terça-feira, 25 de julho de 2023

CLF052.09 A aristocracia manda um assassino a Concho

Os planos dos ricos rancheiros de Holbrook, especialmente do juiz e do rancheiro Shelton, tinham mudado um pouco. Primeiro enviaram Dave Lee, o assassino do «sheriff» Peterson, a Concho. Dave era seguido pelo cavaleiro Rush com a missão de rebentar um cavalo ao regressar à capital para comunicar-lhes a boa nova da morte de Dester Bon. Se este plano falhasse, seria questão de apelar para os grandes meios. Um assassino pode errar o golpe, mas dois assassinos, três, quatro ou os que fossem precisos, não podiam falhar, não falhariam!

Os rancheiros Watson, Lopez e Laisd, ignorantes do que o juiz e o seu colega Shelton tinham planeado, aceitaram a promessa do primeiro de que de uma forma ou de outra poucos dias restavam de vida a Dester.

— Em último caso — disse valentemente o juiz —reunimo-nos os cinco e matamo-lo frente a frente. Dêem-me tempo para pensar o que seja mais conveniente... legalmente.

Enquanto em Holbrook cinco homens faziam planos pouco tranquilizadores, Dave Lee, o assassino a soldo, o pistoleiro e bêbado, acabava de transpor as primeiras casas de Concho, quando no Dancing-Saloon» cessavam os gritos e soavam os instrumentos musicais.

John Collins também preparava um instrumento, embora não musical. A sua filha, de volta do «Breed», tinha-lhe dito, com o ódio no coração e a amargura na alma, e com a língua tão venenosa como a duma cascavel:

— Insultaram a tua filha, pai.

O rancheiro, com um sorriso sempre à flor dos lábios, levantou as sobrancelhas.

— Outra vez esse perdulário do Edw, filha?

— Não. Foi o pai de um grande senhor.

— Marvis?

— Marvis, o seu capataz Denton e o filho do primeiro, que veio para ficar por cá.

O rancheiro conseguiu dominar-se.

— Conta-me o sucedido, filha. Senta-te e fala com calma.

Olga contou as coisas à sua maneira, dizendo que ao princípio Marvis tinha-se negado a devolver-lhe o dinheiro que lhe devia; Denton assegurou que Edw tinha razão ao vangloriar-se de que a tinha a ela na mão, e que se negava a casar com ela; Dester olhou-a com desprezo e os três homens juntos a expulsaram do «Breed», ante o sorriso de troça da odiosa filha do capataz Denton.

— Disseste toda a verdade, pequena? — inquiriu raivosamente John.

— E ainda deixei alguma coisa por dizer, pai... — a sua reticência foi como o rastilho aceso num barril de pólvora que naquele momento corria nas veias do homem.

As relações de amizade entre o «Breed» e o «Mum» tinham sido sempre cordiais, até que Marvis teve as primeiras dificuldades económicas e recorreu ao rancheiro vizinho para pedir-lhe um empréstimo, ocasião que Olga aproveitou para intervir e oferecer-se para fazer o empréstimo, coisa que fez em condições vantajosas para ela.

John gritou com toda a força dos seus pulmões, acudindo o seu capataz, um vaqueiro forte, baixo, de uns 35 anos, que abriu as pernas e cruzou os braços em frente do rancheiro,

— Chamou-me, patrão?

— Aos gritos, como se tivesses ficado surdo de um momento para o outro!

— Bom... Aqui me tem, patrão.

John piscou-lhe o olho.

— Como estás de humor, Ryland?

— Já pode supor. Os rapazes estão a divertir-se na cidade e eu estou aqui esperando que a senhora vaca lhe ocorra converter-se em mãe. Condenado seja no inferno o primeiro animal que fez! Não veio o velho Bates?

— Sim. Mas o veterinário Bates é um comodista e não quer ficar só quando assiste a um parto.

— Diz-lhe que sou eu que mando e sela dois cavalos imediatamente, Ryland.

— Estupendo, patrão!

— Não te alegres tanto, rapaz. Temos de enfrentar-nos com Marvis, Denton e o filho do primeiro. Temos de fazer-lhes algumas perguntas, sobretudo aos dois primeiros.

— Hum... Refere-se a esse rapaz tão... tão...?

— Tem Marvis outro filho além desse?

—Não, que eu saiba. Hum... Se esse tipo tão bem aprumado maneja a língua e o revólver como os punhos, terá de comer a sua cólera, patrão.

— Deixa-o por minha conta.

O capataz do «Mum» saiu da vivenda do rancho com a cabeça inclinada e lentamente. O seu entusiasmo para ir à cidade tinha arrefecido.

Entretanto, Marvis, contra o seu costume, aceitou o convite do seu capataz e amigo, dirigindo-se à cidade e entrando, pela primeira vez desde há muito tempo, no «Dancing-Saloon», estabelecimento dividido em dois,

O mais importante, espaçoso e distinto dos compartimentos era dedicado a sala de baile; a parte destinada a «bar» e sala de jogo era menos importante, mas tinha a vantagem de que ninguém lhe exigia que levasse casaca ou que fizesse a barba.

Dave Lee, que desde a sua chegada à cidade não tinha cessado de fazer perguntas, podia descrever Mar-vis e o seu sócio Denton como se os conhecesse pessoalmente; quanto a Dester, tinha-o visto várias vezes em Holbrook, admirando o seu porte aristocrata, a sua frieza e fleuma de grande senhor e o seu cabelo, sempre bem penteado.

Rush, o cavaleiro do rancho de Shelton, sentado só a um canto do estabelecimento, observou, sem ser visto, as manobras de Dave.

— Não é este Marvis Bon? — perguntou de súbito Dave, olhando para a porta.

O interrogado, que era um dos que tinha informado o forasteiro, previa digestão gratuita de quatro ou cinco copos de «whisky», afirmou com um movimento da sua vacilante cabeça e um olhar de bêbado:

— Ele, mesmo compadre. Deve-te... Deve-te alguma coisa o rancheiro Bon? É raro... raro vê-lo por aqui.

— Sim, deve-me muito. E vou cobrar agora mesmo.

Como acontece a muitos homens uma infinidade de coisas, a Dave meteu-se-lhe na cabeça que nem Dester nem ninguém, nascido ou para nascer, era capaz de fazer-lhe frente com o revólver na mão.

«Se o mato em desafio — pensava — o juiz Oyster e o rancheiro Shelton enchem-me os bolsos. Enquanto se o mato de noite e à traição como no caso do xerife Peterson, terei horas e dias, e correndo sempre o risco de me descobrirem, pois mal conheço esta cidade.»

Um quarto de hora antes tinha visto entrar na sala de baile Dester na companhia de uma jovem morena, alta, uma verdadeira preciosidade, e então elaborou o seu plano de ataque, o qual não sabia como iniciar.

A chegada de Marvis iluminou o cérebro do homem que «vivia matando». Tudo era questão de matar primeiro Marvis em desafio legal, e depois entendia-se com o filho, o qual sairia em defesa do seu progenitor. Pensou mentalmente como se passariam as coisas. Conheceria ele os homens?

Deslizou de um extremo ao outro do balcão, aproximando-se dos dois amigos, os quais, sentindo-se magnânimos, o deixaram beber alguns copos de álcool. «Que beba antes de morrer — disse —. Se algum dia me condenarem a mim, também gostaria que me dessem tempo para beber antes de me tirarem do cavalo.»

Por fim aproximou-se do rancheiro e do capataz do «Breed».

— Podem dizer-me qual de vocês dois é o pai de um grande porco chamado Dester Bon, amigos? — perguntou de seguida.

Começou e acabou, pois que antes que Marvis pudesse fazer um só movimento com as mãos, Denton moveu os punhos como uma matraca e o assassino a soldo caiu como um saco, enquanto do departamento vizinho a música continuava a ouvir-se e os pares continuavam dançando, como o fizeram os seus avós e o faziam os seus netos.

Dave era gato velho e desde o primeiro momento soube que em luta a punhos com o homem que lhe tinha dado o murro ficaria a perder.

— «Bom — pensou — irei de Concho deixando três mortos em lugar de dois.»

Ficou sentado no chão até que a cabeça se desanuviou de todo, sentindo-se um homem importante quando viu que todos os olhares estavam fixos neles. Teve de elevar a voz para que as suas palavras chegassem aos ouvidos dos dois amigos, pois os instrumentos musicais não cessavam de tocar.

— Que todos sejam testemunhas das minhas palavras! —disse. — Vocês apanharam-me cobardemente, e isso custar-lhes-á a vida aos dois.

Marvis não era grande coisa com o revólver; Denton tão pouco, mas era mais rápido, mais forte e enérgico, pelo que replicou:

— Não tentes «sacar», amostra de homem, ou custar-te-á a vida.

Dave rolou pelo chão, querendo dar a sensação do homem que foi maltratado e que se dispunha a defender-se com unhas e dentes. Se Denton e Marvis tivessem tempo para pensar, teriam visto que um homem que levava no cinto dois revólveres não podia ser um cavaleiro vulgar. Mas era tarde para pensar.

Dave sacou os dois «Colts» e disparou antes que os dois amigos tivessem tempo de fazer o mais insignificante movimento. Ambos caíram com grande estrépito, enquanto Dave se levantava penosamente, como se fizesse um grande esforço ao mover-se, e guardava os revólveres sem carregá-los.

«E agora esperem a chegada de Dester» — pensou por fim.

Na sala de baile a música cessou de repente, e enquanto as mulheres gritavam, os homens corriam para o «bar».

 

Sem comentários:

Enviar um comentário