Aqueles três dias de inatividade e falta de notícias passaram penosamente para McGinnis.
Na manhã do quarto dia, resolveu ir ao rancho sob mil e um pretextos que escondiam o principal, e entre estes a escassez de alimentos e tabaco. Entregou a chefia do posto a Grant e partiu. Cavalgava não muito depressa, seguindo a cerca que dividia as duas fazendas em litígio. Resolvera seguir aquele itinerário para verificar o estado daquela. Só muito tarde avistou o cavalo que pastava calmamente do lado dos terrenos de Hook e o vulto caído por terra.
— Socorro! Parecia uma voz de mulher.
McGinnis parou.
— Ajude-me, por favor.
Aquilo podia ser um ardil, pensou o preto.
— Que lhe aconteceu? — gritou. — Caí do cavalo. Creio que tenho qualquer coisa partida porque não me posso mexer! — e juntou um gemido às palavras.
Para o diabo com as precauções — congeminou Franck fazendo a montada saltar por cima da cerca. Ela era jovem e bonita. Estava caída por terra, uma perna dobrada por baixo da outra.
— Dói-me muito — gemeu.
— Como foi isso? — McGinnis desmontou e estendeu-lhe cuidadosamente a perna dobrada. Ela gemeu.
— O cavalo empinou-se. Maldito cavalo!
— Acha que poderá andar?
— Não. Já experimentei. Se você não aparecesse apodreceria aqui.
Tinha um rosto bonito, olhos castanhos e cabelo alourado. Vestia umas calças justas que revelavam a formosura das suas formas.
— Que vamos fazer? — perguntou Franck, a quem não ocorria a mínima ideia. — Leve-me ao rancho, por favor.
Ela devia sofrer bastante. «Se apareço no rancho de Hook, mesmo tendo em conta que levo esta rapariga que lhe deve pertencer, sou um homem morto!» — magicou o jovem, acabando por dizer em voz alta:
— Acho que isso não é possível. Hook e eu não somos muito afeiçoados um pelo outro.
— Este sol — balbuciou a rapariga semicerrando os olhos. — Aqui próximo há um barracão. Acha que me pode levar pelo menos até lá?
— É longe?
— Não. Cinco minutos a cavalo, indo em passo moderado.
— Vamos lá.
Quando a apanhou para a levar para a sua montada, o contacto com o corpo feminino perturbou McGinnis. Nunca conseguia ser insensível à aproximação de um corpo de mulher. Depô-la sobre o cavalo e ele próprio montou. Depois, segurando-a com uma mão e com a outra as rédeas do cavalo dela, seguiu na direção que ela lhe indicara. O barracão ficava a menos de cinco minutos. Era uma construção velha que servia de arrecadação dos utensílios agrícolas. Havia um monte de erva que McGinnis estendeu, para deitar a jovem.
— Obrigado por tudo.
— Não precisa agradecer — respondeu o moço, indo à porta espreitar.
— Não tenha receio — disse-lhe ela. — Os homens de meu irmão nunca vêm para estes lados. Sente-se aqui ao pé de mim. Conversando atenuarei as dores que sinto.
Franck obedeceu.
— Você é um homem forte, McGinnis! — ela apalpava-lhe os músculos dos braços vigorosos.
Ao ouvir o seu nome pronunciado por aquela desconhecida, o preto ficou subitamente alerta.
— Como sabe o meu nome?!
— Nós em casa falamos muito de si e não podia equivocar-me numa outra pessoa...
«Sim, sou PRETO» — pensou o moço.
— Sou Patrícia Hook! Tem razão ao afirmar que meu irmão não morre de amores pela sua pessoa! Acho que, até o mataria se pudesse! — riu como se acabasse de dizer a piada mais engraçada do mundo. — Mas, eu sou do contra. Por isso gosto de si. A presença de homens fortes perturba-me e confunde-me...
McGinnis estava vigilante. Convencera-se de que caíra numa emboscada ardilosamente preparada e não queria ser apanhado desprevenido.
— Porque não me beijas, McGinnis?
«Esta rapariga é o demónio em pessoa!» — refletiu Franck, apercebendo-se que, cada vez com mais intensidade, caía nas garras daquela sedução, sem poder libertar-se. — «Este meu maldito temperamento curtido pelos sóis e noitadas à deriva pela imensa pradaria!».
Depois de a beijar reparou, com assombro que ela ria perdidamente e se levantava. Sem compreender o que se passava, começou por murmurar:
— Então, a queda do cavalo...
— Pura brincadeira! — riu gostosamente. — Foi o modo mais fácil para te atrair. De outra maneira tu não virias.
McGinnis olhava-a meio aturdido e a consciência acusava-o impiedosamente, pela primeira vez na vida. A imagem de Helena Estapoole veio-lhe ao pensamento e aquela lembrança doeu-lhe como um espinho cravado na pele. Era um canalha, um miserável. De que valiam as suas promessas de uma vida nova, diferente daquela que tivera anteriormente, se não era capaz de dominar os seus instintos, de se fazer homem, de viver de outra forma, sem ser na adoração dos seus instintos selvagens e desprezíveis? Se o soubesse fazer, apetecia-lhe chorar.
— Estás tão calado. Em que pensas? — perguntou ela.
— O que pensas tu da vida, Patrícia?
Ela esbugalhou os olhos ante aquela insólita e despropositada pergunta e deu uma resposta que se coadunava com a sua maneira de ser e de sentir as coisas:
— A vida?! A vida, para mim, é para ser gozada. Tudo neste mundo é para ser gozado: um cavalo, uma carruagem, uma casa...
Era mesmo assim. Patrícia definia-se pela bitola com que regulava os gostos. McGinnis levantou-se. Ela veio acariciar-lhe os braços.
— Gosto de ti. Tornar-nos-emos a ver? — perguntou com uma certa ansiedade na voz.
— Não! — foi a rude resposta que recebeu.
Riu sem se ofender.
— És duro. Por isso gosto de ti. Sabia que eras assim e não fiquei desiludida. Odeio meu irmão por te odiar a ti. Mas ele quer ser rico e poderoso; eu apenas anseio por ser amada. Estás calado de mais. Em que pensas?
Pela segunda vez não recebeu resposta.
— Em mim? — riu.
Ela era bela e mais bela ainda, quando se ria. Como podia ela saber o que pensava McGinnis? Se o pudesse, veria que ele pensava em Helena Estapoole, que algo de muito querido e sagrado se desmoronava dentro dele. Como podia ele, agora, voltar à presença da sua amada, se não se sentia digno de merecer o seu amor? Inopinadamente, McGinnis saiu da cabana, montando e afastando-se, a galope, de Patrícia, quando esta ainda esperava ser, pelo menos, beijada...
Na manhã do quarto dia, resolveu ir ao rancho sob mil e um pretextos que escondiam o principal, e entre estes a escassez de alimentos e tabaco. Entregou a chefia do posto a Grant e partiu. Cavalgava não muito depressa, seguindo a cerca que dividia as duas fazendas em litígio. Resolvera seguir aquele itinerário para verificar o estado daquela. Só muito tarde avistou o cavalo que pastava calmamente do lado dos terrenos de Hook e o vulto caído por terra.
— Socorro! Parecia uma voz de mulher.
McGinnis parou.
— Ajude-me, por favor.
Aquilo podia ser um ardil, pensou o preto.
— Que lhe aconteceu? — gritou. — Caí do cavalo. Creio que tenho qualquer coisa partida porque não me posso mexer! — e juntou um gemido às palavras.
Para o diabo com as precauções — congeminou Franck fazendo a montada saltar por cima da cerca. Ela era jovem e bonita. Estava caída por terra, uma perna dobrada por baixo da outra.
— Dói-me muito — gemeu.
— Como foi isso? — McGinnis desmontou e estendeu-lhe cuidadosamente a perna dobrada. Ela gemeu.
— O cavalo empinou-se. Maldito cavalo!
— Acha que poderá andar?
— Não. Já experimentei. Se você não aparecesse apodreceria aqui.
Tinha um rosto bonito, olhos castanhos e cabelo alourado. Vestia umas calças justas que revelavam a formosura das suas formas.
— Que vamos fazer? — perguntou Franck, a quem não ocorria a mínima ideia. — Leve-me ao rancho, por favor.
Ela devia sofrer bastante. «Se apareço no rancho de Hook, mesmo tendo em conta que levo esta rapariga que lhe deve pertencer, sou um homem morto!» — magicou o jovem, acabando por dizer em voz alta:
— Acho que isso não é possível. Hook e eu não somos muito afeiçoados um pelo outro.
— Este sol — balbuciou a rapariga semicerrando os olhos. — Aqui próximo há um barracão. Acha que me pode levar pelo menos até lá?
— É longe?
— Não. Cinco minutos a cavalo, indo em passo moderado.
— Vamos lá.
Quando a apanhou para a levar para a sua montada, o contacto com o corpo feminino perturbou McGinnis. Nunca conseguia ser insensível à aproximação de um corpo de mulher. Depô-la sobre o cavalo e ele próprio montou. Depois, segurando-a com uma mão e com a outra as rédeas do cavalo dela, seguiu na direção que ela lhe indicara. O barracão ficava a menos de cinco minutos. Era uma construção velha que servia de arrecadação dos utensílios agrícolas. Havia um monte de erva que McGinnis estendeu, para deitar a jovem.
— Obrigado por tudo.
— Não precisa agradecer — respondeu o moço, indo à porta espreitar.
— Não tenha receio — disse-lhe ela. — Os homens de meu irmão nunca vêm para estes lados. Sente-se aqui ao pé de mim. Conversando atenuarei as dores que sinto.
Franck obedeceu.
— Você é um homem forte, McGinnis! — ela apalpava-lhe os músculos dos braços vigorosos.
Ao ouvir o seu nome pronunciado por aquela desconhecida, o preto ficou subitamente alerta.
— Como sabe o meu nome?!
— Nós em casa falamos muito de si e não podia equivocar-me numa outra pessoa...
«Sim, sou PRETO» — pensou o moço.
— Sou Patrícia Hook! Tem razão ao afirmar que meu irmão não morre de amores pela sua pessoa! Acho que, até o mataria se pudesse! — riu como se acabasse de dizer a piada mais engraçada do mundo. — Mas, eu sou do contra. Por isso gosto de si. A presença de homens fortes perturba-me e confunde-me...
McGinnis estava vigilante. Convencera-se de que caíra numa emboscada ardilosamente preparada e não queria ser apanhado desprevenido.
— Porque não me beijas, McGinnis?
«Esta rapariga é o demónio em pessoa!» — refletiu Franck, apercebendo-se que, cada vez com mais intensidade, caía nas garras daquela sedução, sem poder libertar-se. — «Este meu maldito temperamento curtido pelos sóis e noitadas à deriva pela imensa pradaria!».
Depois de a beijar reparou, com assombro que ela ria perdidamente e se levantava. Sem compreender o que se passava, começou por murmurar:
— Então, a queda do cavalo...
— Pura brincadeira! — riu gostosamente. — Foi o modo mais fácil para te atrair. De outra maneira tu não virias.
McGinnis olhava-a meio aturdido e a consciência acusava-o impiedosamente, pela primeira vez na vida. A imagem de Helena Estapoole veio-lhe ao pensamento e aquela lembrança doeu-lhe como um espinho cravado na pele. Era um canalha, um miserável. De que valiam as suas promessas de uma vida nova, diferente daquela que tivera anteriormente, se não era capaz de dominar os seus instintos, de se fazer homem, de viver de outra forma, sem ser na adoração dos seus instintos selvagens e desprezíveis? Se o soubesse fazer, apetecia-lhe chorar.
— Estás tão calado. Em que pensas? — perguntou ela.
— O que pensas tu da vida, Patrícia?
Ela esbugalhou os olhos ante aquela insólita e despropositada pergunta e deu uma resposta que se coadunava com a sua maneira de ser e de sentir as coisas:
— A vida?! A vida, para mim, é para ser gozada. Tudo neste mundo é para ser gozado: um cavalo, uma carruagem, uma casa...
Era mesmo assim. Patrícia definia-se pela bitola com que regulava os gostos. McGinnis levantou-se. Ela veio acariciar-lhe os braços.
— Gosto de ti. Tornar-nos-emos a ver? — perguntou com uma certa ansiedade na voz.
— Não! — foi a rude resposta que recebeu.
Riu sem se ofender.
— És duro. Por isso gosto de ti. Sabia que eras assim e não fiquei desiludida. Odeio meu irmão por te odiar a ti. Mas ele quer ser rico e poderoso; eu apenas anseio por ser amada. Estás calado de mais. Em que pensas?
Pela segunda vez não recebeu resposta.
— Em mim? — riu.
Ela era bela e mais bela ainda, quando se ria. Como podia ela saber o que pensava McGinnis? Se o pudesse, veria que ele pensava em Helena Estapoole, que algo de muito querido e sagrado se desmoronava dentro dele. Como podia ele, agora, voltar à presença da sua amada, se não se sentia digno de merecer o seu amor? Inopinadamente, McGinnis saiu da cabana, montando e afastando-se, a galope, de Patrícia, quando esta ainda esperava ser, pelo menos, beijada...
Sem comentários:
Enviar um comentário