Dentro da cabana, o medo filtrava o som das vozes e os
ruídos. Os escravos pressentiam já a liberdade e preparavam-se para a fuga.
Sim. Chegara o momento. Ali estavam os homens do Norte com o ferrador Kastin.
Face colada ao postigo, um dos negros is pondo os seus
companheiros ao corrente do que sucedia para além das grades.
Fazer saltar uma fechadura não era tarefa difícil para o
gigantesco Peter. A barra de ferro serviu de alavanca e ele quase não teve
oportunidade de usar a força bruta que o caraterizava.
A porta ficou aberta de par em par. O rebanho negro saiu
amedrontado. Pareciam borregos a deixarem o redil. Empurravam-se uns aos outros
na ânsia de serem os primeiros a fugir. Scott contava-os À medida que iam
aparecendo. Eram trinta.
Mentalmente, Peter fizera a mesma contagem e raciocinara:
«Trinta cabeças a cinco dólares cada uma… vem a dar, precisamente, cento e
cinquenta dólares…».
Sim. O negócio parecia correr Às mil maravilhas.
Kastin há muito que sabia quantos eram os pretos que tinham
acabado de libertar.
- Estão todos… - declarou.
Podiam abandonar a propriedade do velho O’Neill.
- Bem. Toca a andar… e depressa!
Foi o que fizeram imediatamente, seguidos de perto pelos
escravos.
Aqueles trinta homens acobardados representavam para Kastin
trinta desgraçados a caminho da liberdade. Na opinião de Peter não passavam de
trinta cabeças que valiam, segundo o combinado, cento e cinquenta dólares.
Quanto a Scott…
- Párem!
Foi Scott quem deu o alarme. Um cão ladrava nas redondezas.
Scott e Peter levaram, instintivamente, as mãos aos coldres.
Enfraquecidos pelas privações, desmoralizados pela miséria
que sempre os rodeara, os escravos ficaram aterrorizados diante do gesto dos
brancos. Alguns batiam os dentes, outros lamentavam-se em surdina.
O cão voltou a ladrar, mas, desta vez, mais próximo do
grupo.
- É O’Neill – disse Kastin. – Vem para cá…
Scott esboçou um sorriso muito estranho.
A silhueta do cão desenhou-se na penumbra da noite.
No céu um esplendor de estrelas…
(Coleção Pólvora, nº 5)
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