quarta-feira, 27 de junho de 2018

BUF167.13 O melhor pai que existiu sobre a terra

Em cima da cómoda do quarto havia um velho relógio de madeira. Carmen olhava-o, continuamente. Em dado momento, depois de o mirar uma vez mais, deu um profundo suspiro. Juan Rode compreendeu.
— Está na hora, não é verdade? Devem estar prestes a chegar ao cofre... Isso quer dizer que, dentro de alguns minutos, esse rapaz, Robert Joyce, e a família dele serão assassinados. Creio que, lá em casa, vivem ele, os pais e uma criada. Todos vão ser liquidados, Carmen.
— Cala-te! — suplicou a jovem, com voz alterada. —Não sabes o que dizes! Não vai acontecer nada!
— Não sejas cobarde, minha filha, e enfrenta a verdade. Jim Galluro odeia Bob e, além disso, não quererá deixar perigosas testemunhas do roubo. Conheço este «ofício», desgraçadamente. Não ficará ninguém vivo, para contar pormenores nem para descrever o aspeto dos assaltantes. Ë o que sempre se faz, nestes casos. Se um dia fossem apanhados, ninguém poderia afirmar, em tribunal, «foi este homem!». Galluro bem o sabe.
— Falas como um bandido, como um profissional do crime, pai!
— Sim, é verdade. Mas asseguro-te que jamais assassinei ninguém. Mesmo nesta vida, há várias categorias de pessoas. Tu sabes que Jim Galluro pertence à mais baixa. Viste, por acaso, como ele e os homens do seu bando assassinaram todos os passageiros da caravana em que ias e da qual só tu escapaste?

Carmen empalideceu. Tinha feito todo o possível para esquecer a matança de que só ela se salvara, graças a Jim. Sim, era verdade que lhe devia a vida, mas não era menos verdade que também ele colaborara no assassínio dos indefesos viajantes. Sim! Jim era um assassino! Como podia confiar nele?...
Olhou para o relógio e deu um grito de angústia. Depois, voltou-se para a cama.
— Liberta-me destas cordas, filha! — pediu Juan. —Ainda há tempo de impedir que sejam liquidados! Depressa!
Carmen aproximou-se e estendeu as mãos para os apertados nós, mas logo recuou, abanando a cabeça com força.
— Não! Isso não é verdade! Não te libertarei. Não posso libertar-te! Retrocedeu, até ficar encostada à parede.
No silêncio do quarto, o bater do relógio ouvia-se, distintamente. Inesperadamente, Carmen abriu a porta e saiu do quarto, atirando com ela. Juan ouviu o som dos passos dela, que se afastavam rapidamente, e comentou, furioso:
— As mulheres são todas umas loucas! Quando, finalmente, se convencer de que vão assassinar os Joyce, já será tarde. Depois, virão os lamentos e as recriminações, mas nada disso pode devolver a vida aos mortos!...
As cordas estavam muito bem amarradas, conforme já verificara, com alguns esticões. Juan deixou o olhar circunvagar pelo quarto, mas não conseguiu avistar nada capaz de as cortar.
— Exceto o espelho da cómoda... -- murmurou.
Rebolou na cama, deixando-se cair no chão. Caiu de costas, sem se magoar. Chegar até à cómoda, rodando e arrastando-se, não foi difícil. Tinha, porém, de se pôr de pé, de partir o espelho e de tratar de apanhar um dos fragmentos. E, depois, ainda precisava de ter a sorte de poder agarrá-lo com os dedos, de modo a poder usá-lo, à laia de navalha.
Não pensou em pedir auxílio, por uma razão: a filha estava demasiadamente implicada em todo aquele sujo negócio e era necessário salvá-la, assim como aos Joyce, mas primeiro que a eles.
Conseguiu pôr-se de joelhos, encostado à cómoda. Com os dentes, agarrou a maçaneta de uma das gavetas e foi-se içando, a pouco e pouco. Porém, ao soltá-la, voltou a cair.
— O tempo urge... -- resmungou. — Receio que...
Com novo esforço, violento, arranhando a cara nas esquinas do móvel, ao subir, conseguiu ficar finalmente de pé.
— O espelho...
Em cima da cómoda estava o espelho que Carmen costumava usar, quando se arranjava. Juan Rode logrou segurá-lo pelo punho, com os dentes, e desferir uma pancada no tampo, despedaçando o vidro. A maior parte dos estilhaços caiu para trás da cómoda.
Deslocando-se com pequenos saltos, Juan acabou por se colocar ao lado do móvel, empurrando-o. Os fragmentos do espelho brilhavam, no chão.
Rode encostou-se à parede e deixou o corpo deslizar, até ficar sentado. Assim, acabou por alcançar com os dedos um pedaço de vidro e, contorcendo-se quanto possível, atacou as cordas que lhe prendiam os pés.
Pouco depois, sentiu as mãos molhadas com o próprio sangue, mas não se deteve. Insistindo, com a ânsia do desespero, acabar por cortar a corda.
— Isto não vai mal — comentou. — Soltar as mãos será mais fácil.
Logo que libertou os pés, a ponta da corda que lhe prendia os pulsos afrouxou um pouco. Puxando por ela, dando-lhe violentos esticões, até ficar a sangrar dos pulsos e das pontas dos dedos, Juan conseguiu, finalmente, libertar-se.
No momento exato em que tal sucedia, a porta abriu--se, violentamente. Juan voltou-se, em busca de uma arma, disposto a atacar. No entanto, quem acabava de entrar era Carmen.
A bela rapariga tinha os olhos arregalados de espanto e as faces pálidas como cera. Nem sequer se surpreendeu ao ver o pai livre. Adiantou-se para ele, com uma indesmentível expressão de afetuosa veemência — não fingida desta vez.
— Pai, é horrível! — exclamou. — Fui a casa dos Joyce, para falar com Jim, mas a porta estava aberta. Espreitei, e vi vários homens, no interior, conversando. Vão matar todos os habitantes da casa! Foram essas as ordens que Jim lhes deu, para serem cumpridas quando ele voltar aqui, já com o dinheiro!
Enquanto a ouvia, Juan movimentava as mãos e os dedos, para recuperar a agilidade dos dedos.
— Aonde está Jim, agora?
— No Banco, com Bob! — respondeu Carmen, quase a chorar. — Mas já 'é tarde, pai.
— Alguém te viu?
— Não. Só o empregado do hotel, mas esse não sabe de nada.
Juan Rode agarrou-a por um braço e apressou-a:
— Vamos para lá, filha! Deus queira que o cofre tenha demorado a abrir, ou que tenha tanto dinheiro dentro que leve muito tempo a esvaziá-lo!
Correram para a porta e desceram a escada a correr, precipitadamente. Quando se preparavam para sair para a rua, Carmen avisou:
— Pai, não levas armas!
Juan Rode voltou a cabeça e gritou para o encarregado do hotel, que os olhava, surpreso:
— Dê-me um revólver carregado! Depressa!
— Mas, eu...
Juan debruçou-se sobre o balcão, afastando o homem. Sabia que em todos os estabelecimentos do género havia sempre um revólver à mão, pronto para qualquer eventualidade. E, na verdade, ali estava um, junto da caixa do dinheiro. O empregado protestou:
— Oiça, você não pode...
Juan não fez caso dele, e recolheu o revólver, verificando que o tambor estava carregado. Depois, correu para a rua, onde Carmen o esperava, chorando, presa de angústia.
— Jim vai liquidar Bob! — lamentou-se. — Logo que tenha o dinheiro em seu poder, fá-lo-á!
Sem se deter, Juan perguntou-lhe, abertamente:
-- Incomoda-te assim tanto que esse jovem possa sofrer um dissabor, Carmen?
— Não quero que lhe aconteça nada! tão bom, tão sincero!... Sempre se portou tão bem comigo!
— Sim, filha, ele é muito bom. Demasiado, talvez...
Estavam já perto do Banco. Não se via luz nenhuma no interior. Jim devia preferir a escuridão, para não despertar as atenções! Mas a porta continuava aberta...
Nervosa, apoiando-se a uma das colunas do alpendre, a jovem murmurou:
— Será tarde, meu Deus?...
O pai tocou-lhe no braço, respondendo:
— Não, ainda não é tarde. Silêncio. Vem comigo!
Umas sombras acercavam-se da porta do Banco. Saiu, primeiro, um tipo desconhecido para Juan Rode, que olhou receosamente para todos os lados. Juan e a filha tinham-se escondido, mas podiam ver o que se passava, do ponto onde se encontravam. Logo a seguir, saiu Jim Galluro, com um saco ao ombro. Atrás dele, Bob Joyce, seguido de mais dois homens, de revólver em punho.
— Vão matá-lo, pai! — gemeu Carmen, num sussurro. — Vão liquidá-lo agora mesmo!
Juan conteve-a:
—Calma! Não o farão na rua. Não vejo o resto da família e eles devem querer «arrumar» todos ao mesmo tempo e com pouco eu nenhum alarido. Provavelmente, empregarão navalhas...
A jovem esteve prestes a gritar, mas Juan tapou-lhe a boca com a mão. O grupo de homens já se afastava, dando a volta ao edifício, a caminho da vivenda dos Joyce.
— Fica aqui, filha. Não te movas — recomendou Juan.
Carmen deitou-lhe os braços à volta do pescoço, beijando-o, emocionada e nervosamente. As suas lágrimas molharam o rosto do pai. O rosto de Tom «El Toro», que havia muitos anos que não conhecia o gosto salgado de lágrimas...
— Filha!... — murmurou, com voz entrecortada. —Amei-te sempre... e tanto!
— Tem cuidado contigo, pai. E cuida também do Bob. Nestes momentos de aflição é que soube quanto lhe quero... A ele e a ti! A ambos, pai, e igualmente!
Juan Rode sorriu, feliz, afastando-se rapidamente. A porta da vivenda dos Joyce estava entreaberta. Os assassinos nem sequer admitiam a hipótese de serem importunados...
Juan empurrou a porta, suavemente, e ouviu vozes numa divisão iluminada, à direita. Quando se dirigia para ali, avistou um homem de pé, junto de um divã, no qual estava estendida uma mulher. O homem olhava para o interior do quarto, distraidamente...
Juan aproximou-se dele, com cautela. No momento em que, no quarto, alguém soltava uma exclamação de alegria, desferiu uma pancada na nuca do bandido, com a mão direita, de cutelo. Agarrou-o, para impedir que caísse, e depositou-o suavemente no chão, sem ruido.
Sem dificuldade, chegou à porta do quarto. Dentro, estavam os Joyce e Jim Galluro, com os seus homens. O bandido atirara com o dinheiro para cima da mesa e contava-o, entre as gargalhadas alegres dos sequazes.
— Deixarei o vosso dinheiro de lado, rapazes — disse Jim. — Que tal? Não acham que os nossos amigos banqueiros foram muito amáveis, facilitando-nos tudo?
Afastou alguns montes de notas, após o que voltou a meter o restante dentro do saco. Os homens apressaram-se a recolher o quinhão que lhes cabia. Um deles ficou com a parte correspondente ao que ficara a tomar conta de Joana, a criada.
— E agora, Jim? Que fazemos?
Jim passou a língua pelos lábios, com um sorriso sádico. Olhou para Bob, com uma expressão maligna. Odiava-o, porque se tinha atrevido a cortejar Carmen... e a bater-lhe, a ele, Jim Galluro, diante da jovem. Sim! Tinha-lhe um ódio de morte!
— Agora — respondeu — só falta um pequeno pormenor... Não nos podemos ir embora sem manifestar a estes amigos o nosso agradecimento. No que se me refere, tenho estado a pensar em demonstrá-lo pessoalmente àquele jovem...
Bob Joyce compreendeu a ideia de Galluro, observando-lhe o olhar e a expressão. Tentou deslocar-se para junto do pai, para o proteger. Jim Galluro, naquele momento, agarrava no punhal e disse, com voz rouca:
— Quieto, rapaz! Deixa-me ocupar-me de ti... como deve ser! Não quero ver-te morto com um tiro!
Juan Rode não esperou mais. Engatilhou a arma, lentamente. Ao fazê-lo, o estalido metálico soou nitidamente pesado da sala. Jim voltou a cabeça e avistou o inimigo, praguejando violentamente. Largou o punhal, para sacar o revólver, ao mesmo tempo que os companheiros abriam fogo, com as armas que tinham conservado nas mãos.
Bob Joyce atirou-se para cima do pai, que se encontrava na linha de tiro, empurrando-o e atirando-o ao chão. Num momento, a sala encheu-se do ruído atroador das detonações.
Juan Rode, sorrindo ferozmente, apoiado na ombreira da porta, estava tranquilo e seguro de si. Quantas vezes enfrentara situações semelhantes?... Disparava com uma velocidade espantosa, quase sem interrupção, devido à longa prática.
Dois dos companheiros de Jim chegaram a fazer fogo, mas não conseguiram acertar no alvo, porque já estavam feridos de morte quando os seus dedos premiram os gatilhos.
Juan Rode disparou seis vezes, no mesmo ritmo veloz. O chumbo escaldante assobiava na sala e o fumo da pólvora formava já uma pequena nuvem acre. O último a cair foi Jim Galluro, que fora, também, o último a empunhar o revólver e a engatilhá-lo. A bala da arma de Juan atravessou-lhe o coração e Jim encolheu-se, bruscamente, antes de tombar sem vida no chão, todo enrolado.
Decorreram alguns momentos de silêncio, ao cabo dos quais a senhora Joyce murmurou, admirada e ainda sob a ação do susto:
— Jesus! Esse homem é...
Bob estava a levantar-se, quando Juan se adiantara alguns passos na sala. O jovem banqueiro viu algo a mover-se, junto da porta. Quis advertir Rode, exclamando:
— Cuidado, senhor! Ainda há outro!...
Juan deu um salto, voltando-se. O homem que derrubara no vestíbulo, pouco antes, surgira na porta da entrada, pronto para disparar. Juan premiu o gatilho. Mas, pela primeira vez na sua vida, encontrava-se sem munições, diante de um adversário que já premia o gatilho...
O impacto do chumbo fez estremecer o corpo de Juan Rode, violentamente, derrubando-o. O homem de Galluro preparava-se para disparar, uma vez mais, quando Robert Joyce interveio. De joelhos no solo, como se encontrava desde o início da dramática cena, conseguiu alcançar o revólver de um dos bandidos e fazer fogo, raivosamente.
O homem recuou, atingido, acabando por tombar no chão, com a cabeça destroçada.
Bob pôs-se de pé, aproximando-se rapidamente do local onde se encontrava Juan Rode. Ajoelhou-se, ao lado dele, e quis ajudá-lo a levantar-se. Juan Rode tinha os olhos fechados. Comovido, Bob murmurou:
— Senhor... salvou a vida de todos nós. Aqueles homens iam assassinar-nos. Mas o senhor acabou por ficar ferido... deixe-me ver o ferimento, por favor. Precisamos de cuidar dele!
Juan abriu os olhos. Mantinha as mãos apoiadas no peito, comprimindo-o.
— Não tem importância, jovem... — replicou. — Fiquei sem munições e isso é uma imprudência que sempre se paga caro...
Muito pálido, acrescentou, falando com esforço:
— Não me agradeça nada. A menina Rode... Ela viu que se passava algo de anormal, da janela do hotel, e pediu-me que interviesse... O senhor Joyce e a mulher tinham-se aproximado, também.
Carmen, chegada momentos antes, estacara junto da porta, contemplando a trágica cena de olhos arregalados. Bob deu pela sua presença, quando ela se aproximou, lentamente.
— Carmen, este homem, o amigo do teu pai, de quem já te tinha falado, acaba de nos salvar a vida. Agora, temos de o levar rapidamente a um médico, para que o veja e o trate...
O senhor Joyce interrompeu-o:
— Nem pensar nisso! Eu é que vou chamar o médico! Leva-o para o meu quarto, Bob!
— Chegámos a tempo, Carmen... foi uma sorte... sim, foi uma sorte que me avisasses das tuas desconfianças, pequena...
Bob, que se tinha levantado, segurou a jovem pelos ombros e disse-lhe, emocionado:
— Não chores, Carmen. A valentia dele não nos permite chorar! O amigo do teu pai, este homem de quem nem sequer sei o nome, é um indivíduo extraordinário!
Carmen libertou-se e exclamou, soluçando:
— Ele é o meu pai, Bob! Como é que não percebeste, ainda? É o meu pai, o melhor pai que existiu sobre a terra! Oh! Meu Deus! Por que não o compreendi eu mais cedo?!
Ajoelhou-se, para abraçar e beijar. Juan Rode sorria, feliz, embora o seu estado fosse cada vez mais grave. Com voz rouca, quase inaudível, disse ao banqueiro, que não se afastara:
— Senhor Joyce... creio que é o momento de me pedir a mão de minha filha...
— Claro que sim, senhor Rode! Penso que eles se casarão muito em breve!... Logo que o senhor esteja bom. Vou buscar o médico!
— Não, senhor Joyce. Prefiro que ma peça agora. É uma patetice, uma simples formalidade, mas quero sentir o grato prazer de ouvir um homem importante, como o senhor, pedir a minha filha em casamento, para um jovem como Robert!
Bob, muito pálido e comovido, insistiu:
— Sim, pai. Faça-o, agora...
O banqueiro aquiesceu:
— Bem, o momento não será o mais apropriado, mas vou fazer-lhe a vontade. Teria preferido uma ocasião mais solene...
Bob interrompeu-o:
— Este é mais solene do que imagina, pai! Apresse-se, por favor!...
— Senhor Rode, tenho a honra de lhe pedir a mão de sua formosa filha, Carmen, para o meu filho único, Robert, herdeiro do meu nome e dos meus bens... e de tudo quanto ainda possuo, graças a si.
Juan Rode levantou a mão, para acariciar a cabeça da filha, que chorava, abraçada a ele.
—É com muito gosto que lha concedo, senhor. Deus permita que sejam felizes, muito felizes!
A sua voz estava tão fraca que o banqueiro mal conseguiu ouvir o que dizia.
— Como disse, senhor Rode? — perguntou.
Juan Rode não respondeu. A sua mão descaiu pesadamente para o chão. O banqueiro repetiu a pergunta.
— Disse que sim, pai, e desejou-nos felicidades — respondeu Bob, devagar. — Não insistas para que te responda...
Vendo que o pai não compreendera o que se passava, acrescentou:
— Não lhe digas mais nada, pai... O senhor Juan Rode morreu.
A senhora Joyce rompeu em sentidos soluços. Carmen chorava, suavemente. Bob aguardou alguns instantes, antes de a ajudar a levantar, logo a conduzindo para fora daquela sala.
— Era um homem extraordinário, querida — murmurou. — E o seu rosto sempre me pareceu familiar. Lembrava-me o teu, vejo-o agora. Fui um tolo em não ter percebido logo que era o teu pai.
Carmen continuava a chorar. Bob conduziu-a para a sala de estar, beijando-a nos cabelos e na face. Pouco a pouco, a jovem foi serenando. Sabia que a esperava uma existência feliz, na companhia de Bob, a quem amara com toda a alma. No entanto, jamais lhe desaparecia do olhar a sombra de melancolia que neles se fixou, durante os últimos momentos da tragédia. 
Durante o resto da sua vida, recordaria aquele homem estranho que fora seu pai, um homem a quem a má sorte transformara num bandido. E também durante toda a vida lamentaria ter-lhe negado o seu carinho.
Na outra divisão da casa, a senhora Joyce e o marido colocavam o cadáver de Juan Rode no divã. A morte devolvera ao rosto do infeliz a antiga calma. Agora, ninguém poderia reconhecer nele Tom «El Toro».
O homem que os Joyce contemplavam, com desgosto, seria enterrado no cemitério de Tucson. E Tom «El Toro» continuaria a ser procurado, elogiado, amaldiçoado, por todo o Texas, durante muitos anos.
 
 

 

F I M

 

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