- Não te preocupes, Kastin… Vamos deixar o velho O’Neill sem
um preto! – garantiu Scott. – E, quando escondermos os escravos num lugar
seguro, voltamos para igual trabalhinho.
Kastin, muito jovem, caminhava satisfeito, ao lado de Scott.
Peter seguia na retaguarda. Kastin não ocultava o seu contentamento. Ia
participar na libertação dos escravos. Sentira toda a vida uma profunda
compaixão por aqueles desgraçados que arrastavam uma existência pior que a de
muitos animais. Era um fervoroso e convicto antiesclavagista. Conhecera Scott
em Blackville, onde morava com sua irmã Teresa, a professora da terra. Isso
acontecera já há alguns meses. Falaram dos escravos. Scott perfilhava também as
ideias liberais. «Serias capaz de me ajudar a salvar esses infelizes?» -
perguntara-lhe. Respondeu que sim. Que estava disposto a arriscar a própria
vida numa tão nobre missão. Kastin pertencia ao número dos que tinham lido «A
cabana do pai Tomás», mas se não o houvesse feito, pensaria do mesmo modo.
Muito antes de comprar esse livro, jurara que, na medida das suas forças,
lutaria pela abolição da escravatura. Daí o ter-lhe parecido algo de
providencial e maravilhoso, o encontro que tivera com Scott. Nunca mais deixara
de trabalhar com afinco no seu projeto.
Falara com os escravos do velho O’Neill, um irlandês
desumano e cruel que, por nada deste mundo, abandonava o chicote e os «Colts».
«O chicote – dizia ele – é um estimulante para o trabalho dos negros sair
perfeito e os «Colts» já me serviram um ror de vezes, para liquidar umas
rebeliõezinhas»!
(Coleção Pólvora, nº 5)
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