sábado, 31 de janeiro de 2015

POL077. Carne de Forca

(Coleção Pólvora, nº 77)
 
 
 
Um grupo de civis foi contratado para o transporte secreto de carregamento de oiro para as forças nortistas. Quando a jornada ia avançada, um grupo de soldados sulistas, devidamente enquadrados, atacou a expedição. Foi essa a ocasião aproveitada por um dos indivíduos encarregues do transporte para criar condições para se apoderar do oiro.
Dick Farley, o guia mais experiente e credenciado da região, chegou assim a Santo Tomas sem a almejada carga e foi sujeito a inquérito militar. Apesar de ser declarado inocente, o estigma ficou e Farley decidiu tudo fazer para provar a sua inocência.
Começou então intensa luta que Louis Rock nos narra com toda a mestria e que acaba por conduzir Dick ao encontro de uma bela companheira para o futuro.


quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

POL074. O destino cumpre-se

(Coleção Pólvora, nº 74)
 
 
«O destino cumpre-se» é, mais uma vez, a história do jovem que, à chegada a casa, depara com todos os familiares mortos na sequência de uma ação de pilhagem e decide vingar-se, abatendo, um a um, os participantes em tão vil acto. Quis o destino que, quando Jim regressou a Tourneville, conhecesse a bela Glenda filha do poderoso Patterson, o dono da cidade e um dos implicados na morte da sua família. Iria levar a sua vingança até ao fim com a sua vestimenta de «Justiceiro» e montado no seu fiel cavalo «Lucifer»?
Para o saber, leia esta bela obra de Frank Spey, que hoje lhe disponibilizamos para download.


segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

POL072. O traidor Jesse

(Coleção Pólvora, nº 72)
 
 
Quando Jess chegou ao rancho de Jack Fardnell cheio de fome, sem um tostão no bolso, quase desmaiado, este e a família não hesitaram em o acolher e lhe dar assistência. O rapaz foi melhorando e prontificou-se a ajudar Jack nas suas tarefas que passou a executar mostrando prazer.
Um dia, Jack foi entregar umas reses que tinha vendido, deixando Jesse na companhia da mulher e filha no rancho onde ele tinha sido acolhido. À chegada, uma notícia inesperada deixou-o em estado de choque. Afinal, Jesse era um ser traiçoeiro que não tinha tido o menor rebuço para, aproveitando a fraqueza das duas mulheres, roubar as suas poupanças e um cavalo e partir…
Jack foi em sua perseguição. Quando o encontrou, aproveitando uma distração, Jesse abateu-o. Haveria alguém capaz de pôr fim a este malvado?
Eis um livro muito intenso de O.C.Tavin, onde a natureza humana mostra toda a sua nobreza e toda a sua fraqueza. O autor é perito em criar situações que parecem deixar o leitor num estado em que sente que a narrativa não tem recuperação, que já nada poderá fazer chegar o livro a um final feliz. Mas, apesar de Jack ter sido cobardemente abatido, estávamos muito errados nessa suposição.


domingo, 25 de janeiro de 2015

POL071. «O Corvo»

(Coleção Pólvora, nº 71)
Quem seria o homem apelidado de «Corvo», responsável pela maioria dos roubos e crimes naquela região? Era, com certeza, indivíduo que conhecia muito bem aquele local e os costumes das pessoas, um indivíduo que se relacionava bem com os agentes do poder.
A essa terra chegou um homem que vivia de expediente com uma pileca que parecia nem ter força para se pôr em pé e acabou por ganhar uns tostões numa corrida. Seria esse homem o «Corvo» ou iria ter algum papel para o aprisionar?
A esta pergunta respondeu o sr. Mediant com um texto agradável de ler e onde se sente uma visão muito ingénua sobre o Oeste.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

ARZ075. A rota do Colorado


 
(Coleção Arizona, nº75)
 
Gilfred S. é um pseudónimo de Gilfredo Salgueiro Costa de quem existe o registo de seis livros publicados pela APR:
1. Cinco homens para matar - foi o nº 99 da Colecção Búfalo publicado em 1962.
2. Falso juiz - foi o nº 11 da Colecção Búfalo publicado em 1963.
3. A rota do Calorado(1) - foi o nº 75 da Colecção Arizona publicado em 1963.
4. Sangue no rio negro – foi o nº 109 da Colecção Búfalo publicado em 1963.
5. Sociedade de abutres – foi o nº 61 da Colecção Arizona publicado em 1962.
6. O duro e a morte –foi o nº 111 da Colecção Detective publicado em 1964.
Não dispomos de qualquer destes livros pelo que não é possível apresentar qualquer resumo.
Há dois anos, no Memorial do Búfalo, recebemos uma mensagem a propósito deste autor:

sou sobrinha-neta de Gilfredo Salgueiro, e só muito recentemente soube dos livros escritos pelo meu tio. foi uma agradável surpresa encontrar estas referências, e vou dar-lhe notícia do que agora encontrei.
Muito obrigada.

Marta Chaves

Longa vida a Gilfred S. e aos autores portugueses
 
(1) - é mesmo assim que está registado e não Colorado



sábado, 17 de janeiro de 2015

ARZ073. Um enigma no Far-West


 
Esta história é a continuação de «Um nova-iorquino no far-west». Fred Collins recebe a visita do seu amigo Toshiro Yagi, professor de «yiu-yitsu» e, a breve trecho, sente as provocações de um grupo de «cow-boys» que acabaram por levar monumental tareia. Fred, xerife naquela terra, fez o seu ajudante conduzi-los à prisão e continuou os preparativos do seu casamento com a beldade Mary Morgan.
Mas algo estava preparado para estragar a vida ao nova-iorquino rendido aos encantos do Oeste. Repentinamente, ouviu-se um tiro e veio a saber-se que o ajudante de Fred tinha sido abatido com um tiro na cabeça e os presos tinham fugido. Para complicar a situação, o médico tudo fez para ser preso, transmitindo a ideia de que não ficava seguro em liberdade.
Eis mais um enigma ao jeito de Vasco Santos, um dos autores portugueses celebrizado pela APR e autor de obras que exploram o encontro entre culturas diferentes. Quem teria assassinado o ajudante do xerife? Qual a razão por que o médico não se sentia seguro? Talvez o segredo esteja na bela capa deste livro…

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

PAS421. Surpresa Fatal

Rod não saiu do rancho logo atrás do velho Farros. Teria sido descaramento demais, pois, à volta dos edifícios, estendiam-se pradarias desarborizadas até duas ou três milhas de distância, excetuando o lado leste onde as colinas chegavam a meia milha de distância da casa principal.
Assim, Rod dirigiu-se diretamente para as primeiras elevações que ficavam a sul, e aí esperou o velho.
Não teve de esperar muito. Apenas cinco minutos. Ao fim desse tempo viu-o chegar a galope pela planície, cortar o outeiro próximo do local onde estava Rod, e descer para o bosque de abetos que se estendia quase até ao limite sul do rancho onde estavam os cercados perto dos quais tudo sucedera.
Rod esperou até que o velho desapareceu entre árvores. Depois, galopou pelas partes altas, ladeou bosque pelo norte e continuou á subir até divisar o final do arvoredo. Dali veria Ben Farros sair de entre as árvores para prosseguir o seu caminho Então, poderia segui-lo a distância, graças à vantagem de se encontrar num plano superior.
Mas decorreram dez minutos e o velho não saiu do bosque. Rod, impaciente, esperou mais cinco minutos. Inútil. Benjamim Farros parecia ter ficado sepultado para sempre sob a ramaria do bosque.
Só havia duas hipóteses: ou tinha sucedido alguma coisa ao velho ou o corpo de Bob Dean estava enterrado no bosque. Isto parecia o mais provável. Assim, não teve outro remédio senão descer do seu posto de observação e introduzir-se entre as árvores seguindo o possível caminho do velho.
Desde o princípio, Rod compreendeu que era inútil seguir rastos. Aquele carreiro através do bosque era utilizado por todos os que se dirigiam para os cercados do sul e a erva estava pisada em todas as direções por cem rastos diferentes.
Assim, preferiu sair do duro caminho e cavalgar pelas bermas cobertas de erva e musgo. Desse modo atenuava o ruído dos cascos do cavalo.
Erguido na sela, atento ao menor ruído ou movimento, Rod percorreu mais de metade do bosque sem achar rasto do velho Farros. Mas já perto do final, ouviu um relincho à sua direita, atrás de umas rochas que chegavam quase à copa das árvores.
Rápido como um felino, Rod saltou em terra e empunhou o revólver, arrastando-se silenciosamente para as rochas. Trepou por elas e, ao chegar ao cume, viu o cavalo que tinha relinchado. Um pouco mais além, sentado no solo e apoiado a um tronco, estava Benjamim Farros. Mas estava completamente de costas para ele, de forma que, do seu ponto de observação, o abeto cobria-lhe todos os centros vitais Apenas lhe via as abas do chapéu e os ombros da jaqueta.
Rod alegrou-se de a coisa ser tão simples. Com todo o cuidado, para não fazer ruído, desceu da rocha e avançou pela erva, de revólver na mão, procurando que o tronco a que o outro se apoiava ficasse sempre entre ambos, para evitar que o velho voltasse a cabeça, o descobrisse antes de tempo.
Quando chegou a dez passos do abeto, Rod saltou bruscamente para o lado e disparou duas vezes sob a sua vítima.
Mas a «vítima», afinal, não passava de uma jaqueta e um chapéu, pendurados numa cruz de pau.
Rod ficou petrificado. Sobretudo quando a voz do velho Farros soou à sua retaguarda:
— Levanta os braços, rapaz!
O terror, a surpresa, a angústia do seu fracasso fizeram com que Rod obedecesse precipitadamente. Estava mortalmente pálido e tremiam-lhe as mãos.
Benjamim Farros saiu de entre- as pedras, dizendo:
— O diabo do Merrick, as partidas que ele gosta de pregar a cada um! Ainda bem que o diabo é velho e sabe muito. A mim já os anos me pesam nos ombros, é o que vale...
— Ben, eu... — tartamudeou o outro.
— Não comeces com desculpas agora — cortou Farros. — Mas não haja dúvida de que tens razão para pedir desculpa. Se não me precato, tinhas-me feito num passador com toda a facilidade. Era o que tu querias, hã?
— Merrick disse-me...
— Sim, eu imagino. Cá me estranhou que ele fosse tão generoso comigo. Mas, claro, deste modo até podia ter-me dado mil dólares. Anda, larga o ‘revólver cruza os braços sobre a cabeça.
— Que vai fazer comigo?
— Eu nada, filho. Estou velho, a morte anda perto e não quero andar a manchar as mãos de sangue A última hora. Há-de ser o xerife a ajustar contas contigo. Para o caso é çomo se me tivesses matado realmente, hã? E ao teu patrão também vou arranjar-lhe a cama. Não que não vou!
Tinha-se aproximado até pôr-se diante de Rod.
— Bom, larga o revólver de uma vez.
O outro deixou-o cair docilmente e Ben Farros agachou-se para o apanhar do chão. Mas então Rod, vendo ali a sua única salvação, esticou a perna e deu-lhe um brutal pontapé na cabeça.
Benjamim Farros soltou um gemido de dor e caiu de costas, disparando o revólver. Não acertou em Rod. Este abaixara-se para agarrar a sua arma em que o não tivera tempo de tocar.
Ergueu-se e disparou sobre Ben Farros que continuava no chão. Atingiu-o no ventre e no peito. O velho estremeceu violentamente mas os ferimentos não o impediram de apertar o gatilho de novo. E, por casualidade, a bala foi atingir Rod entre os olhos.
Matou-o imediatamente.
Ben, gemendo entre os dentes, agarrando-se ao ventre com a mão esquerda, procurou o apoio do abeto mais próximo para se levantar. Mas as pernas falharam-lhe. Sentiu-se estonteado, vazio.
O cavalo não passava de urna sombra informe. O velho tentou dirigir-se para ele, mas não conseguiu. Caiu de bruços sobre a erva. Estava morto.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

PAS420. Testemunha incómoda

O seu pranto de desesperada impotência foi interrompido por leves pancadas na porta do seu quarto.
— Queres dizer que decidiste esquecer tudo, Doris, e que te casas comigo?
 — Quero dizer que não te denunciarei por teres matado Bob. Isso deixa-te tranquilo?
— Sim.
Tentou beijá-la, mas ela repeliu-o com asco.
— Deixa-me agora, Nolan — pediu. — Não é ainda altura para isso. Deixa passar até amanhã, pelo menos.
— Como quiseres.
— Agora tenho de continuar com o almoço.
Merrick estava contente. Sinceramente, não esperava aquela resignação de Doris em tão curto prazo. E compreendeu que era melhor não insistir.
Deixou-a entrar na cozinha e saiu para o alpendre. Rod estava já de volta.
— Encontraste o Ben Farros?
 — Sim. Está nos estábulos. Já lhe disse que não se fosse porque tu querias falar com ele. 
— Continua por aqui.
Afastou-se de Rod e atravessou o pátio de estilo mexicano. O velho Farros esperava-o à porta dos estábulos.
Merrick fê-lo entrar para que ninguém os visse juntos. Quanto menos gente suspeitasse de que guardavam algum segredo, tanto melhor.
— Bem — disse o ganadeiro — Jas Conley seguiu o rasto de Bob até aos cercados, e viu o sangue.
— Hum! — grunhiu o velho, acariciando a barba branca. — É pouca sorte, mas não creio que tenha importância.
— Mas ele agora vai continuar as buscas. E pode dar com o sítio onde enterraste o Dean.
O velho desatou a rir, e afundou ainda mais as desdentadas gengivas.
— Não creio — disse. — Está bem escondido.
Mas Nolan Merrick não estava tranquilo.
— Não me fio — disse. — Convém que alguém esteja lá, de vigia, até que eu consiga tirar-lhe a vontade de andar a meter o nariz nisto.
— Bom, não se perde nada com isso. Eu mesmo posso ficar de guarda ao sítio, para o caso de ele aparecer por lá a farejar.
— Será o melhor — admitiu Merrick. — Não creio que ele possa sair da cidade, mas vale mais prevenir... Toma.
Entregou-lhe umas notas que o velho aceitou muito sorridente.
— Oh, muito obrigado, «mister» Merrick!
— Ganharás muitas mais, se continuares a trabalhar para mim, Ben. Bom, para começar não é mau, hã?
—.Agora vai encarregar-te do que te disse.
— Sim, «mister» Merrick. Assim que deixar isto. pronto
Nolan saiu dos estábulos e foi ter com Rod ao alpendre.
Disse-lhe:
— Segue o velho quando ele sair daqui. Vai postar-se junto de uma tumba. A de Dean.
— Tenho de fazer alguma coisa de especial, patrão?
--- Pouca coisa. Penso que deve ter deixado espaço suficiente para caber outro corpo. Assim só tens de gastar uma bala e tirar um pouco de terra remexida.
— Meto-o lá também?
— Sim. Sabe demais para que eu me sinta tranquilo com ele vivo. Teria de estar sempre a encher-lhe as algibeiras.
— Assim é seguro.
— Ah! E não te esqueças, antes de o enterrar, de lhe tirar os cento e cinquenta dólares que acabo de dar-lhe.
Rod soltou o seu risinho antipático.
— Descanse — disse. — Não me esqueço.
— Depois fica de vigia, num sítio de onde vejas boa parte do rancho. Se Jas Conley conseguir sair de Sakersfield e aparecer por cá, já sabes o que tens que fazer.
— Tentarei arranjar lugar para os três no mesmo buraco — riu-se o cúmplice. — Mesmo que tenha de cavar um pouco mais fundo.
— Então, vamos. Eu fico a vigiar a Doris.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

PAS419. Por quem chora Doris

Doris Parker deixou-se cair sobre a cama e rompeu a chorar desconsoladamente. Tudo tinha sido como um sonho, como um sonho terrível de que não havia maneira de despertar.
Ao meio dia, quando estavam a comer em casa, apareceu um vaqueiro do rancho a gritar em frente do alpendre.
- «Miss» Parker! Abra bem os ouvidos que trago uma boa notícia!
Doris levantou-se da mesa e correu até à porta.
— Que notícia é essa que me trazes, James?
O vaqueiro disse:
— Lembra-se daquele potro azeviche que vimos há uma semana junto do Risco Ermitão?
— Então não havia de lembrar-me! Disse-lhes que queria para mim. James riu-se alegremente.
— Bom, pois já é seu. Laçámo-la esta manhã, e tem-no o velho Ben com o rebanho do vale.
— Oh! James! — exclamou ela, com os olhos a brilhar de satisfação. -- Obrigada!
— Mas tenha cuidado com ele. É o potro mais arisco e selvagem que já vi. É preciso domá-lo primeiro antes de montá-lo.
— Doma-lo tu, vaqueiro?
— Sem dúvida! E juro-lhe que o vou deixar tão meigo como uma noiva que eu tive no Kansas. Vai ver. Ela riu-se e disse:
— Quando for à cidade, prometo trazer-te urna prenda, James.
— Bom, agradeço. Mas não gaste muito dinheiro ou o seu pai Sie-me na rua com um pontapé.
— De acordo.
Já não pôde comer. A notícia excitara-a tanto que mal conseguiu manter-se sentada, enquanto os outros acabavam de almoçar. E, em seguida, preparou-se a fim de se dirigir para a remonta que ia vender-se dois dias depois ao Exército.
Nolan Merrick, que tinha comido com eles, dispôs-se a acompanhá-la. Selaram dois cavalos, e dirigiram-se, para a parte sul do vale, onde o velho Benjamim Farros tratava dos cavalos que os vaqueiros iam apartando para a venda.
Meia hora depois chegavam à vedação onde já estavam reunidos mais de trinta cavalos.
Ben Farros estava sentado no alto do cercado, com o velho chapéu atirado para os olhos e a barbicha branca sumida por falta de dentes. Saudou-os com um gesto alegre do braço, mal os viu aparecer.
— Já sabia que vinhas corno um relâmpago! — disse o velho, rindo.
Doris aproximou a montada do cercado e procurou com os olhos ávidos entre a trintena de cavalos que se agitavam nervosos dentro da vedação. Depois perguntou:
— Onde está ele, Ben?
— Ali o tens, pequena.
Era um potro esbelto, de longas crinas e cabeça orgulhosa. O pelo negríssimo brilhava como se estivesse untado de azeite.
— Oh, é magnífico, Ben!
— Sim, é um bonito cavalo -- corroborou Nolan Merrick. --- Mas temo que não o possas montar tão cedo, querida.
Realmente, o potro não parecia muito disposto a deixar-se montar por ninguém. Ia de um lado para o outro do cercado, calculava as suas possibilidades para saltar, erguia-se sobre as patas traseiras e olhava desafiadoramente em roda, em tensa guarda.
— James disse que mo vai domar —assegurou a jovem.
— E com certeza que o faz — assentiu o velho. Mas digo-te que vai ter trabalho, se é que o bicho não lhe parte a cabeça quando for montá-lo.
Nolan Merrick estava a olhar para a colina que limitava o rancho pelo Sul, onde aparecera uma nuvenzinha de pó por entre os zimbros.
— Vocês deixam o gado aproximar-se tanto dos limites? — perguntou ao velho. E apontou para a colina.
Benjamim Farras franziu os olhinhos maliciosos e resmungou qualquer coisa.
— Evidentemente que não, «mister» Merrick! Aposto pescoço em como esse cavaleiro não é dos nossos. Os rapazes estão daquele outro lado que dá para o vale. É ali que andam os cavalos.
— Quem poderá então ser?
— Alguém que vem da povoação e que não conhece bem o caminho, acho eu.
O cavaleiro chegou ao terreno plano e aproximou-se a galope dos cercados. Não o reconheceram enquanto não parou o cavalo junto da vedação. E foi Doris quem primeiro o reconheceu.
— Bob! — gritou. — Bob, nem posso acreditar!
E correu alegremente para ele sem pensar sequer nos que estavam a acompanhá-la. Dean saltou precipitadamente do cavalo e recebeu Doris nos braços. Estreitou-a com força contra o peito.
— Doris, querida...
— Oh, Bob, julguei que nunca mais voltavas!
Nolan Merrick tinha ficado imóvel, rígido, pálido. O seu rosto estava contraído num esgar de raiva e os seus olhos despediam chispas. Bob fitou-o e disse:
-- Olá, Merrick! Não esperavas esta surpresa, hem? Por certo pensavas que, a estas horas, Jas e eu andávamos a vagabundear, mortos de fome, a muitas milhas daqui. Mas bem vês que não é assim.
— Não me interessava nada saber por onde vocês andavam — respondeu Merrick, surdamente. — Mas talvez seja melhor teres vindo.
— Claro que é. Há umas certas coisas que precisam de ser arrumadas. Por exemplo, vou dar-te uma ordem: não voltes à pôr os pés neste rancho enquanto Doris aqui estiver... o que será por pouco tempo. Vou casar com ela amanhã mesmo.
— Oh, Bob! — ruborizou-se ela um pouco assustada.
Merrick franziu as pálpebras como se a luz lhe ferisse a vista.
— Estás convencido disso? — perguntou.
— Ficarei, logo que ela me disser que aceita casar-se comigo. Já não sou um vagabundo miserável que tem de mendigar o pão aos outros, Nolan. Agora tenho dinheiro. Já posso oferecer-lhe uma vida decente a meu lado e quero saber se ela aceita.
Voltou-se para Doris e perguntou:
— Queres casar comigo, Doris?
-- Oh, sim. Quero, Bob! Mas...
— Quê?
— Não quero que falem assim nem que lutem um com o outro. Eu aprecio-te muito, Nolan, mas bem sabes que não estou apaixonada por ti. Sabe-lo muito bem. Sempre amei o Bob. Se aceitei a tua companhia é porque o meu pai quer que eu case contigo. Mas não posso fazê-lo. Não te amo.
Merrick não disse nada. O seu rosto tinha a cor da cera e crispava os punhos de raiva.
Bob deu um passo para ele, firme, e disse, num desafio:
— Agora que já ouviste, Nolan, espero não ter de to recordar. E uma coisa ainda: Penso pôr a claro toda aquela embrulhada que tu arranjaste para me expulsares de Sakersfield. Demonstrarei que me acusaste de ladrão só para evitar que eu me casasse com Doris, e, quando tudo ficar bem claro, mato-te.
Doris deu um salto e abraçou-se freneticamente a Dean. 
— Bob, por favor, não digas isso. Diz-me que não o farás!
— Não. Decidi fazê-lo— replicou ele, teimosamente. —  Assim é melhor que ele se prepare.
— Aceito a tua ameaça, Bob — disse Merrick Mas lembra-te de que eu não vou esperar tanto tempo para matar-te a ti.
— Veremos quem ganha, Nolan. Queres resolver isso agora mesmo?
— Não, por favor! — soluçou Doris.
Merrick pensou um segundo e depois replicou:
— Eu esperarei a ocasião, Bob.
— Muito bem. Quando quiseres. E agora, põe-te andar daqui.
Nolan Merrick hesitou uns segundos. As suas mãos crispavam-se nervosamente, perto da cintura e os olhos calculavam as possibilidades. Mas a atitude firme de Bob Dean oferecia poucas garantias de se sair bem do duelo.
Lentamente, sem dizer nada, o rancheiro deu meia volta e foi até onde deixara atado o cavalo.
Doris separou-se de Bob e acercou-se de Nolan Merrick.
— Oh, Nolan, suplico-te! Não lutem!
— Garanto-te que não vai haver luta disse pondo o pé no estribo e subindo para a cavalo. — as coisas já não se podem modificar.
Pegou nas rédeas e, quando parecia que ia iniciar a marcha, o que fez foi voltar-se corno um raio. Na sua mão direita apareceu um revólver.
Bob estava em frente, alheio a tudo. Quando atentou no perigo, já Merrick tinha apertado o gatilho duas vezes consecutivas.
Dean, assombrado, tropeçou grotescamente e caiu de bruços no chão. Aí ficou, imóvel, contorcido.
Quem reagiu primeiro foi o velho Benjamim Farros. Saltou agilmente a vedação e foi ajoelhar-se junto do caído. Doris, por seu lado, soltou um grito de horror e quis correr também para Bob. Merrick, porém, deteve-a violentamente por um braço.
— Acabou-se! Entendes-me?-
Ela, louca de raiva, esbofeteou-o, deu-lhe pontapés Para soltar-se.
— Assassino! Assassino! — gritava.
— Cala-te!
— Larga-me, assassino!
Merrick que tremia de excitação estendeu a mão e esbofeteou-a furiosamente. Doris caiu no chão. E ali ficou quase sem dar acordo de si, gemendo, feita num novelo.
O rancheiro ficou de pé, junto dela, com o rosto transfigurado.
— Agora escuta isto, Doris. Ninguém saberá nada, ouves?
— Hão-de sabê-lo todos! Hei-de denunciar-te. És um assassino!
Ele agarrou-a pelos cabelos, obrigando-a lar a cabeça.
— Cala-te! Cala-te ou faço contigo fiz com ele.
E voltou a bater-lhe, irritado pelos insultos.
Benjamim Farros aproximou-se deles abanando cabeça.
— Morreu — disse.
Merrick olhou-o com desconfiança.
— E então?
 — Oiça, eu não tenho tanta genica como a Doris —disse Ben. — Sou velho e já vi muitas coisas. Aprendi a pensar com a cabeça, e não com o coração. Bob Dean está morto, e ninguém pode ressuscitá-lo. Nós estamos ainda vivos. Temos que olhar a isso.
— Gosto que pense assim— tranquilizou-se o rancheiro.
Ben Farras acrescentou:
— Dean, ao fim e ao cabo, só vinha trazer discórdias e desgostos a todos. «Mister» Parker não havia de gostar ele o ver aparecer. E o senhor é um homem honrado... apesar de ter tido esta fraqueza. Assim, o melhor é não perder tempo e enterrar este homem. Ninguém precisa de saber.
— Está disposto a ajudar-me, Ben? — perguntou Merrick.
— Com certeza! Afaste-se daqui e leve Doris consigo. Eu me encarrego de lhe arranjar um buraco onde ninguém o encontre.
— Hei-de pagar-lhe bem a sua ajuda.
— Bem sei, «mister» Merrick. E é outra coisa que tenho em conta. Ajudando-o a si, posso tirar proveito. Ajudando Dean, só tiro dores de cabeça. Os mortos, mortos estão.
Doris levantou-se furiosa.
— Você também! Canalhas! Vou denunciar os dois!
— Acalme-se, menina — aconselhou o velho. Lembre-se que deve olhar pela sua felicidade e esta não vai encontrá-la num homem sem dinheiro, nem recebendo a maldição de seu pai.
— Eu encarrego-me dela — disse Merrick. Encerre-o você quanto antes.
— Descanse. Tenho ali a ferramenta.
Doris perdeu por completo a cabeça. Precipitou-se para Merrick disposta a arrebatar-lhe o revólver.
— Vou matá-los aos dois! — gritava. — Como fizeram ao Bob. O rancheiro não teve remédio senão bater-lhe de novo. Desta vez a pancada fê-la perder os sentidos e cair como um saco vazio.
Merrick tomou-a nos braços e subiu para o cavalo, colocando o corpo da jovem à sua frente.
— Vá-se embora quanto antes — apressou o velho. — Os vaqueiros podem voltar de um momento para o outro.
Quando Doris recuperou os sentidos, encontrava-se, na companhia de Nolan, no bosque de abetos que cobria grande parte do rancho. E durante toda a tarde de explicou-lhe bem as coisas.
— Tens dois caminhos a seguir, Doris: casar comigo e calares-te, ou trocar-me as voltas e dar à língua. Se seguires o primeiro caminho, podes chegar a esquecer-te de Bob. Serás feliz comigo... Se não, nem tu nem o teu pai terão ocasião de ver o resultado. Pensa bem nisto.
E Doris começou a ter medo. Um medo horrível. Sobretudo quando se sentiu espiada pelos olhos chispantes de Nolan Merrick, quando sentiu nos rins o cano do revólver... quando compreendeu que, antes de ser capaz de dizer o que queria, ele teria tempo de sobra para matá-la e matar o seu pai.
E não teve coragem para dizer a Jas Conley nem ao xerife o que lhe queimava o coração.
Por isso chorava. Era o seu único alívio; Mas jurou a si própria, mil vezes, que encontraria ensejo para denunciar Merrick. Tinha de vingar Bob.

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

PAS418. Passos que abafam outros passos na noite

A noite era plácida e corria uma aragem suave e agradável. Ao longo da rua central via-se o resplendor dos estabelecimentos iluminados, e passavam cavaleiros que iam e vinham animadamente.
Jas ajustou bem a roupa nova, acendeu um charuto havano e caminhou lentamente pelo passeio, a gozar o fresco. Sentia-se jovial, cheio de prazer ao notar que era o alvo das atenções de todos com quem se cruzava. Sobretudo, ao sentir no fundo da algibeira o maço de notas e pensar que podia gastá-las tranquilamente, sem se ralar nada.
Era um sentimento novo, que lhe embriagava os sentidos corno uma garrafa do pior «whisky».
«A Mexicana» era um edifício de adobe, decorado ao estilo espanhol com muitos letreiros de cores vivas na fachada. Ali havia sempre música, bom humor, boa bebida e raparigas alegres que se aplicavam em tornar agradável a estada dos clientes. Sobretudo dos clientes que traziam as algibeiras bem recheadas. E Jas precisava terrivelmente de que lhe tornassem a vida agradável. Precisava de ver os outros fazer tudo para o satisfazer. Jas vivia como num sonho.
Quando estava quase a alcançar a porta, o seu sentido de vigilância, que ainda funcionava 'com a rigidez dos tempos difíceis, disse-lhe que estava a ser seguido.
Foi uma sensação estranha, incómoda, indefinida. Os seus próprios passos sobre o chão de tábuas abafavam as passadas do outro homem.
Bruscamente, Jas deteve-se e deu meia volta, mantendo a mão direita junto da coronha do seu revólver. Efetivamente alguém caminhava atrás dele a dez passos de distância.
Não pôde ver-lhe imediatamente o rosto pois o passeio era mal iluminado. E o outro, ao vê-lo parado e a olhá-lo, hesitou um segundo. Mas logo continuou a andar.
Quando chegou perto de Jas, este pôde ver que se tratava de um tipo curioso. Teria à volta de cinquenta anos e era forte como um toiro. Mas o rosto não correspondia à sua força física. Parecia, pelo contrário, brando e despreocupado. Estava mal barbeado, com as guedelhas a cair-lhe para a frente, sob o sujo e roto penante.
A roupa não era melhor. Mas sorria, e os seus olhos pareceram a Jas os mais trocistas que já vira.
Em vez de se aborrecer com a descarada observação de Jas, o tipo brindou-o com um sorriso e levou dois dedos à aba do chapéu, desbarretando-se, como se saudasse uma dama.
— Boas noites, «mister» Conley — cumprimentou. — Agradável temperatura, não é verdade?
E dispôs-se a seguir o seu caminho.
Jas nunca o tinha visto anteriormente, e sentiu-se incapaz de deixá-lo seguir, sem esclarecer a sua presença e o motivo por que lhe conhecia o nome.
— Espere — disse.
O outro parou, quando já o tinha ultrapassado alguns passos.
— Chamava-me a mim?
— Não creio que haja aqui outra pessoa perto.
Conley pôs-se à frente dele com cara de poucos amigos.
— Que quer? — perguntou-lhe.
E como o outro esboçasse um gesto de divertido assombro, corno a dizer que não queria nada, atalhou:
— Não se faça parvo. Vem a seguir-me.
O desconhecido quase soltou urna gargalhada.
— Porque conhece o meu nome? Foi Merrick quem o mandou?
— Oh, não! Garanto-lhe que não ando a mandado de ninguém. Simples curiosidade pessoal. Fala-se tanto de si na cidade que não pude resistir à tentação de conhecê-lo de perto. Espero que não se importe, hã?
Jas decidiu pôr-se em guarda.
— Os espiões põem-me nervoso avisou. — Se tem alguma ideia, o melhor é pôr as cartas na mesa.
— Garanto-lhe que não. Mas, já que estamos de conversa, aproveito para dizer-lhe uma coisa: chamo-me Lynn Buzby, sou forasteiro em Sakerfield, não tenho amigos por cá e às vezes falo pelos cotovelos de coisas agradáveis, quando alguém sabe soltar-me a língua... Se algum dia se sentir aborrecido e com vontade de conversar, avise-me.
Que quereria insinuar? Saberia Buzby alguma coisa de interesse e pretenderia extrair-lhe dinheiro a troco de informações?
O forasteiro voltou a tirar o esfarrapado chapéu brindou-o com novo sorriso.
— E se me vir por acaso em sítios onde o senhor esteja, não se inquiete. Não ando a espiá-lo. Simples curiosidade, já lhe disse. Boas noites, «mister» Conley. Que se divirta!
Jas deixou-o ir sem tentar detê-lo. Depois entrou no «A Mexicana».

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

ARZ072. A hora de morrer



Jas Conlay e Bob Dean regressaram à sua terra, Sakersfield, carregados de ouro e com ideias para começar uma nova vida e humilhar os que antes não tinham tido uma ação correta com eles.
Bob queria recuperar a sua noiva, Doris, e mostrar-lhe que era um homem capaz de construir uma vida digna que ela poderia partilhar. Jas estava mais preocupado em limpar as calúnias de que tinha sido alvo.
Mas as coisas nunca são tão lineares como pensamos e Bob, no encontro com a noiva, acaba por ser atacado a tiro pelo sanguinário Merrick, apaixonado por Doris. Começa aqui a história do generoso Farros que acabou por dar a sua vida pela salvação do jovem Bob incansavelmente procurado por Jas.
O sr. Ryman tem aqui uma boa história com alguns pormenores dignos de transcrição. Será esse o objeto dos próximos posts.

domingo, 11 de janeiro de 2015

ARZ071. Coragem, vaqueiro!



Ray James regressou à terra natal pensando encontrar ali trabalho e não mais se afastar dela. Estava longe de pensar que seria convidado a integrar-se numa estranha aventura: acompanhar a entrega de uma manada aos seus novos donos, participando numa equipa em que também havia pessoal destes.
A história decorre assim em torno da resistência que o cow-boy apôs a esta ideia a qual acabou por ser vencida pelo pedido de uma menina filha de um rancheiro que também faria parte da expedição. Diga-se que esta expedição foi bem estranha devido às más intenções que os viruais compradores demonstraram pelo caminho.
Assim, o nosso vaqueiro teve de demostrar toda a sua coragem e teve o prémio merecido nua noiva que era a rapariga mais linda do povoado.
Este livro de Med Ryman tem pouco de atrativo devido às ações do autor para o fazer crescer, perdendo-se na invenção de diálogos e problemas que não traziam nada de novo à história. A capa, não identificada, é bastante interessante referindo-se ao encontro do cow-boy James com a sua amada no momento em que esta lavava os seus cabelos de oiro.

sábado, 10 de janeiro de 2015

CNT006_P04. A última bala

Vil Thompson, durante momentos ficou especado no solo a contemplar com calma os dois ex-companheiros. A paz que agora sentia no espírito não era mais do que a satisfação de um desejo cumprido... Estava vingado!
Ali, bem perto de si, jaziam aqueles que o quiseram tirar à vida. Olho por olho, dente por dente — era bem explícita a lei das montanhas. Pagara com moeda igual àquela que lhe ofereceram. E no fundo livrara a sociedade de dois bandidos... Contemplou com olhar distante o «colt» que repousava na mão. Rico! Tinha ouro... tanto ouro, que não o gastaria no resto duma existência de depravação... Merecera a pena esperar um ano! Agora... — agora, nem queria pensar. O seu olhar caiu sobre a arma. Sorriu. Que de ironias nos reserva o futuro... Mal supunha My Meekness, quando se esqueceu do «colt» junto de si, que abandonava o instrumento que lhe traria a morte.
Passou os dedos angulosos sobre arma. Olhou o cano sujo de pólvora e soprou-lhe com benevolência. Tomou-lhe pela última vez o peso e com displicência atirou-o para o solo... Então...
Inesperadamente, ouviu-se uma detonação e Vil Thompson sentiu que algo lhe rasgava as carnes e lhe fazia vir o sangue à garganta. Teve um acesso de tosse, ao mesmo tempo, que uma nuvem lhe tapava-a vista.
Estendeu as mãos à procura de apoio, enquanto uma sensação de inconsciência o perturbava e lhe fazia perder o equilíbrio. Acabou por cair. Vil Thompson enganara-se na contagem das balas no tambor do «colt»: eram três e não duas! Uma para My Meckness, outra para Sprightly e a última... para ele! Aquela que não viu e que lhe estava reservada...

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

CNT006_P03. Ajuste de contas

Os dois homens rolaram pelo solo, ante o olhar atónito de Meckness, que ficara paralisado pelo inesperado da cena.
Sprightly procurava desenvencilhar-se do adversário, obrigando o corpo a girar em rápidas reviravoltas.
E Vil Thompson, olhos raiados de fúria, lábios apertados de raiva, descarregava todo o ódio que lhe rugia no peito, em socos bem dirigidos e fortes, acertando no rosto, nos braços, no estômago e nos flancos.
Sob o ímpeto de tal tempestade, Sprightly não tardou a amolecer, e espaçando mais e mais os seus arremessos de lutador, acabou por se abandonar, meio tonto, à vontade do ex-companheiro...
Vil Thompson levantou-se com o corpo a arder de excitação. Os seus olhos procuraram My Meckness e depararam com aquele já de arma na mão e com um sorriso meio idiota nos lábios.
— Agora... quem manda sou eu! — começou para não mais acabar, porque Vil, tão rápido como o pensamento, atirara-se de frente para o solo, num hábil mergulho, e agarrando no «colt» --- no seu «colt»! — que se vira forçado a largar com a chegada de Sprightly, disparou quase sem visar...
Meckness apanhado de surpresa, transformou o sorriso numa contração de dor, levou a mão ao peito, onde aparecera um ponto vermelho, e dobrando-se sobre si mesmo, caiu enrolado, não tardando a expirar... Então Thompson voltou a levantar-se. A arma de onde saíra a bala, ainda fumegava. E a seus pés, estarrecido, de olhos a saltarem das órbitas, corpo a tremer, estava Sprightly em atitude de súplica.
— Não me faças mal... não me faças mal... eu... eu... dou-te o ouro... todo... todo...
— Cala-te! — interrompeu Vil. — A tua sorte vai ser igual à de Meckness! Vês este «colt» ? — e voltou amostrar a arma que tinha entre os dedos retesados. —Tem duas balas: uma era para Meckness já a recebeu; a outra... é para ti! Mas, antes, quero saber onde esconderam o ouro... Fala!
— Não... Dar-te-ei tudo... mas... deixa--me... fugir... juro-te que...
— Não chores, cobarde! Quando tinhas a arma nas mãos e teu «cantar» era outro! Pela última vez: onde está o ouro?
— O ouro... o ouro... Vil, deixa-me fugir... Nunca mais aparecerei no teu caminho...
— O ouro?!!
— O ouro... está enterrado... sob a soleira da... porta desta barraca...
Novamente o sorriso apareceu nos lábios delgados de Vil Thompson. Aproximava-se o fim da missão que a si próprio impusera...
— Prepara-te... vais receber a última bala, das duas que Meckness deixou no «colt», quando vocês me atraiçoaram... — e sem o desfitar, levantou lentamente o braço e dispara!

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

CNT006_P02. Quem de três tira dois...

Deparam-se-nos, por vezes, na vida, situações tão inesperadas, que no passado julgaríamos impossíveis. Assim, recuando um ano, Vil, Sprightly e Meckness, então amigos inseparáveis, rir-se-iam de quem lhes afirmasse que chegaria o dia em que uma arma serviria de razão para os conservar reunidos. E assim aconteceu... Porquê?
Tudo começou com os opulentos resultados, fáceis e inesperados, conseguidos num hábil assalto a um dos transportes do «Wyoming Bank». Rendeu tão grande quantidade de ouro, que os três homens, amigos anteriores, sentiram, cada um por si, que se não fossem tantos, maior parte lhes caberia... E este pensamento fê-los dividir. Meckness e Sprightly para um lado e Thompson para outro... Venceu o número mais alto: Vil foi derrotado! Simplesmente, na luta final, quando os dois cúmplices e traidores pensaram ter suprimido o companheiro com meia dúzia de cartuchos, este conseguiu salvar-se e voltava, agora, não só para se vingar, como para recuperar o ouro — causa e motivo da traição...
 
***
 
Logo que se viu senhor da situação, Sprightly avançou para o centro da barraca e sem desfitar os dois homens, disse com ironia:
— Se conseguiste escapar, foi bom que aparecesses, Thompson. A tua presença faz-me lembrar que o ouro pode ser só para mim... — e numa transição seca de voz: — Quieto, Meckness! Se mexes nos coldres, disparo... És estúpido e não mereces a fortuna que tens na mão!...
Vil adiantou-se indiferente ao cano que o visava e teve uma explosão de raiva.
— És traidor duas vezes, cão! Primeiro, de parceria com esse miserável que está trémulo de medo (apontava para My Meckness), só para te livrares de mim; agora, viras-lhe as costas e fazes-lhe o mesmo!
— Que saiba, nunca nenhum de nós foi senhor de escrúpulos! — respondeu Sprightly com uma gargalhada de escárnio. — E a salvar-se um dos três, que seja eu...
Todavia, Meckness estimulado pelas palavras insultuosas de Thompson, tomou uma resolução, que iria alterar o rumo dos acontecimentos. Recuou com um salto e levou os dedos à coronha da arma que lhe pendia do cinturão. Mas Sprightly que estava atento, procurou frustrar-lhe a intenção... E decerto tê-lo-ia conseguido, se Vil Thompson não aproveitasse esse instante de distração para lhe cair em cima e rodeá-lo com os seus braços hercúleos, ao mesmo tempo que com uma pancada curta no braço o fazia largar o «colt».

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

CNT006_P01. Visita pouco oportuna


COM o abrir imprevisto da porta da velha barraca, My Meckness levantou o rosto sulcado por rugas e cicatrizes e não pôde dissimular o forte estremecimento que o fez erguer de um salto.
No limiar, entre os umbrais denegridos e carunchosos, surgira a figura atarracada e suja de Vil Thompson. Empunhava um reluzente «colt» na mão esquerda e dava voltas a uma moeda de cobre entre os dedos da direita.
— Eh, amigo! — exclamou com um sorriso que mais parecia uma careta.
— Grande surpresa hem?! Não… não sou um fantasma. Aqui me tens de carne e osso... Pensavas tu e esse imbecil do Sprightly que neste momento eu repousava pelos múltiplos papos dos abutres! Enganaram-se, meu velho... Vil Thompson não se deixa vencer tão facilmente!
O outro fitava-o assombrado como se duvidasse do que via. E aquelas palavras secas, marteladas com firmeza, tiravam--lhe o calor do corpo.
— Antes de te suprimir — continuou o recém-chegado — permito-te uma satisfação: porque te procurei primeiro a ti do que a Sprightly. — Fez uma pausa e prosseguiu: — Quero agradecer-te pelo facto de esqueceres junto de mim, no dia da vossa traição, esta arma! — e na sua mão o «colt» volteou pelo dedo e estacou na posição primitiva. — Esta arma que conserva no tambor duas balas... as duas balas que farão cumprir a minha vingança. Uma para ti, outra para Sprightly!
Calou-se por instantes, como se saboreasse a: palavras proferidas. Eram frases de há muito concebidas para resultar aquele efeito. E continuou:
— Agora vais dizer onde esconderam o ouro. Sei que não o venderam... Por isso, nada de subterfúgios, senão... far-te-ei passar um mau bocado. Vamos, fala! Fala que eu oiço e o gatilho espera...
My Meckness tentou dizer algo para ganhar tempo, mas a voz amarrara-se-lhe na garganta e nem o mais leve som lhe saía pelos lábios. A surpresa prostrara-o. E a convicção de que o fim estava próximo, desorientava--lhe o espírito, obcecando-lhe o raciocínio. Gostaria, talvez, de aceitar os acontecimentos naquela semi-inconsciência para que as sensações fossem nulas e o fim resultasse impreciso. Mas Vil Thompson estava ali! Ali, com um «colt» e uma determinante: vingar-se! E pretendia dois resultados com esta vingança: a morte dos dois homens para aplacar o ódio que lhe fervia no sangue, e conseguir uma riqueza fácil, para re-6 construir a vida longe daqueles sítios.
Estes objetivos faziam-no ter lâminas na voz quando exclamou:
— Então?! Porque esperas, idiota! Fala claro e depressa. Ou preferes «dançar» antes de fechares os olhos?
Porém, naquele momento, algo se passava pelas suas costas. Uma figura alongada, silenciosa e traiçoeira, deslisava pela porta e vinha colocar-se bem por detrás de Thompson. O brilho frio de uma arma reluzia-lhe na mão. Um sorriso cruel desenhara-se nos lábios — lábios que se não chegaram a mover quando uma voz irónica os trespassou:
-- Aconselho-te a que não faças um único movimento, fantasma. Folgo em ver-te… embora a tua visita não seja oportuna.
Vil Thompson não demonstrou o mais insignificante sinal de surpresa. No entanto, o seu olhar endureceu e os músculos ficaram tensos. Largou o «colt», enquanto respondia:
— Sê benvindo, Sprightly!

CNT006. A última bala

Continuando um ciclo dedicado a Edgar Caygill, apresentamos mais um conto deste profícuo autor em que nos narra como Vil Thompsn consumou a sua vingança depois de ter sido atraiçoado por dois comparsas na sequência de um golpe que os levou a apropriar-se de uma quantidade significativa de ouro. Para infortúnio do vingador, a arma que pensava ter duas balas, afinal tinha três. A quem se destinaria a terceira?

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

CNT005_P05. Doce castigo

Zark Kelly e Louise estavam, novamente, no aposento, onde sé haviam encontrado pela primeira vez. A jovem não levantava os olhos do chão e o nova-iorquino fitava a janela.
— Sabe uma coisa — disse ele. — Estou a achá-la diferente. Parece que mudou e eu estou tentado a emprestar o dinheiro para o rancho.
Louise levantou a cabeça.
— Não, não — continuou Kelly — não vou obrigá-la a ajoelhar para me implorar o dinheiro... O caso é outro. Empresto o dinheiro, sim... mas tenho de castigá-la pelos seus modos e tratamentos. É altura de receber uma lição!
A rapariga corou. Voltou a lembrar-se dos açoites...
Mas não! Ele não se atreveria! — pensou, embora no íntimo tivesse a certeza de que ele era capaz disso e de muito mais.
E teve a sensação de que era frágil, demasiado frágil e pequena para aquele homem tão grande, tão irónico, e tão valente. Viu-lhe os olhos negros... e encontrou neles um brilho doce. Achou que não se importaria de passar o resto da sua vida a contemplá-los...
— Bem — continuou Zark — vou dizer-lhe o castigo que penso dar-lhe.
Louise, desta vez, não se encolerizou. Pareceu-lhe até, que receberia o castigo com prazer. É que Kelly começava a tomar conta do seu... coração.
— Vou obrigá-la a casar comigo!
A rapariga não se admirou. Agora tudo lhe parecia natural. E já nos braços do nova-iorquino murmurou:
— E se eu disser que não?
Zark Kelly sorriu-se:
— Para as mulheres teimosas tenho uma receita: um par de açoites bem...
Louise fechou-lhe os lábios com os dedos.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

CNT005_P04. A traição espreita no próprio rancho

O rancho estava próximo. Decorridos os primeiros instantes, Louise recuperara o domínio sobre si própria, e corava, agora, de vergonha, pela sua fuga. Era mais uma prova de fraqueza perante o nova-iorquino. Além de que não soubera conter os seus impulsos e terminar o negócio. Sentiu-se triste, e viu-se a contemplar os campos com os olhos marejados de lágrimas. Tinha pena de não conseguir transformar o rancho como sonhara... Mas, e estremeceu ao pensar na forma como «ele» a olhara!, chamara-lhe criança, louca, deu-lhe a entender que era mais animal do que ser humano...De repente, foi interrompida nos seus pensamentos. Acabara de entrar numa clareira, e um homem correu ao seu encontro.
— Olá, Buck! — disse ela, ao reconhecer um dos homens do rancho. — Alguma novidade?
Mas não teve tempo de acabar. Atrás do vaqueiro, apareceu um outro homem, completamente mascarado e ambos caíram sobre ela. Louise foi arrancada do cavalo e arrastada para junto de uma árvore. O mascarado arrancou-lhe os títulos da propriedade, que ela levava metidos na cintura e correu para o mato. Quanto ao outro ficou, para cumprir o resto da tarefa.
— E agora, minha gata, vais fazer uma pequena viagem. Verás que é fácil. Fechas os olhos, e quando os abrires estás num mundo diferente deste!
— Miseráveis!
O vaqueiro teve um olhar de ódio e gargalhou.
-- As oportunidades fizeram-se para se aproveitarem! O nova-iorquino vai arcar com as culpas pela tua morte, e quanto a nós, falsificaremos um recibo de venda, para apresentarmos ao teu pai, quando ele regressar. Como vês, é tudo fácil... Louise procurou ganhar tempo.
— Não sabia que havia traidores no meu rancho! Nunca suspeitei de ti, Buck, nem de Steve...
— Ah! — O miserável sorriu. — Conheceste Steve sob aquela capa! Eu bem lhe disse a ele que não precisávamos de disfarces para nada. Mas ele, que é rato medroso, teve medo que o plano não resultasse e arranjou aquela «mascarada». Deixa estar, minha gata, que ainda hoje hei-de dar-lhe conta da tua esperteza...
— Isso é o que tu pensas! — respondeu uma voz nas suas costas.
Buck é Louise voltaram-se. O primeiro sentiu que a arma lhe fugia das mãos com um pontapé, enquanto uma mão de ferro o agarrava pelo pescoço. O homem que tão oportunamente chegara e salvara Louise era Zark Kelly. A rapariga contou-lhe imediatamente toda a cena, sem saber bem porque o fazia. No fim, o nova-iorquino sem lhe responder sacudiu Buck pela cabeça e perguntou-lhe:
— Onde foi o teu... amigo?
O vaqueiro, verde de medo, balbuciou:
— Para o rancho... tratar do recibo... e...
Zark não quis ouvir mais. Mandou Louise buscar uma corda e deixou o bandido amarrado a uma árvore. A seguir, ambos meteram os cavalos a galope, na direção do rancho. A poucos metros da habitação, saltaram das selas, e dirigiram-se para um grupo de arbustos. Louise levava uma espingarda consigo. Este facto fez sorrir Kelly, que lhe perguntou:
— Diga-me, Louise: andar armada para si, é uma questão de vaidade, vício ou doença? Mas não teve ocasião de ouvir a resposta.
Nesse momento, um mascarado abria uma das janelas da habitação e preparava-se para entrar. Louise apertou a arma, mas esperou que Kelly resolvesse. O nova-iorquino, sem palavras, saltou os arbustos e antes que o mascarado tivesse consciência do que lhe acontecia sentiu-se arrancado da janela e projetado no solo. Tentou resistir, mas dois socos que lhe fizeram vibrar todos os ossos da cabeça, tornaram-no inconsciente. Louise, que continuava surpreendida com a maneira de atuar daquele homem da cidade, foi ao cavalo buscar o outro laço e deu-lho. Kelly arrancou a máscara a Steve, amarrou-o, e tirou-lhe os documentos.
— Agora — disse — vá chamar alguns dos seus homens e mande levar este e o outro bandido ao «sheriff». A rapariga correu a cumprir a ordem.

domingo, 4 de janeiro de 2015

CNT005_P03. Fuga a um par de açoites

Louise estava só, novamente, no aposento. O seu espírito ainda conservava a imagem de Kelly. Sem querer, olhou para o chão e viu a carta. Levantou-se, apanhou-a, e leu-a. Dizia assim:

«Minha querida: Peço-te que recebas bem o portador desta, Sr. Zark Kelly, pessoa que consegui interessar nos negócios do nosso rancho, e está disposto a emprestar-nos todo o dinheiro que precisarmos para realizarmos… os teus projetos. Como o assunto é mais teu do que meu, depende da tua conduta perante ele, da forma como o cativares com a tranquilidade do rancho (que é prova evidente de trabalho atilado e seguro, e portanto merecedor de crédito), o conseguirmos o que pretendemos. Agora, vê lá, minha cabecinha louca, se cometes alguma das tuas brincadeiras, e estragas todo o trabalho que tive em convencê-lo. Do teu pai amigo,
TOM»

Louise ficou pregada à cadeira. Sentiu que o mundo parava e tudo ruía à sua volta. Então, aquele homem... veio para dar-lhe dinheiro... para ela realizar os seus velhos sonhos... e ela não só o recebeu a pontapés, como quis pô-lo na rua, e alvejá-lo...
Santo Deus! Como fora estúpida!
Se tivesse lido a carta antes... Agora estava tudo perdido! Lá se iam os novos estábulos, as novas cercas, as dez mil cabeças de gado, a abertura do poço da água, e a construção de uma nova casa--habitação...
Louise deixou cair a cabeça sobre os joelhos e começou a chorar...
O desabafo custou-lhe duas horas. Só depois acalmou e coordenou ideias. E resolveu o assunto de uma maneira que ela julgou inteligente — a única maneira que havia sem humilhar-se. Era vender ao nova-iorquino o título de propriedade do rancho, e deixá-lo fazer aquilo, que ela gostaria de ter feito... mas não conseguira. De outra forma, era condenar as terras a uma esterilidade criminosa, e roubar-lhe possibilidades que podiam e deviam ser exploradas.
 Correu ao cofre, agarrou nos documentos respetivos, foi buscar o cavalo, saltou-lhe para a sela, e dirigiu-se para o centro da cidade. Pouco depois, chegava ao «saloon». Chamou um dos «cow-boys», que estavam encostados à porta e pediu-lhe para chamar Zark Kelly. Passados cinco minutos aparecia o nova-iorquino nos umbrais. Sorriu ao ver a rapariga, e devagar dirigiu-se ao seu encontro. A primeira que reparou foi que Louise não trazia cinturão nem armas. Acentuou mais o sorriso e exclamou:
— Vejo que depressa se arrependeu de ser uma menina malcriada! Ainda bem! Estou mesmo convencido, que no fundo, você é boa rapariga e há-de acabar por descascar cebolas, cozer batatas e fazer pão, como toda a mulher que se preza!
A jovem não recebeu estas palavras com calma. Sentiu que o sangue fugiu do corpo e foi refugiar-se na cabeça. Estremeceu, enquanto fechava as mãos e cravava as unhas nas luvas, copa desespero.
— Oiça, não vim aqui para conversar nem para ouvir insolências!
— Insolências? — interrompeu Kelly. — Viva! Bonita palavra! Vejo que está a civilizar-se! De passagem, digo-lhe, que já não é sem tempo. Os anos passam-se e a Louise será uma velhota, como acontece a todos. Embora, acrescentemos, o seu caso seja levemente diferente: será, de facto, uma velhota... mas simpática e rabugenta.
Um calor forte inundou a rapariga — o calor da humilhação. Disposta a terminar com o encontro, receosa de não fazer o que determinara não respondeu diretamente às frases de Zark e entrou no assunto.
— Soube pela carta do meu pai que o senhor estava disposto a emprestar-nos dinheiro para reconstruirmos o rancho o aproveitá-lo em todas as suas possibilidades. Com certeza, agora, com a sua sensibilidade de homem da cidade e dos salões — Louise não conseguiu evitar a ferroada: era superior às suas forças. — e depois do acolhimento que teve, já mudou de ideias. Se fosse outro caso, não me interessava; como, porém, é o rancho que está em jogo, resolvi o seguinte: entrego-lhe a propriedade, obrigando-se o senhor a transformá-la com todos os melhoramentos que eu indicar. Em contrapartida, dá-nos dez por cento sobre as receitas brutas, isto enquanto o seu capital não estiver recebido, com os juros que julgarmos justos. Depois, o rancho volta para as nossas mãos.
— E a Louise fica?
— Eu... vou para Nova Iorque, fazer companhia ao meu pai.
Zark Kelly deu uma gargalhada.
— A Louise não passa de uma criança! Não digo que as condições não sejam ótimas para mim... Mas, quanto a si, julga que alguma vez seria bem recebida em Nova Iorque? As mulheres, por lá, pensam mais em vestidos, em reuniões, no lar, no marido, nos filhos, no amor... e menos em cavalos, pistolas, pastos e construções. Logo que a vissem julgavam-na louca e mandavam-na fechar à chave, como perigosa, com três guardas à porta. Pobre «mr.» Kenneth! Teria de sofrer esta grande vergonha...
A cólera atingiu o rubro. Louise descontrolou-se e perdeu todo o senso de prudência. A fungar de raiva, baixou-se no cavalo, e pregou uma sonora, bofetada na cara de Zark Kelly. Este perdeu o sorriso, fez-se sério e os olhos adquiriram um brilho duro. Louise assustou-se e obrigou a montada a recuar... Sem saber porquê, teve a sensação de que o nova-iorquino ia cumprir a sua anterior ameaça de lhe dar um par de açoites... Esta ideia fê-la corar e olhar à sua volta. Muitos «cow-boys» tinham-se aproximado para assistir ao desenrolar da cena e esperavam a reação de Kelly. Pela primeira vez, a jovem sentiu medo e compreendeu que o homem que estava na sua frente era diferente dos outros. Então, não viu outra solução para o caso, do que obrigar o cavalo a dar meia-volta e lançar-se a galope, numa fuga desesperada. Louise só respirou quando saiu do centro da cidade, e perdeu de vista o «saloon». Mal sabia ela, no entanto, que Zark Kelly já vinha na sua peugada...

sábado, 3 de janeiro de 2015

CNT005_P02. Encontro de insolências

Louise olhou para o homem que estava na sua frente e franziu o rosto em ar desdenhoso. A seguir segurou na carta que ele lhe entregou e antes de a abrir, perguntou:
— O senhor vive em Nova Iorque, não é verdade?
— Sim, porquê? — respondeu Zark Kelly, pois não era outro, o recém-chegado.
— Basta olhar para as suas roupas. Fato e botas novas... próprias de quem não trabalha e vive à custa dos outros. Eu desprezo os homens da cidade!
— Obrigado! — agradeceu Kelly com um sorriso irónico. — Entretanto, era melhor ler a carta... em vez de dizer asneiras!
Louise corou de indignação e levou a mão ao coldre que lhe pendia do cinturão.
— Oiça seu «fantoche» — sibilou. — Isto aqui não é Nova Iorque. Se não viesse da parte do meu pai... fazia-o engolir essas palavras. Assim, esqueço o incidente.
— E faz bem esquecê-lo... porque estou quase a perder a paciência e não tarda muito que lhe dê um par de açoites bem puxados!
— Eu...— e Louise, em bicos dos pés, fula, procurou mas não conseguiu arranjar palavras que exprimissem toda a sua cólera. — Eu...
Kelly, divertido com a fúria da rapariga, continuou:
— Oiça, menina. Em Nova Iorque as mulheres não usam pistolas à cintura, a servirem de adornos, nem dizem tantos disparates em tão poucos minutos. São mais educadas e têm o dom precioso da feminilidade. As calças fizeram-se para os homens... Por isso, é natural que não goste deste ambiente
— RUA!!
Por momentos, Zark ficou maravilhado com o aspecto da rapariga. Transformada pelo furor, estava linda. Os olhos azuis brilhavam de fixos, os cabelos louros caíam-lhe sobre as faces afogueadas, e o colo, tremia, ao compasso de uma respiração opressa.
— Rua, não ouviu? Ou prefere que chame os homens do rancho?
— Talvez seja melhor acalmar-se e ler a carta de seu pai.
— Quero lá saber da carta! — E Louise arrojou o envelope para um canto.— Mandei-o para a rua... e não me faça sair fora de mim!
— Sair fora de si? Dá-me vontade de rir ouvir uma mulher empregar essa frase. É como se uma galinha quisesse cantar como um galo...
— É demais! Vai arrepender-se de ter brincado comigo... e de haver saído de Nova Iorque. Vou dar ordem aos meus homens para o atirarem ao bebedoiro do gado, e obrigarem-no a um banho forçado. Vou humilhá-lo, ouviu?
— Perfeitamente. Graças a Deus não sou surdo.
— Oh! — Completamente transtornada, por encontrar resistência e calma num homem, coisa a que não estava habituada, Louise saiu para a rua e chamou alguns vaqueiros.
Pouco depois, voltou a entrar, rodeada por cinco homens. Apontou para Zark Kelly e gritou:
— Agarrem nesse peralvilho e atirem-no à água.
Kelly não se alterou, nem mostrou qualquer indício de aborrecimento. Viu que os vaqueiros iam cumprir a tarefa com prazer, e isso deu-lhe uma ideia. Deixou-os aproximar, e com uma rapidez desconcertante, atingiu o primeiro com um potente soco nos maxilares. Ao segundo, obrigou-o a dobrar-se com um «curto» no estômago e fê-lo cair com um «martelo» na cabeça. Os outros três pararam, mas não tiveram tempo de refletir.
Kelly caiu sobre eles e aproveitou-se da surpresa para os deixar inconscientes no solo. No fim, só ele ficou de pé. À sua volta, caídos cada um para seu lado, estavam os cinco vaqueiros. Louise não sabia que dizer nem que fazer. Viu um sorriso de troça aflorar aos lábios do nova-iorquino, e isso fê-la perder todo o senso de prudência. Puxou pelo «colt» e apontou-o...
Mas, Zark Kelly sem deixar de sorrir sob a ameaça do cano da arma, começou a aproximar-se, passo a passo, até que chegou junto dela. Então, com delicadeza, tirou-lhe o «colt» da mão, e afagando-lhe o queixo com a coronha, murmurou:
— Oiça, Louise. Deus não cria as mulheres para estas coisas... e sim para constituírem um lar e dedicarem-se aos filhos. E depois, sabe, é pena que manche os seus lábios encantadores com frases tão rudes e pouco dignas, e dê outro brilho aos seus olhos, que não seja o brilho do amor... E agora, adeus. Se quiser encontrar-me, procure por mim no «saloon».
Louise viu Zark Kelly sair, enquanto os vaqueiros voltavam a si. Espantada, rendida à vontade forte daquele homem extraordinário, ficou a pensar: porque não teria ela apertado o gatilho e disparado sobre... aquele... aquele... — Desistiu de encontrar um nome que se ajustasse à atitude do nova-iorquino, ao mesmo tempo que sentia, pela primeira vez, a angústia, e o cruel complexo de inferioridade...

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

CNT005_P01. Carta de apresentação da mulher teimosa



O velho «mr.» Kenneth tirou o lenço da algibeira do casaco e levou-o aos olhos para enxugar uma lágrima rebelde. Depois, tossiu, para aclarar a voz, e disse para o homem que estava sentado na sua frente:
— Obrigado, Zark Kelly. São indivíduos como você, que ainda nos fazem acreditar na humanidade. Nem calcula o peso que me tira de sobre os ombros! Há quatro dias que estou em Nova Iorque e há quatro dias que não durmo! E como posso dormir, sabendo que Louise está sozinha no rancho? Pobre filha!
— E «mr.» Kenneth — retorquiu o interpelado — porque deixou as suas propriedades entregues a... uma mulher? O Oeste ainda não é sítio para as mulheres poderem dominar. Isso é bom, aqui, em Nova Iorque. Lá, onde a voz de uma arma faz calar todas as vozes humanas, só o homem pode fazer-se respeitar e temer, desde que seja valente e destemido. E foi por saber que a sua filha estava sozinha contra os muitos perigos que a devem rodear, que me ofereci para ir visitar o seu rancho, enquanto o senhor anda cá, pela cidade, a tratar dos seus negócios. Custa-me saber que alguém atacou uma mulher... e é esse o destino que espera a sua filha.
— Um momento. — atalhou o velho. — Não são esses os meus receios. É precisamente o contrário. O que não me deixa dormir não é o temor de saber a minha filha atacada... é o de ela atacar! Louise é como um cavalo bravo, nascido e criado nas montanhas. Perdeu a mãe aos três anos e até agora, que conta vinte e quatro, só tem vivido entre homens. Lutou contra os índios, e maneja o laço e o «colt» melhor do que qualquer «cow-boy» vulgar. Além disso, possui um espírito irrequieto e todos os dias inventa as mais disparatadas partidas para pregar aos vaqueiros. Na minha presença é ela quem ocupa o lugar de capataz, e conduz os homens nos trabalhos com perícia difícil de igualar. Só tenho medo, Kelly, é que Louise se exceda nas suas brincadeiras de mau gosto e haja um cobarde qualquer que a atinja à traição... porque, de frente, em Dallas City, não existe um homem que a possa enfrentar. Apesar disto, ainda mantém a sua oferta de ir ao rancho?
Zark Kelly conservou o velho em espectativa durante alguns minutos, e acabou por decidir:
— Em qualquer dos casos... vou. E são duas as razões. Primeiro porque tenho interesse em conhecer uma mulher assim; segundo, porque quero estudar a propriedade antes de emprestar-lhe o dinheiro que pediu!
«Mr.» Kenneth sorriu de satisfeito.

CNT005. Uma mulher teimosa

Apresentamos hoje a digitalização de mais um conto de Edgar Caygill, publicado no Mundo de Aventuras nos primeiros anos da década de 50. Dado que algumas passagens do mesmo não estão em muito bom estado, procedemos à sua transcrição completa e vamos publicá-la ao longo dos próximos dias.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

BUF080. Um pobre diabo


(Coleção Búfalo, nº 80)
 
Eis mais um título do senhor Bradley, o qual sugere uma excelente novela, talvez a última que ele viu publicada na Coleção Búfalo. A sua intensa carga dramática aparece desde logo no título, na capa e na própria nota de pé de página.
Temos muito pena de não dispor desta obra para a podermos partilhar com os leitores do Passagens. Talvez com o tempo...