quinta-feira, 31 de julho de 2014

PAS367. Morreu uma mulher

— Quem o matou? Sabe-se? — perguntou, num sussurro.
— Um tipo novo na cidade. Mas não sei como se chama. A seguir a uma disputa rija, atirou-lhe de frente. Vi muito bem. Este, coitado, foi rápido, mas o outro parecia um demónio!...
 «Parecia um demónio!» — pensou Gizel.
Depois de passarem umas cordas por baixo das três tábuas desceram o cadáver à vala, e Gizel, com as mãos cruzadas sobre o peito, viu-o desaparecer. Os seus olhos, nublados por um halo de tristeza, pareciam tão opacos, como o Céu cor de chumbo. A terra começou a cair na vala, sobre o cadáver.
«Todos os que se atravessam no meu Destino — pensou Gizel, amargamente — acabam assim. Desde o pobre tio Glenn até este homem, passando pela pobre Lisbeth. Um dia acontecer-me-á o mesmo. Algum pistoleiro desfechará o revólver sobre o meu peito, e, nesse momento, todos dirão: Morreu uma mulher. Não dirão «uma senhora» nem a dona do «Gizel Saloon». Mas simplesmente uma mulher».
Depois da inumação, todos se afastaram. Só ela ficou ali. Então, baixando a cabeça, pôs-se a rezar.
(Coleção Colt, nº 3)

quarta-feira, 30 de julho de 2014

PAS366. Perdoar aos cães vadios do deserto

Burke esporeou o cavalo que empreendeu imediatamente o galope, na direção de umas dunas de areia, enquanto as balas assobiavam à sua volta. Jim Honeyman levantou-se com dificuldade. Quis falar, mas o seu maxilar desarticulado negou-se a obedecer-lhe. Então, segurando-o com a mão esquerda, disse por entre dentes.
— Sigam esse demónio e averiguem a direção que segue.
— A da povoação mineira, como da outra vez. Existe nela uma espécie de reduto, que era o antigo paiol. Sem dúvida, é lá que ele se vai esconder.
— Nesse caso, façam com que ele não chegue lá, Mas se não forem a tempo, cerquem o esconderijo. Procurem bastantes homens. Pagar-lhes-ei bem. Antes da noite de amanhã quero enterrá-lo, em frente da minha porta.
Era meio-dia e um sol ardente abrasava as pedras quando a primeira mensagem chegou ao rancho de Honeyman. Essa mensagem foi uma surda explosão que se ouviu ao longe, reboando lentamente através do espaço. Duas horas depois chegavam sete homens. Vinham suados e fatigados. Dois apresentavam ferimentos.

terça-feira, 29 de julho de 2014

PAS365. O preço de um gole de água

Enquanto atravessava a planície árida e deserta do Texas, Gizel pensava em Burke e uma profunda amargura enchia o seu coração, ao recordar que se ele queria viver era somente para não desenganar outra mulher. Quando chegou a noite, o seu cavalo já sem forças, estendeu-se no solo.
Nem uma árvore, nem o mais pequeno arbusto se viam no horizonte, liso e seco como uma maldição durante milhas e milhas. Honeyman dizia que aquela terra era, em potência, a melhor do mundo e que seria efetivamente assim que os rios tornassem a encher e houvesse centenas e centenas de braços dispostos a acarretar e plantar as árvores. Os braços já estavam no seu acampamento — pensava Gizel com amargura e a água chegaria no Outono. Mas nessa altura, já ela teria morrido.
Fez calor durante a noite: a terra abrasada devolvia a energia dos raios solares. Gizel estendeu-se ao lado do seu pobre cavalo e apertou a cabeça contra o ventre do animal, ouvindo-o latejar, sob as palpitações do coração, procurando nessa única companhia o valor que lhe faltava.
É incrível o que um simples organismo vivo capaz de sofrer, seja de que classe for, pode acompanhar um homem ou uma mulher, reduzidos aos seus próprios meios ou mergulhados já na desesperação. Gizel sentiu-se alentada pela respiração do pobre animal, que tinha sede, como ela, e acariciou a sua pele áspera para não se sentir tão só na imensidade da noite.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

PAS364. Vendido a uma mulher

Enterrou um pouco mais a pá, para extrair outra porção de terra e depois olhou para os pés de Gizel.
— Sou eu quem o diz.
Continuou a trabalhar em silêncio, sem proferir uma palavra mais. A noite estava quente e o suor empapava-lhe a camisa, colando-a ao busto. Gizel conservava-se imóvel ao pé da sepultura, sem tirar os olhos dele.
Momentos depois de depositar cuidadosamente no fundo da vala, o primeiro cadáver, Burke saltou para fora e foi procurar os outros dois. Decorridos apenas alguns minutos, regressou com eles, enterrando-os. As armas ficaram também no fundo da vala, reservando para si um bom «rifle». Durante essa macabra operação, Gizel não o ajudou, nem lhe dirigiu uma palavra.
Só mais tarde é que Burke, encarando-a nova mente, lhe disse:
— Tens de partir, Gizel.
— Não tenho o menor desejo de voltar para o rancho de Honeyman.
— Nesse caso, faze o que te der na gana. Eu vou dormir aqui.
Dirigindo-se a um dos cavalos, que, de focinho no solo, procurava de comer, libertou-o da sela, \apoderando-se da manta que estava debaixo dela. Sem olhar para Gizel, entrou numa das casas.
— Aqui, estar-se-á bem. Que vais tu fazer?

domingo, 27 de julho de 2014

PAS363. Briga sob a Lua branca do Texas

— ...Honeyman — disse Lisbeth, em voz baixa — Realmente, não me Importa o seu apelido. Só sei que consegui interessá-lo e não hei-de perdê-lo, porque uma estúpida como tu me aconselha o contrário. Alem disso, é interessante e garboso. — e acrescentou em voz baixa, como uma sentença — Tu agora criticas-me e julgas-me uma insensata, mas ainda te hás-de ver em companhia de homens muito piores do que Jim.
Gizel não lhe retorquiu. Já que haviam chegado até ali, já que estavam em poder daqueles traficantes de vidas humanas e ela se inscrevera, como qualquer simples trabalhador, era porque no mundo podia suceder qualquer coisa. Talvez Lisbeth tivesse razão e ela acabasse por acompanhar algum homem pior do que Jim. Como Burke, por exemplo...
Lisbeth deixou-se cair no pequeno colchão, onde costumava dormir e, olhando sua irmã com um ar trocista, disse-lhe:
— Talvez tu, tão puritana, de coração tão limpo, tão mulher do teu carro, visto que aqui não podemos dizer «mulher de sua casa», acabes por ir de joelhos atrás de um tipo como Burke, por exemplo, um pistoleiro profissional, um assassino que fere ou mata quando lhe pagam para isso ou simplesmente quando esta com a gana de brigar. É isso que te acontecerá. E, quando tal suceder, eu serei a mulher mais rica do Texas.

sábado, 26 de julho de 2014

PAS362. Surpresa para uma menina beijoqueira

Lisbeth estremeceu. Não podia afazer-se à ideia de que Jim fosse chicoteado, como um homem que vira uma noite atrás e cuja pele ficou quase reduzida a tiras por ter tentado roubar uma Bíblia.
— Acompanhá-los-ei — disse, por fim, timidamente. — Sempre quero ver como fazem essa tolice.
Gizel foi a primeira a saltar do carro. Seguiram-na o tio Glenn e Lisbeth, que ia de cabeça erguida, numa atitude altiva. Na realidade, parecia uma rainha, apesar do seu pobre vestuário, pois nascera com o dom da majestade. Ela sabia bem isso e não ignorava também que naquela terra havia homens que no futuro dariam a vida só para amá-la.
Dirigiram-se a três grandes edifícios que constituíam o corpo principal do imenso rancho Honeyman.
Junto deles havia um pequeno toldo sob o qual era feita a inscrição dos trabalhadores. Nesse momento estava vazio o que permitia que o empregado se desse ao luxo de estar refastelado, a fumar de cachimbo.
Quase todos os empregados haviam adotado uma atitude de resistência passiva, esperando que, por fim Honeyman mudasse de opinião e lhes permitisse adquirir água e alimentos para reatar a marcha. Mas de todos os modos havia já mais de oitenta pessoas inscritas para trabalhar e tudo fazia concluir que os restantes acabariam por ceder.
O tio Glenn aproximou-se do empregado que, ao ver as duas raparigas, piscou um olho, com um ar satisfeito.
— Quero inscrever-me como trabalhador e começar quanto antes a trabalhar. Chamo-me Glenn Farwell. A minha sobrinha Gizel também quer inscrever-se.
— Como quê? Como bailarina?

CLT003. Morreu uma mulher


(Coleção Colt, nº3)


Quando aquele grupo de pioneiros chegou a Texas atraído pela propaganda acerca de boas terras deparou com uma situação de quase escravidão, pois nada correspondia às expetativas. Tiveram de vender a força de trabalho, pensando juntar algum dinheiro para prosseguir caminho.
Nessa caravana chegaram duas jovens e o seu tio Glenn. Ambas eram muito bonitas e uma delas (Lisbeth) não tardou a chamar a atenção do filho do explorador de todo aquele esquema com o qual se veio a envolver. A outra (Gizel) tudo fez para a não deixar cair nas mãos de gente, mas acabou por ter de fugir tendo tido algum apoio de um pistoleiro que tinha um contrato estranho com outra mulher.
Longe do acampamento de escravos, Gizel decidiu que a mulher antiga tinha morrido e, a partir dali, outra nasceria dedicada a procurar uma vida de sucesso.

terça-feira, 22 de julho de 2014

COL009. Um diabo chamado Milton

 
 
 
(Coleção Colorado, nº 9)
 
Eis mais um livro de Silver Kane, este um tanto apalhaçado. Traz-nos dois Milton, um, o amigo do diabo, outro, o inimigo do diabo. Este era o fundador de uma liga anti-alcoólica e dirigiu-se a uma cidade do Colorado para procurar o Governador para o convencer a impedir a venda de álcool. O outro era perito em armas e, de quando em quando, emborrachava-se. Após as mais diversas peripécias vieram a trocar de identidade e a encontrarem-se com lindas meninas que lhes proporcionaram a felicidade.
Compreende-se a dificuldade de qualquer autor em escrever semanalmente uma novela interessante, mesmo se ele se chamar Silver Kane, mas esta ainda é dos primeiros tempos deste autor, por isso julgámos que fosse qualitativamente melhor.
A capa, de Angel Badia, apresenta um pormenor da luta em que o amigo do diabo salvou a menina, de expressão aterrorizada, e o inimigo do diabo de serem assassinados por bandidos.

sábado, 19 de julho de 2014

PAS361. A descoberta do amor

Lea só soube da proximidade de Ronald, quando este, saindo de entre uns penhascos que havia à borda da estrada, atravessou o cavalo à sua frente, fazendo encabritar a montada da jovem, ao mesmo tempo que lhe dizia num tom sarcástico:
 — Pára, minha altiva pequena. Então, não cumprimentas os amigos?
Embora atemorizada, nos primeiros momentos, Lea conservou a suficiente firmeza de ânimo para tentar defender-se e, levantando o seu pequeno chicote, cruzou-lhe o rosto com ele tentando libertar-se.
— Quieta, maldita! — exclamou furioso, agarrando-lhe um braço, com força.
— Larga-me, canalha! — gritou Lea, defendendo-se desesperadamente, enquanto picava o baio, para poder safar-se.
— Bruxa!
Bem firme sobre a sua montada, Ronald levava vantagem e, com um poderoso esforço, descavalgou-a, tentando deitá-la, de través, à frente da borraina da sua sela. Mas não o conseguiu e Lea deslizou pelo pescoço do cavalo, sem que ele pudesse evitá-lo, porque o animal se encabritara. Sem que tivesse medo de ser pisada pelo assustado cavalo, ou, pelo menos, receando muito mais o homem do que a montada, a jovem aproveitou a sua situação para libertar-se com um esticão, e como os seus pés já quase tocavam o solo, deitou-se para trás, conseguindo assim afastar-se um pouco, antes de cair.
Foi nesse instante que Richard viu a cena que se desenrolava no caminho, onde acabava de desembocar.
A surpresa imobilizou-o por um rápido momento. Ao reconhecer os protagonistas, a sua reação foi fulminante. Largando a rédea do cavalo que levava, esporeou o seu, lançando-se para a frente.

sexta-feira, 18 de julho de 2014

PAS360. Um local comprometedor para chegar à razão

Lea dormiu mal, agitadamente, toda a noite e quando acordou estava ainda mais exasperada do que na véspera pelo tratamento recebido. Por mais que pensasse, dando voltas à imaginação, só encontrava um meio de castigar seu irmão, e embora lhe repugnasse, a sua soberba e orgulho acabaram por decidi-la a aceitar esse meio. Que ela se lembrasse, nunca ninguém se atrevera a pôr-lhe a mão em cima e de cada vez que voltava à sua memória a afronta recebida, sentia ferver-lhe o sangue e toda a sua exaltada natureza se sublevava pedindo vingança.
— Ronald não te é simpático, não é verdade? Pois vou estreitar mais as nossas relações e veremos o que dizes quando esse homem for o noivo de tua irmã. E o odioso Richard há-de rabiar também.
Incompreensivelmente, Lea tornava Dick responsável em grande parte pelo que acontecera, e não o esquecia nos seus propósitos de vingança.

PAS359. O cínico rouba um beijo à jovem namoradeira

Sem qualquer propósito determinado, encaminhou-se para o rancho «Wells». Mas nem por isso foi o menos surpreendido quando, nas suas proximidades, viu Lea ir ao seu encontro, montada no seu cavalo.
Ronald fez parar o seu, esperando que ela se aproximasse e, descobrindo-se sorridente, fez-lhe uma rasgada reverência.
— Será casualidade que nos encontremos com tanta frequência? — perguntou Lea, saudando-o com um olhar alegre. — Vai muito longe?
Ronald nunca desaproveitava os favores da sorte.
— Não estou de acordo consigo, quanto á frequência dos nossos encontros, pois parece-me que decorreram mil anos desde a última vez que a vi.
— Deveras? Pois foi há bem poucos dias se bem me recordo.
— Conte a quantidade de segundos decorridos o que significa quase outras tantas palpitações do coração. E agora imagine que o meu já não bate, sem a sua presença. Compreende assim a imensidade do tempo decorrido, a minha angústia por continuar vivendo até este abençoado momento em que a torno a ver?
Lea riu, de gosto.
— Que exagerado!
— Olhe para mim e verá como estou a dizer a verdade...
— Pois não parece muito abatido — retorquiu ela, num tom zombeteiro, embora perturbada pela intensidade com que Ronald a fitava.
— Ê que os estragos causados cá dentro.
 Lea baixou a cabeça, tornando-se-lhe inquietante, pela primeira vez na sua vida, a proximidade de um homem.

quinta-feira, 17 de julho de 2014

PAS358. Reencontro trágico com um xerife desesperado

Quando ia a entrar, os batentes da porta abriram-se inesperadamente, da parte de dentro, dando passagem a um homem corpulento que lhe deu um violento empurrão, fazendo-o retroceder.
Os dois reconheceram-se imediatamente.
— O senhor outra vez! — grunhiu o xerife, irritado.
— Exatamente. Mas desta vez aguardo as suas explicações por este atropelo! — replicou Ronald, com voz cortante.
Precisava de desembaraçar-se, quanto antes, do representante da Lei, pois considerava-o um mau inimigo, e o momento não podia ser mais oportuno, visto que a sua morte provocaria a confusão suficiente para retardar qualquer Acão contra os ladrões de gado, embora isso não o preocupasse grandemente, pois deviam ter tido tempo bastante para apagar os seus vestígios.
Por muito calmo que o xerife fosse — e tinha fama disso— a morte de seu filho às mãos daquele homem havia-o revoltado e, por isso, perdeu a sua habitual serenidade, seguindo inconscientemente o jogo do aventureiro.
— Saia já daqui, Gray — explodiu, fora de si. — Em Nieland, não queremos assassinos...
— Para matar tranquilos forasteiros, é necessário ser-se filho do xerife?
— Maldito!
Perdendo o domínio dos nervos ante a irónica alusão, o xerife esqueceu-se completamente da sua estrela, assim como dos deveres que ela lhe impunha, para não ser mais do que pai.
E dando largas ao seu rancor e desejo de vingança, empunhou o seu «Colt», numa reação rápida e selvagem.

PAS357. Preocupações de um capataz dedicado e apaixonado

Ian e Lea ainda andavam a estudar no Este quando, subitamente, sem se queixar de qualquer doença e, quando parecia vender saúde, o velho Wells faleceu, em consequência de uma angina de peito.
Ao terem conhecimento da triste notícia, os dois irmãos regressaram imediatamente ao rancho. Mas a distância era grande e as comunicações tão más que, quando chegaram ao rancho, viram que as coisas não iam bem. Ian não estava preparado para fazer frente à situação. Sem embargo, era um rapaz esperto e diligente, com o curso de advogado quase concluído e a sua viva inteligência encontrou a solução quase imediatamente.
Richard Darby, seu amigo de infância, possuía um pequeno rancho que confinava com a vasta granja dos irmãos Wells e, além disso, era enérgico e entendido.
Os dois amigos depressa chegaram a um acordo, mediante o qual Dick dirigiria os dois ranchos, como se fossem um só, com o mesmo pessoal e as manadas juntas, de modo que, além do seu ordenado, receberia uma parte dos lucros e manteria a propriedade das terras, assim como também o gado, em proporção com o que possuía, no momento da união, três anos antes.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

PAS356. Na senda da violência

Depois de deixar o cavalo na estrebaria, foi lavar-se e cear, após o que se encaminhou para o mesmo estabelecimento, onde estivera de tarde, disposto a beber e a experimentar a sorte, jogando as cartas.
A abarrotar de clientela, o saloon estava saturado de fumo, que velava a luz não muito brilhante dos candeeiros de petróleo e o surdo rumor das conversações parecia o zumbido de uma colmeia.
Ronald avançou vagarosamente para o balcão, tendo de abrir a custo caminho por entre a multidão. Mas, ao chegar ali, alguém lhe tocou no ombro, fazendo-o voltar.
Viu, então, na sua frente Harry, o cavaleiro que acompanhara a jovem rancheira.
— O senhor e eu temos umas contas pendentes. Lembra-se?
 Ronald encolheu os ombros, levemente irónico.
— Quando o senhor o diz... Mas não lhe parece que poderíamos esperar um pouco? Custou-me tanto chegar até aqui... e...
— Quê? Pois precisa de estimulantes para criar coragem? Esta tarde parecia mais arrogante...

PAS355. O cínico encontra a menina namoradeira

Quando desprendiam os seus cavalos, atados à barra, um vivo ruído de tacões fez levantar a cabeça ao forasteiro que soltou um assobio de admiração, ao ver uma esbelta mulher.
A beldade sustentou o seu olhar até o deixar para trás de si. No último instante, Ronald pareceu surpreender um sorriso nos seus lábios vermelhos, mas tão fugaz que ficou sem ter a certeza disso. Contudo, seguiu-a com o olhar, até ela desaparecer, ao voltar a esquina.
— Que preciosidade! — murmurou, ainda deslumbrado.
— Encandeou-te?
— Bastante!... E não se pode dizer que seja muito tímida!
— É o melhor partido da região. Tem um rancho como não há outro em muitas léguas, em redor.
— Isso não deixa de ser interessante! É filha única?

terça-feira, 15 de julho de 2014

COL006. Rivais

 
 
(Coleção Colorado, nº 6)

Ao começar por centrar a atenção do leitor no cínico e bandido que, ainda por cima, parece simpático, namoradeiro e mata os adversários em duelo, dando a oportunidade de se defenderem, Tex Taylor ilude-nos fazendo-nos crer que aquele jovem vem a conseguir a redenção ao longo da novela. Mas tal não acontece.
Pouco a pouco, a repugnância em relação a Ronald cresce e desenha-se o romance entre Lea e o seu capataz que acaba por lhe salvar a vida perante o cínico.
Deste livro extraímos várias passagens que irão sendo apresentadas. Se preferir, faça download do mesmo.

COL005. O rei dos pistoleiros



(Coleção Colorado, nº 5)

quinta-feira, 10 de julho de 2014

PAS354. Nunca confies numa rapariga bonita despida

— Não continues! — atalhou Francis. — Se pretendes que me defronte com eles, deixa de sonhar. Não sou nenhuma criança, é...
— Mas portas-te como se o fosses — afirmou Boston, com ar desdenhoso. — Um homem procurava divertir-se como se divertiram ontem à noite os teus amigos.
— Que queres dizem? — perguntou o bandido, com voz rouca.
— O que te diriam Brenann e os outros, se não fosses mestiço. Mas vê-se que há coisas que reservam só para eles, e...
— A que te referes?
— Deita uma vista de olhos para o interior da cabana!
 Obrigando-o a continuar de costas e com os braços no ar, Lone Francis voltou a cabeça por um instante. O que viu deixou-o sem fala. Nem queria acreditar no que via. Era impossível que fosse real, não só a beleza esplendorosa da rapariga, mas que tivesse despido a blusa e o olhasse com aquele gesto de triste resignação.
— Admiras-te? — perguntou Carvett, adivinhando o que se passava na mente do outro. — Pois se os outros aproveitaram, tu...
O mestiço não o ouvia. Nos seus olhos brilhava o fogo de todas as paixões inconfessáveis. A rapariga era a mais bonita que contemplara em toda a sua vida. E, além disso, branca e pura! E tinha-a ali, ao alcance da mão, sem pensar em oferecer resistência!

quarta-feira, 9 de julho de 2014

PAS353. O último recurso

— Por que não me deixas liquidar já este? — perguntou Francis, apontando para Boston.
— Cada coisa a seu tempo — replicou Brenann. — Serás tu quem o liquida, naturalmente. Mas quando trouxermos o outro. Voltaram a encerrar os prisioneiros na cabana. Doretta pôs-se a chorar, perdida a última das suas esperanças. O plano dos bandidos estava perfeimente claro. Matá-los a eles e assassinariam seu pai. Trigger os seus amigos dividiriam entre si os vinte mil dólares, e Willard Usher ficaria com o «Empire Ranch».
Como fera enjaulada, Boston passeava dum lado para o outro, enquanto o seu cérebro trabalhava num ritmo acelerado. Aparentemente não tinham salvação possível mas a realidade podia ser diferente das aparências. Não disse nada até ouvir afastarem-se Brenann e Lubell para irem ao encontro de Leonard. Por uma das frinchas viu Lote Francis, sozinho, com os revólveres na mão. Então aproximou-se da rapariga e falou-lhe ao ouvido, num leve sussurro:
— Ainda podemos escapar — Presta toda a atenção ao que vou dizer-te. Talvez te pareça indigno e vergonhoso. Mas é a nossa única possibilidade.
Exprimiu-se com rapidez, materialmente colado ao, ouvido da rapariga. Doretta estremeceu ao ouvi-lo, e todo o seu sangue pareceu subir-lhe às faces. Sem atrever-se a olhar para o seu companheiro de infortúnio, com os olhos cravados no chão, perguntou hesitante:
— Mas... tudo?
— Não respondeu Boston lentamente. — Espero que seja suficiente só a blusa. Eu não olharei. — prometeu solene. — Lone Francis, sim, esse verá... mas não poderá dizer a ninguém, o que chegou a contemplar um décimo de segundo!...
(Coleção Pólvora, nº 3)

PAS352. Sentimentos ofuscados por uma emboscada

A rapariga despertara em seu peito sentimentos até ali desconhecidos. Confusamente, pressentia que a seu lado poderia ser plenamente feliz. Mas quem era ele, um modesto «cow-boy», um homem sem fortuna nem outros méritos que o rígido conceito da honradez e a facilidade de manejar os revólveres, para aspirar à mão duma rica herdeira? E isto, na melhor das hipóteses; porque na pior — o caso de Leonard Mimms ser o companheiro de Sid Latham na noite do crime — teria de fazer justiça na pessoa de seu pai, o que abriria entre ambos um abismo intransponível.
Desejava que Mimms estivesse tão inocente como o desejava sua filha. Mas aquilo não passava duma remota esperança, pouco mais que o seu desejo.
Todos os indícios eram contra ele. Até a acusação que Lone Francis começava a formular e fora interrompida pela inoportuna chegada do xerife. O mestiço não chegou a dizer o seu nome, é certo; mas falou do dono de qualquer coisa, corno sendo o empresário do assassínio perpetrado por ele. De que seria dono aquele indivíduo, que tanto interesse tinha em desmascarar? Podia ser de alguma mina, estabelecimento ou rancho.
— E o rancho não pode ser outro senão o «Empire»... 
Chegava a tão desoladora conclusão, quando ouviu ao longe o tropel dum cavalo. Vinha do lado onde se erguia o imponente edifício dos Mimms, e era apenas um cavaleiro; embora estivesse ainda muito longe para o identificar, Carvett não teve a menor dúvida de quem se tratava. Doretta cumpria ao pé da letra a palavra dada!

terça-feira, 8 de julho de 2014

PAS351. Planos para uma emboscada

Já depois da meia-noite, quando Linda atuava pela última vez no palco, e o mestiço se consolara das amarguras da derrota e da prisão com repetidas libações, Trigger Brenann entrou no «saloon». A poeira que o cobria dos pés à cabeça indicava que cavalgara durante as últimas horas uns bons quilómetros. Mostrava claros indícios de cansaço no rosto, mas sorria satisfeito e contente.
—Desejava que falássemos a sós um minuto, Usher. Tenho algo de interesse para ti.
De má vontade, Willard dirigiu-se para o seu escritório, e o pistoleiro seguiu-o. Uma vez fechada a porta nas suas costas, Trigger não esteve com grandes rodeios.
— Quanto estás disposto a pagar pela vida de Boston Carvett? — perguntou. -- Quem te disse que eu tenho algum interesse pessoal em que esse criminoso pague duma vez as suas culpas? — replicou Wiillard, pondo-se automaticamente em guarda.
— Não é preciso que alguém me diga o que sei — afirmou Brenann, com segurança absoluta. — E não finjas comigo, Usher! Nem consegues enganar-me, nem convém tentá-lo.

PAS350. A infância dum assassino

— Francis quer fazer-me sua esposa. Podes avaliar o que isso representa para uma mulher como eu? Usher deu uma risada trocista. Com ironia referiu-se à ansiedade de regeneração que sentia quem, depois de ganhar a vida por qualquer procedimento, procurava a respeitabilidade que lhe faltava e o esquecimento do seu turbulento passado, no Jordão do matrimónio.
— Mas — acrescentou, mudando de tom, — eu não vou comprometer-me por um teu estúpido sentimentalismo.
— Enganas-te redondamente, Willard. Não o farás por mim, mas por ti. Também tu tens duas razões, decisivas para a tirar do perigo em que se encontra. Uma é que, se ele falasse, e fala com certeza se se via perdida, e eu confirmarei as suas palavras, saberiam que foste tu o indutor da morte do juiz. Agrada-te a perspetiva?
— Não — reconheceu Usher, que começava a compreender que não teria outro remédio senão ir em socorro do pistoleiro; depois, movido pela curiosidade, perguntou: — Qual é a outro motivo?
— A história é longa, complicada e à primeira vista incrível. Contém uma série longa de estranhos acasos. Todavia, é verdadeira e vale a pena contar-ta.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

PAS349. Uma chegada de xerife inoportuna

Lone vira morrer muitos, e rira-se, desdenhoso, das suas angústias e terrores. Até então considerara-se tão valente como o maior. Mas uma coisa era ter os revólveres na mão e ver cair os demais, e outra muito diferente era encontrar-se desarmado e esperar que os negros Canos que estavam apontados ao seu peito cuspissem a mensagem da morte. As pernas negavam-se a sustê-lo de pé como se fosse feito de farrapos, e urna mão• de ferro parecia apertar-lhe o pescoço, impedindo-o de respirar: Viu que o seu adversário ia pronunciar a palavra «cinco» e todo á seu aprumo caiu estrepitosamente.
— Não! Por Deus, não dispares! Falarei! Direi tudo o que quiseres...
— Mataste o velho Fasvcett? — perguntou Boston com os olhos fixos no mestiço.
Ainda aterrado, o primeiro impulso de Lone foi abanar a cabeça em sinal negativo. Conteve-se a tempo, receoso de receber urna bala. Não disse nada, talvez porque não conseguia falar. Mas levantou e baixou a cabeça num rotundo gesto de afirmação. Não quero gestos, mas confissões gritou Carvett mal-humorado e ameaçador. — Vais responder a outras perguntas, mas dizendo com clareza nomes e apelidos. Como se chama o que te pagou para assassinares o juiz de paz? Onde está e que interesse tinha no crime?

PAS348. Entalado pela própria filha

— Como soube o seu nome e que matara Sid Latham? — perguntou o xerife.
— Porque lho disse ele próprio — respondeu Mimms. — Parecia interessado em que se soubesse — acrescentou, contrariado. — Pelo menos que o soubesse eu.
— Porquê?
— Bem sei eu! — ripostou Leonard fora de si. — Não sou nenhum assassino, e não consigo perceber as suas reações.
A Pat pareceu-lhe estranha a resposta e excessivo o mau humor do seu interlocutor. Mas lembrou-se da sua recente conversa com Homer Croy e encontrou nela uma clara justificação. Prudentemente não quis insistir sobre aquele especto. Ouviu com atenção o que Mimms quis dizer-lhe sobre o encontro da rapariga com o forasteiro e no, final fez apenas uma pergunta: — Boston reconheceu ter matado também Aldo Fawcett?
— Não — antecipou-se Doretta a seu pai. — Negou-o redondamente, e tenho a certeza de que dizia a verdade.

domingo, 6 de julho de 2014

PAS347. A vingança dos humilhados

(Após ter assassinado o velho juiz Fawcett a mando de Willerd Usher) Lone Francis parecia abstraído na sua conversa com Linda. Encontrara na cantora muitos pontos de contacto com o seu próprio temperamento, e o prazer de encontrar uma mulher que compartilhasse as suas paixões e sentimentos fazia-o experimentar uma sensação desconhecido para ele até então.
— A minha vida não é limpa nem exemplar — dissera-lhe a rapariga na noite anterior, brilhando-lhe nos olhos um profundo ódio,— mas não é minha toda a culpa. Gostaria de ser muito diferente; por infelicidade, tive de ser o que me deixaram e me obrigaram a ser os que, desprezando-me pelo sangue que me corre nas veias, sentiam os mais torpes desejos ao contemplarem a minha beleza. Ofenderam-me e humilharam-me centena de vezes, cobrindo-me de lama e vergonha. Agora, que posso fazê-lo, pago-lhes na mesma moeda.
Lone Francis falou com idêntica sinceridade ao expor o seu caso. Nas linhas gerais eram iguais. Ambos foram desprezados e feridos; ambos feriam e desprezavam per sua vez. A única diferença eram as armas utilizadas: ela a sua beleza, ele os, seus revólveres.

PAS346. Corrida por um «cow-boy» em perigo

Doretta ouvia-o com um terrível desassossego. Como Boston lhe recomendara, fixou o rosto de seu pai quando lhe repetiu, ligeiramente alteradas, as suas palavras. Doía-lhe ter de o reconhecer, mas o forasteiro parecia ter razão. Não era possível que fossem certas as acusações contra o autor dos seus dias, mas tinha de pôr de lado a ideia de que nelas só havia a fantasia de um desequilibrado.
Que aconteceria se Mimms e os seus homens o surpreendessem em «Saguaro»? Não era difícil imaginá-lo. Carvett estava só e não dispunha senão dos seus revólveres. Nada poderia em frente de quatro homens armados de espingardas, a que depressa se juntariam outros tantos, pelo menos, conduzidos pelo xerife.
— Matá-lo-ão, e toda a culpa será minha.

sábado, 5 de julho de 2014

PAS345. Versão diferente para uma noite de terror

Ia alto o sol quando voltou a abrir os olhos. Notou que devia já ser meia manhã e apressou-se a abandonar aquele local. Tinha de voltar a Tucson para saber se o xerife conseguira descobrir o assassino de Fawcett. Antes ou depois tinha de se entrevistar com Mimms e era muito provável que a conversa terminasse com a morte de um, deles ou de ambos.
Foi ao riacho lavar-se um pouco. Acabava de o fazer e de vestir a camisa e apertar a cinturão, quando ouviu um ruído de passos nas suas costas. Voltou-se rápido, com as mãos fechadas sobre as coronhas dos revólveres. Uma voz feminina, que soava entre assombrada e colérica, chegou aos seus ouvidos, perguntando:
— Que faz aqui, forasteiro? Não viu o aviso, ou não quis vê-la?
Boston contemplou-a surpreendido e admirado. Tratava-se duma rapariga jovem, que possivelmente não teria ainda feito vinte anos. Era alta, esbelta, cabelo louro encaracolado, preso com simplicidade na nuca, olhos grandes o azuis, nariz ligeiramente arrebitado e urna boca pequena de lábios intensamente vermelhos, apertados num trejeito de enfado. Vestia calças e botas de montar, e uma blusa branca ligeiramente decotada.

PAS344. Recordação duma noite trágica


— E foi isso o que conseguiu à custa dum duplo crime -- disse para consigo.
Parado a uma centena de metros, sem se apear, ficou um bocado entregue às suas dolorosas reminiscências. Recordou o seu, despertar naquela noite trágica, quando o ruído duns tiros o arrancou do seu profundo sono e o medo, lógico e natural para os seus nove anos, o fez saltar por uma janela e ir esconder-se entre uns arbustos próximos. Oculto atrás deles, pôde ver sair os culpados e reconhecer Sid Latham.
Quando eles se afastaram e se atreveu a voltar a casa, encontrou o trágico espetáculo de seus pais estendidos no meio dum charco de sangue. A evocação humedeceu os seus olhos e fez-lhe crescer no peito uma onda de indignação. Fez um esforço para serenar e apeou-se. Deixando que o cavalo pastasse onde quisesse, avançou lentamente para a casa. Não havia dúvidas que estava abandonada há bastantes anos. Mas mesmo assim, junto à entrada, viu uma tabuleta com uma clara e expressa advertência. Leu-a duas vezes sentindo crescer a sua cólera. Dizia: «Proibido acampar aqui. O rancho e as terras são propriedade de Leonard Mimms.».
— Maldito ladrão! — exclamou, furioso.
Com um movimento arrancou a tabuleta, partiu-a aos bocados e espezinhou-a. O mesmo que fez à tabuleta fá-lo-ia a Mimms, logo que o tivesse na sua frente. Porque já não duvidava agora de que o companheiro de Latham, naquela noite, era ele e não outro.