Duas intermináveis horas de penoso caminhar através da
floresta. Caminho duro porque tinham de vencer o mato e padeciam de fome e sede.
Um outro negro, meio morto de cansaço, deitou-se no chão e
para ali ficou. O grupo não parou e Peter teve de riscar da sua lista mais uma
cabeça. Que raio de negócio!
- Ainda falta muito?
- Sim… - disse Scott. – Mas o pior não é isso. Escuta!
Escutou com atenção. De novo os cães e os homens de
Blackville!
Os escravos, que também tinham ouvido o ladrar dos cães,
pararam de correr.
- Voltam!! – exclamou um deles com os olhos esgazeados.
Tornavam a ser o rebanho humano, a manada amedrontada.
Sentiam-se irremediavelmente perdidos. Antes que a noite viesse, estariam
presos.
A resignação fatalista superou o sonho da liberdade e a
maioria dos negros sentou-se no chão.
- Não parem, miseráveis!
Peter não queria perder as cabeças que restavam. Setenta e
cinco dólares! Não era grande a quantia mas valia mais que nada.
Ninguém se mexeu. Permaneceram todos quietos, uns sentados,
outros de pé, olhar fixo no horizonte. Imobilizava-os o medo coletivo, o terror
animal, a condição de escravos. Peter empurrou um dos que se mantinham de pé. O
homem deu um passo e tornou a parar. Peter voltou a empurra-lo e ele caiu.
(Coleção Pólvora, nº 5)
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