E...
NADA MAIS HAVENDO PARA PUBLICAR POR AQUI PREFERIMOS FICAR
ATÉ BREVE!
Os expedicionários, gelados, reuniam-se em torno da fogueira; uma mulher servia-lhes café, outra entregava a cada um, um pequeno pedaço de carne seca. Eram os últimos víveres.
«Montana», sentado junto do fogo, aceitou o pequeno pedaço de carne e, empunhando uma grande faca de esfolar, começou a parti-la em pedaços ainda menores, que dava às crianças. Enquanto o fazia, observava os que o rodeavam. Queria que vissem a faca com a qual estivera a ponto de ser assassinado nessa noite.
Só o «Patriarca» lhe disse:
— Não lhe conhecia essa faca, Roscher...
— Encontrei-a esta noite, em circunstâncias bastante curiosas, chefe.
Algumas mulheres gritaram. Vários homens correram junto do seu chefe, o «Patriarca».
Deborah, que avivava uma fogueira, apressou-se a reunir as crianças que procuravam lenha entre a neve.
Os infelizes «quáqueres», que tinham perdido tudo, sem armas e quase sem roupas, tremendo de frio, contemplaram com assombro e temor as várias centenas de índios que os rodeavam.
— São os «arapahos»! Trazem penas de guerra nas suas lanças! — gritou um homem.
O «Patriarca» ordenou:
— Cala-te! Não é necessário assustar mais as mulheres.
— São muitos, e nós não temos armas nem quem nos defenda.
Na imaginação de Roscher «Montana» estava gravada a depressão onde deixara os colonos. O rosto de Deborah, os seus olhos húmidos à despedida. E pensava constantemente: «Os «arapahos» já terão caído sobre eles? Cada minuto que passa pode ser vital!»
Avançava sobre o seu cavalo, à cabeça do grupo. Jonathan seguia-o a poucos passos, sem deixar de vigiá-lo, empunhando um revólver. Atravessavam um bosque, sobre neve muito branda.
— Eh! tem a certeza de que é este o caminho? — gritou Jonathan.
Roscher não respondeu. Pouco depois deteve o animal, desmontando.
— Que se passa agora? Quer que lhe meta uma bala nas costas? — perguntou Jonathan, agressivo.
— Moose Red. O filho do chefe...
Roscher «Montara» tinha virado um dos cadáveres estendidos sobre o gelo. Era o do filho do chefe «arapaho». Depois comprovou que nada podia fazer-se por nenhum dos outros.
— Perfuraram o gelo. Isto quer dizer que era o grupo encarregado de devolver o ouro ao seu lugar de origem. E também que os assassinos levaram o ouro. Os pacíficos «quáqueres»! E um deles era o homem que estava destinado à Deborah!
Examinou os arredores. Quando Moose John descobrisse o assassínio do filho, o Lemhi Range ia pôr-se ao rubro. «E esses infelizes sem armas, meio gelados, que me esperam...».
Uma dor aguda, muito viva, que lhe percorria todo o corpo como se lhe cravassem milhares de pequenas agulhas, acordou Roscher «Montana». Com os olhos ainda fechados, recebeu uma sensação intensa.
— Calor! Está calor!
Através das pálpebras viu um brilho avermelhado. Levantou-as por fim, e as chamas deslumbraram-no. Calor! E aquela dor era provocada pelo seu sangue, circulando de novo, velozmente. Muito calor!
Uma voz disse:
— Afastem-nos, que vão queimá-los. É demasiado fogo.
«Montana» moveu os lábios. Conseguiu emitir um som.
— Deborah?
Sem dúvida a Jovem Deborah tinha recebido uma dura educação, Entre os seus não havia excessivos sentimentalismos; aceitavam-se as disposições do destino com o maior estoicismo, Ela aceitou a morte dos pais e de todos os seus companheiros, limitando-se a voltar as costas a «Montana» para rezar. Depois, Roscher viu lágrimas nos olhos da bela «quáquer». Era um choro doce e resignado.
— Eles chegaram já à sua terra prometida — disse.
Roscher tinha decidido tentar o regresso ao Forte Butte. Os «arapahos» deram-lhes cavalos e viveres e escoltaram-nos até às montanhas. Uma vez aí «Montana» disse ao chefe John Moose que poderiam seguir sozinhos. Os «arapahos» despediram-se com poucas palavras, regressando aos seus povoados.
Na pequena choça só se ouviam os soluços de Deborah, a bela «quáquer». Olhava para Roscher, estendido sobre os ramos que cobriam o solo, inconsciente e bem amarrado.
Moose John, o chefe «arapaho», que a jovem contemplava com medo, disse:
— Acalme-se. Não está morto. É jovem e forte. Você, que está mais perto dele, afaste com os pés esses ramos. Há neve debaixo deles. Deixe que o seu rosto toque a neve. Ajudá-lo-á a despertar.
Estavam sozinhos. O'Donell e os seus cúmplices tinham partido. Deborah conteve as lágrimas e estendeu as pernas para afastar com os saltos das botas os ramos sobre os quais «Montana» estava estendido. Pouco depois o rosto do homem pousava sobre a neve.
— Mataram-no! — disse Deborah.
O frio no alto da montanha Saddle, onde ficava o principal povoado dos «arapahos» era terrível.
Dentro do grande «tupi» do chefe Moose John, ocupado agora pelo seu filho Red, as peles e as pedras aquecidas ao fogo mantinham a temperatura agradável, mas o fumo tornava o ar quase irrespirável.
«Montana» e Deborah, bem amarrados, estavam estendidos em cima de um monte de peles. Vários índios vigiavam em silêncio. «Montana» tinha dito à jovem:
— Os «arapahos» sempre foram pacíficos. Algo de muito poderoso deve tê-los feito mudar.
Duas horas depois de terem chegado ao povoado, Moose Red entrava na tenda. Tinha colocado o peitoral de cobre trabalhado que lhe conferia a dignidade de chefe. Cruzou os braços diante dos seus prisioneiros; Roscher disse:
— Tu não és Moose John. Acaso usurpaste o seu poder? Por isso os «arapahos» estão com pinturas de guerra e faltam à palavra empenhada? Esses colonos são homens bons, só querem cultivar na planície, não caçar!
O pico Saddle erguia-se ante a impressionada caravana de «quáqueres». Roscher tinha-lhes dito:
— Do outro lado fica o vosso novo lar. A passagem sobe por essa ladeira, por entre as rochas. Espero que consigamos atravessá-la antes que comece a neve.
— O coronel Morgan disse que não nevaria antes de dois meses.
— A julgar por como desce a temperatura, começará a nevar muito em breve.
O «Patriarca» disse, com o seu habitual fanatismo:
— Precisamos de passar. Uma das nossas mulheres vai dar à luz muito em breve, e um «quáquer» não pode nascer num caminho; tem de nascer sobre a sua terra.
Roscher deu então ordem para continuarem. A caravana avançava lentamente. Da ladeira do Saddle, um homem vigiava-a. Um homem estendido sobre as rochas, com uma espingarda nas mãos. Era Denis O'Donell. Apertava os dentes, com raiva.
A jovem ia retirar a tábua que cobria o poço, quando um homem se aproximou dela, tirando o chapéu e dizendo amavelmente:
— Não tire água desse poço, menina. Está estragada, atiraram um animal morto lá para dentro.
A jovem «quáquer» pareceu atrapalhar-se. Era muito bela. A touca emoldurava-lhe o rosto, destacando a perfeição das suas feições. Umas madeixas douradas assomavam ousadamente.
— Oh, então... — murmurou.
O homem apontou para as barracas das cavalariças.
— Há outro poço atrás dessas barracas. A água de lá é boa.
A jovem agradeceu a indicação com um sorriso e dirigiu-se para as barracas, com a celha sobre a anca. Ao dar a volta às barracas deteve-se, pois não via poço algum. Só um espaço vazio, abandonado, com o solo coberto de mato entre as traseiras das barracas e a paliçada exterior do forte.
Os três homens que tratavam dele sabiam que os «arapahos» não deixavam de os vigiar, mas também sabiam que não se atreveriam a atacá-los.
Denis O'Donell gastou os seus últimos cartuchos em preparar alguns futuros rebentamentos espetaculares, para o caso de precisarem de impressionar novamente os índios. Fê-los com muito cuidado, para que não observassem os seus movimentos, e sem se afastar muito da cabana.
As mechas, que ficavam ocultas entre a areia, seriam acesas no momento oportuno.
A caixa de chumbo de Denis O'Donell continha várias coisas de interesse para o seu trabalho e também uns pacotes de barras escuras que Kingler, um dos guias, reconheceu imediatamente.
— Diabo, O'Donell! Isto é dinamite! Não me diga que se serve dele para desenhar mapas!
— A si não lhe interessa para que me sirvo dele. Seja como for, não tardará a sabê-lo.
O cartógrafo dedicou-se durante três dias a traçar o curso do rio principal e dos seus afluentes; depois internou-se na enorme planície, para medir a sua extensão e parcelá-la.
A planície tinha apenas erva alta e azulada. Nem uma única elevação e apenas uma ou outra árvore. Foi então que O'Donell mostrou para que utilizava a dinamite.
— Preciso de pontos de referência; para isso servem os explosivos, Klinger. Afastem-se um pouco. Vou colocar aqui alguns cartuchos. O montículo que resultar será o número um.
— Apresenta-se Denis O'Donell, senhor. Cartógrafo de primeira, ao serviço do Exército. Disseram-me que queria ver-me.
O coronel Morgan olhou com expressão cansada para o civil que estava diante da sua secretária.
O coronel Morgan não gostava dos civis que serviam o Exército sem uniforme, cartógrafos, guias, peritos em idiomas índios e todos os outros. Tinha a impressão de que efetuavam aqueles serviços, não muito bem pagos e em lugares perigosos, Unicamente à espera de uma oportunidade para enriquecer fosse como fosse. Ou então permaneciam no Oeste com nomes supostos porque no Este os procuravam, e não precisamente para lhes concederem uma condecoração.
— Sente-se, O'Donell. Tenho aqui uma ordem chegada de Cansas e que o afeta a si.
O grande chefe Moose John nunca terá pensado nas consequências da sua oferta de um conjunto de seis pepitas de oiro ao cartógrafo O’Donnell como prémio da sua habilidade para produzir explosões. Se conhecesse a maldade dos homens, talvez não passasse mais de trinta dias da sua vida preso numa choça enquanto os seus irmãos de raça enchiam sacos e sacos de pepitas sob a ameaça de lhe roubar a vida.
E não se pense que os instintos bélicos se ficaram pela equipa de O’Donnell. É que um grupo de “pacíficos” quakers, homens e mulheres que recusavam a utilizar as armas para se defender ou atacar os seus semelhantes, acabaram por massacrar a tribo de arapahos quando a equipa do cartógrafo já não era problema.
Oiro, maldito oiro! Tu converteste, sob a pena brilhante de Cesar Torre, um local de esperança numa terra amarga, transformando as geladas terras de Lemhi num mar de sangue.
«Terra Amarga» é um excelente livro publicado na Coleção Arizona como número 161 e que aqui reproduziremos ao longo dos próximos dias. Nele, o autor exibe toda a capacidade para demonstrar que, na sua mente, um conflito nunca está resolvido já que das suas consequências se podem produzir diferentes réplicas. A tradução, a cargo de M. Correia, deixa perceber devidamente o conteúdo, nada havendo a apontar-lhe.
Nas altas esferas da capital do distrito a partida de Dester Bon tinha produzido quase tanta sensação como as suas intervenções com o revólver ou como a desaparição do xerife Peterson, a propósito do qual circulavam os rumores mais estranhos.
As últimas notícias a respeito do misterioso personagem não podiam ser mais contraditórias: tinha sido morto a tiro por uns foragidos; em desafio com o pistoleiro Dave; por vaqueiros do «Breed» de Concho. Onde terminava a verdade e começava a mentirá?
Na rua soou um estampido e uma bala levantou estilhaços no umbral da porta do escritório do comissário pela altura da cara de Dester.
O jovem levantou-se, empunhando já o revólver quando a segunda bala lhe passou por cima da cabeça. Replicou, ferindo numa perna o altíssimo e gigantesco ex-cozinheiro Peter Nash, que sem soltar o revólver soltou uma maldição e levantou-se.
Um segundo sujeito, tão alto como Peter, e tão bêbado como este, que tinha estado oculto pelo ex-cozinheiro disparou, primeiro contra a porta do escritório e em seguida para o ar.
Dester demonstrou ter maneiras de ganadeiro. Assim, o dinheiro que sobrou depois de saldar a dívida de seu pai a Olga Collins, a simpatia com que foi acolhido pela maioria dos «cowboys» do «Breed» e a qualidade das crias que domava, fez que apenas se notasse a falta de Marvis e Denton, gravemente feridos, mas mais perto da vida que da morte, naquele momento.
Absalon, que tinha tomado conta da cozinha do rancho, entrou uma manhã no escritório do novo rancheiro.
— Patrão; há alguém que lhe quer falar.
Dester olhou para o negro com pena. Havia-se feito amigo da maioria dos vaqueiros, mas não de todos.
— Estou acostumado a que os «cowboys» comecem assim, para depois dizerem que me deixam, rapaz. Pensas ir-te embora e és tu que me queres falar?
Quando foi lançado ao rio, Joe Peterson, recebeu uma impressionante sensação de frio, que o gelou até à medula.
— Ufff!
Nadou desesperadamente, mas fê-lo debaixo de água. Faltava-lhe o ar e as ideias iam-se-lhe tornando cada vez mais confusas; não obstante, teve bastante presença de espírito para nadar em direção de uns troncos de árvores que sustinham a estrada onde atracavam as barcas que sulcavam aquele lado do Little Colorado.
— «Se consigo ocultar-me debaixo do estrado, esse canalha julgará que me afoguei» — pensou.
Mas começou a engolir grandes quantidades de água e sentiu a cabeça a tornar-se pesada.
Olga Collins estava raivosa. Se tivesse na sua mão fazê-lo, teria condenado à morte o Bon, o seu capataz e a filha deste. Ela que julgava ter chegado o momento de apoderar-se do «Breed» e conseguir o sonho da sua vida, viver uma vida de esplendor, de adoração por parte dos homens, em Holbrook, viu as suas esperanças de consegui-lo perdidas para sempre.
Por sua parte, Dester, contando com a ajuda do «cowboy» Bill e a cooperação de quase todos os componentes do «Breed» tinha tomado conta dos assuntos do rancho.
Tinha bastado a Dester um olhar em volta dos concorrentes varões da sala de baile para ver que aqueles jovens vestidos com roupas largas, mas limpas, brilhantes e bem penteados os cabelos, e mais brilhantes ainda os olhos ao olharem as jovens que sorriam alvoroçadas na sua frente, formavam parte da humanidade que ele
— «Dizer vaqueiros era dizer sujidade, homens primitivos, desconhecedores dos ensinamentos da civilização.»
— Vaqueiros ou domadores não é tanto como dizer bêbados, vício, violência? Por isso nós, os homens do dia de amanhã, que dirigimos os destinos da União, devemos prepararmo-nos para dar-lhes a réplica.
Os planos dos ricos rancheiros de Holbrook, especialmente do juiz e do rancheiro Shelton, tinham mudado um pouco. Primeiro enviaram Dave Lee, o assassino do «sheriff» Peterson, a Concho. Dave era seguido pelo cavaleiro Rush com a missão de rebentar um cavalo ao regressar à capital para comunicar-lhes a boa nova da morte de Dester Bon. Se este plano falhasse, seria questão de apelar para os grandes meios. Um assassino pode errar o golpe, mas dois assassinos, três, quatro ou os que fossem precisos, não podiam falhar, não falhariam!
Os rancheiros Watson, Lopez e Laisd, ignorantes do que o juiz e o seu colega Shelton tinham planeado, aceitaram a promessa do primeiro de que de uma forma ou de outra poucos dias restavam de vida a Dester.
— Em último caso — disse valentemente o juiz —reunimo-nos os cinco e matamo-lo frente a frente. Dêem-me tempo para pensar o que seja mais conveniente... legalmente.
No dia seguinte à sua chegada a Concho, que era um escaldante domingo capaz de derreter quem se expusesse ao sol, Pierce franziu as sobranceias ao observar pelo canto do olho que um grupo de «cowboys» o contemplava enquanto ele passava a escova pelo sedoso pelo do «Cash».
— Ah, bem! — disse, olhando para os puros-sangues. — É a primeira vez que veem dois puros-sangues de ascendência francesa.
Mas um dos «cowboys» curvou-se diante de um dos seus companheiros, enquanto tirava o chapéu, como lhe tinham garantido faziam em tempos passados os nobres europeus.
Dester tratava o seu pai com respeito e carinho. Sempre lhe tinham inspirado respeito os homens que com o seu esforço tinham conseguido fortuna, coisa para a qual ele se sentia incapaz.
Marvis tratava o seu filho como um ser superdotado, um dos raros possuidores de ainda mais rara habilidade de sobressair dos demais, graças aos seus dotes pessoais, uma cultura adquirida com o estudo, a leitura e trato com homens e mulheres mais destacados.
— Eles estão formando a aristocracia do dinheiro, que é a única que podem formar os americanos — disse por fim.
O juiz Oyster tinha recebido uma grave ferida no seu amor próprio.
Uma das piores coisas que pode acontecer a um homem orgulhoso era a ferida no seu amor próprio, ferida sem sangue em si, mas que bastante sangue tinha custado aos seus homens. O representante da Lei de Holbrook foi a primeira vítima do rancoroso juiz e riquíssimo rancheiro.
O xerife Joe Poterson levantou-se da cama mal-humorado no dia seguinte à partida de Dester.
— E quem é o juiz Oyster para mandar-me chamar tão cedo? — perguntou a sua mulher, a quem queria muito embora tentasse demonstrar o contrário.
Ao filho do rancheiro Bon, de Concho, deram a escolher:
—Levanta as mãos acima da cabeça e abre os ouvidos, Dester. Queres uma tareia vergonhosa ou a morte honrosa de um tiro?
Os quatro homens formavam uma barreira e foram avançando até à beira das águas. O segundo personagem disse:
— Parece que és lento a compreender o que está a acontecer, Dester. Obedece: levanta as mãos.
O cerco ia-se apertando e o terceiro homem disse:
— Sabemos que és bom atirador, Dester. Lembramo-nos daquela ocasião em que mataste Jack Deshart por ter batido na sua mulher. Mas tu também nos conheces a nós. Acima essas mãos.
Aproximadamente à mesma hora que Katie estava de regresso a sua casa, no alpendre do rancho «Breed», em Concho, Dester entrava no «Rich Saloon», em Holbrook. Uma mulher jovem, loira, cujo corpo ondulante dançava ao andar, cortou-lhe a passagem.
— Grande tratante — disse raivosamente em voz baixa, embora todos os seus clientes a vissem sorrir como dando as boas-vindas ao jovem. — Tinhas-me dito que entre ti e Elinor não havia nada.
Pierce tinha chegado àquele ponto de conhecimento que lutar com cavalos ou com domadores de cavalos era a última coisa que um homem inteligente devia fazer na vida.
Tão-pouco se convenceu a lutar com jogadores profissionais, a maioria dos quais era de batoteiros, vantagistas ou bêbados.
Com os revólveres deu-se um pouco melhor, pois que conseguira impor-se em Nova Orléans, Natchez, Baton Rouge e outras grandes cidades de Louisiana.
Mas um dia, apesar de conseguir matar quatro adversários, foi lançado à rua em Natchez, considerando-se já morto. Aos 36 anos de idade — estando já no Oeste — não se considerou humilhado quando um jovem de 25 anos lhe disse com toda a calma de um grande senhor francês ou de um fidalgo espanhol, na noite em que quis «sacar» para lhe passar o mau humor de ter perdido todo o seu dinheiro numa partida de cartas:
— Preciso de um criado.
A rua principal de Holbrook era um verdadeiro formigueiro de gente ocupadíssima em demonstrar que estava preocupada com qualquer coisa proveitosa.
Holbrook era a capital do distrito do mesmo nome e lugar de resistência dos ganadeiros, rancheiros, agricultores e colonos enriquecidos, os quais encarregavam com toda a responsabilidade os seus homens de confiança de construir uma casa no sítio mais central da povoação e longe dos lugares onde tinham enriquecido.
A maioria das pessoas que moravam em Holbrook deitava-se tarde e levantava-se quando os raios solares tinham perdido a força. Katie ficou boquiaberta ao contemplar o impecável criado que abriu a porta daquela mansão construída de pedra imitando o mármore, a qual parecia um palácio encantado.
— Nada é eterno neste mundo, Denton.
—É o que dizem.
— E eu faço parte do mundo.
— Pois claro.
O rancheiro Marvin Bon deixou-se cair no banco de madeira instalado à direita da entrada da sua casa do rancho «Breed», o único rancho de criação de cavalos de Concho, Arizona.
— Cansado? — perguntou-lhe o seu sócio, capataz e amigo Denton Tante.
— Estou arrebentado.
— Ainda não começou o dia de trabalho.
Com uma tradução de Francisco Silva, o texto da novela dá-nos por vezes a sensação de estar no tempo errado, o que, apesar de tudo, passe a deselegância, não prejudica a compreensão. E assim somos levados a saber que a maioria das pessoas que moravam em Holbrook deitava-se tarde e levantava-se quando os raios solares tinham perdido a força transformando nesse intervalo a rua principal da cidade num verdadeiro formigueiro de gente ocupadíssima em demonstrar que estava preocupada com qualquer coisa proveitosa.
E, com a ideia de falar com o filho de rancheiro que vivia à grande na cidade, aí chegou a jovem Katie que ficou boquiaberta ao contemplar o impecável criado que abriu a porta daquela mansão construída de pedra imitando o mármore, a qual parecia um palácio encantado.
Note-se que o «impecável criado», Pierce, apesar de ter chegado àquele ponto de conhecimento que lutar com cavalos ou com domadores de cavalos era a última coisa que um homem inteligente devia fazer na vida, não era pera doce, mas na sequência de um duelo e de ter perdido tudo o que tinha numa partida de cartas ficou sob a «proteção» do elegantíssimo Dester Bon, o homem a quem Katie procurava, o qual o admitiu como criado.
Contrariamente ao que esperava, Bon compreendeu a mensagem da jovem e resolveu abandonar a sua vida decadente para voltar ao rancho e proceder ao seu desenvolvimento e exploração, mudando radicalmente a ideia que tinha acerca de vaqueiros o que para ele antes era dizer sujidade, homens primitivos, desconhecedores dos ensinamentos da civilização.
«São naturais, sensatos, humildes. São mil vezes melhores que os parasitas de Holbrook. São... São mil vezes melhores do que eu fui até agora» — concluiu.
A verdade é que o abandono do ambiente da aristocracia de Holbrook não soou bem aos ouvidos de alguns corruptos da cidade, um dos quais exercia funções de juiz e não hesitou em mandar assassinar o próprio xerife e ele e Pierce tiveram de mostrar a sua habilidade com armas nas mãos.
(Coleção Mãos no Ar, nº 118). Capa e texto indisponíveis
Nota: há dúvidas em relação a este título já que na Biblioteca Nacional aparace como o número 80.
Linda e Wander entraram na sala enlaçados pela cintura.
— Bem — disse o pistoleiro —, suponho que estás satisfeita, não? Amanhã serás a senhora Wander e... bom, o único obstáculo que nos poderia prejudicar terá desaparecido para sempre.
— Querido! — murmurou ela com ardor, Wander apertou-a com força e inclinou-se para a beijar.
Através do espelho, Paul, com o coração a ferver de cólera, viu os dois cúmplices beijarem-se. Procurou dominar-se. Levantou-se da poltrona em que estivera sentado até àquele momento e disse:
— Não poderiam esperar para se entregarem a essas efusões até estarem casados?
Wander e Linda afastaram-se um do outro bruscamente. Linda soltou um grande grito.
As marteladas dos carpinteiros que construíam o patíbulo ressoavam-lhe lugubremente no cérebro.
Tinham passado as três semanas.
Tal como prognosticara Houligan, o veredicto dos jurados fora unânime. Ainda lhe parecia escutar a voz do juiz, condenando-o a ser enforcado e pedindo a Deus piedade para a sua alma. Ao romper do dia seguinte morreria pendurado pelo pescoço.
O último amanhecer.
Para ele seria uma alvorada de morte. Para outros, pelo contrário, a felicidade.
Linda e Wander iam casar-se. Não podia afastar isso do pensamento. Tão apaixonada por ele a jovem se mostrara... e quase de repente ia casar com o homem que provocara o duelo.
Entraram em Big Creek por sítios diferentes, divididos em dois grupos. Hank e Branican formavam um e Rude e Paul outro.
O coração de Paul Mayers apertou-se quando voltou a ver os edifícios familiares da povoação. Havia apenas três meses que fugira dali e aquele breve espaço de tempo parecia-lhe uma eternidade, como se desde o dia em que travara o duelo com Wander tivessem passado cem anos. Mas não, só tinham passado três meses, pouco mais de doze semanas. E desde então modificara-se tanto o rumo da sua vida...
Confiou na sua barba espessa para não se reconhecido. Por outro lado, cavalgava com a cabeça inclinada, dando a sensação de ser um cavaleiro fatigado por uma longa caminhada. Deste modo evitava as probabilidades de ser reconhecido.
Susan correu para onde jazia Paul e ajoelhou-se a seu lado. Qual não foi a surpresa da rapariga ao ouvir a voz do jovem, que lhe falava em tom suave.
— Não se assuste, dissimule. Estou bem. Quem disparou?
— Branican — respondeu ela. — Obrigado. Parece-me que o ouço. Retire-se. Procure que não suspeitem de nada.
Hank sentara-se no solo ao ouvir o disparo, tal como Rude. Branican dirigiu-se lentamente, com o revólver na mão, para o lugar onde Paul estava caldo no solo.
— Branican! — gritou o gigante. — Que aconteceu?
— Myers, esse bastardo. Queria fugir e atirei contra ele.
Hank soltou uma praga. Ao ver que Branican se aproximava, Susan pôs-se em pé e afastou-se para um lado. O bandido ajoelhou-se junto de Paul. Então, o jovem, movendo velozmente o braço esquerdo, bateu-lhe em pleno rosto e derrubou-o de costas no solo.
Paul estava já acordado e despido quando ouviu o primeiro disparo.
A sua reação imediata foi precipitar--se em busca das armas. Espreitou pela janela da cabana e divisou uma vintena de cavaleiros, pelo menos, todos eles a fazerem fogo, de maneira encarniçada, contra as cabanas.
Um furacão de balas entrou pela janela e fez retroceder o jovem. Paul acabou de afivelar o cinturão e empunhou os dois revólveres.
Um dos bandidos correu para a janela com uma carabina nas mãos. De repente, parou, girou sobre si mesmo com indescritível violência e caiu ao chão fulminado por meia dúzia de balas ao mesmo tempo.
Começaram a ouvir-se alguns disparos dos bandidos. Os cavaleiros hesitaram momentaneamente. Alguns desmontaram e procuraram refúgio entre as brenhas.
O assalto ao Banco de Black Bear foi ridiculamente fácil. Cada um dos participantes aprendera de memória as instruções e executou-as pontualmente, tal como o planeara Hank, seguindo — Paul não tinha a menor dúvida disso — as ordens de Cochrane.
O jovem ficou diante do escritório do xerife, muito ocupado, aparentemente, a enrolar um cigarro. Mas a sua vista penetrante não perdia um só dos movimentos dos habitantes da cidade.
Rude foi recolhendo os cavalos. Tranquilamente, sem mostrar o menor sintoma de emoção, reuniu todos e colocou-os diante do banco como se fosse o empregado de alguma cavalariça.
Fora da cidade tinham ficado Hobbins e Duke, para lhes cobrir a retirada se se produzisse alguma reação por parte dos cidadãos de Black Bear.
Provavelmente, nenhum dos presentes, incluindo Paul, teria sido capaz de reagir tão depressa como Hank.
O gigante não perdeu tempo com lamentações nem pragas. A sua mão direita agarrou a asa do garrafão e a vasilha foi projetada para diante com terrível violência e bateu no rosto de Leland com tremendo estrondo.
O revólver do bandido disparou-se inofensivamente para o tecto. Paul tirou o seu, mas depressa verificou que não precisava de o utilizar.
A língua de Hank soltou-se, assim como a sua cólera. Cego de furor, saltou para Leland com ímpeto assassino. Este caíra no chão em consequência da fenomenal pancada. Cego pelo álcool, com a cara a escorrer, ao mesmo tempo, sangue e uísque, proferia palavras ininteligíveis, enquanto procurava o revólver que lhe fugira dos dedos ao cair ao solo. Chegou ainda a tocar-lhe, mas não teve tempo de o empunhar. Hank estava já junto dele.
Hank O'Shea removeu as brasas da fogueira, pegou num raminho a arder e aplicou-o à ponta do cigarro. Depois, com um púcaro de café na mão, sentou-se junto, do jovem.
— Este tipo já me insultara na noite anterior—disse. — Dei-lhe uma boa tareia, o que para mim é mais divertido do que dar quatro tiros a um indivíduo, mas não lhe ficou de emenda e no dia seguinte procurou-me.
Hank bebeu um golo de café.
— Admirou-me que me provocasse daquele modo—comentou. — Não tinha reparado no tipo que estava ao pé da coluna. Decerto tinham combinado liquidar-me. — O gigante soltou uma gargalhada. -- Bem vês, camarada, que tivemos de fugir de Stanton a galope. Eles, pelo contrário, só teriam recebido felicitações e palmadinhas nas costas.