Foi o raio que os uniu.
A luz do raio, deslumbrante como o sol. A linha quebrada e
azul-violeta da sua trajetória. Depois, o odor a enxofre. E o trovão aterrador,
tal como se a terra tivesse explodido.
- …!
O raio impressionou os três. Caíra muito próximo e
afetara-os demasiado.
Frank, o filho, resguardara-se instintivamente atrás da
grossa coluna de madeira e ficou ali, dobrado sobre si mesmo. Podia lutar
contra os homens, mas não contra a Natureza cruel. Tremia.
Jane, a mãe. Ela, que experimentava um terror sobre-humano
em face das tempestades, foi a que menos reagiu. Viu o raio cair sobre a enorme
árvore e rachá-la de meio a meio. Ouviu o trovão ribombar instantaneamente.
Dobraram-se-lhe as pernas e caiu. Mas refez-se imediatamente. Toda coberta de
lama, ergueu-se e correu para o edifício. Ali, gritou com quanta força a sua
garganta foi capaz:
- Frank! Harold!
Harold, o pai, apenas verificou que a vida se lhe extinguia.
Notava como as forças o abandonavam, pouco a ouco. Sentia as
cataratas de água fustigarem-lhe o corpo que jazia, agora, num leito macio de
lama. Tinha os sovacos e o ventre suados e doía-lhe o ferimento que lhe
atravessava os pulmões, trazendo-lhe à boca uma fina espuma avermelhada cada
vez que respirava.
Pensava desordenadamente, prestes a mergulhar na
inconsciência:
«Jane, não consegui chegar a tempo… mais uma vez fui um
inútil… Jane, perdoas-me?... Sim, passou demasiado tempo… Quem cuidará agora de
ti? Jane, recordas-te?... Não, não te recordas… Passou já tanto tempo… tanto…
Perdoas-me?... Frank, vou ter contigo, Frank, meu filho… Que sabor tem o
sangue!... Cá vem outro vómito… E outro…».
Golfadas de sangue inundavam a sua boca. Cuspiu sobre si
próprio, incapaz de maior esforço.
Foi-se inclinando e repousou a cabeça na lama barrenta. As
coisas, o mundo, pareciam tremer, ondulando na retina do homem.
«Que era aquilo?... Jane… Perecera-lhe ouvir um grito…
Estava tudo tão escuro e tão silencioso!...»
Através da sua agonia ouviu um débil e agudo grito de
mulher. Depois, entre as trevas, viu-a chegar. Distinguiu a mancha cinzenta do
seu vestido no meio da escuridão.
«Que alto que está Jane!... E eu que não posso subir até
ela!... Jane, cheguei… demasiado tarde… Perdoa-me…».
Não viu a corrida louca da mulher que se arrojou sobre ele e
o chamou pelo nome.
- Harold!
Não viu o seu filho, que se aproximou também, atónito, como
um sonâmbulo.
- Harold!
O grito chegou ao corpo de Harold Brown, rodeou-o,
revolteou-o em seu redor, mas só encontrou a frialdade da morte.
Continuava a chover. E ao cair na terra, a água convertia-se
em lama, em barro…
(Coleção Pólvora, nº 27)