Quando foi lançado ao rio, Joe Peterson, recebeu uma impressionante sensação de frio, que o gelou até à medula.
— Ufff!
Nadou desesperadamente, mas fê-lo debaixo de água. Faltava-lhe o ar e as ideias iam-se-lhe tornando cada vez mais confusas; não obstante, teve bastante presença de espírito para nadar em direção de uns troncos de árvores que sustinham a estrada onde atracavam as barcas que sulcavam aquele lado do Little Colorado.
— «Se consigo ocultar-me debaixo do estrado, esse canalha julgará que me afoguei» — pensou.
Mas começou a engolir grandes quantidades de água e sentiu a cabeça a tornar-se pesada.
— «Santo Deus! Morrerei afogado como uma rata imunda?» — voltou a pensar.
Por fim, quando já se dava por morto, sentindo os pulmões próximo a rebentar, emergiu e fez de morto, esperando de um instante para o outro ouvir soar o estampido de um tiro do revólver de Dave.
Os segundos pareceram-lhe séculos, angústia mortal, que passavam lentamente. Até aos seus ouvidos chegou o ruído dos passos precipitados do pistoleiro ao afastar--se da margem. Só então respirou profundamente.
O xerife de Holbrook era um excelente nadador. Manteve-se imóvel durante um bom par de minutos, mas respirando regularmente, e depois respirou o ar, como um homem insaciável de vida.
— Por Deus! Haverá coisa melhor do que respirar ar puro?
Para sair da água, custou-lhe um grande esforço. Tinha a nuca paralisada e não podia mover o pescoço para ver o que se passava em volta dele.
Depois de grandes esforços conseguiu subir para as margens do rio. Caminhou aos bordos, como se estivesse bêbado, sentindo que olhava para um lado e via tudo ao contrário.
Encaminhou-se para sua casa quando as luzes da aurora apareciam no firmamento e a vida parecia despertar com infinita ânsia. A mulher do xerife Peterson afogou um grito quando viu o seu marido naquele estado, mas ele disse--lhe com entoação indefinível:
— Mato-te... e matas-me se gritas, mulher. Tentaram assassinar-me e devo fazer crer que estou morto, se quero viver, até que possa valer-me pelos meus próprios meios... Se te perguntarem por mim, dirás que fui... em perseguição de um malandrim, e que não sabes quando voltarei ao escritório, ao escri...
Caiu sem sentidos, nos braços da sua mulher, a qual não tardou a descobrir na nuca do inconsciente um alto do tamanho de um ovo de galinha. O representante da lei de Holbrook permaneceu no leito quase três semanas e na cidade começou a correr o boato de que tinha sido morto na luta contra uma quadrilha de foragidos.
O juiz Oyster e o rancheiro Shelton foram os encarregados de propagar a notícia, exaltando a memória do defunto.
Entretanto, um dia o pequeno vaqueiro Rush apresentou-se diante do juiz na própria casa deste, encontrando-se com os olhares interrogativos de Shelton Harmon e do dono da casa.
— Fala — convidou-o o juiz.
— Desembucha de uma vez! -- rugiu o rancheiro, que ultimamente não se separava quase nunca do lado do seu amigo e cúmplice.
Contrariamente ao que lhe tinham ordenado, já que o vaqueiro temia aqueles dois homens como a morte, naquela ocasião deixou-se cair numa cadeira e agarrou numa garrafa de «whisky» que encontrou à mão. Shelton olhou para o seu cúmplice.
— Com certeza vem dar-nos boas notícias, juiz. Deixe que beba.
— Por mim, pode embebedar-se se quiser. Bebe, Rush, meu amigo. Estou certo de que o mereces.
Ao ouvir que lhe chamavam amigo e sabendo o que o aguardava quando dissesse o que tinha para dizer, o «cowboy» empinou a garrafa na boca.
— «Primeiro bebamos — disse — Depois, desafio os dois para que me tirem o líquido da barriga».
Quando tirou a garrafa da boca, não restava urna gota de licor, o qual tinha passado todo para o seu estômago.
— Dave... Dave morreu. Matou-o Dester Bon.
Deu a notícia de chofre. A mesma chegou ao cérebro dos dois personagens tão certeira como uma bala de revólver disparada à queima-roupa.
— Bandido.
O juiz deu uma sapatada na garrafa e esta foi arrancada da mão de Rush que se levantou da cadeira.
— Maldita seja a tua alma negra, porco!
Shelton esbofeteou o «cowboy» e este perdeu o mundo de vista, fazendo ação de sacar do revólver num movimento inconsciente. E o mundo perdeu de vista para sempre o desgraçado vaqueiro, quando a bala disparada pelo revólver do rancheiro lhe perfurou a cabeça.
— Morreu como um cão! — comentou Shelton.
— Foi um bem para ele, pois de contrário ter-lhe-ia feito experimentar todos os tormentos do inferno — foi o comentário do juiz.
Minutos mais tarde o cadáver era tirado da sala. Oyster disse a dois dos criados que acorreram ao ouvir o estrondo do tiro:
— O pobre, deve ter perdido a razão.
Shelton soltou um suspiro.
— Vocês veem, rapazes. Não tive outro remédio senão matá-lo. Levado pela sua loucura, quis matar-nos aos dois. O desgraçado obrigou-me a matá-lo como se fosse um cavalheiro!
Os últimos comentários que fizeram por parte dos que eram tão pouco a cavalheirosa como ele, não foram tão caritativos.
— Sempre disse que este porco estava meio louco.
— Louco varrido! --- rematou o segundo criado.
A notícia da morte de Dave em Concho foi ignorada pelos habitantes de Holbrook, e a de Rush não fez derramar uma única lágrima a ninguém.
Mais tarde, a aparição em público do xerife Peterson, que estava muito magro e levava urna ligadura no pescoço, foi um acontecimento extraordinário. O representante da lei apresentou-se uma noite no «Rich Saloon», entrando silenciosamente e encarando com o juiz Oyster e Shelton, que eram acompanhados pelos rancheiros Watson, Lopes e Laird.
Estes últimos encolheram os ombros ao vê-lo, mas os dois primeiros, puseram-se de pé violentamente e os seus rostos refletiram o maior terror. Peterson tinha traçado um plano e não pensava afastar-se um milímetro do seu cumprimento.
— Olá, amigos! — saudou em geral, comprovando que Watson, Laird e Lopes nada tinham a ver com o sucedido.
Deixou passar uns segundos e cravou as chamejantes pupilas no juiz e em Shelton.
— E vocês amigos? Não irão dizer-me que não estão contentes de ver-me de novo a vosso lado, não é verdade?
Os interpelados continuaram calados. Joe Peterson não era o vaqueiro Rush. Que saberia o xerife da intervenção de ambos no atentado, que esteve quase a ponto de custar-lhe a vida? Como quer que fosse, o xerife olhava-os como o tigre olha a sua presa, instantes antes de saltar. Sem nada acrescentar, o representante da lei, girou sobre os calcanhares e dirigiu-se para a saída, dizendo em género de despedida:
— Vou pelo caminho do rio. Já sabem por onde se passa para ir para minha casa, juiz Oyste e Shelton. Se têm muito interesse em terminar a obra começada por Dave... Ou se preferem, aguardem que eu possa falar mais claro.
Saiu. As suas palavras e a sua estranha visita ao «saloon» desconsertaram todos os que o ouviram e presenciaram a sua atitude. Os dois mortais inimigos de Dester Bon disseram que era preciso matar e matariam o xerife, o qual podia pôr de sobreaviso o jovem e isto significaria... Só Deus sabia o que se passaria se Dester os provocasse em público e os obrigasse a aceitar o desafio. Mas, e se Dester e Peterson já tivessem falado e atuassem de comum acordo? Os dois personagens sabiam que deviam fazer qualquer coisa para evitar que Dester se aproximasse deles.
— E havia que fazer qualquer coisa...!
Joe Peterson não passou a noite em casa. Ele era o representante da lei, e tinha dois ajudantes, mas os seus inimigos eram temíveis e em qualquer caso podiam mobilizar dezenas de homens sem entranhas, os quais, desgraçadamente, não faltavam na capital.
Deixou o «Sheriff's Office» ao cuidado de um dos seus comissários e, ainda fraco, mas firme na sua decisão, dirigiu os seus passos para Noroeste.
— «Dester Bon; temos muito que falar — disse como se falasse com o jovem. — Não posso acusar esses miseráveis sem provas, mas como existe um Deus lá no céu, juro que pagarão. Juro que não descansarei até vê-los mortos a meus pés!»
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