sábado, 30 de junho de 2018

BUF168.2 Regresso com receção violenta

Tinham decorrido cinco anos, depois daquela noite de trágico pesadelo. Cinco anos durante os quais John estivera longe de San Ângelo e do Texas.
Vagueara por Oklahoma, tinha chegado até ao distante Utah, a terra dos mórmones, e depois internara-se pela Califórnia, pelas terras ásperas, desertas, cobertas de rochas, de areia e de pó. Mais tarde vivera entre os mexicanos de Guymas, no golfo, e em Chihuahua, a velha cidade nas faldas da Sierra Madre. Então regressara ao Texas, por El Paso.
Não se inquietou, quando, de uma lomba de terreno, avistou San Ângelo. Erguido sobre a sela do seu cavalo, olhou em volta, gravemente.
Semicerrou os olhos. A cena daquela noite continuava presente no seu cérebro e no seu coração. Não esquecera Nancy Niemes. E não esquecera Buck.
Voltava agora a San Ângelo para cumprir a promessa que a si mesmo fizera, confusamente, cinco anos antes.
Agora ouvi-lo-iam, porque os ânimos estariam mais calmos... e porque John confiava mais em si mesmo. Não se importava com o tempo e o trabalho que fossem necessários para cumprir a sua missão. Havia de descobrir o autor da morte de Nancy.
Impeliu o cavalo para diante.

sexta-feira, 29 de junho de 2018

BUF168.1 Homem em fuga or causa de mulher assassinada

Era um homem taciturno, calado, que parecia sempre mergulhado em profundos pensamentos. Viam-no muitas vezes passar pelas ruas, de cabeça curvada e uma crispação nos lábios. Quando chegava ao «saloon», pedia um copo de uísque que bebia devagar, encostado ao balcão.
— Bons-dias, John Pistol. Que tal vão as experiências com o milho híbrido. E os cavalos mestiços? Já os cruzaste com as éguas de Gales?
John Pistol ajeitou o lenço cor de tabaco, que levava ao pescoço. Bebeu o último gole de uísque.
— Vai tudo bem.
Não disse mais. Voltou as costas ao homem do bar e encaminhou-se para a porta, sem olhar para trás. Era um homem novo e forte, de ombros ligeiramente curvados, olhos azuis que por vezes as pálpebras escondiam.
O homem do bar ficou onde estava, a coçar o queixo e a olhar as coronhas brancas dos dois revólveres que oscilavam nos coldres, ao ritmo do andar de John Pistol.
— John Pistol era um tipo curioso, mas não sei por que raio lhe puseram a alcunha. Poucas vezes o vi servir-se das armas. É um homem tranquilo.

quinta-feira, 28 de junho de 2018

BUF168. A sombra da forca


(Coleção Búfalo, nº 168)

Uma jovem é assassinada e aquele que estava para casar com ela é acusado do crime.
John Pistol era um homem taciturno, misterioso, mas estava na disposição de encetar uma nova vida com aquela jovem. A acusação injusta levou-o à fuga, a uma espera de 5 anos e a um regresso com vontade de tudo esclarecer.
Mas a receção não foi amistosa e só com a ajuda do xerife e das velhinhas de Trinity conseguiu chegar ao verdadeiro criminoso e ao seu mentor.
Um quase romance policial no ambiente do velho Oeste…

quarta-feira, 27 de junho de 2018

BUF167.13 O melhor pai que existiu sobre a terra

Em cima da cómoda do quarto havia um velho relógio de madeira. Carmen olhava-o, continuamente. Em dado momento, depois de o mirar uma vez mais, deu um profundo suspiro. Juan Rode compreendeu.
— Está na hora, não é verdade? Devem estar prestes a chegar ao cofre... Isso quer dizer que, dentro de alguns minutos, esse rapaz, Robert Joyce, e a família dele serão assassinados. Creio que, lá em casa, vivem ele, os pais e uma criada. Todos vão ser liquidados, Carmen.
— Cala-te! — suplicou a jovem, com voz alterada. —Não sabes o que dizes! Não vai acontecer nada!
— Não sejas cobarde, minha filha, e enfrenta a verdade. Jim Galluro odeia Bob e, além disso, não quererá deixar perigosas testemunhas do roubo. Conheço este «ofício», desgraçadamente. Não ficará ninguém vivo, para contar pormenores nem para descrever o aspeto dos assaltantes. Ë o que sempre se faz, nestes casos. Se um dia fossem apanhados, ninguém poderia afirmar, em tribunal, «foi este homem!». Galluro bem o sabe.
— Falas como um bandido, como um profissional do crime, pai!
— Sim, é verdade. Mas asseguro-te que jamais assassinei ninguém. Mesmo nesta vida, há várias categorias de pessoas. Tu sabes que Jim Galluro pertence à mais baixa. Viste, por acaso, como ele e os homens do seu bando assassinaram todos os passageiros da caravana em que ias e da qual só tu escapaste?

terça-feira, 26 de junho de 2018

BUF167.12 Uma família em apuros

O pai de Robert Joyce costumava deitar-se tarde, devido à sua paixão pela leitura. E o Banco dava-lhe tanto trabalho que, a não ser de noite, não podia ler nada.
Naquela noite, tinha ficado no escritório, entregue à sua única diversão, quando ouviu bater à porta. Sem levantar a cabeça, chamou:
— Joana! Estão a bater à porta! Vai abrir, por favor.
No mesmo instante, lembrou-se de que a criada já estaria deitada, havia muito tempo. Em casa, já toda a gente dormia, exceto ele. Pousando o livro em cima da secretária, foi abrir, murmurando:
— Quem poderá ser, a estas horas?
Era uma pessoa demasiadamente confiada, o que o levou a abrir a porta, sem primeiro ver ou perguntar quem era. E viu-se perante o cano de um revólver, apontado para a sua testa...
Recuou, instintivamente. A arma acompanhou-o, ao mesmo tempo que uma voz seca lhe ordenava:
— Não grite nem chame ninguém, se não quer ser o causador da morte de quantos se encontram nesta casa!
Sob a ameaça do revólver, continuou a recuar. Viu um grupo de homens avançar pela casa. Jim Galluro, muito satisfeito dirigiu-se-lhe, em tom trocista:
— Deita-se muito tarde, senhor Joyce. Onde estão as outras pessoas?

segunda-feira, 25 de junho de 2018

BUF167.11 Preparação do golpe definitivo

— Que horas são? Um dos homens levantou a cabeça, olhando para o relógio colocado por cima das prateleiras das bebidas.
— És um comodista, Jim — retorquiu. — Tens o relógio na tua frente. Porque não olhas para ele?
Jim Galluro olhou torvamente para o homem que tinha replicado, após o que o agarrou pela camisa, dizendo-lhe, por entre os dentes:
— Que te importa como sou? Perguntei que horas são, apenas. E tu deves responder-me, sem comentários!
— São dez horas — interveio outro indivíduo. — Acalma-te, Jim. Não deixes que os nervos nos levem a discussões ou disputas, agora.
— Ora! Eu não estou nervoso. Não posso é com a impertinência desse tipo.
Estavam cinco homens com Jim Galluro, sentados em redor de uma mesa. Dois deles estavam entretidos a jogar às cartas. Era indubitável que estavam todos nervosos, incluindo Jim Galluro.
Permaneceram silenciosos. De vez em quando, Jim olhava para o relógio. As onze, pôs as mãos no tampo da mesa e murmurou:
—Vamos rever tudo, rapazes. É necessário que cada um tenha bem presente o papel que lhe cabe. Eu bato à porta da casa e vocês ficam colocados de um e outro lado. Quando abrirem...

domingo, 24 de junho de 2018

BUF167.10 O poder da lágrima fingida

Ao meio-dia, Robert Joyce logrou escapar-se do Banco, com uma desculpa. O pai, que o adorava, sabia perfeitamente onde ele pretendia ir.
— Essa jovem enlouqueceu-o — murmurou. — Não é capaz de estar algumas horas sem a ver!
Robert Joyce chegou ao hotel «Santa Cruz» e perguntou por Carmen. Um criado subiu ao quarto da jovem, para a avisar. Carmen Rode desceu, pouco depois, bem arranjada e muito sorridente. Havia algumas horas que não sabia de Jim Galluro e estava intranquila, mas sorriu a Bob, escutando atentamente o que ele lhe dizia.
— Pensei que... que poderíamos almoçar juntos, Carmen. Tenho uma hora livre e queria contar-te algo muito interessante. Aquele homem que entrou no Banco... naquela noite... é um velho amigo do teu pai. Foi ele próprio quem mo disse.
Encolhendo os ombros, Carmen murmurou:
— Sim? O meu pai tem muitos amigos... Isso não tem importância, Bob. Vamos almoçar.
O jovem ofereceu-lhe o braço. Quando saíram do hotel, quase tropeçaram em Jim Galluro, o qual esteve prestes a dirigir-se à cúmplice, para lhe dizer que tinha de falar com ela. Retraiu-se a tempo, numa primeira reação.

sábado, 23 de junho de 2018

BUF167.09 Lutar pelo futuro de Carmen

Parecia fora de dúvida que Tom «El Toro» tinha renunciado a toda e qualquer resistência à prisão, pensando tentar a fuga durante a longa viagem até El Paso.
Roger Modol entendeu-o assim e, por isso, teve um pequeno descuido, no momento em que ia fechar o primeiro anel de aço. Juan Rode, que olhara para as mãos do caçador de recompensas e não para a sua cara, adivinhou a oportunidade, não a deixando passar.
Modol desviou um pouco o cano da arma, sem se aperceber do facto. Apenas um pouco, mas o suficiente para Juan... Com uma cotovelada sua e inesperada, acabou de desviar o cano do revólver.
Ao mesmo tempo, com a outra mão, agarrou uma das próprias armas, que Modol tinha entalado no cinturão, e empunhou-a. Foi tudo rapidíssimo.
Modol retrocedeu, precipitadamente, a ponto de cair, praguejando, furiosamente. Não largara a arma. A sua reação imediata foi deixar cair as algemas e pronunciando um insulto, premir o gatilho, visto que, na verdade, a recompensa oferecida pelo bandido tinha o mesmo valor, quer fosse entregue morto, quer vivo.

sexta-feira, 22 de junho de 2018

BUF167.08 Um homem para matar «El Toro»

Jim Galluro alcançou a entrada do Banco de Tucson.
Antes de entrar no edifício, voltou a cabeça, para voltar a assegurar-se de que ninguém o observava. Teve, apenas, o tempo necessário para divisar uma sombra que se movimentava nas suas costas. Ainda esboçou o gesto de se virar, para usar o revólver. O vulto moveu-se rapidamente e Jim Galluro recebeu uma pancada na cabeça, junto da orelha. Sem sentidos, deslizou para o chão, largando arma.
O homem que o agredira apressou-se a evitar que o revólver caísse no solo, provocando um ruído que o denunciaria. Habilmente, apanhou a arma no ar, ao mesmo tempo que, com o braço livre, amparava a queda de Jim, a quem colocou suavemente no solo, encostado a uma coluna.
Depois, Juan Rode -- a ele se devia aquela intervenção — entrou no Banco, decididamente, pisando o solo com força e perguntando, em voz alta:
— Está aí alguém? Quem quer que seja não se mova!
Tinha um revólver em cada mão. A claridade que reinava no interior, distinguiu os vultos da filha e de Robert Joyce, defronte do enorme cofre, aberto de par em par.
O jovem voltou-se, velozmente, perguntando:
— Que faz você aqui? Para que são estas armas?
— Passei e vi a porta aberta. Vou levá-lo ao xerife, agora mesmo!

quinta-feira, 21 de junho de 2018

BUF167.07 Banco aberto só para o bandido

—É verdade, sim! — acusou Carmen, terminantemente. — Ele poderá negá-lo, mas o seu retrato está em imensos jornais e cartazes de pedidos de captura. É Tom «El Toro», o mais selvagem dos bandidos do Texas. Não tens nada a recear dele, porque é pior que tu e tem mais que ocultar!
Para mostrar o desprezo que sentia pelo pai, voltou-lhe as costas. Juan Rode manteve-se silencioso. Jim aproximou-se dele, estendendo-lhe a mão.
— Tenho muito orgulho em conhecê-lo, Tom — disse. — Tenho ouvido falar imenso de si, como calcula.
Juan não tocou na mão que o outro lhe estendia. Não fez, aliás, qualquer movimento.
—Deixe-se de cumprimentos, rapaz — replicou. —Afaste-se da minha filha, ou, de contrário, ficará realmente a saber quem eu sou.
Jim protestou:
— Mas eu pretendo casar-me com ela! As minhas intenções são sérias. Logo que tivéssemos o dinheiro... E vamos tê-lo, muito em breve, porque...
Carmen interrompeu-o, raivosamente:
— Cala-te, Jim! Não fales dos nossos assuntos!
Galluro corou, enquanto Juan Rode sorria...
— Estão, então, à espera de dinheiro... — comentou. — Compreendo. No entanto, acho difícil que o consigam, uma vez que Carmen tem de seguir viagem!...

quarta-feira, 20 de junho de 2018

BUF167.06 Reencontro indesejado

Em Tucson, um indivíduo como Jim Galluro podia viver tranquilamente, porque Tucson era outra cidade sem lei, outra cidade fronteiriça.
Jim Galluro era um jovem alto, tão alegre quanto o irmão fora melancólico. Muita gente o saudava, ao passar pelas ruas. Caminhava rapidamente, com ar sorridente.
Ao chegar à entrada do hotel «Santa Cruz», empurrou a porta envidraçada e entrou no estabelecimento. Em três ou quatro saltos, alcançou o primeiro andar, em cujo corredor parou, para bater à porta de um quarto.
— Entra, Tília — responderam-lhe dentro.
Jim entrou no quarto, sorrindo para a formosa jovem que, diante do espelho do toucador, penteava os longos cabelos.
— Já o temos, Carmen! Encontrei o homem indicado. Dentro de pouco tempo, disporemos de todo o dinheiro de que necessitamos!
Carmen voltou-se, risonha. Era realmente preciosa. Os seus olhos enormes tinham uma vivacidade extraordinária.
— Precisamos de muito, Jim! — retorquiu.
— Nada receies, que tudo sairá bem. Trata-se do filho do diretor do Banco, um rapaz educado, amável para toda a gente. Como não há-de ser amável contigo!...
Carmen levantou-se. Jim abraçou-a, beijando-a nos lábios. Como ele se mostrasse demasiadamente apaixonado, a jovem repeliu-o com firmeza, dizendo:
— Não, Jim. Bem sabes como sinto e penso. Deixa as ternuras para quando estivermos casados.
— Casar-nos-emos muito brevemente. Mas tu és muito...

terça-feira, 19 de junho de 2018

BUF167.05 Lutar por alforges vazios

A pequena caravana atravessou o Rio Grande, às nove da manhã, um pouco ao norte de El Paso, penetrando no território do Arizona. Era uma estranha caravana, constituída apenas por três carros e uma quinzena de homens.
Mal saíram, o chefe, o próprio Galluro, falou a Juan Rode.
— Nada receie, senhor, que não há perigo — disse-lhe. — Os bandidos não se atreverão a atacar esta caravana.
Sorrindo, Juan retorquiu-lhe:
— Acredito... No entanto, disseram-me que esta rota é dominada por um tal Galluro, que dizem ser muito perigoso. Segundo parece, os bandidos repartiram os caminhos entre si...
Galluro replicou, num grunhido:
— Nenhum bando se atreverá a atacar quinze homens, senhor Linden, esteja tranquilo...
Juan levava alforjes de coiro, fechados com cadeados. Parecia muito cuidadoso com eles... Galluro lançara-lhes um olhar de curiosidade, quando Juan se unira à caravana. Depois, não voltou a olhar para eles.
A caravana prosseguiu, nos trilhos do Arizona, sem muita pressa. Juan Rode continuava a fazer um esforço tremendo para dominar a raiva que sentia.

segunda-feira, 18 de junho de 2018

BUF167.04 Caravana de salteadores

Clara Trenton acabava de chegar, na companhia de quatro homens, os quais não estavam nada convencidos da veracidade das afirmações dela.
— Tom «El Toro»! Que pode querer de Pecos um sujeito como esse? Aqui, não há dinheiro bastante para ele!
Quando se acercavam de casa, ouviram um tiro de revólver. Apenas um.
Clara exclamou, num grito de espanto:
— Meu marido! Esse homem!...
Recalcando o medo que sentia, chicoteou o cavalo, na garupa, para que puxasse mais rapidamente o carro. Os quatro homens imitaram-na, fazendo galopar as montadas. Começavam a admitir que Clara Trenton não tivesse mentido...
— Se, na realidade, se trata de Tom «El Toro», terremos de atuar com os maiores cuidados, rapazes!...
De bom grado teriam voltado para Pecos, mas não podiam deixar Clara Trenton sozinha, no momento de chegar a casa. Desmontaram, rapidamente, antes de os cavalos se deterem.
Com a pressa, um deles chegou a rolar no solo, junto da carruagem, da qual Clara se apeava. O que comandava o grupo, advertiu, visivelmente nervoso:
— Cuidado! Ele ainda está em casa, com certeza!

domingo, 17 de junho de 2018

BUF167.03 A visita de Tom, «el Toro»

No mesmo lugar onde doze anos antes se encontrava a cabana dos Trenton, existia agora uma magnífica casa de pedra, rodeada de um pequeno jardim. A propriedade dos Trenton tinha-se modificado muito, assim como os seus donos. Aqueles doze anos tinham-nos convertido em duas pessoas de boa apresentação e bem vestidas. E também os tinham envelhecido, naturalmente...
Em Cayanosa, todos se perguntavam sobre as possíveis causas do repentino esplendor dos Trenton, que tinham abandonado totalmente o trabalho. No entanto, só o banqueiro de Pecos sabia a verdade.
Os Trenton recebiam dinheiro, todos os meses. O dinheiro procedia de diferentes partes do Texas e nunca mencionava o nome da pessoa que o enviava. E o banqueiro calava-se, por dever profissional. Por isso, as pessoas de Cayonosa murmuravam muito. Diziam que os Trenton tinham descoberto uma mina e alguns, mais imaginativos, asseguravam:
— Quase apostaria que, um dia, se acabará por descobrir que Trenton é, nem mais nem menos, o famoso Tom, «El Toro», esse bandido que anda a meter no bolso todo o dinheiro do Texas!
— Não sejas idiota! Trenton jamais abandonou a casa. As suas viagens mais longas são ao povoado. Anda sempre agarrado às fraldas da mulher e da sua filha! Esse tipo tem um tesouro escondido! Ou encontrou uma boa «maquia» enterrada e vai-a gastando, pouco a pouco.

sábado, 16 de junho de 2018

BUF167.02 É fácil um homem converter-se num assassino

O advogado Bill Jordan tinha o seu escritório na cidade de Pecos, uma cidade menos famosa do que o rio que passava junto dela. Jordan perguntou ao empregado, ao entrar no escritório.
— Já chegaram os Rode?
— Já. Estão todos lá dentro, senhor Jordan.
Jordan tossiu, abriu a porta do seu gabinete e olhou para as pessoas que lá se encontravam. Num lado, estavam Marta e os seus dois filhos, ela sentada numa poltrona, eles de pé. No outro lado, sentava-se Carmen, a formosa mexicana e, junto dela, o carrancudo Juan Rode, que tinha a filha sobre os joelhos. Foi Juan quem primeiro falou:
— Fez-nos esperar demasiado, senhor Jordan.
— Acalme-se, Rode. O seu pai não era o meu único cliente e tenho outros assuntos a atender. Ah! Dou-lhe os meus pêsames, pela morte do seu pai.
Marta resmungou, enervada:
— Deixe-se de cumprimentos e acabemos, de uma vez, advogado!
Jordan sentou-se na sua cadeira, do outro lado da secretária, deitando um olhar agudo a todos os presentes.
Voltou a tossir, abriu a pasta de cabedal negro e retirou dela um maço de papéis atados.

sexta-feira, 15 de junho de 2018

BUF167.01 A última vontade do moribundo

A mulher era muito formosa, morena, de enormes e ardentes olhos. Vestia com modéstia e usava o cabelo apanhado numa trança, enrolada na nuca. Caminhava com a graça das mexicanas, o que era natural, pois Carmen Rode era mexicana.
Carmen entrou na pequena forja. Um homem com o torso nu olhou para ela, sorrindo. Era um homem novo, muito forte, de cabelo avermelhado e olhos negros.
— Carmen! Não me digas que já são horas de comer! Não posso ir, antes de acabar este eixo.
A mulher aproximou-se. Nos seus olhos brilhava o amor. Olhava para o marido com verdadeiro entusiasmo e admiração.
— Não, Juan, a comida ainda não está pronta. E que... veio um homem, de casa do teu pai.
Juan Rode deixou de sorrir.
— Outro? Diz-lhe que se vá embora! Diz-lhe que...
A mulher murmurou, persuasiva:
— Juan, esse homem afirma que o teu pai está muito mal e disse que te queria ver.
— Eu não tenho interesse nenhum em vê-lo!
Carmen cobriu o rosto com as mãos e começou a chorar.

quinta-feira, 14 de junho de 2018

BUF167. História de um bandido


(Coleção Búfalo, nº 167)
 
Juan Rode vivia apaixonado por Carmen da qual teve uma filha. Mas o pai não aprovava a sua ligação e, seduzido por uma mulher, deserdou o filho e entregou os seus bens aos familiares daquela.
 
Juan ficou como louco e desatou a disparar. Involuntariamente atingiu a mulher. Fugiu, deixando a filha entregue a uma família amiga para quem enviou dinheiro regularmente. A sua vida transformou-se num inferno de assaltos e assassínios, passando a ser conhecido por Tom «el Toro».
 
Um dia voltou junto daqueles a quem confiara a filha e veio a descobrir que o dinheiro quem enviara tinha sido usado em proveito próprio. Começou aí nova matança e a procura incansável da filha.

quarta-feira, 13 de junho de 2018

BUF166.14 Assim desapareceu o doutor "Uísque"

Trouxeram-lhe uma bacia de água quente. Em cima da mesa tinha tudo quanto precisava: ligaduras, instrumentos, pomadas...
John aproximou-se do leito e parou a olhar o rosto pálido e adormecido de Madge. As mãos tremeram-lhe ligeiramente, tão comovido se sentia. Daniels aproximou-se, pelas suas costas, e murmurou:
— Se não se sente em condições de operar, doutor...
Mas ele acenou afirmativamente com a cabeça. Tinha a testa perlada de suor frio e a boca seca. No entanto, estava firmemente decido a operar. Era a segunda vez que o destino o colocava na terrível situação de ter nas suas mãos a vida de uma mulher amada.
Da primeira vez falhara, mas agora não falharia. Tinha de salvar Madge! A bala alojara-se muito perto do coração e era perigosíssimo extrai-la; o mais pequeno erro poderia ser fatal. Era esta certeza que o torturava.
Limpou o suor da testa. A anestesia adormecera Madge, tinha de se apressar antes que o efeito passasse. Lembrou-se de Dick Duff, que conseguira salvar. Por que seria diferente agora? Mas a verdade é que era diferente, pois a vida de Madge valia para ele muito mais do que a sua própria vida. Era isso o pior.
Aproximou-se da mesa e pegou no bisturi.

terça-feira, 12 de junho de 2018

BUF166.13 Perseguição implacável

Um derradeiro e desesperado esforço, instintivo, estranho à sua vontade, foi o que fez Madge levantar os braços no momento em que a escada lhe fugia debaixo dos pés. E como estava à beira do buraco superior, os seus dedos enclavinharam-se ali e ficou pendurada no vácuo.
Claro que não poderia ficar muito tempo naquela posição, se não fosse a coluna de madeira que se erguia junto do buraco, um grosso tronco de pinho, no qual tinham sido pregadas grossas escápulas, para prender cordas e peles.
Antes que Griffith, que se afastara para que a escada lhe não caísse em cima, pudesse aperceber-se do que se passava, Madge encontrou uma das escápulas debaixo dos pés e firmou-se nela para se içar.
A sua Juventude e o seu nervosismo fizeram o resto. Num segundo, a rapariga trepou para a plataforma e desapareceu, de roldão, por cima do tecto.
A rapidez com que Richard Griffith disparou foi insuficiente. Ele não esperava aquilo. Ao ver Madge pendurada na ponta dos dedos, considerou como certo que só mudaria de posição para cair. Mas enganou-se. Uma cólera infinita ofuscou-lhe o cérebro, ao ouvir os passos rápidos da rapariga, correndo pela parte superior do celeiro.

segunda-feira, 11 de junho de 2018

BUF166.12 Madge corre perigo

Mas Thorne e o velho Sidway não tinham tido quase tempo de atravessar a rua, quando ouviram o tiro. E como se estava em manhã de tiroteio, a primeira coisa que pensaram foi que a perseguição aos salteadores lhes vinha em cima. Contudo, como na rua não se via vivalma, ficaram perplexos.
-- Onde terá sido? — alarmou-se o caçador. — Querem ver que nos vão fritar a tiro sem nos metermos em nada?!
Naquele momento, uma mulher debruçou-se da janela do andar que ficava por cima do restaurante e gritou:
— Senhor Sidway! Tem zaragata em casa?
— Em minha casa?
— Esse tiro soou cá em baixo.
Foi o bastante para os dois deitarem a correr para o restaurante. Thorne foi o primeiro a entrar, pois era muito mais novo e ágil. Mas o velho não se demorou muito. Quando chegaram à cozinha, viram a mesa derrubada e os tachos espalhados pelo chão.
— Madge! — gritou Sidway, assustado. — Onde estás, Madge?
Ninguém respondeu. Thorne saiu pela porta das traseiras, que continuava aberta.

domingo, 10 de junho de 2018

BUF166.11 Fugir como uma alma perseguida pelo diabo

O povo debandara atrás do xerife e do seu jovem ajudante, e a rua principal ficou quase deserta. Só os velhos e as mulheres, assim como os garotos, não tomaram, naturalmente, parte na perseguição.
Mas quando começou o tiroteio nas traseiras do «saloon», a maior parte apressou-se a recolher as suas casas, como medida de precaução.
Naquele momento chegou à povoação um homem corpulento, de tórax volumoso e braços que pareciam troncos de árvore. Vestia roupas de campo, feitas de peles. O seu rosto, quase infantil, exprimiu uma divertida surpresa perante os acontecimentos.
— Eh! Que é isto? Que se passa aqui? — gritou alegremente.
Uma mulher respondeu-lhe de uma janela:
— Tenha cuidado, senhor Thorne! O xerife está a perseguir os assaltantes do Banco!
— Assaltaram o Banco?... Ótimo, cheguei a tempo!
Continuava a considerar os acontecimentos com bom humor. Chegou com o cavalo onde o velho Sidway, prudentemente escondido atrás de uma coluna do alpendre, esperava os resultados da perseguição.

sábado, 9 de junho de 2018

BUF166.10 Como salvar a vida do xerife

Daniels ficou um instante com o olhar perdido num ponto indefinido. Mas não era homem de raciocínios e sim de factos. E havia vários dias que continha a custo a vontade de tomar parte ativa naquele caso. Por isso, o motivo que se lhe apresentava agora bastava para o decidir a pôr-se em movimento.
Ainda John Frey não teria chegado à próxima esquina, quando o xerife se dirigiu, com passos firmes, para o interior do edifício. Através de uma janela que dava para o pátio das traseiras e para as cavalariças, chamou:
—Ren!
— Chamou-me, patrão? — respondeu do fundo das cavalariças a voz ameninada do seu novo ajudante.
Ren era um jovem alto e corpulento, de cara redonda e olhos sonhadores. Saiu apressadamente da cavalariça. Daniels disse-lhe:
— Vem. Temos que fazer.
Ren apressou-se a entrar no escritório.
— Aconteceu alguma coisa, senhor Daniels? Não ouvi nada...
— Há uns forasteiros na povoação, que temos de procurar sem demora. Se não me enganaram, trata-se dos assaltantes do Banco... Os que mataram o senhor Dross e Rod.

sexta-feira, 8 de junho de 2018

BUF166.9 Pacto com os salteadores

Era uma espécie de nuvem negra que se lhe pusera diante dos olhos. Mais dentro: no cérebro. Em vez de se comporem, iriam as coisas de mal a pior?
A sua conversa com Daniels pusera-o de um humor dos demónios. Já não era só a obsessão do povo; tinha de resolver a sua delicada situação perante os amigos de Dick Duff e, para cúmulo, de enfrentar a suspeita do xerife de que podia ser verdade ele estar de posse do dinheiro do assalto. Quer dizer: com um bocadinho de pouca sorte, acabariam por o acusar do assassínio de Duff.
Furioso como poucas vezes se sentira na sua vida, John Frey deixou para trás o escritório do xerife e encaminhou-se, manquejando, para o meio da rua.
Não via ninguém. Não lhe importava se o seguiam ou não. Só uma coisa se gravara na sua cabeça: reconstituir as andanças de Dick Duff, desde que deixara o Banco até ser encontrado, horas depois, sem sentidos nem dinheiro. Mas aquilo devia ser um sonho, uma coisa que não lhe era permitida, como se todas as forças do universo se tivessem congregado para o impedir de demonstrar a sua inocência.
Apenas andara uns metros pelo meio da rua, quando um homem se lhe pôs diante, com um cigarro na mão.
—Dá-me lume, por favor?
John não o conhecia, nem tinha vontade de atender nenhum pedido.
— Não tenho — respondeu bruscamente.
Mas quando tentou seguir o seu caminho, notou que o seguravam por um braço.

quinta-feira, 7 de junho de 2018

BUF166.8 Casmurrice de xerife

Perplexo, John Frey franziu o sobrolho, com ar de eloquente surpresa. A afirmação de Dean Kennedy deixara-o confuso.
— Buscar os quinze mil dólares? — repetiu, como se não entendesse bem o inglês.
O jovem do blusão de couro preto pôs-se sério.
— Ouça, não faça teatro, doutor — recomeçou. — O seu alibi perante o povo foi perfeito, mas não lhe servirá de nada comigo. Eles contentaram-se com chamar-lhe bêbedo, eu não. Eu quero esse dinheiro.
— Você está mal da cabeça — redarguiu John Frey. — Não sabe o que diz. –
- Se sei! Você reanimou Dick Duff, não é verdade?
— Sim.
— E conseguiu fazê-lo falar.
John exclamou:
— Falar?! Não disse nem uma s6 palavra!
— Quem me garante isso? Eu vi o cadáver. Tinha completamente terminada a operação.
— Claro. Mas que tem a ver...?
-- Se Dick tivesse morrido durante a operação — atalhou Kennedy - -, você não se teria incomodado a terminá-la.
— Não morreu durante a operação, mas sim depois.

quarta-feira, 6 de junho de 2018

BUF166.7 Procuram-se quinze mil dólares

Estava de novo ali, depois de quinze dias desesperantes num hospital de Santa Fé, para tentar convencer todos do seu erro ao julgarem-no, ainda que fosse a última coisa que fizesse na vida, sem se importar com o preço nem com as dificuldades.
Quando terminara a operação de Dick Duff e verificara o seu êxito, sentira qualquer coisa difícil de esquecer. Sentira outra vez confiança em si mesmo. Sentira de novo vontade de viver, de ser uma pessoa como as demais, e não um descarrilado, um inútil, um bêbedo.
Semelhante desejo merecia todos os sacrifícios, e para o tornar realidade não tinha outro remédio senão demonstrar a todos que não se embebedara, que Dick Duff fora salvo pelas suas mãos, que um indivíduo misterioso aparecera em cena para destruir todas as suas esperanças de resgate.
Compreendia que lhe ia ser muito difícil, quase impossível, pois não tinha por onde principiar. Como havia de demonstrar o que se passara naquela noite em sua casa? Encontrando o mascarado?... Mas como? E, entretanto, fora do quarto, na escada, na rua, as pessoas reuniam-se outra vez, como duas semanas antes, para o expulsarem da povoação, para lhe partirem outros ossos, se lhes caísse nas mãos.

terça-feira, 5 de junho de 2018

POL123. Mais um dia de vida

(Coleção Pólvora, nº 123). Capa e texto indisponíveis

BUF166.6 Desaire inesperado

John Frey afastou-se um pouco do leito e sentou-se numa cadeira próxima, completamente esgotado. Tinha o rosto coberto de suor, os olhos brilhantes e a respiração entrecortada.
Passara duas horas de terrível tensão. Tivera de fazer um grande esforço para dominar os nervos, mas, por fim, conseguira-o. Parecia-lhe mentira. Não havia maneira de se convencer.
Mas ali estava a prova: Dick Duff continuava inconsciente na cama, mas o seu pulso tinha agora muito mais vigor. E extraíra-lhe a bala, contivera a hemorragia interna e tinha a ferida fechada e em condições de cicatrizar! Até poderia salvar a vida!
Admitiu que tivera sorte. A bala não alcançara os órgãos digestivos, por verdadeiro milagre. Portanto, o maior perigo residia na perda de sangue e nas possíveis complicações provenientes dos ferimentos internos. Mas sentia-se otimista. Procedera à intervenção cirúrgica com os cinco, sentidos postos no trabalho, sem se recordar de mais nada. Mal começara a operação, tinham batido à porta. Não se dignara ver quem era. Gritara:
— Saiam daqui e deixem-me em paz!

segunda-feira, 4 de junho de 2018

BUF166.5 A tentação volta sempre

Fez a transfusão e chegou o momento de operar. Era necessário extrair a bala e fechar a ferida, para evitar nova hemorragia.
Durante quase toda a manhã, estiveram a observar a reação do ferido, depois da transfusão. Mas não experimentou melhoras notáveis. O pulso continuava muito fraco.
Depois do meio-dia, pareceu reagir um pouco, e John Frey dispôs-se a operá-lo. Estava absorto em si mesmo, inquieto. Apenas trocava as palavras indispensáveis com Madge. Mandara recado à povoação para que viessem buscar o dador de sangue, pois ele, desde que deixara de exercer clinica, só tinha uma cama em casa.
A rapariga notou o seu nervosismo quando estava a preparar os instrumentos. Tremiam-lhe ligeiramente as mãos.
— John — disse-lhe —, se não te sentes bem...
Ele interrompeu-a secamente:
— Vai buscar mais água quente.
Madge obedeceu sem protestar e saiu do quarto. Assim que ficou só, John Frey levantou a cabeça. Os seus olhos moviam-se, inquietos, de um lado para o outro, mas evitavam pousar no corpo imóvel, que jazia na cama. De facto, não tinha nenhuma confiança em si mesmo. O medo de outro malogro torturava-o.

domingo, 3 de junho de 2018

BUF166.4 Chamavam-lhe doutor "Uísque"

John Frey estava a dormir quando ouviu baterem-lhe à porta. Abriu os olhos, mas voltou a fechá-los. Doía-lhe a cabeça, como de costume. Na noite anterior bebera mais do que o aconselhável. Mas as pancadas aumentaram tanto que não teve outro remédio senão fazer um esforço e levantar-se.
— Já vou! Já vou! — resmungou.
A voz de Madge Sidway gritava-lhe de fora:
— John! Depressa! Abre!
Vestiu desajeitadamente as calças e foi abrir, em camisola e sem botas. A rapariga entrou como um ciclone.
— John, arranja-te que trazem um ferido!
Frey olhou-a com os olhos piscos. Não percebia muito bem, e estava ensonado.
— Que o levem outra vez — redarguiu. — Eu não sou médico. Mas ela segurou-o por ambos os braços e sacudiu-o.
— Não digas tolices, John. Tens de o tratar. Vem o xerife e meia povoação com ele. Ontem à noite assaltaram o Banco.
Frey exclamou:
— Ah! Sim?... E que tenho eu a ver com isso ? Não pretendem acusar-me, pois não?

sábado, 2 de junho de 2018

BUF166.3 Assalto noturno

Sterling Dross era um homem miudinho, magro, a quem uma úlcera de estômago não deixava viver tranquilo. A sua cara flácida, sulcada de rugas, mais parecia a de um homem de setenta anos do que de cinquenta, que eram os que o banqueiro tinha às costas. Contudo, a sua astúcia para os negócios não era prejudicada pelas dores de estômago. Estava a tornar-se, pouco a pouco, o senhor de Los Alamos.
Negociava com o dinheiro de todos os seus concidadãos, e os lucros só os compartilhava com a sua obesa mulher. Poderia levar uma vida de príncipe, porque ganhava dinheiro às mãos-cheias, mas o estômago não lho permitia. Raramente o viam sair à noite, beber ou cometer excessos de qualquer espécie. Por isso, procurava a sua distração no jogo, embora jogasse quantias tão pequenas como o mais pobre homem da povoação. Tinha medo de perder.
Naquela noite levantou-se da mesa bastante mal-humorado, porque, além de sentir fortes dores de estômago, tinham-lhe limpado cem dólares. E resolveu ir dormir, depois de tomar aquela bodega que lhe preparara o doutor Griffith e que lhe acalmava — decerto por sugestão — as dores da sua maldita úlcera.

sexta-feira, 1 de junho de 2018

BUF166.2 Quarto para um homem indesejável

Ao fim da rua, já fora da povoação, começava a encosta de uma colina. Havia uma comprida fileira de álamos esbeltos, que a circundavam, e rochas de ambos os lados do caminho.
John Frey subiu a encosta com visível esforço. A perna não estava ainda preparada para grandes caminhadas, sobretudo quando, além do peso do corpo, tinha de supor-ta também o do saco de viagem.
Quando chegou ao cimo, ia arquejante e teve de se sentar numa pedra para descansar. Mas pouco depois retomou a caminhada. Estava impaciente por se encontrar em casa, fechar a porta e dormir umas horas. Isso reanimá-lo-ia.
A viagem, e sobretudo a receção, tinham--no esgotado por completo. Contornou o penacho de rochas que se erguia no cume e deparou com a suave esplanada onde tinha a sua casa. Ficou parado, quieto, rígido. Os seus olhos franziram-se vivamente, numa expressão de ódio.
Ali, diante dele, havia um monte informe de madeiras calcinadas, o que restava do seu lar. Como um autómato, John Frey pousou o saco de viagem no chão e dirigiu-se devagar para as ruínas negras.