terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

CLF023.17 Confiança no futuro

John pôs as bolsas de couro sobre a mesa e acrescentou:
— Isto foi o que encontrámos no quarto de Carol.
Buttons abriu o fecho das bolsas e contemplou as moedas e as joias.
— Uma verdadeira fortuna — murmurou.
Depois olhou para Deborah e para Russ, que se encontravam diante dele, no seu gabinete.
— Nao tenho razão para duvidar da veracidade da sua história — disse. — Mais ainda, estou convencido de que é verdadeira. A sinistra fama de Cobb e o feito de ter assassinado o velho Wood, são provas mais do que suficientes. Por outro lado, todos os que estavam no saloon puderam ver como matou Carol, e vocês, alem disso, tiveram a honradez de devolver este dinheiro. Podiam ter ficado com ele sem que ninguém o soubesse.
A rapariga sacudiu a cabeça.
—Nao queremos nada que nao seja nosso. E este dinheiro esta manchado de sangue.
O xerife assentiu.
— Muito bem. Entregá-lo-ei ao Governador do Estado. Ele se encarregara de o fazer chegar às mãos dos herdeiros que possa ter esse mexicano chamado Vargas. Eu nao gosto de ter responsabilidades sobre os meus ombros.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

CLF023.16 És um cobarde!

Já cavalgavam há algum tempo em silencio, a medida que a crescente obscuridade os envolvia, quando Deborah murmurou:
— Por que foi John ao encontro dessa mulher? Que relações havia entre eles? Diga-me, por favor. É o meu último pedido.
Russ, que cavalgava ao pé dela, olhou-a com tristeza.
—Nao houve nada. Carol nao significou coisa alguma para John. Foi um simples passatempo, que só durou uma semana. Mas nao a voltou a ver desde que a conheceu a si.
Nos olhos da rapariga havia um brilho de ansiedade.
—No entanto, hoje correu para junto dela, quando o chamou.
Russ franziu a testa e umas rugas de amargura apareceram nas comissuras dos seus lábios.
—Ele nao queria ir. Fui eu quem o convenceu a comparecer a entrevista. Disse-lhe que s6 um cobarde deixava de ajudar uma mulher em perigo. Só isso o decidiu a ir ao encontro de Carol.
Os lábios da rapariga tremeram.
—Nao me engana, Russ? Ele sacudiu a cabeça.
—Nao, Deborah. Ninguém gosta de confessar que levou um amigo a cair numa emboscada.
A rapariga, corn um fio de voz, sussurrou:
—Nao teve culpa. Nao sabia que era uma armadilha.


domingo, 24 de fevereiro de 2019

CLF023.15 A história do tesouro dez anos depois

— Vamos, toca a sair —ordenou, dirigindo-se a Russ e a Deborah e acrescentou referindo-se a Wilkens: —E tu diz a dois dos nossos homens que se encarreguem de guardar o dinheiro e as joias nos bolsos de couro. Mas adverte-os que se faltar uma só moeda ou uma joia, lhes encherei a barriga de chumbo.
— Está descansado, chefe.
 Saíram do celeiro. A certa distância, junto dos cavalos, esperavam quatro homens e uma mulher. Russ fez uni gesto de profundo assombro.
—Carol!
Cobb olhou-o com unia expressão cínica.
—Sim, é ela! Surpreende-te vê-la aqui?
Entretanto a bailarina tinha-se aproximado com andar lento e balançando os quadris. Os seus lábios curvavam-se num sorriso de troça.
— Olá, Russ! Não esperavas que nos voltássemos a ver em semelhantes circunstâncias, não é verdade?
Depois fitou Deborah com ódio e inveja mal reprimida e acrescentou num tom que punha a manifesto o seu despeito: —Com que então é esta a «boneca» por quem John se apaixonou como um miúdo!
Deborah, que estava desconcertada voltou-se para Russ.
—Quem é esta mulher? De que está a falar?
Russ, em vez de responder, perguntou a Carol:
— Que fazes aqui?
A bailarina franziu os lábios.

sábado, 23 de fevereiro de 2019

CLF023.14 A descoberta inesperada de um tesouro mexicano

Mas aqueles indivíduos não se sentiam completamente seguros e abriram fogo. John apertou os dentes e sentiu que os seus nervos se submetiam a uma tremenda tensão. As balas caíam à sua volta.
Os seus inimigos que agora atiravam à vontade, corrigiam cada vez mais a pontaria. Teve fazer um 'esforço para não se encolher instintivamente e estragar tudo. O zunir das balas era obcecante e obrigava-o a dominar-se.
Até que, por fim, sentiu como se lhe cravassem um ferro em brasa na mão esquerda, seguida duma dor tão intensa que lhe crispou todas as fibras do seu ser. Só graças a um alarde sobre-humano de força de vontade, conseguiu manter-se imóvel.
Viu o sangue a começar a sair da ferida e a empapar o chão. Pouco depois cessaram os disparos. Os seus agressores tinham, sem dúvida, visto a sua mão esquerda a sangrar. logicamente, a sua imobilidade convenceu-os de que estava morto. Não podiam sequer pensar que alguém levasse o fingimento até ao extremo de não fazer o menor movimento ao ser ferido. Só John sabia o que aquilo lhe custara.
Alguns momentos depois, viu, pelo canto do olho, duas figuras que emergiam detrás de uns penhascos numa das vertentes. Durante uns instantes estiveram a contemplá-lo e a falar entre si. Depois, como se tivessem chegado a unia conclusão, começaram a descer para o fundo do vale. 
Ao chegar ao fundo, caminharam na direção de John. Este, graças ao eco, podia já ouvir o barulho dos seus passos e compreender o que diziam. Um deles acionou a culatra da sua espingarda e disse ao companheiro:
— Dou-lhe eu o tiro na cabeça?

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

CLF023.13 Emboscada no Vale das Águias

Toda a manhã do dia seguinte esteve John pensativo e preocupado. Russ não lhe fez nenhuma alusão ao que tinham dito na véspera. Mas, dirigia-lhe frequentes olhares. Por fim, John foi para o estábulo e começou a selar o seu cavalo. Estava entretido no seu trabalho, quando uma voz perguntou atrás de si:
— Vai-se embora?
John voltou-se apesar de já saber que era Deborah. Esta permanecia muito quieta, a uns passos de distância, e estava ligeiramente pálida.
— Vou — replicou ele. — Tenho de fazer um trabalho.
Nos olhos da rapariga, apesar de o tentar dissimular, brilhou a ansiedade.
— Quanto tempo estará fora?
Ele ficou um pouco desconcertado após a pergunta, pois na verdade não o sabia; no entanto, respondeu:
— Não sei. Mas creio que esta noite já estarei de volta.
Ficaram um momento em silêncio, contemplando-se mutuamente. De repente, ela perguntou:
— Pensa, na verdade, voltar?
Ele levantou a cabeça surpreendido.
— Claro que sim. Por que não havia de voltar?

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

CLF023.12 O falso apelo de uma mulher em perigo

Sentou-se numa cadeira, e ajoelhando-se aos pés dela, tirou-lhe a bota. O tornozelo estava inchado. Tocou-lhe com um dedo e ela fez um gesto de dor.
— Creio que o torceu ao cair do cavalo — murmurou —, mas acho que não tem importância.
Suavemente começou a friccioná-lo com álcool. Parecia impossível que as suas mãos, tão grandes e tão fortes, pudessem mover-se com tanta habilidade e tanta delicadeza. Ao fim de alguns momentos, Deborah sentiu que a dor diminuía paulatinamente. Depois, John ligou o tornozelo com força e pôs-se em pé.
— Acho que daqui a alguns dias estará completamente bem.
Deborah, que até então, mantivera os olhos baixos, atreveu-se a olhá-lo.
—Salvou-me a vida—murmurou em voz baixa.
O rapaz fez um gesto ambíguo.
— Não tem importância — disse.
Mas ela não deixava de o fitar, e nos seus belos olhos havia uma luz acariciadora.
—Cada dia que passa, aumenta a minha dívida para consigo. Não sei como pagar tudo o que tem feito por mim.
John inclinou-se para ela e olhou-a uns momentos em silêncio. Os seus rostos estavam muito próximos.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

CLF023.11 O trabalho no rancho pôe uma jovem em perigo

Quando chegaram ao rancho, encontraram Russ a arranjar o celeiro. Estava em mangas de camisa e empapado em suor.
— Olá — saudou John. — Como vai isso?
Russ ficou a olhar para as reses, que os dois vaqueiros faziam entrar na nova vedação e fez um gesto de aborrecimento.  
— Como queres que esteja? Farto de trabalhar, até à ponta dos cabelos! Doem-me os ossos, sinto-me cansado e começo a ter sintomas de asfixia.
John deitou a cabeça para trás e começou a rir às gargalhadas.
— Não te rias! — exclamou Russ furioso. — O trabalho faz-me mal. É como um veneno para mim. E, com estas novas reses, ainda nos cansaremos mais. Asseguro-te, John, que esta tua ideia me vai custar a vida.
Deborah teve também de se rir. As opiniões de Russ sobre o trabalho eram cómicas. Apesar que era inegável que juntamente com John tinha realizado em poucos dias um trabalho extraordinário.
O rancho parecia outro. Tinham arranjado o antigo curral, construído outro maior e estavam a reparar o celeiro. Quanto à cabana tinham substituído os troncos que estavam em mau estado, mudado portas e janelas e algumas tábuas do telhado.
Nos momentos em que Russ se queixava do excesso de trabalho, John dava-lhe uma palmada nas costas e dizia:
— Pois enche-te de paciência, rapaz, porque isto é só o princípio.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

CLF023.10 O criminoso Dick Cobb planeia eliminar o pistoleiro John Lee

—Ê preciso eliminar John Lee — disse Dick Cobb.
Wilkens, que era o seu lugar-tenente, olhou-o um tanto surpreendido quando respondeu:
—Creio que és a pessoa indicada para isso. Nenhum de nós pode competir com Lee. És o único que pode vencê-lo.
Cobb acendeu um cigarro e expulsou uma espessa coluna de fumo. Encontravam-se numa sala reservada, numa cantina de Dodge.
—Ê verdade, sou o único que o pode fazer, mas Lee é também o único que me pode vencer.
Wilkens franziu as sobranceias.
— Que diabo é que tens?
Os lábios de Cobb abriram-se então num sorriso que mais parecia um esgar dum tigre.
—Imaginas que tenho medo?
Ao ver o olhar que ardia nas pupilas de Cobb, Wilkens empalideceu, e balbuciou engolindo saliva:
—Não, não, claro que não...
Cobb dirigiu-lhe um olhar de desprezo.
—Não te atreves a dizer o que pensas. És um cobarde, mas vale mais ser um cobarde vivo do que um bravo morto.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

CLF023.09 O otimismo invade o rancho de Deborah

John estava a consertar a porta do curral que ficara deteriorada quando na noite anterior fizera as reses fugir.
O suor corria por todo o seu corpo e tinha tirado a camisa para combater o calor. Debaixo da pele lustrosa e morena, os seus potentes músculos moviam-se com agilidade.
Um ruído de passos obrigou-o a levantar os olhos da sua tarefa. Viu chegar Russ com um balde de água, cujo conteúdo deitou no bebedouro.
Os animais aproximaram-se para beber com avidez. Russ continuou com o seu trabalho até deixar o recipiente completamente cheio. John observava-o pensativo. De repente perguntou-lhe:
—Ainda não te foste embora, Russ?
O seu amigo deixou o baldo no chão e após uma breve pausa, explicou:
— Queria dar antes água a estes animais. Faz-me pena vê-los sofrer por causa da sede. Mas vou já preparar o meu cavalo.
Desapareceu aia direção da cavalariça. John recomeçou o seu trabalho. Poucos momentos depois reapareceu Russ trazendo o seu cavalo pelas rédeas.
—Bem, John, venho despedir-me.
O rapaz pôs-se em pé e apertou-lhe a mão.
—Adeus.
—Boa sorte.

domingo, 17 de fevereiro de 2019

CLF023.08 O perfil do bandido Dick Cobb

Encontraram as reses e quatro ou cinco milhas do rancho.
Depois do barulho da noite anterior, uma vez vencido o pânico, tinham-se reunido e, sem saber o que fazer, ficaram a mordiscar a erva seca e sumarenta que crescia no prado.
Ao John e ao Russ não custou muito encontrá-las. Bastara-lhes seguir o rasto claramente marcado. Agitando os chapéus e dando estridentes gritos, puseram em marcha a pequena manada e empreenderam o caminho de regresso para casa. John, que cavalgava pensativo, disse de repente.
— Meditei no que disseste ontem à noite e acho que tens razão. Dois tipos como nós não podem ajudar em nada essa rapariga. E melhor dizer-lhe que procure a proteção do xerife.
Russ fez em gesto de troça.
 — Não lhe vai servir de muito. Buttons não é homem que queira sarilhos.
—Mas, foste tu que me aconselhaste...
—Aconselhei-te a não nos metermos nisto; mas, não te falei do xerife. O melhor que Deborah pode fazer é abandonar isto tudo e ir para o mais longe possível, para um sítio onde Cobb não a possa encontrar. Talvez seja a Califórnia o local mais indicado.
John assentiu.
— Sim, falarei hoje mesmo com ela. Apesar de ser triste pensar que terá de abandonar tudo o que é seu. Já sei que o rancho vale pouco mas é tudo o que ela possui.
— Vale mais abandonar isto do que perder a vida — comentou

sábado, 16 de fevereiro de 2019

CLF023.07 Uma jovem precisa de auxílio

John e Russ trocaram um olhar. A emoção de Deborah não os deixava indiferentes. O primeiro tossicou.
--O velho Wood era um bom homem, embora eu não tivesse tido muito contacto com ele—murmurou Russ.
A rapariga conseguiu acalmar-se depois de um evidente esforço.
— Ao princípio, não soube que fazer—prosseguiu. —Tinha sempre vivido com ele. Os meus pais morreram quando eu era muito nova e nem sequer me lembro deles. Por outro lado, havíamos vivido sempre isolados. Não tínhamos vizinhos e as poucas vezes que fomos a Dodge foi só para comprar o que precisávamos e voltarmos logo para o rancho. O meu avô era o meu único amigo, o único ser humano que me acarinhava.
«Custou-me acreditar que estivesse realmente morto; mas, quando me convenci, senti-me terrivelmente só e pensei que não valia a pena continuar a viver. Acho que estive mais de uma hora sentada junto do corpo inanimado. Finalmente, tive de vencer o meu desgosto e tomar uma decisão. Como já lhes disse, enterrei o meu avô com as minhas próprias mãos.»
«Naqueles momentos sentia um ódio terrível por Dick Cobb, o assassino do meu avô. Daria qualquer coisa para poder fazê-lo pagar caro o seu crime. Mas ele não estava lá e a minha única vingança era ir procurar o xerife, e dizer-lhe o que acontecera. Ainda não sei porque razão me apoderei do revólver que o meu avô guardava no seu quarto, mas o certo é que o fiz; suponho que obedeci a um sexto sentido, a um impulso inconsciente. Foi então que, ao entrar em casa, notei que esta tinha sido rebuscada.»

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

CLF023.06 "Tem cuidado, pequena". A história de Deborah

John tirou da algibeira uma bolsa de tabaco e papel de fumar e começou tranquilamente a enrolar um cigarro.
—Menina Wood, fez um lamentável engano ao confundir-me com outro.
Os lábios de Deborah tremiam quando perguntou:
— Então por que razão, tanto esta manhã como esta noite, lutou contra estes homens?
John acendeu o cigarro.
—Estou habituado a defender-me quando me atacam. Foi isto o que aconteceu esta noite. Quanto ao que aconteceu esta manhã, além daqueles indivíduos me terem ameaçado, deixei-me levar pelo impulso de a defender. Embora não compreenda para que o fiz; afinal foi você que me pregou com um tiro nas costas e esteve quase a mandar-me para o outro mundo.
Os olhos de Deborah humedeceram-se.
— Confundi-o com Dick Cobb. Por isso disparei contra si. Lamento ter-me enganado.
John expulsou uma imensa baforada de fumo.
— Esse Cobb deve ter-lhe feito muito mal, para que você o tentasse matá-lo à traição.
O rosto de Deborah contraiu-se de dor, ao mesmo tempo que dizia numa voz cortada por um soluço:
— Assassinou o meu avô.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

CLF023.05 O meu nome é John Lee

Levou bastante tempo a alcançar a vedação — tempo e paciência; mas o rapaz estava acostumado a fazer as coisas bem quando se tratava de defender a própria vida.
Quando chegou ao curral, pôde comprovar que, com efeito, os bezerros mugiam assustados e estavam inquietos e nervosos, tentando inutilmente fugir. O barulho dos disparos infundia--lhes um profundo pânico.
Sempre a rastejar, John foi até à porta da vedação. Sabia que não podia deixar que o vissem, porque apesar de Russ estar a entreter os ocupantes da casa, estes o descobririam ao menor indício.
Ainda deitado no solo, estendeu a mão até alcançar o tronco que fechava a vedação. Com um grande esforço, foi puxando por ele até o retirar completamente. Agora a porta poderia ser aberta só com um empurrão.
Voltou para o outro extremo da vedação e sempre deitado, levantou o seu revólver e deu dois tiros para o ar. Os novilhos, ao ouvir os estampidos tão perto, começaram a fugir para o outro lado e foram chocar contra a porta, que se abriu violentamente.
Ao ver o caminho livre, o gado fugiu, devido ao pânico. Protegido pelo ruído e confusão que o gado provocara com a sua fuga, John, encolhido sobre si mesmo, dirigiu-se para a casa. Sabia que os seus ocupantes deveriam estar aturdidos pelo barulho inesperado e cegos pelo pó que levantavam os cascos dos animais. Aproximou-se da porta do lado de trás da cabana e fez saltar a fechadura com um tiro. Logo, dando-lhe um pontapé, abriu-a de par em par e entrou.


quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

CLF023.04 Receção inesperada

Russ coçou a cabeça.
—John, sê sincero! Quantos copos de whisky já bebeste?
O rapaz levantou-se e, apoiando as mãos na mesa, aproximou o seu rosto ao do amigo.
— Se o que pretendes é insinuar que estou bêbado, posso dar-te um murro no nariz e assim demonstrar-te que nunca estive tão bem como agora.
Ao mesmo tempo que falava agitava o punho diante dos olhos de Russ, que imediatamente retrocedeu, dizendo num tom conciliador
—Não, não insinuo tal coisa, que ideia, mas...
Ao ver que Russ vacilava, John insistiu:
—Mas, o quê?
O outro encolheu os ombros.
—Não sei... No entanto tens de reconhecer que essa história é um pouco absurda. John olhou-o com a testa franzida.
— Parece absurdo, mas é verdade. Deborah Wood garantiu que me conhecia, embora eu esteja convencido que nunca a vi. E o mais curioso é que falava com convicção, dando a impressão de ser sincera.
— Então talvez seja verdade ela conhecer-te — aventurou Russ.
—Digo-te que não! Como poderia eu esquecer uma pessoa tão bonita. E impossível. Ainda por cima há esses dois tipos com quem tive de lutar.
—Mas, quem eram? Que queriam?


terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

CLF023.03 Alguém se aproxima da cabana

Já há algum tempo que Dodge ficara para trás e John cavalgava pelo caminho solitário. Apesar de ainda não ter recuperado completamente as suas forças, sentia-se suficientemente forte para montar a cavalo e andar sozinho. Claro que Carol e Russ tinham protestado, mas ele não podia aguentar mais de oito dias na cama. Além disso, a ferida das costas quase já não o incomodava.
A bailarina e o amigo tinham insistido em que ele não devia sair sem autorização do Dr. Watts; no entanto mão lhes fez caso. Teve de ameaçar Russ de lhe partir a cara para este lhe dizer onde vivia o velho Wood. Depois, quando soube a morada, o outro quis acompanhá-lo. John opôs-se terminantemente.
—E um assunto para eu resolver sozinho.
E pusera-se a caminho sem permitir que alguém fosse com ele. Pelo que lhe tinha dito Russ, o pequeno rancho do velho Wood encontrava-se a alguns quilómetros de distância.
Depois de estar fechado tantos dias no quarto de Carol, no saloon, era-lhe agradável notar no rosto a carícia do ar e o cálido contacto do sol. Eram dois efeitos vivificantes.
Levava duas horas de viagem, quando no alto da colina, viu uma cabana de madeira junto da qual se erguia um celeiro e alguns muros. Só podia ser o rancho de Wood. Desmontou e, deixando o seu cavalo atado a uma árvore, continuou o caminho a pé.
Enquanto subia a ladeira da colina, procurando ocultar-se da vista de possíveis observadores, teve de reconhecer que ainda não se encontrava na plenitude das suas forças.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

CLF023.02 Uma desconhecida

—Não devias tratá-la dessa maneira—murmurou Russ. -- Ao fim e ao cabo, cedeu-te o seu quarto e foi ela quem chamou o médico para te tratar.
John fez um gesto de aborrecimento.
—É muito aborrecido. O mal das mulheres é que basta dar-se-lhes um pouco de confiança, para que se julguem logo com o direito de nos organizar a vida.
Russ murmurou:
—A mim não sucedem essas coisas. De maneira geral, elas não se preocupam comigo. És uma pessoa com sorte em questões de saias. Apaixonam-se por ti como umas estúpidas.
John tinha a testa franzida.
—Russ, tu és de Dodge; com certeza que sabes quem era a rapariga que disparou contra mim.
—Claro que sei. Mas o que não compreendo é tu dizeres que não a conheces. Uma mulher não costuma disparar contra um homem que nunca viu.
--É possível que não seja costume, mas a verdade é que esta o fez. Diz-me quem é.
—Só sei que se chama Deborah e que é neta do velho Wood. Vivem num pequeno rancho a umas milhas de Dodge, numa dessas cabanas com um pouco de terreno que dá o necessário para viver. É uma rapariga um pouco estranha que perdeu os pais quando era pequena. Vem poucas vezes à cidade e quase não fala a ninguém. Creio que nunca falei com ela.
—Que queres dizer com... um pouco estranha?

domingo, 10 de fevereiro de 2019

CLF023.01 Uma mulher maravilhosa faz um tiro traiçoeiro

John Lee deu um murro nos copos e na garrafa de whisky que estavam sobre o balcão e deitou-os ao chão, onde se fizeram em pedaços. A bebida formou um charco nas pedras já sujas do chão. Então, o seu amigo Russ Linley resmungou e exclamou, surpreendido:
-- Que diabo estás tu a fazer? Enlouqueceste?
E ao mesmo tempo olhava com olhos cheios de tristeza o whisky entornado. John, com um gesto de aborrecimento e com um falar de bêbado, murmurou:
—Estou farto de beber como uma esponja. Vou-me embora.
Mas a bailarina Carol, que estava ao seu lado, lançou-lhe os braços ao pescoço e juntou o seu lindo rosto ao do jovem.
—Não te vás embora. Estamos tão bem aqui...
Russ tinha-se ajoelhado no chão e, quase a chorar, contemplava o whisky derramado.
—Não há direito — balbuciava — é um crime estragar whisky desta maneira. Um crime, um verdadeiro crime que deveria ser punido pela Lei. Por que razão existe um xerife, se não se ocupa destas coisas?
John afastou Carol violentamente e exclamou de mau humor:
—Não te metas no que não te interessa, estúpida! Quando digo que me vou embora, é porque me vou embora!

sábado, 9 de fevereiro de 2019

CLF023.00 Um tiro pelas costas

A ação desta novela desenrola-se debaixo do enquadramento de algo que começou dez anos atras. 
Tudo começou  no Arizona, próximo da fronteira corn o México. Vivia aí um rico fazendeiro mexicano chamado Vargas. Esse homem cometeu a estupidez de guardar em casa uma verdadeira fortuna em moedas de ouro e em joias. Mas isso nao era de estranhar porque a sua mulher gastava muito e era muito vaidosa.
Naquela época Dick Cobb tinha um socio, e juntos decidiram fazer um golpe e roubar o mexicano. Assim o fizeram, mas Vargas era um homem valente e defendeu-se. Durante o tiroteio ele e a mulher morreram. 
Dick e o sócio tiveram de fugir a toda a pressa para nao serem capturados. Na confusão da fuga, o sócio, Art Boydman, fugiu corn todo o dinheiro e Dick nunca mais o viu, vindo a descobrir muito mais tarde que tinha ido trabalhar para o rancho do velho Wood, avô da belíssima Deborah, a quem assassinou com o objetivo de recuperar o tesouro.
Deborah desesperou e encontrando em Dodge um pistoleiro parecido com Dick deu-lhe um tiro pelas costas e pôs-se em fuga. Felizmente não o matou pois conseguiu no homem a quem tentou abater, John Lee, o melhor aliado.