Rex era um homem um pouco vaidoso e estava acostumado a
impor a sua vontade. Por ser filho do patrão, os vaqueiros toleravam-no.
Tony não lhe foi simpático.
Rex despendurou um laço entrançado e, indicando-lhe o
curral, disse, entregando-lhe a corda:
- Vou soltar aquele potro ruão, para ver se és capaz de
laçá-lo; mas, para isso, terás de montar o teu cavalo pois esse bicho corre
como um comboio.
Os vaqueiros tinham-se aproximado, curiosos, desejando
presenciar aquela prova. Todos sabiam que o potro era veloz como a luz a
galopar e sempre dava imenso trabalho a fechá-lo. Além disso, tratava-se de um
cavalo indómito e cheio de manhas.
Tony nada respondeu, limitando-se a pegar no laço e a montar
no seu baio.
Rex, com um maligno sorriso nos lábios, subiu pelas traves
do curral e, abrindo a portela, fez sair o potro. Este, apenas se viu livre,
soltou um relincho e, sacudindo a cabeça, partiu a galope.
- Olha que ele foge, «boy»! – gritou um vaqueiro.
E, fazendo virar o seu cavalo, cravou-lhe as esporas e
partiu em perseguição do ruano. Todos, ao vê-lo cavalgar, compreenderam que era
um bom cavaleiro. Ia erguido e com os braços livres. A sua mão direita fez
voltear o laço sobre a cabeça.
Rex, a seu pesar, teve de confessar que aquele rapaz não era
nenhum novato. Com tudo isto, Tony adiantou-se ao potro, cortando caminho, e de
súbito lançou o laço que, descrevendo umas quantas voltas no ar, foi envolver o
pescoço do ruano.
Este, ao sentir-se laçado, quis continuar o galope, mas
Tony, demonstrando saber o que fazia, apoiou a extremidade da correia À cintura
e, fazendo dar uma volta ao seu cavalo, travou de chofre a carreira do potro, o
qual, caindo de cabeça, deu uma aparatosa cambalhota o que fez soltar gritos de
admiração aos vaqueiros que presenciavam o trabalho.
Não contente com isto, adiantou-se e, desmontando de um
salto, foi apanhando o laço até se aproximar do indómito animal. Este, ao vê-lo
aproximar-se, tratou de patear enfurecido, mas Tony não lhe deu tempo para
realizar semelhantes exercícios.
Com o maior assombro, todos viram como o novel «cow-boy»
saltava sobre o ruão e, utilizando o laço como rédea lhe passava uma volta pelo
alto da cabeça, convertendo, assim, a correia em cabeçada.
O potro, ao sentir aquele peso estranho sobre os lombos,
começou a retroceder metendo a cabeça entre as patas até que, de súbito, rompeu
numa corrida, deteve-se, levantou-se sobre as patas traseiras e realizou as
mais extravagantes contorções, tratando de se libertar do cavaleiro; este,
poré, como se estivesse colado ao animal, aguentou toda aquela espécie de
piruetas. Depois, começou a dar formidáveis saltos, terminando por girar como a
roda de um moinho.
Tanto Rex como os vaqueiros permaneciam assombrados e com as
bocas abertas, porque nunca tinham imaginado que houvesse alguém capaz de
realizar semelhante exibição.
O próprio Cliff, que tinha saído do rancho ao ouvir de
súbito os gritos de entusiasmo dos seus homens, ficou como se tivesse visões,
ao contemplar o ruano que, movendo a cabeça para cima e para baixo, estava
firme sobre os cascos e soprava ruidosamente.
- Que me enforquem – disse Cliff – se não é o novato.
- É mesmo – respondeu-lhe Rex. – Fiz que o laçasse, supondo
que não o conseguiria e, não contente com isso, montou-o e pretende domá-lo.
- E creio que se vai sair bem. Se mo dissessem, não
acreditiva.
Tony, com a extremidade do laço, castigou as ancas do ruano,
fazendo-o andar mais depressa. Deu várias voltas a todo o galope e, quando
compreendeu que o cavalo estava cansado, encaminhou-o para o curral.
Antes de chegar lá, o potro tratou ainda de fazer algumas
cabriolas, mas, ao sentir as esporas, relinchou asperamente e ficou quieto.
O cavaleiro não se confiava demasiado. Sabia muito bem as
artimanhas a que recorrem todos os potros rebeldes. Por issi, fê-lo passar por
diante da paliçada, dando-lhe palmadas no pescoço, ao mesmo tempo que lhe
dirigia palavras carinhosas:
- Vamos, «pequeno», acaba com as tuas manhas. És um animal
muito bonito, mas estás mal acostumado.
O ruano, ao sentir os gritos e os aplausos dos vaqueiros,
voltou a encabritar-se, e desta vez dando saltos tão desiguais que qualquer outro
teria beijado o pó, mas Tony, com as pernas coladas aos flancos do animal,
aguentou a violenta acrobacia.
O cavalo suava e os seus olhos saltitavam inquietos e
alarmados. A sua inquietação, estava cheia de furor. Era a primeira vez que um
homem permanecia sobre o seu lombo tanto tempo.
A todos quantos o tinham tentado não lhe fora difícil
livrar-se deles, mas agora havia um que se lhe tinha colado como lapa À rocha.
O seu pelo brilhava inundado de suor, e os tremores da sua
pele demonstravam claramente que o medo começava a tomar posse dos seus
poderosos membros.
Ainda não se deu por vencido.
Fez a última tentativa com uma volta rápida, um salto de
lado e uma investida contra a paliçada, procurando, sem dúvida, esmagar a perna
do cavaleiro contra os troncos. Mas de nada lhe valeu, porque Tony, com um
forte puxão, obrigou-o a torcer-se, ao mesmo tempo que voltava a cravar-lhe as
esporas. E foi tudo. O ruano, vencido, baixou a cabeça e, resfolegando,
imobilizou-se.
(Coleção Pólvora, nº 26)
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