A rapariga contemplava a planície, a planície infinita que
se perdia nos confins do horizonte. Mais para além… mais para além sempre… Era
a planície a convidar à cavalgada, a avançar, a impor na alma uma inquietação e
que impedia a vida plácida e tranquila.
Seria esta a razão, perguntava Norma a si própria, dos
homens do Texas serem violentos e uma raça de aventureiros?
Em Missouri e noutras partes do Leste, não existia esta
maneira de sentir e os homens levavam uma vida tranquila, dedicavam-se ao lar e
à família.
No Texas, todos tinham o sangue a ferver, o orgulho à
superfície da pele e fácil de queimar. E por isto o Texas era um inferno. Mas
ela amava aquela terra selvagem e dura, e sobretudo um dos seus habitantes.
Havia dias que nada sabia de Tom Dickens e a sua ausência
revelara-lhe a verdade. Passava horas pensando o que seria dele e o que
sentiria por ela. Às vezes, quando a fitava, parecia-lhe que os seus
sentimentos eram como ela ansiava; mas outras, quando se absorvia nos seus
pensamentos, parecia que se distanciava dela milhares de milhas.
De repente, divisou a figura de um cavaleiro que se dirigia
para a quinta. Estremeceu de júbilo e contemplou-o, protegendo-se da luz do Sol
com uma mão. Aquela maneira de cavalgar, aquele modo de pôr o chapéu,
recordavam-lhe o Tom. Aplicou mais a vista e um sorriso de satisfação inundou o
seu rosto.
Era Tom!
Deitou a correr ao seu encontro, agitando a mão no ar.
O cavaleiro viu-a avançar a correr pelo campo. Não pôde
evitar um estremecimento ao reconhecê-la. Era tão doce e bonita!
Tom saíra da cidade, metendo-se pelos campos, sem rumo
certo, para fugir às sombras negras que lhe envolviam a alma. Quase
instintivamente, dirigiu o cavalo para a fazenda dos Wilson.
Mas ele não podia tomar aquele rumo. Aquele era o caminho
dos homens honrados, o caminho daqueles que sempre respeitaram a Lei ou, pelo
menos, não a desafiaram tão abertamente e durante tanto tempo como ele.
Seria possível enterrar o passado e começar nova existência,
uma existência plácida e forte?
Como no primeiro dos rumos que a vida lhe oferecia era
atraído pela luz dumas pupilas verdes e fascinantes, ali eram uns olhos claros
e serenos que o guiavam. Uns olhos que pareciam nunca ter visto a parte negra e
amarga da vida. E, se a viram, souberam manter-se limpos.
Mas que direito tinha ele de sonhar com aquela
rapariga? Ela apenas tinha demonstrado uma simples e leal amizade. Mas era
difícil sentir-se junto dela sem reparar no recorte dos seus lábios e nos
grandes e formosos olhos.
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