Logo que amanheceu, dois cavaleiros saíram de Boad Pace. Eram Ron Delaney e o xerife. Cavalgavam num galope não muito puxado.
Nos seus rostos havia uma sombria expressão que refletia bem a indignação que lhes ia na alma pela nova façanha de Bert Savold e dos seus homens.
Era penoso que um grupo de vaqueiros valentes e abnegados tivesse caído numa emboscada. Aquilo não devia repetir-se. Era preciso impedi-lo, a todo o custo.
Para não ser espoliado, Mike Food resolvera levar o seu gado a Phoenix, onde lho pagariam pelo seu verdadeiro valor. Mas a morte saíra-lhe ao encontro.
O xerife parou por um momento no alto de uma colina, estendeu o braço direito e apontou na direção do desfiladeiro Dourado, que já se via ao longe. O reflexo dos raios do Sol causava um efeito estranho — uma mancha de ouro no meio do verde-escuro dos bosques e da planície — o que originara o seu nome.
—É ali!
Ron baixou a cabeça e reataram a marcha. A sua chegada à entrada do desfiladeiro fez debandar várias aves de rapina e animais ferozes, que se banqueteavam.
— Foi esse canalha do Savold! — disse o xerife, entredentes. — Sim... Não podia ser outro.
Os dois homens apearam-se e desprenderam do arção da sela duas pás, com as quais se entregaram a uma estranha tarefa. Começaram a cavar, numa extensão de quatro metros, uma espécie de trincheira, que ao cabo de uma hora tinha atingido a profundidade de quase três metros. Então, contendo a sua repugnância, deitaram os restos dos cadáveres para dentro da vala.
O xerife murmurou uma breve oração, que Ron escutou de cabeça descoberta, depois do que cobriram a vala. Tratava-se de uns homens valentes. Tinham direito a descansar em paz.
Ron começou a examinar com a maior atenção o desfiladeiro, até à sua desembocadura, enquanto se sentara numa pedra, a fumar um cigarro. De súbito, chamou:
— Xerife. Venha ver isto. — Indicou-lhe uns sinais no chão. — Compreende o que se passou. Um hábil estratagema. O ataque não se deu dentro da garganta do desfiladeiro, mas aqui, à saída. Depois é que levaram os cadáveres para ali. Todos creem que os ataques são efetuados na passagem mais estreita do desfiladeiro. Quer dizer, os ganadeiros mandam um ou dois homens examinar o caminho, e como não encontram nada, continuam confiados, na direção da planície. É, então, que uma chuva de balas certeiras cai sobre eles.
— É infernal! — comentou o xerife. — Duvido de que esta ideia tenha saído da mente de Bert Savold. Deve ter sido do juiz.
Pouco depois regressaram à povoação, combinando entrarem separados, um por cada extremo.
— Agora, nem uma palavra a ninguém da nossa tarefa. É a melhor maneira de descobrirmos os manejos do «trust».
Separaram-se. Ron encaminhou-se logo para o curral, onde entregou a sua montada e as duas pás, gratificando o moço encarregado da abegoaria.
Não obstante todas as suas precauções, um homem advertiu a sua chegada — Larry Jackson. Na primeira oportunidade que se lhe apresentou, saiu do «saloon» em segredo. Mas alguém o vigiava por sua vez: Babe Custer, que o seguiu. E tão bem se houve que o viu entrar na residência de Savold, sem que aquele o visse. Savold olhou, sobressaltado, o seu espião. Devia ter acontecido alguma coisa de extraordinário para que ele se atrevesse a ir ali.
— Que se passa?...
— Não sei bem. Ron Delaney devia ter saído de madrugada. Acaba de chegar. Vinha cheio de pó.
Savold pôs-se a rir.
— Esse maldito não pode descobrir nada.
— Tenha cuidado !...
— Não te preocupes!
Meteu a mão no bolso e tirou algumas notas de Banco, que Jackson se apressou a guardar, saindo depois. Babe tinha agora a confirmação das suas suspeitas e aproveitaria a primeira oportunidade para castigar esse traidor.
Duas horas depois, Danny Hamilton e um dos seus vaqueiros entravam na povoação, dirigindo-se a casa do juiz, que os recebeu com um sorriso.
— Que te traz aqui, Hamilton?
— O desejo de que se faça justiça.
— Não te compreendo. Desde quando não se faz justiça?
— Nunca!
— Endoideceste?
— Não, senhor. Estamos oprimidos por esse abominável «trust». Não se faz nada para deter esses assassinos. Quem são os autores da morte de Mike Food e dos seus homens?
— Ignoro... Mas daria muito para saber quem eles são...
— Todos sabem, juiz Godfrey. No entanto, todos têm medo de o dizer.
— Quem são?...
— Bert Savold e os seus pistoleiros.
— Tens prova disso?
— Não, senhor. Mas conto tê-las em breve.
— Danny. Não se pode acusar ninguém sem provas. Se voltas aqui com essa acusação, ou outra semelhante, terei de mandar-te prender por difamação.
Danny saiu do cartório, despeitado e furioso. Tinha reunido uma boa manada para vender. Mas, de forma alguma, queria vendê-la ao «trust», de que recebia uma quantia miserável que, decerto, não lhe chegaria para pagar as suas dívidas. Se continuasse assim, ver-se-ia obrigado a vender o rancho.
Um grupo de curiosos comentava a trágica jornada de Mike Food. Ao ouvi-los, Hamilton acabou por ficar encolerizado.
— O assassino foi Bert Savold, todos sabem isso muito bem... Mas são uns cobardes... Têm medo... Pois eu não tenho, nem me resigno a vender os meus animais a esse «trust»... Levá-los-ei a Phoenix, embora corra o mesmo risco que Mike.
— Cala-te, rapaz... — aconselhou-o um comerciante.
— Não me calo... porque não o temo.
Um pistoleiro avançou para ele, em atitude ameaçadora.
— Teria ouvido bem?!
— Se não ouviu, posso repetir para ir dizer ao seu chefe.
— Não é preciso... Vou matá-lo por difamador.
Danny não se amedrontou.
— Veremos isso.
E empunhou o seu revólver. Mas o pistoleiro foi mais rápido, não o deixando puxar o gatilho. O jovem cambaleou e caiu, murmurando:
— Virgínia...
O pistoleiro, com um sorriso desdenhoso, tornou a guardar a arma, enquanto olhava os homens que estavam na sua frente. Mas estremeceu, ao ouvir uma voz fria:
— Assassino!
Voltou-se e viu Ron Dalaney.
— Eu não tenho nada contra si...
— E tinha contra esse rapaz ? Por que disparou contra ele?
— Acusou Bert Savold de ser um assassino. E eu defendi este por não estar aqui...
— Pois eu também o acuso... E espero que você o defenda.
— É que...
— Não procure desculpar-se. Isso é próprio de um cobarde.
O pistoleiro empalideceu e teve de puxar pelo «Colt». Mas já não conseguiu o mesmo que momentos antes, pois Ron metera-lhe uma bala na cabeça. Sem lhe dirigir um olhar, sequer, Ron acercou-se de Hamilton e, pondo um joelho em terra, examinou-lhe a ferida. Não era grave. O projétil penetrara-lhe no ombro esquerdo.
— Babe! Vai chamar o médico! Levantou o corpo do jovem e levou-o para o «saloon», deitando-o pouco depois na sua cama. O médico não tardou em aparecer.
— Felizmente, o caso não tem gravidade... O projétil nem chegou a atravessar a omoplata esquerda.
— Eu sei, doutor!
Este olhou-o, admirado.
— Como sabe ?
— Tenho visto muitas... Na Califórnia, cheguei mesmo a ajudar um operador.
O cirurgião começou logo os preparativos para extrair o projétil, o que conseguiu, ao cabo de uma hora, fazendo-lhe depois o penso conveniente, que recomendou fosse renovado todas as manhãs. O vaqueiro que tinha acompanhado Danny voltou-se, então, para o clínico.
— Posso levar o senhor Hamilton para o rancho ?
— Nem pensar nisso... Ele não deve levantar-se da cama por estes dias mais chegados.
O vaqueiro voltou-se para Ron, que pareceu adivinhar o que ele pretendia.
— Vá descansado... Eu tomarei conta dele e não lhe faltará nada.
— Muito obrigado, senhor Delaney! — disse o jovem vaqueiro, que instantes depois voltava ao rancho.
Virgínia ficou sobressaltada, quando o viu. Seu irmão saíra com o vaqueiro e este regressava só. Correu ao seu encontro.
— Que aconteceu a Danny?
— Nada de cuidado, menina. Teve um desafio com um dos pistoleiros de Savold e ficou ferido... Mas sem gravidade...
— Onde se encontra?
— No «saloon». O senhor Delaney ainda chegou a tempo de enfrentar o pistoleiro, matando-o. Eu quis trazer Danny para aqui, mas o médico, que foi chamado à pressa, fez-lhe o tratamento e disse-me que é conveniente que ele fique ali, na cama, durante alguns dias.
Virgínia cambaleou, como aniquilada. Sentia-se envergonhada. Era precisamente o homem que ela humilhara com as suas cruéis palavras, sendo inocente, que agora lhe fazia aquele inapreciável favor.
Não vacilou.
Tinha de ir agradecer-lhe tudo isso. Montando na sua égua, tomou o caminho da povoação, acompanhada pelo vaqueiro. Ela concordara com Danny em levarem ambos o gado diretamente a Phoenix, arrostando o perigo de serem também assaltados pelos quadrilheiros.
Nessa ocasião, ao apear-se à porta do «saloon», já não receou ser vista. Entrou decidida e subiu a escada com passo firme. O vaqueiro seguiu-a.
Quando ia precisamente bater à porta, esta abriu-se e apareceu a alta e esbelta figura de Delaney. Fitaram-se por momentos, em silêncio. Ron afastou-se para ela entrar. Virgínia, porém, não se moveu, resolvendo enfrentar aquela penosa situação.
— Senhor Delaney... Queria dizer-lhe...
— Agora, não tem nada que dizer-me, menina Hamilton. Seu irmão está aí dentro.
Saiu do quarto, inclinou-se ligeiramente e desceu a escada.
— Vaidoso!
Ron ainda a ouviu, mas não se deteve. Virgínia encolheu os ombros. Estava furiosa, como se Ron a tivesse esbofeteado. Abriu a porta, distinguindo logo o pálido semblante de seu irmão. Encaminhou-se para a cama e beijou-o na face.
— Virgínia!
— Então, como te encontras, Danny?
— Bem... graças a Delaney.
— Já sei isso! — retorquiu, com azedume.
Nesse momento, viu Babe Custer que, como um cão de guarda, a um canto, vigiava a cama do doente.
— Desculpe, Custer... Mas o seu amigo portou-se comigo de uma forma grosseira.
— Não é possível. Ron é um cavalheiro.
Virgínia mordeu os lábios.
— Talvez. Mas brusco...
— É lógico... Ele não queria mostrar-se afetuoso...
— Mas eu tentei desculpar-me e agradecer-lhe, e ele não me deixou falar...
— Não se preocupe com isso. Quando tudo estiver arrumado, Ron compreenderá o que se passa...
— Quer dizer que ?... — disse ela, esperançada.
— Estou convencido disso...
O sorriso que Virgínia lhe dirigiu encheu de júbilo Babe Custer. Aquela resoluta jovem correspondia ao amor do seu amigo. Ron fundaria um lar e chegaria a ser um homem poderoso e feliz.
— Por minha culpa, retardou-se a viagem —disse Danny.
— Não se atrasará nada. Nem venderei o gado ao «trust». Eu o levarei a Phoenix.
— Enlouqueceste, Virgínia.
— Não! Sei o que faço e terei a coragem suficiente para isso...
— Mas esses bandidos estão sempre à espreita.
— A menina não deve fazer uma coisa dessas! — disse Babe, por sua vez. — Não tenho medo.
Virgínia despediu-se, tornando a beijar o seu irmão e saiu. Queria ultimar os preparativos para a partida. Levaria o gado, sem recear os ladrões. Conhecia o caminho e os lugares onde podiam estender-lhes a armadilha. Adotaria todas as precauções, embora tivesse de demorar-se mais um ou dois dias.
Babe fitou Danny com um ar perplexo:
— Sua irmã fará o que disse ?
— Estou certo... É teimosa e coisa alguma a dissuadirá disso.
-- Estou a ver que sua irmã é um vivo demónio.
Nos seus rostos havia uma sombria expressão que refletia bem a indignação que lhes ia na alma pela nova façanha de Bert Savold e dos seus homens.
Era penoso que um grupo de vaqueiros valentes e abnegados tivesse caído numa emboscada. Aquilo não devia repetir-se. Era preciso impedi-lo, a todo o custo.
Para não ser espoliado, Mike Food resolvera levar o seu gado a Phoenix, onde lho pagariam pelo seu verdadeiro valor. Mas a morte saíra-lhe ao encontro.
O xerife parou por um momento no alto de uma colina, estendeu o braço direito e apontou na direção do desfiladeiro Dourado, que já se via ao longe. O reflexo dos raios do Sol causava um efeito estranho — uma mancha de ouro no meio do verde-escuro dos bosques e da planície — o que originara o seu nome.
—É ali!
Ron baixou a cabeça e reataram a marcha. A sua chegada à entrada do desfiladeiro fez debandar várias aves de rapina e animais ferozes, que se banqueteavam.
— Foi esse canalha do Savold! — disse o xerife, entredentes. — Sim... Não podia ser outro.
Os dois homens apearam-se e desprenderam do arção da sela duas pás, com as quais se entregaram a uma estranha tarefa. Começaram a cavar, numa extensão de quatro metros, uma espécie de trincheira, que ao cabo de uma hora tinha atingido a profundidade de quase três metros. Então, contendo a sua repugnância, deitaram os restos dos cadáveres para dentro da vala.
O xerife murmurou uma breve oração, que Ron escutou de cabeça descoberta, depois do que cobriram a vala. Tratava-se de uns homens valentes. Tinham direito a descansar em paz.
Ron começou a examinar com a maior atenção o desfiladeiro, até à sua desembocadura, enquanto se sentara numa pedra, a fumar um cigarro. De súbito, chamou:
— Xerife. Venha ver isto. — Indicou-lhe uns sinais no chão. — Compreende o que se passou. Um hábil estratagema. O ataque não se deu dentro da garganta do desfiladeiro, mas aqui, à saída. Depois é que levaram os cadáveres para ali. Todos creem que os ataques são efetuados na passagem mais estreita do desfiladeiro. Quer dizer, os ganadeiros mandam um ou dois homens examinar o caminho, e como não encontram nada, continuam confiados, na direção da planície. É, então, que uma chuva de balas certeiras cai sobre eles.
— É infernal! — comentou o xerife. — Duvido de que esta ideia tenha saído da mente de Bert Savold. Deve ter sido do juiz.
Pouco depois regressaram à povoação, combinando entrarem separados, um por cada extremo.
— Agora, nem uma palavra a ninguém da nossa tarefa. É a melhor maneira de descobrirmos os manejos do «trust».
Separaram-se. Ron encaminhou-se logo para o curral, onde entregou a sua montada e as duas pás, gratificando o moço encarregado da abegoaria.
Não obstante todas as suas precauções, um homem advertiu a sua chegada — Larry Jackson. Na primeira oportunidade que se lhe apresentou, saiu do «saloon» em segredo. Mas alguém o vigiava por sua vez: Babe Custer, que o seguiu. E tão bem se houve que o viu entrar na residência de Savold, sem que aquele o visse. Savold olhou, sobressaltado, o seu espião. Devia ter acontecido alguma coisa de extraordinário para que ele se atrevesse a ir ali.
— Que se passa?...
— Não sei bem. Ron Delaney devia ter saído de madrugada. Acaba de chegar. Vinha cheio de pó.
Savold pôs-se a rir.
— Esse maldito não pode descobrir nada.
— Tenha cuidado !...
— Não te preocupes!
Meteu a mão no bolso e tirou algumas notas de Banco, que Jackson se apressou a guardar, saindo depois. Babe tinha agora a confirmação das suas suspeitas e aproveitaria a primeira oportunidade para castigar esse traidor.
Duas horas depois, Danny Hamilton e um dos seus vaqueiros entravam na povoação, dirigindo-se a casa do juiz, que os recebeu com um sorriso.
— Que te traz aqui, Hamilton?
— O desejo de que se faça justiça.
— Não te compreendo. Desde quando não se faz justiça?
— Nunca!
— Endoideceste?
— Não, senhor. Estamos oprimidos por esse abominável «trust». Não se faz nada para deter esses assassinos. Quem são os autores da morte de Mike Food e dos seus homens?
— Ignoro... Mas daria muito para saber quem eles são...
— Todos sabem, juiz Godfrey. No entanto, todos têm medo de o dizer.
— Quem são?...
— Bert Savold e os seus pistoleiros.
— Tens prova disso?
— Não, senhor. Mas conto tê-las em breve.
— Danny. Não se pode acusar ninguém sem provas. Se voltas aqui com essa acusação, ou outra semelhante, terei de mandar-te prender por difamação.
Danny saiu do cartório, despeitado e furioso. Tinha reunido uma boa manada para vender. Mas, de forma alguma, queria vendê-la ao «trust», de que recebia uma quantia miserável que, decerto, não lhe chegaria para pagar as suas dívidas. Se continuasse assim, ver-se-ia obrigado a vender o rancho.
Um grupo de curiosos comentava a trágica jornada de Mike Food. Ao ouvi-los, Hamilton acabou por ficar encolerizado.
— O assassino foi Bert Savold, todos sabem isso muito bem... Mas são uns cobardes... Têm medo... Pois eu não tenho, nem me resigno a vender os meus animais a esse «trust»... Levá-los-ei a Phoenix, embora corra o mesmo risco que Mike.
— Cala-te, rapaz... — aconselhou-o um comerciante.
— Não me calo... porque não o temo.
Um pistoleiro avançou para ele, em atitude ameaçadora.
— Teria ouvido bem?!
— Se não ouviu, posso repetir para ir dizer ao seu chefe.
— Não é preciso... Vou matá-lo por difamador.
Danny não se amedrontou.
— Veremos isso.
E empunhou o seu revólver. Mas o pistoleiro foi mais rápido, não o deixando puxar o gatilho. O jovem cambaleou e caiu, murmurando:
— Virgínia...
O pistoleiro, com um sorriso desdenhoso, tornou a guardar a arma, enquanto olhava os homens que estavam na sua frente. Mas estremeceu, ao ouvir uma voz fria:
— Assassino!
Voltou-se e viu Ron Dalaney.
— Eu não tenho nada contra si...
— E tinha contra esse rapaz ? Por que disparou contra ele?
— Acusou Bert Savold de ser um assassino. E eu defendi este por não estar aqui...
— Pois eu também o acuso... E espero que você o defenda.
— É que...
— Não procure desculpar-se. Isso é próprio de um cobarde.
O pistoleiro empalideceu e teve de puxar pelo «Colt». Mas já não conseguiu o mesmo que momentos antes, pois Ron metera-lhe uma bala na cabeça. Sem lhe dirigir um olhar, sequer, Ron acercou-se de Hamilton e, pondo um joelho em terra, examinou-lhe a ferida. Não era grave. O projétil penetrara-lhe no ombro esquerdo.
— Babe! Vai chamar o médico! Levantou o corpo do jovem e levou-o para o «saloon», deitando-o pouco depois na sua cama. O médico não tardou em aparecer.
— Felizmente, o caso não tem gravidade... O projétil nem chegou a atravessar a omoplata esquerda.
— Eu sei, doutor!
Este olhou-o, admirado.
— Como sabe ?
— Tenho visto muitas... Na Califórnia, cheguei mesmo a ajudar um operador.
O cirurgião começou logo os preparativos para extrair o projétil, o que conseguiu, ao cabo de uma hora, fazendo-lhe depois o penso conveniente, que recomendou fosse renovado todas as manhãs. O vaqueiro que tinha acompanhado Danny voltou-se, então, para o clínico.
— Posso levar o senhor Hamilton para o rancho ?
— Nem pensar nisso... Ele não deve levantar-se da cama por estes dias mais chegados.
O vaqueiro voltou-se para Ron, que pareceu adivinhar o que ele pretendia.
— Vá descansado... Eu tomarei conta dele e não lhe faltará nada.
— Muito obrigado, senhor Delaney! — disse o jovem vaqueiro, que instantes depois voltava ao rancho.
Virgínia ficou sobressaltada, quando o viu. Seu irmão saíra com o vaqueiro e este regressava só. Correu ao seu encontro.
— Que aconteceu a Danny?
— Nada de cuidado, menina. Teve um desafio com um dos pistoleiros de Savold e ficou ferido... Mas sem gravidade...
— Onde se encontra?
— No «saloon». O senhor Delaney ainda chegou a tempo de enfrentar o pistoleiro, matando-o. Eu quis trazer Danny para aqui, mas o médico, que foi chamado à pressa, fez-lhe o tratamento e disse-me que é conveniente que ele fique ali, na cama, durante alguns dias.
Virgínia cambaleou, como aniquilada. Sentia-se envergonhada. Era precisamente o homem que ela humilhara com as suas cruéis palavras, sendo inocente, que agora lhe fazia aquele inapreciável favor.
Não vacilou.
Tinha de ir agradecer-lhe tudo isso. Montando na sua égua, tomou o caminho da povoação, acompanhada pelo vaqueiro. Ela concordara com Danny em levarem ambos o gado diretamente a Phoenix, arrostando o perigo de serem também assaltados pelos quadrilheiros.
Nessa ocasião, ao apear-se à porta do «saloon», já não receou ser vista. Entrou decidida e subiu a escada com passo firme. O vaqueiro seguiu-a.
Quando ia precisamente bater à porta, esta abriu-se e apareceu a alta e esbelta figura de Delaney. Fitaram-se por momentos, em silêncio. Ron afastou-se para ela entrar. Virgínia, porém, não se moveu, resolvendo enfrentar aquela penosa situação.
— Senhor Delaney... Queria dizer-lhe...
— Agora, não tem nada que dizer-me, menina Hamilton. Seu irmão está aí dentro.
Saiu do quarto, inclinou-se ligeiramente e desceu a escada.
— Vaidoso!
Ron ainda a ouviu, mas não se deteve. Virgínia encolheu os ombros. Estava furiosa, como se Ron a tivesse esbofeteado. Abriu a porta, distinguindo logo o pálido semblante de seu irmão. Encaminhou-se para a cama e beijou-o na face.
— Virgínia!
— Então, como te encontras, Danny?
— Bem... graças a Delaney.
— Já sei isso! — retorquiu, com azedume.
Nesse momento, viu Babe Custer que, como um cão de guarda, a um canto, vigiava a cama do doente.
— Desculpe, Custer... Mas o seu amigo portou-se comigo de uma forma grosseira.
— Não é possível. Ron é um cavalheiro.
Virgínia mordeu os lábios.
— Talvez. Mas brusco...
— É lógico... Ele não queria mostrar-se afetuoso...
— Mas eu tentei desculpar-me e agradecer-lhe, e ele não me deixou falar...
— Não se preocupe com isso. Quando tudo estiver arrumado, Ron compreenderá o que se passa...
— Quer dizer que ?... — disse ela, esperançada.
— Estou convencido disso...
O sorriso que Virgínia lhe dirigiu encheu de júbilo Babe Custer. Aquela resoluta jovem correspondia ao amor do seu amigo. Ron fundaria um lar e chegaria a ser um homem poderoso e feliz.
— Por minha culpa, retardou-se a viagem —disse Danny.
— Não se atrasará nada. Nem venderei o gado ao «trust». Eu o levarei a Phoenix.
— Enlouqueceste, Virgínia.
— Não! Sei o que faço e terei a coragem suficiente para isso...
— Mas esses bandidos estão sempre à espreita.
— A menina não deve fazer uma coisa dessas! — disse Babe, por sua vez. — Não tenho medo.
Virgínia despediu-se, tornando a beijar o seu irmão e saiu. Queria ultimar os preparativos para a partida. Levaria o gado, sem recear os ladrões. Conhecia o caminho e os lugares onde podiam estender-lhes a armadilha. Adotaria todas as precauções, embora tivesse de demorar-se mais um ou dois dias.
Babe fitou Danny com um ar perplexo:
— Sua irmã fará o que disse ?
— Estou certo... É teimosa e coisa alguma a dissuadirá disso.
-- Estou a ver que sua irmã é um vivo demónio.
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