segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

BIS170.10 Prisioneiro por traição e pronto para a vingança

Caminharam juntos na direção do «saloon», com o companheiro de Douglas — a quem este apresentou laconicamente como Stubbs — indo do outro lado de Rand.
Douglas ia curiosamente excitado pela situação, causando a Rand a impressão de um leopardo que sente o cheiro de sangue. Mostrou-se muito cortês deixando-lhe a passagem livre para entrar no estabelecimento e, por um instante, Rand temeu que fosse um truque para lhe disparar pelas costas. Contudo, não tardou a abandonar tal ideia.
Frankie Douglas era, segundo parecia, um pistoleiro nato e o que ora suspeitava sobre a sua habilidade com uma arma de fogo na mão levá-lo-ia a provocá-lo para um duelo de morte, no lugar e momento previamente escolhidos, mas nunca o levaria a matá-lo pelas costas nem permitiria que outros o fizessem. De certo modo havia-o marcado como sua presa privativa.
O «saloon» de Waco não era melhor nem pior que outros mil a oeste do Mississípi e a sua clientela também não diferia muito. Oito ou dez granjeiros, outros tantos aventureiros de baixa estofa, poucos — três ou quatro personagens de aparência um pouco mais aceitável, um par de caçadores que bebiam num canto e era tudo. A sua entrada despertou certa curiosidade contida que ficou insatisfeita pois Douglas se comportou com uma estranha cautela e Rand também nada fez para precipitar os acontecimentos.
— De modo que é companheiro de colégio de Seth Markham e propõe-se visitá-lo no seu rancho... Bem, bem... Será uma boa surpresa para ele, sim senhor. Frequentemente, sente a falta dos seus velhos tempos de cavalheiro no Este. Eu também. Por essa razão é também agradável para mim tê-lo encontrado, senhor Allen. Faremos a viagem juntos, claro. O senhor não conhece o caminho e poderia perder-se ou ter algum mau encontro. Talvez saiba que ainda abundam os peles-vermelhas e outros tipos ainda piores, por esta região, apesar dos nossos esforços por a limpar.
Como um gato que brinca com o rato que acaba de aprisionar, Rand concordou, impassível.
— Em Austin ouvi dizer que esta zona anda bastante agitada, sim.
— Oh... De maneira que lhe disseram isso... E não teve nenhum mau encontro durante o caminho até chegar à povoação?
— Procuro cavalgar com os olhos bem abertos, sobretudo quando ando por sítios que não conheço.
— Nunca esteve antes por esta região?
—Já lhe disse que venho de Austin. Cheguei lá ido de Galveston.
—Há muito tempo? Porque veio para o Texas?
— Já são demasiadas perguntas, senhor Douglas, não lhe parece? Eu ainda não lhe fiz nenhuma.
— Oh... Sim, é verdade. Bem, não importa, pode guardar os seus segredos para os contar ao seu amigo Markham. Outra bebida? A senhora Elmer já deve ter o jantar pronto. Espero que me dê o prazer de o considerar meu convidado, senhor Allen...
Rand estava a sentir a mesma ingrata emoção daquele que entra desarmado no escuro covil de uma fera. Mas manteve a sua atitude com serenidade.
— Suponho que se aborreceria se não aceitasse, de modo que aceito.
— Isso está bem, senhor Allen, muito bem; demonstra que é um homem prudente.
Manteve aquele tom cáustico durante o jantar que foi mais suculento do que Rand esperava. Comeram juntos e sós numa das quatro mesas maiores, em frente um do outro.
Durante todo o tempo Douglas tentou habilmente fazê-lo falar. Depois voltaram ao «saloon». Parecia haverem-se convertido em dois excelentes amigos e Douglas convidava-o sem cessar, até dar a impressão de que já tinha bebido um pouco mais do que a conta. Mas Rand sabia que aquilo não era mais que parte do seu jogo astuto. E seguiu-o...
Era mais de meia-noite quando finalmente se foram deitar. No corredor solitário, Douglas avisou-o com o seu tom mordaz.
— O senhor é um homem muito prudente, senhor Allen. Muito... Bem, amanhã faremos juntos essa viagem e será um prazer para mim... partiremos antes de nascer o sol; há um bom punhado de milhas à nossa frente.
Já sozinho no seu quarto, Rand pôs-se a pensar furiosamente. Tinha vindo para Waco com o fim de eliminar suspeitas antes de tempo e também por essa razão entrara por oeste, deixara crescer a barba...
Contava passar um ou dois dias na povoação à espera de que chegasse aos ouvidos de Seth Markham a notícia da sua vinda e que ele se resolvesse a ir à sua procura. Aquilo teria simplificado as coisas, pois Markham nunca se precipitava a agir. Mas agora os acontecimentos haviam tomado um rumo imprevisto e, em vez de se ver diante de Markham via-se na frente do seu sinuoso, arteiro e cruel homem de confiança, um homem sem nervos, que se propunha, sem dúvida, não o deixar chegar ao rancho sem verificar a sua habilidade com o revólver. Ou que talvez suspeitasse da sua identidade com o desconhecido que frustrara o rapto de Isabel um mês antes...
Restavam-lhe dois caminhos. Continuar a fingir que nada receava, esperar pela manhã e acompanhar Douglas e correr todos os riscos, ou procurar fugir agora, montar a cavalo e tentar ganhar um bom par de milhas de avanço, chegando ao rancho muito antes dele.
Mas bastaram-lhe dez minutos de observação pela janela para notar que estava vigiado. Douglas não ia tolerar que lhe estragassem o plano. Teria de enfrentar o imprevisto e encontrar maneira de impedir que o assassinassem em campo descoberto...
Quando bateram à porta já estava preparado, desperto e atento. Douglas, por seu lado, parecia ter dormido todas aquelas horas de um só sono e, à luz do amanhecer, a sua cara parecia mais afilada e a sua boca mais cruel. Os seus olhos de um cinzento-esverdeado rebrilhavam como os de um felino e o seu sorriso era ambíguo.
—Bem, senhor Allen, continua a ser muito sensato. Se ontem tivesse tentado fugir, a estas horas estaria morto, o que não deixaria de ser desagradável.
— Não vejo porque havia de fugir. É para o rancho de Seth Markham, seu patrão, que eu me dirijo e onde pretendo chegar.
— Oh, claro, claro... Bem, desculpe então as minhas palavras e vamos almoçar. Temos de cavalgar muito e o sol aquecerá demoniacamente bem depressa.
Inclusivamente chegou a brincar durante o seu pequeno-almoço. Mas a sua alegria era tão fictícia como a sua descontração.
Rand, por sua vez, seguiu o jogo, prometendo a si próprio dar-lhe alguma coisa em que pensar.
Abandonaram a povoação eles os dois e mais o indivíduo chamado Stubbs, o que era significativo. Durante as primeiras milhas do caminho, a cavalgada foi totalmente plácida. Depois...
— Diga-me, senhor Allen. Em Austin não lhe falaram de um tal dom Pablo Cortês, um fazendeiro desta região?
Era melhor não correr riscos. Rand confirmou.
—  Ouvi falar nisso.
— Oh! E que lhe disseram? Perdoe a minha indiscrição, mas já sabe que sou muito curioso.
— Sei. Ouvi dizer que era inimigo mortal de Markham por qualquer coisa que aconteceu entre os dois há anos.
—E nada mais?
— Não faço perguntas indiscretas às pessoas nem me meto nos assuntos que não me dizem respeito.
— Oh, claro, claro... Eu, pelo contrário, faço-as. Por aqui convém ser curioso de vez em quando, compreende? De modo que não quis saber mais nada sobre os Cortês... pena; teria sabido que dom Pablo tem uma filha formosíssima, Isabel, que é, ao mesmo tempo, a rapariga mais valente de Texas. Claro que o seu amigo Markham se propôs levá-la um destes dias para o seu rancho. Agrada-lhe muito...
Rand olhou fixamente, de frente. Cavalgavam por um vale estreito, bastante arborizado, mas plano e sulcado por um regato bordejado de álamos e salgueiros.
— Quer dizer que se propõe casar com ela?
O sorriso de Douglas tornou-se malvado, cínico.
— Eu não diria tanto. De qualquer maneira essas coisas não o preocupam a si, não é nada curioso... Ena, aí vêm uns poucos de rapazes.
Rand olhou rapidamente. E franziu as sobrancelhas ao ver aproximar-se uma meia dúzia de cavaleiros que acabavam de aparecer por detrás de um bosque. Voltou a olhar para Douglas e notou o seu sorriso cínico, cheio de maldade.
— São homens de Markham, senhor Allen. Bons lutadores, gente dura. Sabe que andam por aqui os índios com certa frequência e é preciso estarmos prevenidos.
Sim, era um pretexto. Mas quando Rand descobriu — sem grande surpresa — a identidade de três dos recém-chegados, soube que tinha caído na armadilha e preparou-se para o pior. Contudo, nada aconteceu durante as duas horas seguintes de marcha.
Os três que havia vencido na tarde anterior limitaram-se a olhá-lo torvamente e depois começaram a cavalgar à retaguarda.
Douglas continuou a soltar as suas frases de dupla intenção com largos intervalos de silêncio, procurando, sem dúvida, arrasar-lhe os nervos. E isso foi tudo. Haviam atravessado o vale, avançando por uns cabeços baixos e entrando depois noutro vale mais amplo e não tão arborizado, onde começaram a ver grupos de gado que, segundo Douglas, eram de Markham. O sol já apertava e o calor aumentava gradualmente.
— Estas são já terras do seu amigo, senhor Allen. Boas terras e bom gado. Seth Markham é um homem rico. Agora acamparemos aí para descansarmos e deixar-mos passar as horas de maior calor, de modo que cheguemos ao rancho ao anoitecer. Não temos nenhuma pressa, não é verdade?
Qualquer coisa disse a Rand que estava a chegar o momento. Mas apesar de estar tão atento a acometida colheu-o de surpresa. Haviam chegado a um lugar ao lado de um pequeno regato de águas límpidas onde cresciam pequenos bosques de choupos muito cerrados e outros mais separados entre si.
Douglas deu ordem para a paragem. Quando Rand desmontava, com as mãos apoiadas no cabeção da sela e o pé esquerdo no ar, Jones, que se encontrava um pouco mais atrás, atirou-se para cima dele e aplicou-lhe um golpe traiçoeiro a meio das costas, fazendo-o cair contra o cavalo e depois para o chão.
Tinha já a mão na coronha do revólver quando recebeu um novo golpe, desta vez na cabeça. Aturdido, caiu no solo sobre as mãos e os joelhos, tentando reagir. Mas, em seguida, caíram-lhe em cima, não um, mas vários homens.
Um cavalo pisou-o dolorosamente, alguém lhe aplicou um rude pontapé, viu o rosto de Douglas contraído por uma careta cruel e ouviu a sua voz fria ordenar:
— Não o matem; isto há-de durar...
Tentou ainda lutar, viu uma bota na direção da sua cabeça e agarrou-a, puxando-a e derrubando o dono. Eram oito homens contra ele, demasiados...
Quando recobrou o conhecimento a primeira coisa que sentiu foi uma dor aguda em todo o corpo que parecia nascer nas extremidades para se concentrar finalmente na nuca, aturdindo-o com intensidade. Ao abrir os olhos soube a causa. Tinham-lhe atado os pulsos a um álamo e os tornozelos a outro de maneira que os raios solares caíssem sobre ele. E devia estar, pelo menos há uma hora, naquele suplício.
— Frankie, voltou a si!
Dominando a terrível dor e as náuseas, procurou os seus verdugos com a vista. Estavam a acabar de selar os cavalos e, pelos vistos, dispunham-se a partir. Aproximaram-se depressa e rodeou-o um semicírculo de rostos brutais nas quais se destacavam o de Jones e o de Douglas, esta última muito mais sádica.
— Ena, senhor Allen, já acordou? Que tal se sente?
— Pandilha... de maldi...tos cobardes... Oito... contra um...
Jones fez menção de lhe bater, mas Douglas impediu-o.
— Deixem-no estar. Tem o direito de se queixar. Como nós temos o direito de o deixar aqui. Sim, senhor Allen; armou-se em esperto, pensou que nos podia enganar com as suas bonitas histórias... Foi pena que nós soubéssemos que mentia, desde o primeiro momento. De maneira que é um recém-chegado de Austin para visitar o seu velho amigo Seth Markham... E onde lhe deram esse tiro na coxa, ainda fresco? Talvez em Galveston ou em Maryland? Olhe para este rapaz: Stubbs. Reconheceu-o apesar da sua barba, mal lhe pôs a vista em cima, maldito mentiroso. Você ia com Isabel Cortês e a sua gente há um mês e a si ficámos a dever em grande parte o facto de termos fracassado no nosso intento. A derrota custou-nos nove mortos, entre eles um bom amigo meu e de Markham que os Cortês enforcaram durante a noite num álamo, na praça de Waco. Também levaram dois feridos para os torturarem e os fazerem falar. Sim, sabemos tudo o que se passou, senhor Allen, como sabemos que você é o mesmo indivíduo que matou em Westdale, há alguns meses o juiz Lowatt, velho conhecido de Markham. Sabíamos que viria a tentar enganar-nos para pôr Seth Markham nas mãos dos Cortés... em troca do seu casamento com Isabel. É pena que estejamos tão bem informados, que tenhamos um bom espião em Valle Hermoso e que lhe tenhamos estragado o seu lindo plano. Agora dir-lhe-ei o que sucederá, senhor Allen. Vamos deixá-lo aqui, para que reflita sobre os inconvenientes de se meter o nariz onde se não é chamado. Irá morrendo pouco a pouco e não será uma morte muito agradável. Depois os abutres comê-lo-ão e os seus amigos nunca saberão como desapareceu, a não ser que Seth queira dizê-lo a Isabel Cortês quando a levar para a cama um destes dias. Porque vamos arrasar a fazenda dos Cortês até aos alicerces, senhor Allen. Será divertido, mas o senhor nunca o poderá ver. Uma pena...
Soltou uma gargalhada agressiva, metálica. Depois ordenou aos outros que montassem a cavalo e ele fez o mesmo enquanto Rand maldizia a sua negra sorte. Já montado voltou a olhá-lo com um sorriso maligno, curvando os lábios.
— Claro que pode tentar a fuga, senhor Allen. Dizem que é um homem de recursos. Possivelmente consegue...
Voltou a rir em voz alta e depois esporeou o cavalo, afastando-se seguido dos seus companheiros e desaparecendo depressa na distância.
Rand teve então um ataque de desespero. Havia sido atraiçoado, vendido, caçado camo um coelho numa armadilha suja...
Havia um traidor, um espião em Valle Hermoso. Quem e como pudera informar-se do seu plano e comunicá-lo tão rapidamente a Markham? Mas aquilo era o que menos importância tinha. Os factos falavam. E os factos colocavam-no ali, muitas milhas para dentro do território de Markham, em pleno deserto, pendente de dois álamos, moído de pancada, imobilizado, à espera de uma morte atroz...
 Seth Markham sabia não só da sua vinda, mas também conhecia a sua identidade e os seus propósitos; havia-se-lhe adiantado à sua maneira e nunca ninguém saberia em Maryland como o havia matado. Depois atacaria Valle Hermoso de surpresa, servindo-se do traidor como de um cavalo de madeira... e faria Isabel sofrer a mesma sorte de sua mãe e da rapariguinha de Olive Talbot...
Tentou cegamente desatar-se. Mas haviam-no ligado com finas correias de couro aos álamos e estava no ar como uma grande aranha impotente. Apenas conseguiu lacerar os pulsos. O sol, no zênite, batia-lhe em cheio, aumentando a tortura atroz. Durante algumas horas, não muitas; talvez conseguisse aguentar até ao dia seguinte, mas não para além do amanhecer...
Caiu num estado semelhante ao de coma. A dor era, tão intensa, que o corpo se lhe havia embotado e já quase não o sentia. Tinha ficado imóvel, agarrando com as duas mãos, maquinalmente, as tiras de couro para aliviar um pouco a pressão sobre os pulsos. Sabia que o esperavam larguíssimas horas de sofrimento e depois...
De súbito, alguns ruídos inconfundíveis penetraram através do seu cérebro embotado fazendo-o abrir os olhos e olhar. O que viu provocou-lhe uma intensa reação de esperança.
Os dois cavaleiros acabavam de atravessar o regato e aproximavam-se a toda a pressa. Um era Pedro Cortês e o outro era, sem dúvida, um dos vaqueiros. Como eles se encontravam ali parecia a Rand um verdadeiro milagre. O jovem Cortês chegou junto dele e respirou aliviado ao ver-lhe os olhos abertos.
— Vamos libertá-lo imediatamente, senhor Allen. Encontra-se bem?
— Posso aguentar. Como estão aqui?
— É uma longa história. Descobrimos que havia um maldito espião em Vale Hermoso, uma hiena de coração negro que comia o nosso pão e vendia os nossos segredos. Descobrimo-lo por acaso, quando um dos nossos pastores o viu juntar-se com um homem de Markham e conversar com ele durante longo tempo. Por fortuna o pastor não se demorou a trazer-nos o aviso, de maneira que o apanhámos e o obrigámos a contar tudo. Um negro bandido, senhor Allen, um dos nossos capatazes. Havia-nos vendido; havia informado Seth Markham da sua identidade, dos seus propósitos... tudo. Uma sua filha era criada na casa e informava-o inocentemente sobre tudo o que ouvia nas nossas conversas.
Já lhe haviam desatado as pernas e cortaram-lhe as correias dos braços enquanto o sustinham no ar. Mesmo assim, mal o largaram, caiu rolando pelo solo com todo o corpo intumescido e cheio de cãibras que o faziam estremecer. Tiveram de o ajudar a chegar ao regato, depois de lhe darem a beber alguns tragos de uísque que o reconfortaram.
Finalmente, embora com dificuldade, e depois de o terem despido completamente para lhe esfregarem o corpo com a bebida alcoólica, meteu-se na água, sentando-se no fundo de um charco de maneira que apenas lhe aparecia a cabeça, enquanto ouvia o resto do relato do jovem Cortês.
— Compreendemos que o senhor estava perdido se não fizéssemos nada para o impedir. Minha irmã queria vir à sua procura, mas dissuadimo-la finalmente e meu pai mandou-me partir. Já sabíamos que não se havia encaminhado diretamente para o rancho de Seth Markham mas que se dirigira para o oeste e suspeitámos que se propunha chegar a Waco, fazendo-se passar por forasteiro. Mariano Jimenez, este vaqueiro, e eu, caminhámos rapidamente para Waco e chegámos ainda de madrugada. Nós, os Cortês, temos um ou dois bons amigos na povoação, gente honrada e leal, também discreta. Fomos à granja de um, perto do centro da povoação e ali nos abrigámos. O nosso amigo estava na praça quando o senhor chegou, presenciou tudo o que sucedeu e veio-nos avisar. Teríamos ido avisá-lo do que sucedia realmente, mas descobrimos que tinham o hotel bem cercado e não nos atrevemos. Por uma conversa surpreendida a dois homens de Markham ficámos com uma vaga ideia do que Douglas tencionava fazer. Então regressámos à granja do nosso amigo, montámos e viemos esconder-nos já dentro das terras de Markham. Depois limitámo-nos a segui-los a certa distância, evitando ser descobertos por eles ou por qualquer dos seus vaqueiros vigilantes. E, logo que pudemos aproximar-nos para o salvar, fizemo-lo...
Tinham-no feito e estava livre novamente. Moído e fatigado, mas livre e na disposição de fazer pagar a dívida...
Rand Allen nunca havia sentido um tão intenso desejo de vingança. Agora já não se tratava simplesmente de fazer justiça, de vingar seres queridos. Agora era também assunto seu...
Saiu da água e vestiu-se de novo. Haviam-lhe tirado o revólver e o punhal, mas tinham-lhe deixado ficar o cinturão das balas. Pedro Cortês perguntou-lhe o que tencionava fazer.
— Está muito, abatido, senhor Allen. Será melhor regressarmos depressa para Vale Hermoso...
— Nada disso, rapaz. Vocês dois, sim, vão regressar, evitando que os encontrem. Quanto a mim, vou continuar.
— Mas...
— Ouve. Agora é precisamente quando melhor poderei realizar o meu plano. Eles hão-de julgar-me moribundo, ligado aos álamos, e não poderão sonhar que estou livre e disposto a ajustar contas com eles. Necessitarei de um cavalo, de uma das vossas espingardas, de um punhal e do teu revólver. Isso chegar-me-á. Agora repousarei até ao anoitecer, recuperando forças. Depois, vocês retrocederão pelo mesmo caminho por onde vieram e eu irei ao rancho de Markham.
O rapaz hesitou durante uns instantes. Depois decidiu-se.
— Senhor Allen, tenho de lhe dizer. Meu pai e minha irmã não podiam deixar que o senhor, só, corresse tantos riscos. Enviaram um aviso a «Lobo Negro», o chefe «comanche», por Barclay. Os «comanches» descerão sobre o vale amanhã mesmo, ao amanhecer e também nós subiremos, com cinquenta homens bem armados, para arrasarmos a terra de Markham. A ideia é fazer sair o maior número possível de homens do rancho, de maneira que o senhor possa realizar o seu plano com maiores probabilidades de êxito.
De modo que tinham planeado aquilo...!
Bem, não podia dizer que lamentasse. Agora já não. «Comanches», texanos antigos, aventureiros e criminosos americanos... Ele já havia tomado um partido e guerra é guerra.
— Compreendo. Bem, rapazes, pois isso não há-de modificar o meu plano. Regressem e quando se reunirem com a nossa gente cavalguem sobre o rancho, deixando--se de perseguir cavaleiros isolados. Eu estarei lá dentro quando chegarem...
 

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