O país atravessava uma época de inquietação. Harold, que
jamais se preocupara com assuntos de política ou problemas sociais, ouvia sem
interesse aparente, nas reuniões a que ia acompanhado da noiva, opiniões
apaixonadas que se prendiam com a questão da escravatura.
O problema dos escravos que durante largo tempo não fora mais
que um tema de discussão, limitando-se cada um a expandir os seus pontos de
vista sobre o assunto, ameaçava agora tornar-se numa bandeira suscetível de
separar o país em duas poderosas fações. A controvérsia tornava-se cada vez
mais acesa entre os que defendiam e atacavam a existência da escravatura.
Harold Brown não odiava nem simpatizava com os negros. Simplesmente,
ignorava-os. Não compreendia, portanto, que, por tal motivo, uma nação pudesse
chegar à guerra civil. Sim, porque as paixões em digladiação haviam chegado a
um ponto caótico, ameaçando pôr o país a ferro e fogo.
Foi nessa altura que Harold Broen viu pela primeira vez
Abraham Lincoln. Fora com Jane por mero desfastio a um comício, no qual estava
anunciado que falaria Stephen Douglas, democrata de Spingfield. Nessa reunião,
pediu a palavra um homem alto, extremamente magro, com profundas rugas e uma
expressão de melancolia no rosto.
Subiu ao estrado em mangas de camisa e o suor corria-lhe
pela testa. Começou a falar e havia tal paixão e eloquência nas suas palavras,
que os assistentes escutaram-no, atentos e respeitosos. Empregava imagens
bíblicas e punha um fogo escaldante nas frases que proferia. Harold Brown tirou
por conclusão, ante aquela arrebatada oração, que era necessário considerar o
negro como um ser humano igual a qualquer outro.
Quando o singular orador acabou de falar, os assistentes
começaram a discutir acaloradamente os seus apaixonados conceitos.
(Coleção Pólvora, nº 27)
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