sexta-feira, 18 de outubro de 2013

PAS131. Sob as estrelas, a libertação

Dentro da cabana, o medo filtrava o som das vozes e os ruídos. Os escravos pressentiam já a liberdade e preparavam-se para a fuga. Sim. Chegara o momento. Ali estavam os homens do Norte com o ferrador Kastin.
Face colada ao postigo, um dos negros is pondo os seus companheiros ao corrente do que sucedia para além das grades.
Fazer saltar uma fechadura não era tarefa difícil para o gigantesco Peter. A barra de ferro serviu de alavanca e ele quase não teve oportunidade de usar a força bruta que o caraterizava.
A porta ficou aberta de par em par. O rebanho negro saiu amedrontado. Pareciam borregos a deixarem o redil. Empurravam-se uns aos outros na ânsia de serem os primeiros a fugir. Scott contava-os À medida que iam aparecendo. Eram trinta.
Mentalmente, Peter fizera a mesma contagem e raciocinara: «Trinta cabeças a cinco dólares cada uma… vem a dar, precisamente, cento e cinquenta dólares…».
Sim. O negócio parecia correr Às mil maravilhas.
Kastin há muito que sabia quantos eram os pretos que tinham acabado de libertar.
- Estão todos… - declarou.
Podiam abandonar a propriedade do velho O’Neill.
- Bem. Toca a andar… e depressa!
Foi o que fizeram imediatamente, seguidos de perto pelos escravos.
Aqueles trinta homens acobardados representavam para Kastin trinta desgraçados a caminho da liberdade. Na opinião de Peter não passavam de trinta cabeças que valiam, segundo o combinado, cento e cinquenta dólares. Quanto a Scott…
- Párem!
Foi Scott quem deu o alarme. Um cão ladrava nas redondezas. Scott e Peter levaram, instintivamente, as mãos aos coldres.
Enfraquecidos pelas privações, desmoralizados pela miséria que sempre os rodeara, os escravos ficaram aterrorizados diante do gesto dos brancos. Alguns batiam os dentes, outros lamentavam-se em surdina.
O cão voltou a ladrar, mas, desta vez, mais próximo do grupo.
- É O’Neill – disse Kastin. – Vem para cá…
Scott esboçou um sorriso muito estranho.
A silhueta do cão desenhou-se na penumbra da noite.
No céu um esplendor de estrelas…
(Coleção Pólvora, nº 5)

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