quinta-feira, 31 de maio de 2018

BUF166.1 Ninguém ficou contente com o regresso do médico

A diligência costumava chegar a Los Alamos de manhã, mas naquele dia atrasou-se bastante. Eram cinco da tarde quando o velho e chirreante veículo percorreu a rua principal e parou diante do «saloon» de James Farrell, que explorava a carreira. Os que estavam no passeio tiveram de virar as costas e de fechar os olhos, para que a poeirada levantada pelos cavalos não lhes chegasse aos pulmões.
— Por que te demoraste tanto, Gay? Tiveste algum encontro?
O cocheiro respondeu alegremente, da boleia:
— Entretive-me a pescar trutas no rio, patrão...
O gordo e calvo Farrell estava habituado aos gracejos. Por isso, não fez comentários. Aproximou-se da boleia e perguntou:
— Trazes passageiros?
— Só um.
—E alguma notícia nova?
—Isso pode ver o senhor mesmo — redarguiu, rindo, cocheiro, enquanto saltava para o chão.
Abrira-se a porta do veículo e um homem procurava descer. Os que se agrupavam em torno da diligência, dispostos a satisfazer a sua curiosidade ociosa, ficaram com os olhos fixos ali.

quarta-feira, 30 de maio de 2018

BUF166. O Doutor "Uísque"


(Coleção Búfalo, nº 166)
 
A um médico, John Frey, foi retirada a possibilidade de exercício da sua profissão, devido à sua dependência do álcool a qual fez que nem conseguisse salvar a própria esposa na mesa de operações.
A sua situação piorou perante a população quando um salteador a quem operou apareceu morto (tinha sido assassinado por alguém para se aproveitar do resultado de um roubo).
Mas foi uma situação de perigo de vida enfrentada por uma mulher jovem a quem queria que o fez retomar o brio e lutar contra todos os obstáculos à sua reinserção. E, nessa altura, o Doutor “Uisque” desapareceu para sempre.

terça-feira, 29 de maio de 2018

BUF165. O orgulho do sulista

 
(Coleção Búfalo, nº 165)
 
Cansado de viver em Worth, Roger Lang abandonou a sua terra e partiu procurando a «pista do Oregão». Passados alguns dias da partida, encontrou uma caravana escoltada por alguns soldados que iam atravessar território dos ferozes «Kiowa» e acabou por se integrar na mesma, apesar de manifestações de desagrado da parte de alguns membros.
No seio da caravana, conheceu a bela Vivian Fox e decidiu que acompanharia aquela rapariga até ao fim por maior desagrado que isso causasse a outros.
Roger tinha lutado pelos sulistas na Guerra da Secessão e tinha especial habilidade no uso de armas, conhecendo bem os costumes dos índios. Ao fim de algum tempo começou a notar algo de esquisito com a caravana e a verdade é que esta ocultava o tráfico de armas com os índios...

segunda-feira, 28 de maio de 2018

BUF164. O rancho do cão sorridente

 
(Coleção Búfalo, nº 164)
 
Um homem concebe e pratica o assalto perfeito a um banco, mas um pormenor falha: contrariamente ao que esperava, há uma pessoa a trabalhar que procura dar o alarme. Aterrorizado, mata a rapariga e empenha-se numa fuga que o leva longe. Mas é perseguido...
Primeiro o xerife que chega a prendê-lo, mas do qual se consegue desfazer. Depois refugia-se numa estação de mudas abatendo o seu proprietário e o cão que o apoia. Este, abandonado junto a uma rocha, parecia sorrir...
Mas nem assim quebrou a cadeia de pessoas que procuraram aquela estação de mudas... alguns dos quais "não eram tão maus como pareciam..."

sábado, 26 de maio de 2018

BUF162.9 A fraternidade impossível

Assustada, Alisha Silk saiu do compartimento onde havia estado encerrada e tomou o caminho que Tomahawk havia escolhido para abandonar o «saloon». Pouco depois, abandonou a rua principal e caminhou pela povoação, ansiosamente, desejando encontrar alguém a quem poder falar, a quem prevenir do espantoso destino que o homem a quem amava havia escolhido.
Mas a povoação estava mergulhada num completo silêncio, e apenas o «saloon», que acabava de abandonar e que pela primeira vez pôde ver pela parte da frente, albergava ainda alguns bêbados que cantavam e jogavam no seu interior, aplaudidos pelas gargalhadas das mulheres que Delastone havia «convidado» para o seu feudo.
Sentiu-se só, desamparada. Deitou a andar, pela rua abaixo, abandonando a povoação e aproximando-se da margem do Arkansas River, olhando as águas que refletiam a luz da lua e que constituíam para ela um obstáculo intransponível.

sexta-feira, 25 de maio de 2018

BUF162.8 Só morrendo em combate, viajarás nas pradarias de Manitu

Era já noite cerrada quando Tomahawk, sempre puxando pelas rédeas do cavalo que transportava «Raposa Astuta>, chegou às proximidades de Pueblo.
A povoação estava parcamente iluminada, e o jovem índio desceu o prisioneiro da sua montada e amarrou-o solidamente a uma árvore, amordaçando-o depois para que não pudesse gritar. Era sua intenção solucionar algumas coisas antes de utilizar o filho de «Nariz Achatado> como testemunha do formidável processo que desejava levar a cabo.
Ao aproximar-se do povoado, deu-se conta de que não ia totalmente vestido; e lamentou então ter abandonado as roupas que lhe poderiam servir agora para circular pelas ruas sem chamar a atenção. Mas tudo tinha remédio. Forjou rapidamente um plano e dispôs-se a executá-lo.
Colocou-se junto à fachada de um edifício que se encontrava mergulhado na mais densa escuridão e esperou pacientemente que passasse um homem. Quando tal aconteceu, lançou-se sobre ele, golpeando-o e procurando ao mesmo tempo fazer-lhe o menor dano possível. Depois, levando-o para junto da árvore onde «Raposa Astuta» se encontrava amarrado, despiu-o, vestiu as suas roupas e amarrou-o a outra árvore vizinha, amordaçando-o também e esperando que não lhe guardasse rancor por aquilo que lhe havia feito.

quinta-feira, 24 de maio de 2018

BUF162.7 Soldados em Pueblo

Ed Sommers foi a primeira pessoa a vê-los. Pôs-se pálido e, depois, reagindo, deitou a correr pela rua acima até penetrar, como um furacão, no edifício da Companhia, dirigindo-se rapidamente para o gabinete em que se encontrava Archibald Delastone. Este, que estava a escrever tranquilamente, com um charuto entre os lábios, levantou a cabeça para olhar Sommers.
— Que aconteceu, Ed? — inquiriu, um tanto aborrecido pela brusca interrupção do outro.
— Os soldados, chefe! Estão aqui!
Archibald pôs-se de pé.
— Soldados?
— Sim, senhor. Chegaram muitos, pelo menos um batalhão. Estão a entrar na povoação.
— Maldição! — exclamou o outro. — Isto quer dizer que tiveram conhecimento do ocorrido com os colonos. Maldito índio! Nunca devia ter-lhe feito a vontade a esse ponto.

quarta-feira, 23 de maio de 2018

BUF162.6 Emboscada entre índios

De vez em quando, descia do cavalo e colava o ouvido ao solo, para assim perceber com clareza o ruído que produziam os cascos do animal que o seu perseguidor montava. Pensou que podia ser «Raposa Astuta»; mas, por outro lado, não excluía a hipótese de se tratar de algum dos guerreiros que o filho de «Nariz Achatado» havia lançado contra ele quando tentava convencê-los da má ação que estavam a levar a cabo.
Ainda lhe parecia mentira que os guerreiros «cheyennes» tivessem chegado tão baixo. A medida que refletia sobre o ocorrido, o papel funesto que em tudo aquilo desempenhava Archibald Delastone foi surgindo na sua mente com mais clareza.
Já não tinha a menor dúvida de que o astuto «rosto-pálido» havia permitido que os índios atacassem os carromatos dos colonos, pagando assim a «Nariz Achatado» o grande favor que este lhe fizera ao permitir que pudessem extrair prata das montanhas sagradas.

terça-feira, 22 de maio de 2018

BUF162.5 Doze cabeleiras para os guerreiros índios

«Raposa Astuta» sentou-se junto de seu pai, sobre um montão de peles de bisonte. A ampla tenda encontrava-se vazia, pois o conselho de anciães havia terminado já as suas deliberações.
— Que há de novo? — perguntou «Nariz Achatado».
— O «rosto-pálido» prometeu acabar com Tomahawk — respondeu-lhe o filho.
— Haveis falado dos «facas longas»?
— Sim.
— E então?
— Ainda não chegaram a Pueblo, embora o «rosto-pálido» seja da opinião de que não tardarão muito a aparecer.
O chefe índio encolheu os ombros.
— Pouco importa o que façam! — exclamou, com indisfarçável desprezo na voz. — Os nossos guerreiros estão impacientes e querem assaltar novas caravanas. Os «cheyennes» nunca foram tão felizes como agora!
— Tu deste-lhes o que desejavam, pai.
— Claro. Amanhã sairemos para assaltar mais uma caravana. Costumavam passar pela povoação dos «rostos-pálidos». Viste alguma?
— Havia duas, pai.
— Excelente! Daremos caça extraordinária aos nossos guerreiros. Quanto a Tomahawk...
— Que pensa fazer, pai?
— Esperaremos para ver até que ponto o «rosto-pálido» cumpre a sua promessa; se a não cumprir... nós nos encarregaremos desse miserável renegado.
— Por que não deixas que eu o faça, pai?
«Nariz Achatado», com um certo ar de orgulho, olhou para seu filho.
— Odeia-lo, não é verdade?

segunda-feira, 21 de maio de 2018

BUF162.4 Rejeitado pelo próprio povo

Tomahawk ia sendo invadido por uma intensa emoção à medida que se aproximava, por aquele trilho que tão bem conhecia, do local onde estava fixada a sua tribo.
Cada pormenor da paisagem despertava nele uma série ilimitada de recordações. Sentia-se transportado ao passado, como se uma força incontrolável fizesse retroceder o tempo, levando-o de novo à sua idade juvenil, quando corria pelos trilhos sobre um brioso cavalo, acompanhado pelos guerreiros da tribo, no inicio da sua aprendizagem das leis da caça e da luta, que haviam tornado famosa a tribo dos «cheyennes».
Mas era-lhe difícil esquecer o que acabava de ver na outra margem do Arkansas River. Recordava perfeitamente o tratado que seu pai havia assinado com os «rostos-pálidos», tratado esse que havia estudado detidamente durante a sua estada no Este.
E não havia, em nenhuma das suas páginas, qualquer cláusula que permitisse a construção de um povoado naquele lugar, precisamente no meio das terras que desde sempre haviam pertencido aos «peles-vermelhas».
Que havia acontecido desde a sua partida? Pouco a pouco, foi-se aproximando dos limites da aldeia índia; e não tardou a penetrar nela, vendo na expressão dos rostos uma indiferença total. Quase ninguém o recordava e, ainda por cima, a sua maneira de vestir fazia-o parecer, de longe, um homem branco. Mas se alguém o reconheceu... decerto guardou silêncio e selou os lábios, sem pronunciar a menor palavra de boas-vindas ou qualquer saudação.

domingo, 20 de maio de 2018

BUF162.3 Más notícias

John Tomahawk estava a ler a carta que acabavam de lhe entregar quando sentiu a presença de alguém a seu lado. Afastou a vista do papel e encontrou-se com os olhos azuis de Alisha, que o olhavam fixamente.
— Bons dias, John — saudou-o a rapariga.
— Bons dias, Alisha — disse o jovem.
— Uma carta da tua família?
— Não. É o major Lenver quem me chama. Tenho de sair imediatamente para Washington, minha amiga.
— Algo grave?
— Ignoro-o. Só me diz que vá ter com ele o mais depressa possível.
— Nesse caso, vais deixar-nos?
— Não sei. Mas se tivesse de voltar para a minha tribo escrever-te-ia. Não te importavas que o fizesse, pois não?
— Certamente que não. Mas, agora que só te faltam alguns anos para te converteres num advogado, não creio que o major Lenver permita que interrompas os teus estudos.

sábado, 19 de maio de 2018

BUF162.2 Um índio bem formado

A partir do quarto ano da permanência no Este de Tomahawk — agora chamava-se John Tomahawk por exigência da civilização que o rodeava —, as noticias que lhe chegavam do Colorado eram cada vez menos frequentes.
Se não fossem os conselhos do major Lenver, o jovem «cheyenne» teria abandonado o Este para se dirigir rapidamente para as terras dos seus antepassados. Mas ao sair do hospital, onde o haviam curado por completo das febres que tanto lhe tinham feito perigar a vida, John Tomahawk, aconselhado pelo major, havia iniciado o curso de Direito numa universidade pouco tempo antes inaugurada, não longe da cidade de Chicago, precisamente num ponto chamado Evánston.
O filho de «Águia Corredora» havia-se aclimatado rapidamente à jovem civilização que o rodeava. Curioso por natureza, John estudou com afinco, demonstrando tanto aos professores como aos seus condiscípulos uma inteligência invulgar, uma sã ambição de saber e uma vontade a toda a prova. Não era o único «pele-vermelha» que convivia com os brancos naquele centro de estudos. Alguns outros, de várias tribos, haviam sido convidados pelos chefes brancos para que conhecessem as leis americanas e pudessem assim verificar as boas intenções que o Governo dos Estados Unidos tinha para a então perigosa política índia.

sexta-feira, 18 de maio de 2018

BUF162.1 Um coração cheio de ódio

Haviam-no deixado numa das tendas cónicas, mas bastante próximo da de seu pai, o chefe. O jovem índio lutava valentemente contra aquela pertinaz febre que lhe havia invadido o corpo. De cada vez que recordava as caçadas, as cavalgadas através da pradaria ou as escaladas às altas e recortadas montanhas do Colorado, Tomahawk, sem o poder evitar, sentia uma raiva incontivel e apertava os punhos, rangia os dentes e amaldiçoava mil vezes aquele calor que ia consumindo lenta, mas inexoravelmente, a pouca carne que lhe restava sobre os ossos.
Seu pai, o poderoso «Águia Corredora», não se havia limitado apenas a reunir à sua volta os feiticeiros da tribo «cheyenne» que comandava. Vários correios, cavalgando corcéis rápidos como o vento, haviam partido para solicitar a ajuda de outras tribos: a dos «arapahoe», que viviam ao Norte, a dos «kiowa» de Oklahoma, a dos «comanches», que viviam no outro lado do Canadian River, e a dos índios «pueblo», que haviam estabelecido o seu acampamento nas margens do Rio Grande, no Novo México.
Feiticeiros de todas aquelas tribos haviam acudido imediatamente, instalando-se à cabeceira do jovem Tomahawk; mas nenhum deles, fosse com mágicos exorcismos fosse com os filtros mais misteriosos, lograra reduzir a febre que consumia o jovem guerreiro.

quinta-feira, 17 de maio de 2018

BUF162. Ódios raciais


(Coleção Búfalo, nº 162)
 
Esta novela notável assinada por E.L.Retamosa demonstra a frustração de um jovem índio educado entre os brancos perante a incapacidade para conseguir estabelecer a fraternidade entre as duas raças e pô-las a colaborar para o crescimento da sua nação.
John Tomahawk era o filho do grande chefe «Aguia Corredora» que, tendo assinado um tratado de paz com os brancos, permitiu que as caravanas dos brancos passassem pelas suas terras no caminho para os estados do Oeste. Permitiu ainda que o seu filho fosse entregue à medicina dos brancos num momento em que este se mostrava muito débil, quase um moribundo.
Tomahawk foi educado no Leste perante a inveja de dois outros índios ao lugar de grande chefe da nação «cheyenne» e a chegada à região de um branco que pretendia enriquecer com facilidade levou a que uma estranha aliança se formasse entre esses índios e o malfeitor. 
Interrompendo os estudos para voltar à sua terra, Tomahawk enfrenta a rejeição do seu povo, mas tudo faz para demonstrar a formidável conjura que se formara contra a paz. E, em momento final, acaba por comandar a resistência do seu povo ao ataque fulminante dos brancos que o vitimou a ele e aos que lhe tinham roubado o posto de chefe da nação índia.   

terça-feira, 15 de maio de 2018

BIS133.9 O homem que tinha vergonha do pai

O tiro foi como um sinal.
Nenhum dos presentes o disparara, mas entraram imediatamente em ação, com uma velocidade espantosa. Franck, em vez de tirar as armas, atirou para trás o tronco, com um impulso forte, levantou os pés quando as costas entraram em contacto com a superfície do balcão e, um segundo depois, desaparecia atrás dele.
No mesmo instante uma chuva de balas crivava o ponto onde antes estivera. Kirby e os companheiros não tinham ficado parados desde que soara o primeiro tiro: o gigante deixou-se cair de lado, imitado por Pat, do lado oposto, e ainda os seus corpos não haviam tocado o chão já as suas mãos empunhavam os «Colts» e disparavam contra Bryce, felizmente para o rapaz uma fração de segundo tarde de mais, pois já ele se ocultara atrás do balcão.
O jogador que esperara os facínoras para aliar-se aos seus projetos assassinos, em vez de disparar ocultou-se atrás da mesa mais próxima, deitando-a ao chão e transformando o tampo de mármore num escudo eficaz.

segunda-feira, 14 de maio de 2018

BIS133.8 Um sovina na terra da promissão

Na penumbra que inundava o aposento, Elvis Emerson parecia um Buda. Sentado na grande cadeira, que mal chegava para conter-lhe corpo obeso, tinha as mãos entrelaçadas sobre o peito e as feições paradas e impenetráveis. Olhava em frente, para o espaço que a luz, entrando pela janela, deixava às escuras. Talvez por reflexo de alguma coisa pintada, de verde, a escassa iluminação punha tons esverdeados na pele do homem, o que o tornava ainda mais parecido com Buda. Com voz lenta, mal movendo os lábios, disse:
— É muito estranho tudo o que me contas... Nos nossos cálculos não entrava a presença de Franck Bryce na caravana.
Seguiu-se um silêncio, findo o qual Emerson continuou, como se falasse consigo próprio:
— Weiss foi um estúpido, estragou-nos o negócio... Por outro lado, porém, não me desgosta que tenha sido assim, pois não duvido de que acabariam por atacar Bryce e eu já lhes disse que não quero ter a pesar na consciência o sangue desse rapaz.
Perdeu um tanto o ar de deus oriental ao estender a mão para um copo de cerveja, que levou aos lábios.

domingo, 13 de maio de 2018

BIS133.7 Vergonha para os que não vingam os amigos

— Eh! Kirby, olha para ali! Um tipo aproxima-se do local onde Weiss ficou com a mulher! — gritou um dos que acompanhavam o homenzarrão, pouco depois de abandonarem a vala onde tinham lançado fogo ao carro de Knox.
O interpelado puxou, com a mão esquerda, as rédeas da montada, enquanto que, com a direita, sujeitava o cavalo que conduzia sem cavaleiro e que pertencera a Gálvez.
Voltou a cabeça, brilharam-lhe os olhos e exclamou:
— Só pode ser Bryce! Diabo de assunto! Se vamos até lá, o rapaz quererá briga e não teremos outro remédio senão meter-lhe uma onça de chumbo nos miolos; se não intervimos, é muito capaz de dar cabo do Weiss e, então, adeus negócio!
Os outros reuniram-se-lhe e viram, muito ao longe, o rapaz saltar do cavalo, dar uns passos e... Primeiro viram erguer-se uma colunazinha de fumo, e depois ouviram a detonação, abafada pela distância. Seguiu-se novo estampido e Bryce desapareceu-lhes da vista, quando desceu a vala.
Kirby soltou uma praga, apeou-se do cavalo e, furioso, descarregou o mau humor na montada do mexicano, que relinchou e deu uns quantos pinotes no ar.

sábado, 12 de maio de 2018

BIS133.5 Dois jovens perdidos à mercÊ de meliantes

A rapariga abraçou Alfredo e soergueu-o, para apertá-lo ao peito, enquanto chamava:
— Alfredo, irmão! Responde-me, Alfredo... dize-me que não morreste... Ouves, Alfredo?
Ao notarem que, falto de direção, o carro se desviava, vários homens acorreram a tempo de verem Graça inclinada sobre o irmão. Nenhum chegou a dizer fosse o que fosse, pois Weiss ordenou-lhes:
— Não se metam nisto! O assunto diz-me respeito e resolvê-lo-ei a meu modo.
O novo chefe da caravana infundia respeito aos companheiros, e a prova foi que ninguém tentou responder--lhe nem, sequer, prestar ajuda a Graça, a qual se levantava nesse instante, com o irmão nos braços. De súbito, um dos homens apontou para longe:
— Que é aquilo?
— Fumo! Que me enforquem se não são sinais de fumo! — garantiu outro.
— Isso só pode significar que andam peles-vermelhas perto — gritou um terceiro, já seriamente alarmado.

BIS133.6 Um refúgio em braços amigos

Enquanto galopava, Franck Bryce pensava e repensava nos últimos acontecimentos. Confundia-o o veneno usado pelo índio nas flechas assassinas, pois não era costume os selvagens daquelas paragens utilizarem uma droga de tão rápidos efeitos.
Várias vezes já vira morrer homens vítimas de flechas disparadas pelos indígenas, e a agonia, lenta e dolorosa, fora sempre precedida de convulsões. Knox, porém, expirara-lhe nos braços, de uma morte rapidíssima, apesar de apenas ferido no ombro esquerdo...
Tudo isso o levava a pôr de parte a ideia do selvagem solitário e louco de que a princípio suspeitara. Agora inclinava-se mais para um homem branco, cauteloso e inteligente. Já não procurava, portanto, as marcas de uns cascos sem ferradura, como os dos cavalos dos peles--vermelhas, nem sinais de mocassins, no caso de o assassino andar a pé.

sexta-feira, 11 de maio de 2018

BIS133.4 Confidências e novo pretendente

Sucedeu-se uma confusão momentânea. Alguns foram verificar em que- estado ficara o companheiro, outros — a maior parte — afastaram-se, receosos de que falassem em seguida os revólveres.
Josiah deu o braço ao vencedor, o qual por sua vez tomou Graça nos seus, e aconselhou-lhes, no meio do tumulto:
— Vão, filhos, refugiem-se no carro e permaneçam alerta. Vou tentar convencer Weiss a não se vingar, pois a luta foi leal. Não tenho, porém, muita confiança nos resultados: ele conta com muitos amigos na caravana...
Os dois jovens dirigiram-se rapidamente para o carro, no qual ficara Alfredo, e Bryce sorriu ao ver o garoto empunhando uma carabina descomunal para o seu tamanho, perto do veículo.
— Que é isso, rapaz? — perguntou-lhe. — Vais à caça?
Alfredo respondeu, muito sério:
— Não; ouvi a briga que se armou lá adiante e resolvi que, desta vez, não nos apanhariam desprevenidos. Agora cabe-me a mim defender a minha irmã.

quinta-feira, 10 de maio de 2018

BIS133.3 Um marido para uma jovem pioneira

Bryce correu, derrubando ao fazê-lo um dos homens que acocorado lhe dificultava o caminho. Um minuto depois chegava junto da jovem, que encontrou abraçada ao corpo inanimado de Alfredo Knox, enquanto o irmãozito, apoiado a uma das rodas do veículo, chorava desesperadamente. À luz fraca da fogueira quase apagada em que a rapariga fizera o jantar, Bryce viu o rosto extremamente pálido do moribundo.
— Vive! — exclamou. — Água, traga água, Graça! — pediu, observando com estranheza a flecha cravada no ombro de Knox.
A rapariga obedeceu imediatamente, mas quando voltou, Bryce não aceitou a água. Limitou-se a fitá-la com extrema gravidade e a dizer:
— Já não faz falta...
Graça deixou cair a vasilha e tapou o rosto com as mãos. Bryce segurou-a pelos ombros, obrigou-a a olhá-lo e disse:
— Tenho a certeza de que vivia ainda, senti-lhe o pulso débil... Parou de repente... Tem de ser corajosa, Graça...
— Que aconteceu aqui?
A voz era do velho Josiah e Bryce fitou-o com repugnância.

quarta-feira, 9 de maio de 2018

BIS133.2 Um grito dilacerante na noite

— Canalhas! Assassinos! — gritou a jovem, ao mesmo tempo que saltava do carro e corria atrás do infeliz.
Quando o alcançou, passou-lhe à frente e segurou na corda, tentando, com a fragilidade feminina das suas mãos, impedir a tensão.
Ao vê-la, os outros puxaram com mais força e Graça acabou por cair também, confundindo o seu corpo com o corpo inanimado do pai.
De súbito, porém, ouviu-se o galope de um cavalo e, depois, um relincho, no momento em que o cavaleiro o obrigava a parar. O homem saltou para o chão, correu para a corda homicida e cortou-a, com o golpe certeiro da sua faca.
Tratava-se de um jovem alto e robusto, com um fato de pele de veado.

terça-feira, 8 de maio de 2018

BIS133.1 Tentativa de violação

Uma luz avermelhada começou a inundar o céu, para as bandas do Oriente, prenúncio de que em breve o Sol se mostraria, preguiçoso.
Na longa fila de carros ouvia-se apenas o bater de louças de cozinha, até que uma voz forte e viril soltou o conhecido grito de marcha:
— Avante, avante! O dia é curto e o caminho grande! Avante, irmãos!
O grito, pronunciado primeiro pelo chefe da caravana, foi repetido por diferentes gargantas, até que um dos carros se pôs em movimento, desfez o círculo formado durante a noite e iniciou o lento rodar das suas pesadas rodas.
Ao primeiro veículo seguiu-se outro, e outro, até que, poucos minutos passados, os carros pareciam, de longe, uma formidável serpente a rastejar pela ondulada pradaria. O sol subiu e os seus raios, ao tornarem-se perpendiculares, tornaram mais lento o já de si lento e penoso avanço.
Ao meio-dia, o homem que conduzia o último carro da caravana voltou a cabeça ao ouvir uma voz que lhe perguntava, ao seu lado:
— Pai, é verdade que logo à tarde acamparemos junto de um rio?
O homem sorriu e piscou um olho cúmplice ao filho de pouca idade que compartilhava com ele o banco. Depois respondeu, de novo atento aos cavalos:
— Que pergunta, filha! Bem ouviste o senhor Bryce garantir que assim seria, ontem à noite... Mas deves lembrar-te de que nos recomendou que poupássemos a água, não fosse o rio estar seco.

segunda-feira, 7 de maio de 2018

BIS133. Reencontro com «Um mormon arrependido»

 
(Coleção Bisonte, nº 133)
Uma família de pioneiros é integrada numa caravana destinada a Salt Lake City a qual, na sua maioria, era composta por mórmones. No percurso, a jovem Graça desperta a atenção de um membro da caravana que tenta abusar dela quando ele procurava refrescar-se. A rapariga reage e acidentalmente mata o indivíduo com uma faca levando a uma reação violenta da comunidade que só termina com o apoio do guia da expedição.
Uma série de crimes acontece no percurso e o primeiro é a morte do pai da jovem a qual acaba por se perder da caravana e cair nas mãos de uma série de meliantes organizados para o assalto à mesma. Bryce, o guia, procura aquela jovem que tão profunda impressão lhe causara e acaba por defrontar a quadrilha a qual era orientada por um velho avarento que professava a mesma religião. As relações familiares de Bryce com este homem acabam por dar um final inesperado a esta novela que vamos reproduzir na totalidade.