sexta-feira, 11 de outubro de 2013

PAS113. A hora da partida

- Pensarei muito em ti, Vivian…
Sem pensar no que fazia, pôs toda a alma no que dissera. A rapariga olhou-o como nunca até ali e ele sentiu-se confuso.
- E eu recordar-te-ei sempre – respondeu ela, mas sem se atrever a mirá-lo, como se estivesse envergonhada.
- Obrigado, Vivian. Isso vai fazer-me estudar com mais afinco.
- Avisa-nos do dia em que partes. Iremos à despedida…
- Assim o espero. Quero que a tua imagem seja a última coisa a verem os meus olhos, ao afastar-me daqui.
Vivian corou. Turban, vermelho por sua vez, picou de esporas o cavalo, lançando-o a galope.
Nos dias seguintes, as reações do rapaz chocaram-se entre si. Tão depressa pensava que se sentia na obrigação de saltar sobre todos os sentimentos e consagrar-se à sua obra, como se deixava dominar pela angústia que lhe produzia ter de voltar as costas a tudo que construira a sua existência de sempre. Teve de ser Somerset, o tutor, a animá-lo diversas vezes.
Chegou por fim a hora. Cerca de metade do povoado acompanhou-o à estação. As manifestações de afeto sucediam-se ininterruptamente.
O comboio, para não fugir à regra, surgiu com atraso. Repetiram-se as despedidas. O maquinista disse ao revisor:
- Creio que temos tempo para tomar um copo.
- Sim. Pelos vistos parte hoje o sobrinho… ou lá o que é… do Somerset. – levantou a voz, dirigindo-se ao grupo numeroso: - Vejam lá se se despacham! Partimos dentro de momentos!...
Com a maior naturalidade, como se abandonassem uma carroça, saltaram em terra e dirigiram-se ao pequeno bar.
Já doía a mão de Bradley por ter apertado tantas. Teve que fazer um grande esforço para que no momento de abraçar Somerset e Teddy as lágrimas não lhe saltassem dos olhos. Também abraçou Nicholas. Sem saber porquê, deixara Vivian para o fim.
- Bom… pequena, não te esqueças da tua promessa… Pensa em mim.
Num impulso irreprimível, a rapariga beijou-o, sem se importar absolutamente nada com a presença de tanta gente. Ele ficou aturdido, sem ânimo para responder Àquela carícia.
O maquinista e o revisor voltaram:
- Estão prontos?
-Para o comboio! Para o comboio! Depois queixem-se que chegamos atrasados!
O montão de sucata pôs-se em movimento. Turban, assomando a uma janela, não se cansava de dizer adeus a todos com a mão, se bem que os seus olhos permanecessem fixos em Vivian, realizando assim o seu desejo de que fosse aquela imagem a última da partida.

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