segunda-feira, 14 de outubro de 2013

PAS118. De como o potro indomável conduziu o dono carente a uma jovem formosa

Quando Allan ia a penetrar no pavilhão dos vaqueiros um potro de uns três anos, da cor de barro cozido, acometeu-o pelas costas e empurrou-o com a cabeça, obrigando-o a correr até que, por fim, o fez cair mostrando-lhe, em seguida, os seus fortes dentes e soltando um relincho agudo, muito parecido com o riso.
- Saí cá para fora, rapazes e vereis como «Mud» trata o novo vaqueiro!
Aos gritos de Bem os cinco ou seis homens que estavam a caiar as paredes do pavilhão, acudiram rapidamente, atroando o espaço com as suas estridentes gargalhadas.
Allan tinha-se posto de pé e, um pouco envergonhado pela troça dos outros, perguntou:
- Que se passa com este cavalo? Não aprendestes a domá-lo convenientemente?
- Tenta-o tu, rapaz – gritou o jovem «Gordo», assim chamado em virtude da sua alentada corpulência – e verás o que te acontece.
O jovem aproximou-se do potro que tinha erguido as pequenas orelhas e parecia estar a estudar o rosto daquele que lentamente se aproximava, dirigindo-lhe palavras amáveis. E, ante o assombro dos vaqueiros, cheios de cal da cabeça aos pés, o potro deixou que o jovem lhe acariciasse o pescoço.
Repentinamente, o animal acometeu-o pela frente, mas, antes que pudesse levar a cabo o seu propósito, Allan agarrou-se-lhe às crinas e, dando um salto, não tardou a apertar-lhe os flancos com os joelhos.
Foi inútil que «Mud» pretendesse atirar com o cavaleiro ao chão, pois que este se manteve firme até que o animal, cansado de andar Às voltas, optou poe permanecer quieto, soprando furiosamente.
- Ah! Não, amigo; agora sou eu quem impõe condições e, por isso, vou obrigar-te a correr um pouco.
Ao pequeno grupo de espetadores tinham-se reunido agora, o capataz e mais alguns vaqueiros que presenciaram como «Mud», obrigado pelo seu cavaleiro, acabava de transpor, de um salto, a paliçada e corria palo caminho que bordejava o rancho em direção aos terrenos do «River».
- Este rapaz vai matar-se! – gritou o capataz.
- Se não perdeu faculdades, Joel, asseguro-lhe que nem este cavalo nem uma dezena de mustangues seriam capazes de o cuspir da sela.
O capataz ficou-se a olhar Bem que era quem acabava de falar e estava encavalitado na paliçada.
- Olhai! «Mud» dirige-se, como louco, para o «River» - exclamou o «Gordo».
O capataz sorriu ironicamente e Bem experimentou certa mágoa, ao prever que o seu amigo, agarrado Às crinas do cavalo, era conduzido, por este, em direção ao rancho dos inimigos de seu pai.
Allan tinha esporeado o cavalo compreendendo que o nobre animal precisava de ter a sensação de que, por fim, tinha encontrado o seu domador. E, sem dar conta disso nem poder conter a correria furiosa do animal, viu, com certa intranquilidade, que os passos deste o conduziam, sem remissão, para os terrenos do «River».
«Mud» deteve subitamente a sua marcha e o cavaleiro foi projetado para a frente, indo cair aos pés de uma jovem que soltou um pequeno grito de surpresa ao contemplar o final daquela louca correria que presenciava havia segundos.
O potro pôs a descoberto, novamente, os seus dentes de leite e, dos seus belfes entreabertos, escapou-se um relincho que tinha parecenças com as gargalhadas humanas.
Allan levantou-se rapidamente, pôs-se em pé e, abrindo e fechando os olhos várias vezes, fixou o seu olhar na bela aparição feninina.
-Terei morrido na queda e estarei, agora, na presença de um anjo, minha senhora? – perguntou, sinceramente surpreendido, ao contemplar os belos olhos e os espessos e abundantes cabelos negros que emolduravam o branco rosto da jovem que sorriu levemente ao ouvir a pergunta.
- Pode dar graças a Deus de que eu não seja um anjo, vaqueiro, pois, nesse caso, era sinal que estaria morto. Certamente que pouco lhe faltou para partir o pescoço.
Depois destas palavras, Nancy Coopper voltou os olhos para o cavalo e, então, pareceu reconhecê-lo. O franzir de sobrancelhas da belíssima rapariga indicou a Allan que as coisas iam por mau caminho.
- Este é o rancho «River» e eu sou sua dona e chamo-me Nancy Cooper. Ser-me-á permitido perguntar-lhe quem é?
- Sou… vaqueiro e o meu nome é Allan. Este cavalo…
Nancy olhou o jovem com grande atenção e alguma coisa súbita a impeliu a interromper o homem que tinha na sua frente e que estava a sacudir o pó da roupa com o chapéu.
- Allan é um nome como qualquer outro. Que mais pode dizer-me a seu respeito?
Vários vaqueiros, que se tinham detido sorridentes a contemplar acena, estavam igualmente suspensos da resposta do jovem. Este procedeu, então, de um modo um pouco raro, segundo a todos pareceu. Aproximou-se, de novo, do cavalo, que não fez qualquer movimento estranho, deixando-se montar sem resistência e, quando se sentiu de novo sujeitando-lhe os flancos, obrigou-o a aproximar-se da jovem e , então, explicou:
- Chamo-me Allan Morgan, formosura. Suponho que é inútil que continuemos a falar e depois de rogar-lhe que me perdoe, vou dizer-lhe adeus e livrá-la da minha presença.
Nancy corou vivamente, e, durante um momento, não soube o que responder. Allan dirigiu os passos do cavalo em direção ao portão sem se voltar uma sóvez, até que a jovem lhe gritou:
- Allan!... Diante destes homens que nos escutam, quero fazer constar que nadatenho contra você.
Ele sorriu e esse sorriso decidiu o futuro das relações entre aqueles dois jovens.
- Nem eu, tão pouco, contra si, Nancy. Façam o que fizerem os outros, saiba que pode contar com a minha imparcialidade e… a minha simpatia.
Como se as últimas palavras fossem uma contrassenha, o travesso «Mud» lançou-se a galope em direção ao rancho «Pond H»
E Allan chegou à conclusão de que, naquele mesmo dia, tinha logrado duas amizades: a de um potro indomável e a de uma jovem formosíssima.
(Coleção Búfalo, nº 39)

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