Três dias depois, apareceu em Broad Pace outro rancheiro com uma excelente manada. Os vaqueiros entraram a gritar, na Rua Maior. Mas os seus gritos, embora alegres, não eram espontâneos. Esforçavam-se por mostrar um júbilo que não sentiam.
Bert Savold já estava na povoação, acompanhado de seis dos seus homens. O seu rosto oferecia um aspeto horrível, trazia um olho fechado pela inchação, tinha muitas feridas e hematomas. Foi ao encontro do rancheiro, formulando a sua pergunta habitual:
— Então? Como foi a jornada?
— Menos mal. O gado é que perdeu algum peso... Qual é o preço, Savold?
— O mesmo que da vez anterior.
— Isso é muito pouco. Estou tentado a reatar a marcha...
— Isso é consigo... O senhor precisa de uma boa equipa de vaqueiros para poder resistir às quadrilhas de salteadores que infestam a região.
— Eu sei, senhor Savold — disse o rancheiro com tristeza...
— E expõe-se portanto, a perder tudo...
— Sim... Não posso pôr em perigo as vidas dos meus homens.
O rancheiro estava indignado. Tinha de aceitar a situação e fechou o negócio. Bert Savold pagou o custo do rebanho e afastou-se. O rancheiro vira-lhe o rosto desfigurado. Estava inteirado do que se tinha passado e agradecia intimamente a Ron Delaney tê-lo vingado em parte.
Por seu lado, Savolt sentia-se satisfeito. O recém-chegado também não se atrevera a opor-se, embora, na realidade, isso não lhe importasse. Os seus homens teriam caído sobre eles.
Um dos ranchos das proximidades encontrava-se numa situação angustiosa. Esperava a chegada do dono, de um dia para o outro. Lamentar-se-ia e acabaria por aceitar o preço que lhe oferecessem. Não faltaria muito tempo para que ele e o juiz Godfrey fossem donos daquelas terras prósperas e férteis. Os seus planos tinham-se desenrolado como Lawrence Godfrey traçara: O juiz pedira a sua ajuda para se colocar à frente de um grupo de pistoleiros. Ele era o homem indicado para espalhar o terror no vale, a sua brutalidade era temida pelos habitantes da região. Agora aparecia-lhe aquele obstáculo: o maldito forasteiro.
Uma sombra passou pelo seu rosto ao recordar a luta que tivera com Ron Delaney. O seu prestígio ficara fortemente abalado, caíra por terra, ao ser vencido daquela forma tão retumbante.
O pior era que não se atrevia a procurar a desforra. Reconhecia a superioridade do seu adversário, a sua rapidez e pontaria. Numa palavra: temia Ron Delaney. Mas tinha a certeza de que o «saloon» não tardaria em mudar de dono. Delaney não viveria muito tempo. Os seus homens tratariam de liquidá-lo. Uma armadilha habilmente preparada bastaria para tirar esse obstáculo do seu caminho. E quanto a Babe Custer, cairia também ao lado dele.
Ron Delaney estava furioso. Soubera das últimas transações efetuadas pelo «trust», por intermédio de Savold. Aparentemente, refizera-se do abalo sofrido, como se já não se lembrasse da conversa com Virgínia. Mas Babe Custer, que o conhecia, por dentro e por fora, sabia que não era assim. A dor continuava a atenazar-lhe o espírito. Babe encolheu os ombros. Já não dava importância ao caso. Tinha a certeza de que, se conseguissem triunfar, desfazendo o poderoso «trust», tudo se arranjaria satisfatoriamente.
***
Antes do anoitecer, chegou outra manada. Bert Savold saiu ao encontro do rancheiro e fecharam o negócio, com o visível descontentamento do ganadeiro.
Savold estava satisfeito. Todos os rancheiros aceitavam as condições impostas, sem respingar. Apesar da sua derrota com Delaney, o seu prestígio continuava firme. Dirigiu-se ao escritório do juiz. Lawrence Godfrey sorriu, ao vê-lo.
— Olá, Savold ! Há quantos dias não te via!
— Tenho andado muito atarefado.
— Vê-se, pela tua cara! — replicou Godfrey, com sarcasmo.
— Esse maldito Delaney há-de pagar-me tudo, com juros.
-- Que seja quanto antes. É um homem perigoso e um inimigo do «trust», segundo me disseram.
— Eu já calculava. Pagará a sua desfaçatez.
— Tem cuidado.
— Terei. Sabes ?! Estão em meu poder duas excelentes manadas, pelo mesmo preço, é claro. Eles resmungam, protestam, mas acabam sempre por ceder.
— Eu bem te disse que era um negócio esplêndido. A situação dos rancheiros é cada vez mais crítica, e por este andar, começarão a vender as suas propriedades, e no próximo ano toda a região nos pertencerá...
Bert Savold fitou o juiz com admiração. Era um homem inteligente, astucioso. E com a sua decisão e audácia o «trust» não podia fracassar.
— Os Hamilton estão em apuros. É certo que são obstinados, teimosos, mas ver-se-ão obrigados a vender o rancho.
Godfrey esfregou as mãos, num gesto que lhe era peculiar.
— Será um dos melhores negócios. O xerife está cada vez mais áspero. Já estou farto dele.
— Quer que o faça «desaparecer»?
— Nunca julguei essa medida conveniente. Mas agora... está insuportável. Estou inteirado mesmo que se tornou amigo desse tal Delaney, o que me parece perigoso.
— Ora! — exclamou Savold, com ar desdenhoso. — Por esse lado, nada receio...
— Não devemos confiar muito... Não existe inimigo pequeno. É um velha sentença, que tive sempre em conta...
Nesse momento, alguém bateu à porta. O juiz respondeu, enquanto Savold se punha numa posição cautelosa. Era um dos seus homens.
— Que queres, Nardico?
— Acaba de chegar um camarada meu com a notícia de que Mike Food continua para diante com a manada... sem parar aqui ...
Savold pregou um soco na mesa.
— Esse imbecil pagará caro a sua audácia.
— É lamentável! — observou o juiz, com cinismo.
— Mas conveniente. Será mais uma lição para os outros. Ele e os seus vaqueiros serão encontrados mortos. Nem um só escapará...
— É preciso cautela! — recomendou Godfrey.
— O senhor já conhece a minha habilidade.
E soltou uma gargalhada.
Quando saiu do cartório do juiz, já tinha tudo planeado. Combinou com Nardico o lugar onde tinham de esperá-lo os homens que deviam atacar Mike Food e os seus vaqueiros. Depois, acompanhado de um dos seus sequazes, encaminhou-se para o «saloon». Queria que o vissem, para desviar qualquer suspeita. Evidentemente, tratava-se de um duro trago voltar ao «saloon». Mas tinha de fazer esse sacrifício.
O «barman» ficou assombrado ao vê-lo acercar-se do balcão para pedir dois uísques. Babe franziu as sobrancelhas. Ron Delaney observou-o impassível, mas de pé-atrás. Savold tramava alguma coisa, decerto.
— Olá, Delaney!
Ron voltou-se lentamente para ele.
— Encontra-se melhor?
— Encontro-me. Reconheço a minha derrota. Foi uma lição dura. Agora estamos em paz.
— Naturalmente. Já não tenho nada contra si.
— Convido-o a beber.
— Obrigado.
Todos os fregueses, ao ouvirem estas palavras, sorriram satisfeitos. Era a costumada nobreza do Oeste. Um homem não podia odiar outro porque o tivesse vencido. Reconhecer a sua superioridade era digno de um vaqueiro.
A atitude de Ron, sem ser cordial, foi correta, ao ouvi-lo referir alguns pormenores da peleja. Depois, com o pretexto de que tinha de ocupar-se do «saloon», vigiando tudo, despediu-se dele.
Savold reprimiu um sorriso de satisfação. Conseguira enganar o seu inimigo. Quando este menos esperasse, os seus homens liquidá-lo-iam. Conservou-se ainda ali algum tempo, tendo saído misturado com outros fregueses. Depois, juntamente com o vaqueiro montaram nos seus cavalos, não tardando a sair da povoação, para ir ao encontro de Nardico, no sítio combinado.
Quando amanheceu, os salteadores já estavam emboscados a pouca distância da desembocadura de um desfiladeiro, ocupando cada um o seu posto.
A manada de Food não tardou a aparecer ao longe. Os vaqueiros cavalgavam, adotando infinitas precauções, a fim de evitarem ser surpreendidos pela quadrilha de abactores. Mike Food, um homem seco, de olhar penetrante, ia à frente.
Quando chegaram à entrada do desfiladeiro, Mike levantou o braço direito. Todos pararam. Os ladrões de gado costumavam geralmente emboscar-se, espalhados, numa estreita passagem, para que o seu tiroteio resultasse mais eficiente. Food não queria cair nessa armadilha. Mandou dois vaqueiros irem pesquisar, com infinitas precauções, o desfiladeiro.
Uma hora depois, voltaram dizendo que o desfiladeiro estava deserto.
O ganadeiro ordenou, então, que reatassem a marcha, que se efetuou sem o menor contratempo. Todavia, a angústia que oprimia todos esses homens, ia-se dissipando à medida que avançavam com o gado, dando lugar a uma esperança, ansiosos como estavam de ver-se no espaço livre. Quando já iam a sair do desfiladeiro, Mike Food soltou um suspiro de alívio.
— Por agora vai tudo bem...
— Assim parece, patrão...
Ainda não acabara de pronunciar estas palavras, quando soou uma detonação e o desventurado vaqueiro caiu do cavalo, depois de ter soltado um grito.
Mike Food lançou um grito de alarme, mas já era tarde. Vários tiros caíram sobre os vaqueiros, semeando a morte e a confusão. As reses assustadas, algumas mesmo feridas, debatiam-se umas contra outras, corneando-se, num caos indescritível.
Savold e os seus homens não cessavam de disparar, ao mesmo tempo que procuravam evitar que o gado saísse para a planície, onde se espalharia. Ao ver Mike Food ainda com vida, Savold apontou-lhe o rifle e disparou.
O desgraçado ganadeiro não teve tempo de ver donde o tiro partira, nem quem o disparara. A bala penetrara-lhe na cabeça. Só tinha ficado um vaqueiro que, horrorizado pela morte de todos os seus companheiros, tentou fugir.
Viu-se, porém, perseguido por três salteadores. Ao compreender que não podia salvar-se, voltou o cavalo, de súbito, e tomando uma decisão heroica, sacou os dois «Colt» e despejou-os contra os seus perseguidores, dois dos quais caíram atingidos pelos seus projéteis. Depois, foi a sua vez. E caiu do cavalo, crivado de balas.
Os bandidos lançaram gritos de triunfo, que soaram lúgubres no desfiladeiro. Bert Savold sorria. Nada podia evitar o triunfo do poderoso «trust», embora na realidade fosse apenas constituído por Savold e pelo juiz Godfrey.
Enquanto alguns homens procuravam reunir o gado, outros conduziram os cadáveres para dentro do desfiladeiro, em conformidade com o plano do juiz. Só os cadáveres dos três salteadores é que foram enterrados. O do ganadeiro Food foi colocado sobre o seu cavalo e levado até à beira de um abismo, donde obrigaram a tiro o animal a precipitar-se nele. Este ataque acabaria de desmoralizar os rancheiros da região.
Uma hora depois, Savold entrava no «saloon» com a maior serenidade. Na povoação, ainda não se sabia da morte do ganadeiro e dos seus vaqueiros, o que constituía uma vantagem para ele.
Savold sentou-se a uma mesa, acompanhado de Nardico. Tanto Ron como Babe não os perdiam de vista. O hercúleo sócio de Ron estava também atento ao criado Larry Lackson, que costumava servir Savold, pois andava desconfiado de que ele era um apaniguado do rancheiro. Quando o criado se acercou da mesa, Savold perguntou-lhe em voz baixa:
— Houve alguma novidade durante a nossa ausência?
— Absolutamente nada.
— Está bem. Traze-nos uma garrafa de uísque.
Meia hora depois, um cavaleiro entrou à desfilada do seu cavalo na povoação. Um transeunte, que o conhecia, perguntou-lhe:
— Aconteceu alguma coisa, Frankie ? O vaqueiro moderou o galope do animal.
Mike e os seus vaqueiros foram assaltados e assassinados por uma quadrilha de ladrões de gado, no desfiladeiro Dourado. Pouco depois, detinha-se à porta do «saloon», não tardando a ver-se rodeado pelo numeroso grupo de fregueses que tinham acorrido à rua. Relatou, então, minuciosamente a forma como descobrira os cadáveres sobre os quais os coiotes e outras feras tinham caído devoradores.
Ouviram-se comentários de indignação. O xerife ainda ouviu algumas palavras do relato feito pelo vaqueiro. Não tinha dúvidas de que esse assalto devia ser obra de Bert Savold.
A sua revolta e indignação subiram de ponto quando ouviu este dizer :
— Esses bandidos só se atrevem a assaltar pequenos grupos de vaqueiros. A nós é que eles não se decidem a atacar, porque temos uma equipa numerosíssima. É essa a vantagem do nosso «trust».
O xerife esteve quase a insultá-lo, deitando-lhe em cara a sua cobardia. Mas conteve-se. Com isso não conseguiria nada, a não ser a sua própria morte.
Bert Savold já estava na povoação, acompanhado de seis dos seus homens. O seu rosto oferecia um aspeto horrível, trazia um olho fechado pela inchação, tinha muitas feridas e hematomas. Foi ao encontro do rancheiro, formulando a sua pergunta habitual:
— Então? Como foi a jornada?
— Menos mal. O gado é que perdeu algum peso... Qual é o preço, Savold?
— O mesmo que da vez anterior.
— Isso é muito pouco. Estou tentado a reatar a marcha...
— Isso é consigo... O senhor precisa de uma boa equipa de vaqueiros para poder resistir às quadrilhas de salteadores que infestam a região.
— Eu sei, senhor Savold — disse o rancheiro com tristeza...
— E expõe-se portanto, a perder tudo...
— Sim... Não posso pôr em perigo as vidas dos meus homens.
O rancheiro estava indignado. Tinha de aceitar a situação e fechou o negócio. Bert Savold pagou o custo do rebanho e afastou-se. O rancheiro vira-lhe o rosto desfigurado. Estava inteirado do que se tinha passado e agradecia intimamente a Ron Delaney tê-lo vingado em parte.
Por seu lado, Savolt sentia-se satisfeito. O recém-chegado também não se atrevera a opor-se, embora, na realidade, isso não lhe importasse. Os seus homens teriam caído sobre eles.
Um dos ranchos das proximidades encontrava-se numa situação angustiosa. Esperava a chegada do dono, de um dia para o outro. Lamentar-se-ia e acabaria por aceitar o preço que lhe oferecessem. Não faltaria muito tempo para que ele e o juiz Godfrey fossem donos daquelas terras prósperas e férteis. Os seus planos tinham-se desenrolado como Lawrence Godfrey traçara: O juiz pedira a sua ajuda para se colocar à frente de um grupo de pistoleiros. Ele era o homem indicado para espalhar o terror no vale, a sua brutalidade era temida pelos habitantes da região. Agora aparecia-lhe aquele obstáculo: o maldito forasteiro.
Uma sombra passou pelo seu rosto ao recordar a luta que tivera com Ron Delaney. O seu prestígio ficara fortemente abalado, caíra por terra, ao ser vencido daquela forma tão retumbante.
O pior era que não se atrevia a procurar a desforra. Reconhecia a superioridade do seu adversário, a sua rapidez e pontaria. Numa palavra: temia Ron Delaney. Mas tinha a certeza de que o «saloon» não tardaria em mudar de dono. Delaney não viveria muito tempo. Os seus homens tratariam de liquidá-lo. Uma armadilha habilmente preparada bastaria para tirar esse obstáculo do seu caminho. E quanto a Babe Custer, cairia também ao lado dele.
Ron Delaney estava furioso. Soubera das últimas transações efetuadas pelo «trust», por intermédio de Savold. Aparentemente, refizera-se do abalo sofrido, como se já não se lembrasse da conversa com Virgínia. Mas Babe Custer, que o conhecia, por dentro e por fora, sabia que não era assim. A dor continuava a atenazar-lhe o espírito. Babe encolheu os ombros. Já não dava importância ao caso. Tinha a certeza de que, se conseguissem triunfar, desfazendo o poderoso «trust», tudo se arranjaria satisfatoriamente.
***
Antes do anoitecer, chegou outra manada. Bert Savold saiu ao encontro do rancheiro e fecharam o negócio, com o visível descontentamento do ganadeiro.
Savold estava satisfeito. Todos os rancheiros aceitavam as condições impostas, sem respingar. Apesar da sua derrota com Delaney, o seu prestígio continuava firme. Dirigiu-se ao escritório do juiz. Lawrence Godfrey sorriu, ao vê-lo.
— Olá, Savold ! Há quantos dias não te via!
— Tenho andado muito atarefado.
— Vê-se, pela tua cara! — replicou Godfrey, com sarcasmo.
— Esse maldito Delaney há-de pagar-me tudo, com juros.
-- Que seja quanto antes. É um homem perigoso e um inimigo do «trust», segundo me disseram.
— Eu já calculava. Pagará a sua desfaçatez.
— Tem cuidado.
— Terei. Sabes ?! Estão em meu poder duas excelentes manadas, pelo mesmo preço, é claro. Eles resmungam, protestam, mas acabam sempre por ceder.
— Eu bem te disse que era um negócio esplêndido. A situação dos rancheiros é cada vez mais crítica, e por este andar, começarão a vender as suas propriedades, e no próximo ano toda a região nos pertencerá...
Bert Savold fitou o juiz com admiração. Era um homem inteligente, astucioso. E com a sua decisão e audácia o «trust» não podia fracassar.
— Os Hamilton estão em apuros. É certo que são obstinados, teimosos, mas ver-se-ão obrigados a vender o rancho.
Godfrey esfregou as mãos, num gesto que lhe era peculiar.
— Será um dos melhores negócios. O xerife está cada vez mais áspero. Já estou farto dele.
— Quer que o faça «desaparecer»?
— Nunca julguei essa medida conveniente. Mas agora... está insuportável. Estou inteirado mesmo que se tornou amigo desse tal Delaney, o que me parece perigoso.
— Ora! — exclamou Savold, com ar desdenhoso. — Por esse lado, nada receio...
— Não devemos confiar muito... Não existe inimigo pequeno. É um velha sentença, que tive sempre em conta...
Nesse momento, alguém bateu à porta. O juiz respondeu, enquanto Savold se punha numa posição cautelosa. Era um dos seus homens.
— Que queres, Nardico?
— Acaba de chegar um camarada meu com a notícia de que Mike Food continua para diante com a manada... sem parar aqui ...
Savold pregou um soco na mesa.
— Esse imbecil pagará caro a sua audácia.
— É lamentável! — observou o juiz, com cinismo.
— Mas conveniente. Será mais uma lição para os outros. Ele e os seus vaqueiros serão encontrados mortos. Nem um só escapará...
— É preciso cautela! — recomendou Godfrey.
— O senhor já conhece a minha habilidade.
E soltou uma gargalhada.
Quando saiu do cartório do juiz, já tinha tudo planeado. Combinou com Nardico o lugar onde tinham de esperá-lo os homens que deviam atacar Mike Food e os seus vaqueiros. Depois, acompanhado de um dos seus sequazes, encaminhou-se para o «saloon». Queria que o vissem, para desviar qualquer suspeita. Evidentemente, tratava-se de um duro trago voltar ao «saloon». Mas tinha de fazer esse sacrifício.
O «barman» ficou assombrado ao vê-lo acercar-se do balcão para pedir dois uísques. Babe franziu as sobrancelhas. Ron Delaney observou-o impassível, mas de pé-atrás. Savold tramava alguma coisa, decerto.
— Olá, Delaney!
Ron voltou-se lentamente para ele.
— Encontra-se melhor?
— Encontro-me. Reconheço a minha derrota. Foi uma lição dura. Agora estamos em paz.
— Naturalmente. Já não tenho nada contra si.
— Convido-o a beber.
— Obrigado.
Todos os fregueses, ao ouvirem estas palavras, sorriram satisfeitos. Era a costumada nobreza do Oeste. Um homem não podia odiar outro porque o tivesse vencido. Reconhecer a sua superioridade era digno de um vaqueiro.
A atitude de Ron, sem ser cordial, foi correta, ao ouvi-lo referir alguns pormenores da peleja. Depois, com o pretexto de que tinha de ocupar-se do «saloon», vigiando tudo, despediu-se dele.
Savold reprimiu um sorriso de satisfação. Conseguira enganar o seu inimigo. Quando este menos esperasse, os seus homens liquidá-lo-iam. Conservou-se ainda ali algum tempo, tendo saído misturado com outros fregueses. Depois, juntamente com o vaqueiro montaram nos seus cavalos, não tardando a sair da povoação, para ir ao encontro de Nardico, no sítio combinado.
Quando amanheceu, os salteadores já estavam emboscados a pouca distância da desembocadura de um desfiladeiro, ocupando cada um o seu posto.
A manada de Food não tardou a aparecer ao longe. Os vaqueiros cavalgavam, adotando infinitas precauções, a fim de evitarem ser surpreendidos pela quadrilha de abactores. Mike Food, um homem seco, de olhar penetrante, ia à frente.
Quando chegaram à entrada do desfiladeiro, Mike levantou o braço direito. Todos pararam. Os ladrões de gado costumavam geralmente emboscar-se, espalhados, numa estreita passagem, para que o seu tiroteio resultasse mais eficiente. Food não queria cair nessa armadilha. Mandou dois vaqueiros irem pesquisar, com infinitas precauções, o desfiladeiro.
Uma hora depois, voltaram dizendo que o desfiladeiro estava deserto.
O ganadeiro ordenou, então, que reatassem a marcha, que se efetuou sem o menor contratempo. Todavia, a angústia que oprimia todos esses homens, ia-se dissipando à medida que avançavam com o gado, dando lugar a uma esperança, ansiosos como estavam de ver-se no espaço livre. Quando já iam a sair do desfiladeiro, Mike Food soltou um suspiro de alívio.
— Por agora vai tudo bem...
— Assim parece, patrão...
Ainda não acabara de pronunciar estas palavras, quando soou uma detonação e o desventurado vaqueiro caiu do cavalo, depois de ter soltado um grito.
Mike Food lançou um grito de alarme, mas já era tarde. Vários tiros caíram sobre os vaqueiros, semeando a morte e a confusão. As reses assustadas, algumas mesmo feridas, debatiam-se umas contra outras, corneando-se, num caos indescritível.
Savold e os seus homens não cessavam de disparar, ao mesmo tempo que procuravam evitar que o gado saísse para a planície, onde se espalharia. Ao ver Mike Food ainda com vida, Savold apontou-lhe o rifle e disparou.
O desgraçado ganadeiro não teve tempo de ver donde o tiro partira, nem quem o disparara. A bala penetrara-lhe na cabeça. Só tinha ficado um vaqueiro que, horrorizado pela morte de todos os seus companheiros, tentou fugir.
Viu-se, porém, perseguido por três salteadores. Ao compreender que não podia salvar-se, voltou o cavalo, de súbito, e tomando uma decisão heroica, sacou os dois «Colt» e despejou-os contra os seus perseguidores, dois dos quais caíram atingidos pelos seus projéteis. Depois, foi a sua vez. E caiu do cavalo, crivado de balas.
Os bandidos lançaram gritos de triunfo, que soaram lúgubres no desfiladeiro. Bert Savold sorria. Nada podia evitar o triunfo do poderoso «trust», embora na realidade fosse apenas constituído por Savold e pelo juiz Godfrey.
Enquanto alguns homens procuravam reunir o gado, outros conduziram os cadáveres para dentro do desfiladeiro, em conformidade com o plano do juiz. Só os cadáveres dos três salteadores é que foram enterrados. O do ganadeiro Food foi colocado sobre o seu cavalo e levado até à beira de um abismo, donde obrigaram a tiro o animal a precipitar-se nele. Este ataque acabaria de desmoralizar os rancheiros da região.
Uma hora depois, Savold entrava no «saloon» com a maior serenidade. Na povoação, ainda não se sabia da morte do ganadeiro e dos seus vaqueiros, o que constituía uma vantagem para ele.
Savold sentou-se a uma mesa, acompanhado de Nardico. Tanto Ron como Babe não os perdiam de vista. O hercúleo sócio de Ron estava também atento ao criado Larry Lackson, que costumava servir Savold, pois andava desconfiado de que ele era um apaniguado do rancheiro. Quando o criado se acercou da mesa, Savold perguntou-lhe em voz baixa:
— Houve alguma novidade durante a nossa ausência?
— Absolutamente nada.
— Está bem. Traze-nos uma garrafa de uísque.
Meia hora depois, um cavaleiro entrou à desfilada do seu cavalo na povoação. Um transeunte, que o conhecia, perguntou-lhe:
— Aconteceu alguma coisa, Frankie ? O vaqueiro moderou o galope do animal.
Mike e os seus vaqueiros foram assaltados e assassinados por uma quadrilha de ladrões de gado, no desfiladeiro Dourado. Pouco depois, detinha-se à porta do «saloon», não tardando a ver-se rodeado pelo numeroso grupo de fregueses que tinham acorrido à rua. Relatou, então, minuciosamente a forma como descobrira os cadáveres sobre os quais os coiotes e outras feras tinham caído devoradores.
Ouviram-se comentários de indignação. O xerife ainda ouviu algumas palavras do relato feito pelo vaqueiro. Não tinha dúvidas de que esse assalto devia ser obra de Bert Savold.
A sua revolta e indignação subiram de ponto quando ouviu este dizer :
— Esses bandidos só se atrevem a assaltar pequenos grupos de vaqueiros. A nós é que eles não se decidem a atacar, porque temos uma equipa numerosíssima. É essa a vantagem do nosso «trust».
O xerife esteve quase a insultá-lo, deitando-lhe em cara a sua cobardia. Mas conteve-se. Com isso não conseguiria nada, a não ser a sua própria morte.
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