber «whisky».

segunda-feira, 18 de maio de 2020

KNS039.04 Encontro com uma jovem sonhadora

David despertou, e de um salto ficou sentado na cama. Antes de lavar-se examinou os revólveres. Este cuidado, nas atuais circunstâncias, era primordial. Recordou o certeiro tiro efetuado na noite anterior, e sentiu-se satisfeito com o resultado obtido.
Sorriu divertido ao evocar a expressão de assombro aparecida no rosto de Art Kearney. Aquele homem era um «gun-man»; mostrara-o assim que se dispusera a «sacar». Demonstrara achar-se habituado a situações parecidas e era senhor do grande sangue-frio. Ao ver o seu revólver destroçado, sem a mão ser ferida pelo projétil, o pânico invadira-o; vira-o nos olhos o na palidez do rosto do «pistoleiro», que compreendera como a morte estivera tão próxima.
Suspeitava daquele homem. Achava-se loucamente enamorado de Perla Day e isto era o suficiente para sentir um ódio mortal contra Jimmy Derek, pelas suas contínuas atenções dispensadas à cantora. Sim, era possível. Art Kearney não tinha escrúpulos e era capaz das maiores infâmias para conseguir os seus propósitos. Além disso, tinha como capataz da sua fazenda um homem temível como Andrew Strond, cujo aspeto mais indicava um «pistoleiro» que um honrado «cow-boy».
Fosse ou não o assassino, tinha nele um encarniçado inimigo. Tinha de ter cuidado e evitar alguma cilada. Kearney era orgulhoso e não se resignaria a ver passear pela povoação o homem que publicamente o tinha humilhado. Não se atreveria a enfrentá-lo abertamente; depois da sua exibição temia-o; porém mandaria cúmplices habilidosos para o matar.

domingo, 17 de maio de 2020

KNS039.03 A ajuda da beldade

David bebeu outro gole de «whisky» e afastou-se do balcão, que se achava repleto de vaqueiros. Andou pelas mesas em atitude distraída, mas na realidade não lhe escapava nada do que passava à sua volta. Fixou o olhar na cantora muito pintada que atuava no pequeno palco. Ele procurava uma mulher muito mais bela, a estrela do «saloon», e esta era Perla Day.
Ficou olhando como jogavam o «poker». Em Topeka, entre as suas amizades, David Murray tinha fama de ser um bom jogador, e do seu olhar perspicaz não lhe escapou a presença de vários jogadores profissionais.
Se já não o soubesse, este detalhe ter-lhe-ia indicado que Bristol era uma povoação próspera, de contrário, aquelas aves de rapina não estariam ali. O tempo não lhe sobrava, tinha que actuar com rapidez, pois a data para o novo julgamento contra Jimmy Derek aproximava-se com mais celeridade do que desejava. E achava-se como três dias antes: sem o menor indício que o conduzisse à descoberta do verdadeiro assassino.
Viu uma mulher bonita e encaminhou-se para ela. À medida que se aproximava, começou a duvidar que fosse Perla Day; tratava-se de uma artista vulgar, talvez mais formosa que a maioria, mas não acreditava que fosse capaz de fazer perder a cabeça a um rapaz como Jimmy Derek.
Naquele momento deteve-se. Uma jovem descia pela escadaria principal. Os seus cabelos negros penteados com graça estavam seguros por um artístico diadema e as suas feições eram perfeitas, enaltecendo uns olhos maravilhosamente belos e uns lábios rubros como morangos. Não teve nenhuma dúvida; achava-se perante Perla Day.

sábado, 16 de maio de 2020

KNS039.02 Encontro com a paixão

O capataz, depois de ver como os guardas levavam Jimmy Derek, foi ao encontro de David. A eloquência do jovem advogado tinha-o enchido de admiração. No entanto, pensava que ele devia ter atacado mais a fundo para alcançar a liberdade do acusado, pois lhe parecera que a tivera ao seu alcance. Apertou calorosamente a mão de David.
— O senhor é tão bom advogado como me tinham garantido.
Murray teve um sorriso perante aquela expressão de Weeks.
— Agora é que vão começar a aparecer as dificuldades. Tenho de ir a Bristol ver se consigo obter provas da culpabilidade do verdadeiro assassino.
— Julga que seja necessário? Demonstrando a inocência de Jimmy, é o suficiente.
— Não sei se o terei conseguido e embora que assim fosse, isso para mim não seria o suficiente. Sobre a cabeça de Jimmy Derek ficaria para sempre a dúvida e talvez mesmo eu me arrependesse um dia. Não, tenho de saber a identidade do verdadeiro assassino.
— Quando partimos para Bristol?
—O senhor, quando quiser; eu irei sozinho. Quando me encontrar, finja que não me conhece e muito menos tente falar comigo. Compreendeu?
— Perdão, mas não percebi bem...
— Chegarei a Bristol como se fosse um simples vaqueiro...
— O senhor, um vaqueiro? — interrompeu Weeks, surpreendido. — Não conseguirá enganar ninguém. É demasiado... fino e elegante.

sexta-feira, 15 de maio de 2020

KNS039.01 Pela vida de um inocente

David Murray levantou-se com uma ótima disposição. Tudo lhe parecia sorrir na vida, embora isso só tivesse sido conseguido devido ao seu próprio esforço. Não devia coisa alguma ao acaso ou à sorte, mas sim à sua férrea vontade, que conseguira afastar do seu caminho todos os obstáculos que lhe impediam o triunfo.
Era dono duma magnífica casa em Topeka. Achando-se próximo dos trinta anos, os seus amigos tinham começado a insinuar-lhe que a sua residência necessitava duma mulher, que era o mesmo que dizer que devia casar-se quanto antes. Porém, David limitava-se a abanar a cabeça e a sorrir com bonomia. Sim, ele também achava que já era tempo de casar; mas a mulher sonhada ainda não tinha aparecido na sua vida.
Em Topeka tinha a certeza de que ela não se encontrava, pois conhecia todas as raparigas solteiras e nenhuma destas lhe havia produzido a menor impressão. Estava, no entanto, convencido, de que quando ela aparecesse o seu coração pulsaria rapidamente. Na realidade, este importante detalhe não o preocupava muito. O Destino estava traçado. Quando menos o esperasse, a mulher sonhada apresentar-se-ia perante ele. Então, sim, empregaria todos os esforços possíveis e imagináveis para a conquistar.

quinta-feira, 14 de maio de 2020

KNS039.00 Reencontro com «Na pista do culpado»


David Murray era um advogado solteiro estabelecido em Topeka. Vivia numa aparente futilidade pensando que nunca lhe apareceria a mulher da sua vida, embora profissionalmente fosse extremamente competente. A notícia de que um jovem de Bristol ia ser julgado por assassínio fê-lo dar alguma atenção ao assunto o que lhe transmitiu a ideia de que o acusado estava inocente.
Um dia foi surpreendido por um homem que tentava contratá-lo como advogado de defesa do acusado. Aceitou e, depois do contacto com este, mais se convenceu da inocência do mesmo. A sua eloquência conseguiu convencer o juiz a esperar algum tempo a procurar provas da inocência do seu cliente e, assim, partiu para Bristol com esse objetivo.
Apresentou-se na cidade com falsa identidade e, em breve, demonstrou a sua capacidade com as armas e conseguiu fazer-se nomear ajudante do xerife. Depois de algumas emboscadas e perseguições refugiu-se no rancho do jovem acusado onde lhe foi apresentada a irmã do mesmo. Ficou encantado, julgou estar ali a mulher da sua vida.
A novela continuou a desenvolver-se na procura da identidade do verdadeiro criminoso e uma cantora de «saloon», encantada com o advogado, teve papel primordial na sua descoberta, mas a grande surpresa aconteceu a partir do comportamento inesperado do xerife que o contratara.
Interessante novela de Orland Garr onde o tema marcadamente policial não deixou fugir os contornos do Oeste e onde se foi sentindo ao longo do desenrolar a sensação de que aquele xerife tinha qualquer coisa que permanecia escondido.