sexta-feira, 25 de novembro de 2022

CLT022.16 EPILOGO. Reencontro com a paz


Estava amanhecendo. Os raios de sol começavam a espalhar-se por cima do prado, arrancando raios de prata à erva húmida pelo orvalho. Keith e Lucy contemplavam a alvorada do terraço do rancho, sentados num banco de pedra.

— Eu vim aqui à procura de paz—murmurou ele.

—E não a encontraste?

Keith olhou aqueles belos olhos e sorriu debilmente.

—Sim; agora penso que sim. E não permitirei a ninguém que ma arrebate.

Estreitou as suas mãos às da jovem, e ficou calado.

—Keith! —disse Lucy.

—Que se passa?

quinta-feira, 24 de novembro de 2022

CLT022.15 Carrascos para o inferno


Burt Goodrich tirou o revólver, e recebeu um projétil no centro da testa, caindo.

—Todos a ele! — gritou Hayden.

Os seus quatro cowboys e ele estacaram ao mesmo tempo. Beerman e Paul empurraram violentamente o que tinham ao lado, fazendo-lhe perder o equilíbrio.

Instantaneamente, a sala converteu-se num inferno. Os «Colts» bramaram atirando fogo e chumbo pelas suas negras bocas. Dois vaqueiros caíram dando gritos e contorcendo-se.

Clinton Hayden, com os dentes apertados, começou a andar para Keith disparando, mas só deu um passo. Um projétil atravessou-lhe a garganta, e os seus olhos pareceram querer escapar-se das órbitas. Soltou o revólver e abriu os olhos como se lhe faltasse a respiração. Num segundo um caudal de sangue manchou-lhe o peito. Quis sacar o outro «Colt», mas só lhe faltaram as forças e caiu lentamente no chão.

quarta-feira, 23 de novembro de 2022

CLT022.14 Uma armadilha para o ressuscitado


Tinha caído a noite. A rua principal de Watson City estava só iluminada a pequenos troços por raios de luz que procediam dos lugares de divertimento.

Beerman achava-se de pé junto da janela do seu escritório enquanto Paul lia um periódico da capital, debaixo da luz que pendia do tecto.

—Não gosto nada disto… —disse o sheriff, dando um estalo com a língua.

Paul levantou o olhar e franziu a testa, perguntando:

—Que é que não lhe agrada?

—Esta calma.

—Ë bom para nós. Eu tenho ganas de tirar uma noite sem ir impor a paz a um grupo de bêbados que estão dispostos a partir a cabeça por uma dessas mulheres.

terça-feira, 22 de novembro de 2022

CLT022.13 O segredo para manter vivo um homem enforcado


A porta abriu-se dum golpe dando lugar ao sheriff Beerman, que levava o revólver na mão. Lucy olhou-o assombrada.

— Perdoe-me que me apresente desta forma, menina Stanley, mas não me deixam vê-la.

—Que se passa?

Beerman fechou a porta, e manifestou-se:

— Preciso ver Keith Yerbi.

A jovem não respondeu, e ele continuou a falar.

— Supunha que o sabia, Lucy. Encontrou-se com ele, não é verdade?

—Há um bocado estive com ele. Antes de ir para seu lado desconhecia tudo.

—Tem que dizer-me agora mesmo o lugar em que que se encontra.

segunda-feira, 21 de novembro de 2022

CLT022.12 O ressuscitado reencontra a mulher amada


Lucy olhava a imagem que o espelho lhe devolvia. Acabava de sair da cama, e um subtil roupão cobria a sua camisa cor-de-rosa.

O rosto mostrava os sinais da luta interior que a consumia desde há alguns dias. Profundas olheiras rodeavam as pálpebras, e uma crescente palidez ia-se fixando naquela sutis, noutro tempo tão branca como o leite. Mas tudo isso não diminuía a sua beleza natural; pelo contrário, dava-lhe um aspeto romântico, de acordo com o gosto da época.

Correu o pente pelo cabelo, e naquele instante qualquer coisa caiu ao chão. Voltou-se sobressaltada, observando por cima da almofada azul uma pedra à qual haviam atado um papel.

A janela, de estilo californiano que predominava em toda a casa, estava aberta, e era esse o caminho que o projétil tinha seguido ao ser atirado de fora.

domingo, 20 de novembro de 2022

CLT022.11 Procura-se o cadáver do enforcado


Koehler irrompeu pelo quarto onde se encontrava Hayden lendo «O Clarim de Watson City». O ganadeiro levantou o olhar do diário, e disse:

—Que se passa, Zacarias? Qualquer pessoa diria que acaba de ver um morto...

— Vi-o ontem à noite! —exclamou nervosamente o outro, deixando-se cair numa poltrona.

— Outra vez cheio de medo? — resmungou Clinton.

—Sei que não vai acreditar! Sei que parece fantástico, irreal e inaudito!... Mas juro que é verdade!... Sabe quem vi!

—O Presidente Lincoln.

— Deixe-se de brincadeiras, Hayden! E demasiado sério.

— Está bem, quem é esse fantasma?

—Keith Yerbi.

sábado, 19 de novembro de 2022

CLT022.10 E nem a guarda privada evitou a visita do ressuscitado ao advogado corrupto


Zacarias Koehler tirava roupa dum armário e atirava-a para cima da cama, na qual havia uma maleta de couro. De repente, bateram à porta, e deu um grito de sobressalto. Depois, contendo a respiração, empunhou nervosamente um revólver.

—Quem... quem é?

—Abra, Koehler!... Sou Hayden, Clinton Hayden!...

—Como... como é que é você?...

—Deixe-se de dizer idiotices e abra!...

Com as pernas a tremer aproximou-se da porta, colado à parede, e advertiu:

—Se ao abrir não o vejo com os braços ao alto, dispararei!...

— Valente imbecil!

sexta-feira, 18 de novembro de 2022

CLT022.09 Morto para o Mundo, mas não para a vingança


Clinton Mayden entrou sem bater no escritório do promotor Greene, e este, que estava trabalhando numa secretária, levantou a cabeça, e disse:

—Olá, Clinton, que te traz por aqui?

O rancheiro não falou até se ter sentado numa cómoda poltrona.

—Clark Smith, um dos meus rapazes, matou outro do rancho Z.

— Ouvi falar qualquer coisa acerca dele. Acontece algo de anormal? É o costume, não? Legítima defesa.

—Não me agrada a atitude adotada por Beerman.

—Que fez?

—Meteu no cárcere Clark. Diz que tem testemunhas que presenciaram a luta. Clark disparou sobre o outro, sem que este tivesse dado motivo para isso.

Greene encostou-se para trás, e entrelaçou os dedos sobre o ventre.

quinta-feira, 17 de novembro de 2022

CLT022.08 O presságio do gato preto

SEGUNDA PARTE


 


CLT022.08 O presságio do gato preto

O juiz Colmei Chandler acariciou o ombro de Betty, uma girl do «Blue Saloon», e disse:

—És muito formosa, Betty, muito formosa... Agradaste-me desde a primeira vez que te vi...

A rapariga, de uns vinte e cinco anos, ruiva, rosto gracioso e corpo de primorosas linhas, subiu o decote escondendo o ombro, e respondeu:

—Divirtamo-nos, juiz... Isto parece um velório...

Estavam num reservado do estabelecimento, e ali chegava, através dos delgados tabiques, o borborinho do público que estava na sala.

— Bem —concordou Chandler — que queres?

—Para começar, uma garrafa de bom whisky. Esses condenados dali de fora só são capazes de convidar-nos para um copo de vinte centavos...

quarta-feira, 16 de novembro de 2022

CLT022.07 O último beijo do condenado


Keith apoiava-se na parede, contemplando o bocado de céu que era visível entre as barras de ferro da janela. Mexeram na fechadura, e a porta abriu-se gemendo. No umbral apareceu o sheriff Beerman, que anunciou:

—Tem uma visita, Yerbi. São só cinco minutos.

Keith girou nos seus tacões, vendo que quem entrava na cela era Lucy Stanley. Ficaram imóveis, olhando-se frente a frente enquanto Beerman fechava a porta.

— Porque veio? — perguntou ele.

—Não sei ainda—respondeu a jovem, com voz suave. —Era um desejo que me esmagava, e quis conhecer a causa...

—Talvez fosse para ver a cara dum homem horas antes de ser enforcado?...

—Por favor, não se martirize, Keith...

terça-feira, 15 de novembro de 2022

CLT022.06 Uma farsa de julgamento com condenação à morte por enforcamento


Paul Green, o promotor do condado, aproximou--se do réu e perguntou-lhe

—É ou não verdade, senhor Yerbi, que entrou pela força no gabinete onde estava o juiz Suyder?

—Precisava vê-lo para lhe dizer...

—Responda taxativamente à minha pergunta!... Sim ou não!

Keith gritou exasperado:

—Não quer que se aclare este assassinato? Pois devo relatar ao júri os motivos que me impulsionaram a actuar daquela forma!

O juiz Chandler deu uma martelada na mesa, advertindo:

— Procure responder concretamente às perguntas do Delegado do Ministério Público.

segunda-feira, 14 de novembro de 2022

CLT022.05 Uma sentença falseada por ausência forçada e uma acusação de morte


Frank Suyder, rechonchudo de olhos flácidos e grande papada debaixo do queixo, juiz especial nomeado pelo Departamento de Justiça para resolver o pleito entre os ganadeiros e os agricultores do condado de Watson City, dirigiu um olhar para a sala por cima dos seus óculos, e perguntou:

— Estão preparadas as duas partes litigantes?

Clinton Hayden levantou-se duma cadeira, e respondeu:

—O advogado Zacarias Koehler representará os rancheiros.

domingo, 13 de novembro de 2022

CLT022.04 Expulso do rancho por simpatizar com a causa dos agricultores


Keith separou-se do sheriff à porta da casa, e dirigiu-se para o dormitório dos cowboys. Lá dentro só encontrou Desi Farwell. Este, ao vê-lo, comentou sorrindo:

—Foi uma bonita fogueira, Keith?

—Morreu um homem, não o sabes?

—Queres dizer que ardeu nas chamas?

—Sim.

Farwell fixou o seu olhar de idiota no jovem, e de repente rompeu a chorar.

—Não o sabia. Eu não sou mau. Nunca matei ninguém. Não sou um assassino... —Agarrou Keith pelo colarinho da camisa, e perguntou: —E verdade que tu não acreditas que sou um assassino?

—Claro que não, Desi. Tu és um grande homem.

sábado, 12 de novembro de 2022

CLT022.03 Um cadáver no milheiral


Burt Goodrich entrou no dormitório dos cowboys e começou a bater numa frigideira enquanto gritava:

—Levantem-se, vamos!... São sete horas e espera-nos o trabalho! Vamos, Kent!... Eh, e tu, Steve!... Levanta-te, Wilson!...

Caminhava por entre as camas, puxando os lençóis ou batendo nos pés dos dorminhocos. Keith despertou num sobressalto, e ao ver os seus companheiros em movimento, queixou-se:

— Estou bem arrumado por meter-me onde não me chamaram.

—Eh, amigo!

Quem o chamava era o vizinho da cama da direita, um homem ruivo, com a cara cheia de sardas.

—Chamo-me Desi Farwell, o célebre Desi... já ouviste falar de mim, hem?

sexta-feira, 11 de novembro de 2022

CLT022.02 Em busca de uma terra sossegada

 

PRIMEIRA PARTE

 


 


Keith Yerbi deteve a sua cavalgadura contemplando os bois mortos que estavam estendidos no prado. Contou até dezasseis. Desmontou e aproximou-se do boi mais próximo. Havia sido morto a tiro.

A matança devia ser recente, a julgar pelo aspeto dos orifícios das balas e o sangue fresco que tinha corrido pela pele do animal antes de formar um grande charco na erva.

Não gostou daquilo.

Ele vinha de uma comarca em que disparavam uma média de duas balas diárias para salvar a vida. Estava cansado de apertar o gatilho e de toda aquela gente. Tinha percorrido mais de quinhentas milhas nas últimas semanas.

Quando dois dias antes avistou o mar de erva disse para si mesmo que aquele era o país que procurava desde que tinha saído de Virgínia City. Ali não devia haver pistoleiros profissionais, nem jogadores, nem mulheres de má nota...

quinta-feira, 10 de novembro de 2022

CLT022.01 PRÓLOGO. Uma visão desagradável para o morto-vivo


Era meia-noite. A lua apareceu entre duas nuvens e os seus raios banharam o cemitério, fazendo brilhar as cruzes cobertas de orvalho.

Um mocho, encarrapitado num ramo seco dum carvalho, voou e soltou um gemido como se protestasse pela repentina claridade. Os seus grandes olhos olharam dum lado ao outro e depois ficaram imóveis, perdidos num largo caminho que atravessava o cemitério.

Tudo estava calmo e quieto, quando de repente duma sepultura que ficava próxima do carvalho, se desprendeu uma pedra.

O mocho grasnou e fixou o seu olhar lá em baixo.

Passou-se um minuto.

Subitamente outras pedras voaram ao mesmo tempo que um grito surdo, afogado, pareceu sair das entranhas da terra.

A ave retrocedeu para o ramo, como que assustada.

quarta-feira, 9 de novembro de 2022

CLT022.00 Encontro com «O Ressuscitado»

 Insólito!

Descrição digna de um filme de terror!

Cemitério de Watson City...

No silêncio sepulcral, sob a luz lunar e o olhar de um mocho, a cruz de uma campa cai. A terra move-se, aparecem uns dedos, depois uma mão, por fim o corpo de um homem que parece aparvalhado.

Sob a pena brilhante de Keith Luger, esta novela leva-nos a conhecer o que levou àquela cena e o que se seguiu à mesma. Quem possibilitou que aquele homem “ressuscitasse”? Como vai ele reagir perante os que o conduziram ali? E que fará aquela a quem tanto amou?

Para o saber, há que seguir este espaço ao longo dos próximos dias.

quinta-feira, 3 de novembro de 2022

BRV014.11 O último encontro do «cavaleiro de negro»


A verdade também penetrou no peito do cavaleiro de negro, que cavalgava inclinado sobre o pescoço do animal, ao atravessar o tapete de ardósia quebradiça.

Depressa amanheceria, mas não queria descansar. O corpo nunca mais poderia descansar. Necessitava de outra espécie de repouso; pesava-lhe a alma. Era a primeira vez, desde há muitos anos, desde que julgara extirpá-la do peito, que a sentia palpitar unida ao coração.

E agora sentia a necessidade imperiosa de a fazer reviver, de a salvar da sua agonia.

Havia fracassado; havia sido ferido. Era uma derrota que lhe abria os olhos de uma maneira dolorosa. Uma mulher qualquer, e, contudo, uma extraordinária mulher, havia-lhe dado uma dura lição.

quarta-feira, 2 de novembro de 2022

BRV014.10 Duelo à porta da igreja traz a dor do verdadeiro amor


Embora naquela noite mal tivesse conseguido dormir, na manhã seguinte acordou cedo. Recordou-se imediatamente do que havia sucedido no bosque e, como uma sonâmbula, saiu da cama e aproximou-se da janela.

Se esperava ver alguma luta, teve um desengano. A rua estava tranquila, o sol já havia surgido no horizonte e começava a subir no céu, ameaçador como sempre.

Naquele dia, Main Street tinha um ar domingueiro. Nos passeios viam-se crianças de calças compridas e estreitas e altos chapéus, lenços de cores ao pescoço, laços ou gravatas, casacos de desenhos berrantes ou de pano negro, apesar do calor.

As mulheres, muito diferentes, abriam as suas sombrinhas até mesmo à sombra, ralhavam com as crianças que se deitavam ao chão ou faziam gritaria falando todos ao mesmo tempo.

terça-feira, 1 de novembro de 2022

BRV014.09 Ataque falhado ao cavaleiro de negro


Beatriz Block não se enganava. Não era já uma criança e, aos vinte e seis anos tinha vivido mais que qualquer outra mulher aos quarenta. Sabia que, tudo quanto dizia respeito a Roger Novack era fictício, tão fictício como ele.

Mas também não podia negar que, junto do «diabo negro», se sentira mais mulher e experimentava uns sentimentos jamais vividos. Houve momentos em que, inclusivamente, acreditou e caiu, deixando-se arrastar pela eloquência do cavaleiro, fechando os olhos sem os poder abrir e, às vezes, sem os querer abrir. Junto dele conheceu instantes maravilhosos ao mesmo tempo que, diante dela, se abria um mundo novo.

Recordava a noite anterior, os minutos vividos junto da pequena cascata, ouvindo o seu murmúrio e contemplando as suas águas prateadas ao caírem sobre as rochas brancas para se despenharem em seguida pelo terreno verde até encontrarem o seu leito e seguirem docemente, murmurando uma canção.