segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

PAS589. Mulheres do Oeste selvagem

Em Nevada, como na Califórnia, como em todo o Far-West, as mulheres, e especialmente as mulheres brancas, constituíam uma insignificante minoria.
A população das zonas mineiras crescera desmedidamente no espaço de poucos anos. Mas era, essencialmente, população masculina: homens duros, aventureiros perigosos que procuravam enriquecer a todo o custo, mesmo a tiro.
Num ambiente primitivo, bárbaro e selvagem, toda a gente procurava viver só, sem laços femininos que prendessem, sem lágrimas que pusessem freio à sua audácia.
Por outro lado, eram poucas as mulheres que se atreviam a viver ali, numa sociedade em que o revólver constituía a lei suprema.
Estavam na proporção de uma para cinquenta, em relação aos homens. E pela sua própria escassez, precisamente, era lógico que os homens lhes dispensassem todo o género de considerações.
A maioria das mulheres que se atreviam a partir para o Oeste em busca de fortuna tinham pouco de recomendáveis. No entanto, o simples facto de serem mulheres conferia-lhes uma situação elevada na sociedade.
E ninguém que se prezasse se atrevia a levantar a mão contra elas. A sua palavra era aceite como verdade indiscutível nos poucos julgamentos que se efetuavam.

domingo, 28 de fevereiro de 2016

PAS588. Arrogância de pistoleiro

De súbito, cruzaram-se com um indivíduo alto, forte, de meia-idade, ataviado com uma comprida sobrecasaca de bom corte e com as calças metidas em botas altas de montar. As pessoas afastavam-se, respeitosamente, à sua passagem e o indivíduo passava com ar indiferente, com as mãos metidas nas algibeiras das calças.
Henderson tirou o chapéu ao passar por ele, obtendo por resposta um displicente aceno de cabeça.
— Quem é? — inquiriu Jack, curioso e surpreendido.
— Mike Porter, o mais velho dos irmãos. Um tipo prodigioso, com mais de quinze mortos às costas. Como esse há poucos!
Havia uma clara admiração nas suas palavras. Jack fitou-o, atónito. Tinha na consciência tantos inimigos defuntos como os que pudesse ter aquele Mike Porter, mas não achava que isso fosse coisa que um homem devesse alardear nem que lhe granjeasse o respeito e a veneração das gentes.
— Aqui não temos muito bom conceito do que ainda não foi capaz de matar um homem. Suponho que você já o fez, não?
— Pode estar tranquilo, «mister» Henderson. Fi-lo várias vezes e espero fazê-lo outras tantas, antes que apareça quem mo faça a mim,
— Assim espero. Mas procure não se meter com os Porter...
Jack quis saber quem eram aqueles famosos irmãos. Henderson deu-lhe, com prazer, toda a espécie de explicações.
Havia dois anos que se tinham apresentado em Virgínia City. Então, eram quatro irmãos e, vinham de Nebrasca. Chegaram, como tantos outros milhares, atraídos pela prata. Procuraram encontrar um filão e perderam vários meses a percorrer inutilmente a região. Por fim, um dia, inesperadamente, encontraram-no na boca dos seus revólveres.
Os quatro irmãos tiveram uma zaragata, estando um pouco bebidos, à saída de um dos numerosos «saloons» da cidade. A luta adquirira características de epopeia.
Contra eles combateram doze homens, entre os quais estavam seis ou sete dos mais famosos pistoleiros. O tiroteio prolongara-se durante mais de meia hora, no meio da rua.
O fim fora a morte de um dos irmãos e vários ferimentos, de maior ou menos gravidade, para os outros três.
Mas, em contrapartida, todos os seus adversários ficaram em condições de serem transportados para o cemitério, sem demoras inúteis.
Os irmãos Porter viram-se imediatamente rodeados de uma extraordinária auréola. Durante quinze dias não se falara noutra coisa, em Virgínia City, a não ser na extraordinária pontaria e na coragem sem limites que lhes dera a vitória.
A fama de todos os «gun-men» locais ofuscara-se diante da deles. Ninguém era capaz de competir com aqueles homens.
Sam Galloway, ao mesmo tempo presidente da Câmara de Virgínia City e dono do maior dos seus «saloons», convidara-os para se encarregarem da vigilância do «Silver Hall».
Aceitaram. Depressa tiveram a seu cargo não só o «Silver», mas também metade dos «saloons» da cidade.
Protegidos por eles, pagando-lhes uma avultada «contribuição», os proprietários podiam considerar-se seguros. Ninguém se atrevia a levantar a voz onde estivessem os Porter. E quem o tentava não tinha muito tempo para se arrepender da sua loucura.
Foram vários os pistoleiros que, ansiosos de fama, ousaram enfrentar qualquer dos irmãos. Todos morreram com as botas calçadas.
Os Porter não só manejavam com rapidez e eficiência os revólveres, como também atuavam com habilidade e astúcia.
Obedeciam cegamente ao irmão mais velho, cabeça dirigente do grupo. Nos momentos de perigo, eram ferreamente unidos. Ninguém podia com eles.
— São um cérebro e seis revólveres. E contra isso é muito difícil lutar.
Tiger Jack não tinha inconveniente em admitir isso. Mas que pensavam as autoridades? O xerife tolerava que aqueles indivíduos fizessem o que quisessem nos seus domínios?
As explicações de «mister» Henderson foram um tanto confusas.
O presidente da Câmara, Sam Galloway, estava a seu lado; o juiz de paz, Jesse Boling, parecia resignado e não falava, com medo de que lhe metessem uma bala na cabeça. Quanto ao xerife...
— Pat é um homem valente e ousado. De boa vontade acabaria com os Porter. Até agora, não encontrou oportunidade para isso; é mais fácil que a encontrem os Porter para acabar com ele.
O xerife, Pat Wilberdox, estava havia três meses em Virgínia City. Não simpatizava pouco nem muito com o reinado dos famosos irmãos.
Devido ao assassínio de um pobre diabo, a quem meteram várias onças de chumbo no corpo, chegara a prender, por poucas horas, John Porter, o segundo dos irmãos.
Mas meia hora depois tinham-se apresentado vinte pessoas que afirmaram ter assistido ao caso. Todas coincidiam em que o morto agredira John e este tivera de o matar em legítima defesa.
Pat tivera de pôr em liberdade o preso e até de sofrer uma reprimenda do próprio presidente da Câmara:
— Nomeámo-lo xerife para que protegesse as pessoas decentes e não os indesejáveis.
 

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

POL108. Seis marcas no revólver

(Coleção Pólvora, nº 108)
 
Um pérfido bandido, apelidado de «Pleasant Harry, ostentava 5 marcas no revólver, respeitantes à morte de outros tantos Rurais do Texas. Ele deslocava-se entre o Texas e o México e colaborava com um conjunto de bandoleiros mexicanos que operavam dos dois lados.
O corpo de Rurais do Texas, incomodado com as proezas de Harry, encarregou dois guardas de procederem à sua prisão ou abate. E assim Tom Mandel e Lucas Purcell tentam integrar-se no conjunto de bandoleiros para terem melhor acesso ao famoso bandido e não permitirem que o mesmo faça a sexta marca no revólver.
A verdade é que a quadrilha mexicana recebe armas de um traficante, um respeitável rancheiro de El Paso o qual acaba por se cruzar com os dois rurais. Para complicar a situação, William Ransom, assim se chama o traficante, é pai de uma jovem que impressiona significativamente, pela sua beleza, Tom Mandell.
A novela decorre em ritmo satisfatório, denotando a perícia do autor

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

BUF110. Um nova-iorquino entre índios


(Coleção Búfalo, nº 110)


Depois das aventuras já aparecidas na Coleção Arizona («Um nova-iorquino no faroeste» e «um enigma no faroeste», Fred Collins partiu com a sua noiva, em lua de mel com destino a Nova York. A carruagem em que seguiam servia também para transportar um preso acompanhado por dois guardas. Mary não gostou muito da companhia, mas a presença do noivo tudo parecia suplantar.
A verdade é que os seus receios tinham razão de ser, pois o comboio foi assaltado e Fred viu-se envolvido na perseguição do prisioneiro entretanto libertado à força. Caiu na mão de índios e, a partir daí, um conjunto de peripécias entre os mesmo tomou conta da novela bem ao estilo de V. Saint Kasymr, isto é, Vasco Santos.

domingo, 14 de fevereiro de 2016

PAS587. Uma bala entre os olhos

— Zimmermann!
A voz soara no alto da escada. Leo, ao ouvi-la, ficou completamente quieto.
— Zimmermann, estou aqui.
Leo foi voltando lentamente a cabeça. Nas escadas estava uma figura alta, musculosa, vestida. com uma jaqueta índia, de pele. Era um homem moreno, de cabelo muito curto e o
— Olá, Paul — disse Leo.
— Quem é esse? — perguntou Bart, perdendo aquele tom lamentoso que o caracterizava.
— Leo, tens feito muito estrago inutilmente — disse Merrick, descendo mais um degrau. — E isso são coisas que se pagam mais tarde ou mais cedo.
Havia uma espécie de tensão elétrica entre os dois homens. Os espectadores podiam quase senti-la. Uma tensão que parecia nascer do choque de duas personalidades poderosas em luta. O xerife perguntou a si próprio como é que aqueles homens tinham podido cruzar os seus caminhos sem tropeçar um com o outro. Parecia impossível.
— Não te metas nisto, Paul — disse Leo, piscando os olhos. — Isto não te diz respeito.
— Enganas-te. Há dois dias ter-te-ia dito: «Sai de Santa Rita e não te lembres de voltar». Agora digo que vou caçar-te.
— Bom, pois experimenta — disse Leo. — Os meus irmãos têm dois rifles e estão a apontar para ti. E eu tenho... isto!
Ao mesmo tempo que uivava a última palavra sacou os dois revólveres e disparou. Então o xerife teve ocasião de verificar como uma vida sã, na montanha, caçando ursos e alces, torna ágil e forte um homem.
Merrick dera um salto e as balas de Leo Zimmermann cravaram-se no sítio onde ele estivera um instantes antes. Caiu agachado como um gato — saltara sobre o corrimão — e naquela postura difícil começou a disparar.
A primeira bala recebeu-a Leo entre os olhos. Caiu para trás, arrastando uma cadeira na queda. Nesse momento, o rifle de Bart entrava já em ação. A poderosa bala da «Winchester» rachou uma mesa sem atingir o seu objetivo.
Tudo aquilo ocorreu num espaço de tempo não superior a três segundos. Merrick não deixara de disparar, de maneira que as detonações e os estalidos da madeira pareciam simultâneos. Bart encolheu-se, deixando cair o rifle, com uma intensa expressão de dor no rosto. E então Gene começou a uivar e dar saltos como se tivesse enlouquecido.
— Assassino! Assassino! — berrava. E depois, impensadamente, atirou para o chão o rifle que não utilizara e atirou-se à garganta de Merrick.
Este esperava-o já de pé. Deu-lhe um soco que o atirou aos tropeções até ao outro extremo da sala, onde ficou encolhido, feito numa bola gemebunda.
— Podem encarcerá-lo — disse Merrick de sobrolho franzido. — Lançou um olhar em redor. — Caso encerrado.
— Obrigado, Merrick — disse o xerife com os olhos brilhantes. — Que bom trabalho!
— Agradeça a «miss» Traven — respondeu Merrik, dirigindo-se para a porta.
E saiu. Lá fora nevava intensamente.

sábado, 13 de fevereiro de 2016

PAS586. A Justiça virá pela Mão de Deus

O xerife aparecera à porta. Atrás dele podia ver-se a figura esbelta de Eileen, através da janela.
— Foi demasiado longe, Zimmermann — disse o ancião. — Está a ser procurada pela justiça e eu vou detê-lo em nome da Lei.
— Homem, não me diga! — exclamou Bart com sincero assombro. — Você?
— Gene, evacua a sala. A tiro se for preciso — disse Leo sem afastar os olhos do xerife.
— Rua, todos! — gritou Gene, apontando as armas à assistência. — Que é isto? Um motim? Rua, já disse!
Alguns homens saíram. A jovem, de pé na neve, gritou:
— Cobardes! Bastava que um de vocês começasse a disparar! Eles não podiam matar todos! Cobardes! Nem parecem homem!
Mas o terror apoderara-se de todos eles. Excepto o xerife e Mortimer, todos acabaram por sair precipitadamente. A jovem, com o lindo rosto em fogo, entrou na taberna.
— Vá-se embora, «miss» Traven — disse Leo sem deixar de olhar para o xerife O'Malley — não, quero que alguma bala, dessas que se perdem, vá acertar em si.
— Considere-se detido — repetiu o xerife.
— Chris, por favor, não pode fazer isso.! — gritou Eileen.
— Não seja louco — disse Mortimer por sua vez. — Todas as vantagens estão do lado dele.
— Olhe, xerife, eu respeito os velhos — disse Leo. — Não quero matá-lo, creia. O senhor faz lembrar-me o meu pai. Vá-se embora e não fale mais no assunto.
— Tenho de prendê-lo — repetiu firmemente o xe-rife. — Faltei ao meu dever não o fazendo antes. Mas agora digo-lhe que se considere detido, que ficam detidos os três e que vou sacar o meu revólver.
— Não, Chris! — gritou Eileen, aterrorizada. O seu olhar encontrou o do noivo. Este encolheu levemente os ombros num gesto que expressava bem claramente que não podia fazer nada.
— Não quero fazer-lhe mal, xerife. Mais vale ir-se embora.
O xerife levou a mão ao coldre. Logo, da anca de Zimmermann brotou um resplendor alaranjado e novamente a sala foi atroada pelo estrondo de um disparo.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

PAS585. Uma jovem frágil encontra-se com um urso feroz

A jovem dobrou o cotovelo do caminho, perguntando a si própria se não se teria equivocado no carreiro. Mas não, aquele parecia ser o único carreiro da montanha, pelo menos por aquela banda.
De súbito, o cavalo estacou, de orelha fita. Depois relinchou aterrorizado e a jovem teve de empregar todas as suas forças para evitar que desse a volta e desatasse a correr outra vez para baixo.
— Quieto, quieto! — disse com voz acariciadora.
Mas o cavalo via, farejava ou pressentia qualquer coisa que a ela lhe escapava. Um calafrio percorreu--lhe as costas.
Eram dez horas. Em algumas zonas do bosque havia ainda manchas de um ligeiro nevão que caíra na noite anterior. Reinava um profundo silêncio, apenas cortado pela viva passagem de algum esquilo nos ramos das árvores, fugindo de uma silenciosa marta.
O cavalo voltou a encabritar-se, abrindo muito os olhos, espantado. A jovem tentou domá-lo, mas não conseguiu. Um brusco esticão do animal e Eileen inclinou-se para um dos flancos, perigosamente.
A jovem não pôde reprimir um grito que pareceu espantar ainda mais o animal. Este ergueu as mãos e Eileen Traven foi parar, definitivamente, ao chão. Então, para sua imensa surpresa, o cavalo, que costumava ser de um temperamento mais doce, relinchou de novo e rompeu a correr pela senda abaixo.
Foi inútil a jovem chamá-lo. O animal dobrou o cotovelo do caminho e dentro em pouco perdia-se o ruído que os seus cascos produziam na areia endurecida pela geada.
A jovem pôs-se de pé. Ajeitou o cabelo que lhe tinha caído sobre os olhos e olhou em volta. O sangue gelou-se-lhe nas veias quando viu o que tinha espantado a sua montada.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

PAS584. O homem que deixara de usar armas

Tinha sido havia dois, três, quatro anos? Quem não conhecia então Merrick? Passeara o seu revólver por todo o Arizona depois de tê-lo passeado pelo Texas onde nascera. Naquele 'mesmo Verão, em Phoenix, durante uma viagem, cerca de cinquenta pessoas de diferentes idades e categorias sociais e morais tinham perguntado ao xerife o que é que fazia Merrick em Santa Rita, e se era verdade que se tinha reformado.
O xerife recordava o dia em que Merrick, pela primeira vez em toda a sua vida de adulto e adolescente, saíra à rua sem armas. Fora ali precisamente em Santa Rita, onde tinha ido, contemplar pela última vez o rosto da jovem com quem ia casar e que tinha vindo para as Montanhas para recompor os pulmões. Não o conseguira e morrera.
Merrick chegou tarde demais. Uma luta com uns «raiders» mexicanos impedira-o de acorrer a tempo.
Então, ante os, olhos assombrados dos habitantes de Santa Rita, desenrolou-se o mais estranho acontecimento que jamais lhe fora dado presenciar.
 Ante o cadáver da jovem, Merrick tirou os revólveres e arrojou-os para longe de si. Depois ajoelhou-se e durante muito tempo ninguém soube se rezava ou mão. Quando enterravam a jovem, permaneceu ao lado do féretro até que a última pá de terra tombou, sem dizer uma palavra.
Mas no domingo seguinte levantou-se na igreja e disse que jamais voltaria a disparar uma arma de fogo contra um semelhante e que se arrependia das mortes que lhe pesavam agora na consciência.
Durante vários dias, a opinião pública flutuou, dominando a ideia de que aquilo acabava em qualquer momento e que o homem voltaria a pegar nas armas e a colocá-las à cinta. Não sucedeu assim. Pelo contrário, várias vezes, no decurso daqueles dias voltou a predicar na igreja sobre a não resistência ao mal.
E sucedeu o inevitável. Um dia, na rua, um idiota qualquer, um vaqueiro bêbedo, provocou-o, ameaçou-o, tentando ver aonde chegaria a transformação operada num homem que até então não suportara provocação alguma.
Merrick tentou acalmá-lo, e aconselhou-o a que não se deixasse levar pelos seus baixos instintos. O outro continuou a provocá-lo e acrescentou insultos dificilmente suportáveis. Merrick empalideceu, mas não reagiu em desacordo com as suas novas ideias. Alguém tentou meter-lhe um revólver na mão mas ele afastou-o para longe. E então o vaqueiro disparou contra ele.
Ao vaqueiro lincharam-no, porque Merrick estava desarmado, mas quando se restabeleceu do seu ferimento, toda a gente virava a cabeça à sua passagem, e inclusivamente a igreja chegou a esvaziar-se um domingo em que ele tentou de novo predicar. Depois começaram a atirar-lhe pedras as crianças. E as mulheres a rir-se à sua passagem...
Então partira para a velha igreja espanhola da montanha, dizendo a quem o queria ouvir que esperaria lá todos os que tivessem algum peso na consciência e que ele trataria, na pobre medida das suas forças, de aliviá-los.
Tinham passado, recordou-se o xerife de repente, não quatro mas sim cinco anos.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

BUF107. Zimmermann, o pistoleiro



(Coleção Búfalo, nº 107)

Esta é a verdadeira história de Leo Zimmerman o tristemente célebre pistoleiro do Arizona. O facto que se relata mais adiante é real, e apenas as personagens secundárias são fruto da minha imaginação do autor. O referido facto, muito modificado, foi aproveitado pelo cinema numa excelente versão.
As passagens que aqui deixamos relatam alguns dos passos necessários para mobilizar o homem que, afastado das armas, um dia se dispôs a vencer o pistoleiro devido ao pedido de uma jovem e após uma serie de humilhações.
A capa é notável pela fidelidade ao encontro da jovem com um urso feroz e o seu salvador. Eis mais um bom livro da Coleção Búfalo.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

PAS583. O cachimbo da paz

A caravana, agora escoltada pelos Federais, prosseguia na sua caminhada para Santo António, onde contavam chegar dentro de quatro dias.
Haviam passado já dois dias, depois do violento combate, e embora se continuassem a observar colunas de fumo, os índios não haviam voltado a atacar.
Os colonos tinham tido bastantes baixas. O trágico balanço fora de trinta e cinco mortos e quarenta e oito feridos, estes felizmente sem gravidade.
Dos Federais, tinham morrido doze e ficado feridos oito, um dos quais em perigo de vida.
As baixas por parte dos índios eram muito maiores. No combate que se travara naquela manhã memorável, mais de metade dos guerreiros peles-vermelhas tinha sido abatida. Quanto ao número de feridos, nada se sabia, mas supunha-se ser muito elevado.
Talvez por essa razão, não se aventurassem a outro ataque. No entanto, a vigilância não era descurada e á noite os carros eram formados em círculo e as sentinelas rendidas de duas em duas horas, para não adormecerem,
Ao terceiro dia de viagem, a caravana fez alto a uma ordem do 'capitão. Uma nuvem de poeira ia aumentando, à medida que se aproximava.
Olhando através do seu potente binóculo, O'Bannion exclamou:
— Três cavaleiros índios encaminham-se para cá e trazem uma bandeira branca. Que diz a isto, Darrow?

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

PAS582. O piar da coruja

Frank Darrow não conseguia dormir. Ele esperava o ataque a todo o momento e queria estar acordado para não ser surpreendido.
As sentinelas foram rendidas três vezes sem que nada de anormal se passasse.
Preparava-se para dormir um pouco, quando um piar de coruja se fez ouvir. Passado pouco tempo e mais longe, outro piar, ao mesmo tempo que um coiote uivava. Levantou-se de um salto e empunhou a carabina.
Os índios preparavam-se para o ataque e trocavam sinais entre si. Conhecedor dos seus hábitos, ele distinguira imediatamente os sinais. Sem ruído dirigiu-se às sentinelas e avisou-as de que tomassem atenção porque os índios iam atacar.
Acordou Cush e O'Bannion e avisou-os também. Resolveram não acordar os outros soldados enquanto não houvesse razão para tal, mas os três prepararam-se para o que desse e viesse e foram colocar-se junto das sentinelas.
O piar da coruja e os uivos dos coiotes continuavam.
Num murmúrio, O'Bannion perguntou se não seria melhor acordarem naquela altura os soldados, ao que Frank respondeu que os deixasse descansar porque no dia seguinte iam ter muito que fazer. Chegou a hora da rendição das sentinelas para o último quarto. As que foram rendidas já não dormiram e foram juntar-se aos três homens.
A tensão nervosa aumentava, pois os índios atacariam antes do amanhecer e dentro de duas horas era dia. Finalmente aquilo que tanto esperavam deu-se.
De repente e gritando como loucos os índios lançaram-se ao ataque.

domingo, 7 de fevereiro de 2016

PAS581. A caravana da esperança

A esperança de ambos em adquirir um rancho, no entanto, não esmorecera, antes pelo contrário.
Queriam demonstrar àquele cobarde que haviam de conseguir os seus intentos, nem que para isso pagassem o dobro, a outro vendedor.
A bela rapariga continuava a fazer milagres para economizar o suficiente.
Certo dia, estava a loja em pleno movimento quando ela sentiu que era observada.
Percorrendo com os olhos os clientes, descobriu à entrada um desconhecido encostado à porta da loja que a fitava com insistência.
Ruborizada, desviou o olhar, ao mesmo tempo que tentava recordar-se de quem seria a estranha personagem.
Voltou a levantar os olhos e notou que o desconhecido a não desfitava. Começou a sentir um certo mal-estar, ao mesmo tempo que uma grande curiosidade despertava no seu ser.
Quem seria aquele homem, de bela aparência que tão descaradamente a fitava?
Nesse momento, um dos clientes reclamava:
— Eu pedi arroz e a menina está a medir uma peça de pano?
— Desculpe-me, senhor Larrigan. Estava completamente distraída. Queira desculpar-me, sim? É a primeira vez que isto me sucede.
— Não tem importância — respondeu Larrigan. — Eu queria cinco quilos de arroz. Lá a patroa encomendou-mo e se o não levo é o cabo dos trabalhos.
Para que tal descuido se não voltasse a verificar, Susy resolveu alhear-se por completo da presença do desconhecido vestido à vaqueiro.
Este, por seu lado, não se mexeu de onde estava, nem disse nada.
Era um rapaz alto e forte, devendo a sua altura andar pelo metro e oitenta. Aparentava ter vinte e oito anos e o seu semblante era viril denotando retidão e nobreza de carácter. Uns olhos azuis sobre um nariz bem feito e uma ampla testa demonstrando inteligência. Seu cabelo era de cor castanha a fugir para o louro.
Tudo isto a rapariga observara, em dois ou três golpes de vista e a presença do forasteiro, embora lhe complicasse com os nervos, fora-lhe simpática. Ela tinha de saber quem era aquele simpático exemplar masculino.
O movimento na loja continuava e só com grande força de vontade a rapariga conseguira que nova reclamação não fosse apresentada. Apesar disso, entornara um pacote de açúcar e partira dois pratos que inexplicavelmente lhe haviam escorregado das mãos...
Impávido e sereno, simulando não ver a atrapalhação da rapariga, o desconhecido não abandonara o seu posto de observação. E à hora de fechar a loja, para irem almoçar, fora o último cliente a sair.
Robert Robinson, por não ter observado o que se passara, não estranhou que alguém caminhasse atrás deles uns metros durante o trajeto para sua casa.
Porém, esse facto não passara despercebido a Susy. Era insistente, aquele homem.
Depois de entrar em casa e sem que seu pai o notasse, a rapariga espreitou atrás das cortinas, para a rua e verificou que ele se detinha e fixava o edifício para onde tinham entrado.
Passados momentos, regressou por onde viera, olhando de vez em quando para as janelas da casa.
O coração da rapariga palpitou.
Não havia 'dúvida de que aquele forasteiro despertara grande interesse no seu coração virgem.
Pela primeira vez, um homem despertara-lhe interesse, mas era um desconhecido e ela teria de ter muito cuidado, não fosse um desses muitos aventureiros que a diversas raparigas já tinham enganado.
Estava esperançada em que aquele não pertencesse a essa nojenta casta.
O seu olhar demonstrava lealdade, mas pelo sim, pulo não, o melhor seria precaver-se e se ele tentasse qualquer abuso, espalmar-lhe-ia a mão na cara como já por diversas vezes se vira obrigada a fazer.
Na parte da tarde, verificara-se o mesmo que da parte da manhã.
Poucos minutos depois da loja aberta, o desconhecido voltara a colocar-se no mesmo sítio e sem dizer uma palavra não desfitava a rapariga.
Esta, que conhecia o feitio de seu pai, temia que este descobrisse qualquer coisa, de modo que não o deixava aproximar-se daquele lado, obrigando-o a atender os clientes no ponto mais afastado do balcão.
Novamente, depois de fechar a loja, o desconhecido os seguira a alguma distância.
À hora do jantar a rapariga resolveu tirar «nabos da púcara» e com certo desinteresse perguntou ao pai, enquanto o servia:
— Nova Orleães está grande, paizinho. Cada vez há mais gente nova.
— É verdade, minha filha — respondeu o comerciante. — Então nesta altura... Está cá muita gente nova que segue numa caravana para Santo António. São colonos que vão transformar aquelas terras, tal como nós fizemos há muito tempo. Está com eles um rapaz que é de Santo António e que lhes servirá de guia.
Com esperança a rapariga perguntou:
— É um rapaz bem parecido, alto e louro?
— Parece que sim, minha filha. Não o conheço. Mas porque o perguntas? Conhece-lo?
— Não, paizinho. É que hoje vi na rua um desconhecido com esses sinais e perguntei por curiosidade. Não quer comer mais batatas? Olhe: que estão muito boas.
— Não, filha, obrigado. Eu vou sair já, pois ando a tratar de uma coisa que por enquanto é segredo. Quero fazer-te urna surpresa.
Fazendo beicinho, mimalha, a rapariga perguntou:
— Não me contas, paizinho? Anda, não sejas mau.
— Pronto, já estraguei tudo. Mas para que diabo eu havia de falar nisto, caramba?
E mudando de tom, continuou paternalmente:
— Pois bem, se queres saber, aí vai. Ando a ver se consigo que vamos para Santo António na caravana. Lá, os terrenos, segundo estou informado, são gratuitos, pois precisam de colonos para fazer a ocupação. Também me disseram que há terrenos que são 'autênticas bênçãos do céu. E eu estou tentado a partir. Qual é a tua opinião, Susy?
Dando pulos de satisfação 'a rapariga pendurou-se ao pescoço do pai.
— Mas que filha maluca eu tenho, Santo Deus —disse o pai com carinho.
— É maluca, sim, paizinho, é maluca por ti. A minha opinião é que preparemos as nossas coisas e partamos com a caravana.
— Bem, não cantes vitória antes de tempo, pois nada está ainda assente. Hoje ficará tudo mais ou menos combinado, pois o tal guia deve ter regressado hoje a Nova Orleães. Ele foi fazer um reconhecimento sozinho pois parece que têm' de atravessar território índio. Amanhã falaremos, minha filha.
Beijando o pai em despedida, Susy retirou-se para os seus aposentos e naquela noite sonhou que ia na caravana, os índios 'atacavam e ela fora salva por um valente homem: O 'desconhecido que durante o dia a não deixara de fitar.
No dia seguinte, quando abriu a loja, a sua primeira preocupação foi procurar com os olhos o homem dos seus sonhos.
Não o viu, mas não estranhou, porque a reunião dos da caravana durara até tarde. O seu pai também ficara a dormir e ela não sabia ainda a que resultados chegaram.
A manhã foi decorrendo e a rapariga não tinha mãos a medir por lhe faltar a ajuda de seu pai.
A meio da manhã este apareceu.
A rapariga correu logo para ele e depois de lhe dar os bons dias perguntou ansiosa:
— Paizinho., chegaste a acordo com os colonos?
— Cheguei, sim, filha. Partimos daqui a quinze dias. Depois falaremos. Agora vamos atender os clientes,
Pai e filha depressa satisfizeram todos os pedidos e dentro em pouco estavam sozinhos.
Preparava-se a rapariga para crivar o pai de perguntas, quando o desconhecido fez a sua aparição.
A rapariga estremeceu e fixou vivamente a garbosa figura do rapaz.
Robinson, notando o movimento da filha, olhou para a porta e um sorriso aberto apareceu nos seus lábios.
— Seja bem-vindo, «mister» Darrow.
— Bom dia, «mister» Robinson — respondeu o forasteiro.
E voltando-se para a rapariga saudou-a com uma cortês vénia.
— Antes de mais nada, não quero que me chame «mister» Darrow. Para os amigos sou Frank e eu considero-o meu amigo. Em segundo lugar terei o máximo prazer em ser apresentado à mais bela flor dos jardins de Nova Orleães.
A bela Susy ficou sem pinga de sangue, receando uma reação violenta da parte de seu pai.
Robinson, porém, não se deu por achado e apresen-tou os dois jovens:
— Frank Darrow, o nosso guia, a quem fui apresentado ontem, mas por quem já sinto intensa amizade. Minha filha Susy, o meu único tesouro, a quem defenderei até à morte.
Susy compreendeu que seu pai, Com este invulgar género de apresentação, dera a entender ao desconhecido como atuaria em caso de qualquer tentativa de abuso.
Simulando não ter compreendido o toque do velho comerciante, o guia da caravana Mirou da cabeça o chapéu de abas largas e com galanteria cumprimentou a rapariga, enquanto murmurava:
— Sinto honra em lhe ser apresentado, Susy.
A rapariga com a emoção nem respondeu e para fugir àquela situação difícil desprendeu a sua mão das do rapaz e foi atender um cliente que acabara de entrar
Os dois homens ficaram sozinhos e embrenharam-se numa conversa amena, enquanto a rapariga atendia alguns fregueses que entravam a seguir.
A certa altura Robert Robinson, dirigindo-se à filha, disse-lhe:
— Frank almoça hoje connosco. Vê lá se nos matas de fome, Susy.

sábado, 6 de fevereiro de 2016

PAS580. O sonho de ter um rancho

Os Robinson viviam em Nova Orleães, onde possuíam urna pequena casa de vendas a retalho que ia dando para comer e para, devido à organização de Susy e ao seu método, juntarem um pequeno pé-de-meia.
O sonho de ambos era possuírem um rancho, mas o seu pequeno pecúlio ainda não chegava.
Teriam de comprar o terreno e só para ele iriam todas as economias que, mesmo assim, não chegavam, devido a gente sem escrúpulos que especulava pedindo por terrenos de pouca valia dez ou vinte vezes o seu valor real.
Apesar disso, pai e filha não perdiam as esperanças e moeda a moeda o pequeno pecúlio ia aumentando dia a dia.
Os meses foram passando e quando julgaram ter o suficiente, Robert Robinson dirigiu-se a Lou Carpenter, um vendedor de terrenos, a fim de finalmente comprar um que já estava falado e com preço estipulado. Porém Carpenter era velhaco e cobiçava Susy.
Quando Robinson se apresentara para fazer o negócio, o bandido atendeu-o cheio de falsos sorrisos:
— Ora viva o nosso Robinson. Então que o traz por cá?
— Bom dia, Carpenter — cumprimentou o velho pioneiro. -- Finalmente consegui o dinheiro suficiente para comprar a terreno de que já falámos. Trago-lhe os dez mil dólares, conforme o combinado e pode já começar a passar-me a declaração de venda.
O sorriso desapareceu da boca de Carpenter. Lentamente sentou-se e a sua, voz tomou um tom de lamentação.
— Sinto ter de lhe dizer, Robinson, que lhe não posso vender o terreno por esse preço. É que...
— Mas foi assim que combinámos e você não pode voltar com a palavra atrás — interrompeu-o o velho Robinson.
— Custa-me imenso fazê-lo, Robinson, mas não tenho outra alternativa. O preço dos terrenos subiu devido à linha dos caminhos de ferro e já me ofereceram por ele o dobro e não o vendi. Isto é falar-lhe com franqueza.
— Mas...
— Lamento, meu amigo.
O especulador apertava os lábios entre o indicador e o polegar da sua mão direita e estava pensativo o que deixou o pai de Susy em suspenso.
Ao fim de alguns minutos Carpenter falou:
— Há uma maneira de chegarmos a um acordo caro Robinson.
— Diga lá. Sabe bem que tudo farei para adquirir aquele vale. É a paixão da minha Susy.
— Isso ainda vem ao encontro dos meus planos. Vamos fazer a seguinte combinação: como sabe eu gosto de Susy e tudo, farei para a conquistar, embora, sem saber porquê, ela me não...
— Alto, Carpenter — gritou o pai da rapariga cheio de indignação. Pare de falar e feche essa parca bocarra de sapo antes que eu a desfaça a murros.
— Mas, senhor Robinson...
— Cale-se, filho de uma cadela.
Agarrando o bandido pelas bandas da labita levantou-o da cadeira, demonstrando uma força invulgar para a sua idade.
Carpenter, vendo o caso mal parado, estava pálido como um cadáver e tremia como varas verdes.
Com a cara muito junta da do bandido, o velho disse com voz rouca:
— Fica sabendo, cão imundo, que Robert Robinson é um homem honesto e não negoceia a sua filha. Preferia pedir esmola a vê-la casada com um cobarde como tu.
— Senhor Robinson, tenha calma — pediu Carpenter.
— Calma, estando um réptil asqueroso como tu tão perto? Eu devia matar-te, cão, mas nem o custo de uma bala mereces. Livra-te de eu te ver tentando falar com a minha filha. Hoje só te faço isto.
Robinson escarrou-lhe na cara e atirou-o sobre a cadeira que se estilhaçou em mil bocados.
Virando-se para sair do gabinete parou boquiaberto.
À entrada da porta estava Susy que assistira à discussão sem os dois homens terem dado pela sua presença.
Dirigindo-se à filha, Robinson disse:
— Vamos, minha filha. Abandonemos este covil infecto.
— Sim, pai, vamos embora, mas antes deixe-me dizer, duas palavras a esse parco cobarde. — E voltando-se para o aturdido Carpenter continuou: — Se até agora sentia por ti somente simpatia, a partir de hoje nem ódio sinto, tanto valor tens para mim. — Voltando-se para seu pai prosseguiu: — Vamos, paizinho?
Ambos abandonaram o escritório do bandido.
Este levantou-se do chão e com os olhos fixos na porta sacudiu maquinalmente o pó do fato. Sentindo a cara húmida, levou a mão, ao sítio e verificou repugnado que um escarro lhe vinha agarrado aos dedos.
Sacudiu-os vigorosamente e com um lenço limpou a face.
Acabava de cometer o maior erro, da sua vida. Devido à sua ganância, perdera um bom amigo, unia mulherzinha adorável e dez mil dólares por um terreno que lhe custara cem.
Isso tudo aliado ao facto de ter sido humilhado até às últimas por um velho de cinquenta e dois anos. Irra, que era demais.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

PAS579. Perfil de um guia de caravanas

Os pais de Frank tinham morrido, deixando-o completamente só no mundo, com doze anos de idade. Para ganhar o seu sustento tivera de se sujeitar a tudo.
Inicialmente, começara a trabalhar como ajudante de ferreiro, passando depois a moço de estábulos. Apesar dos magros vencimentos, conseguira juntar o suficiente para comprar um par de revólveres e respetivas munições.
Resolvera-se a isso porque chegara à conclusão de que no Oeste quem se 'pão soubesse defender era homem liquidado.
Vira muita gente boa ser abatida por outra sem escrúpulos, porque eram menos rápidos com os revólveres.
Treinou-se com afinco e o que amealhava era para comprar balas para os treinos. Aos catorze anos, era já conhecido como um verdadeiro ás em precisão de tiro e rapidez.
Aos quinze, tivera o seu primeiro duelo com um perigoso pistoleiro, que maltratava um aleijado na altura em que ele ia a passar. A princípio o pistoleiro, encarando com o garoto que o desafiava em público, riu-se. Nunca chegou a compreender o seu erro, porque uma bala lhe penetrara na testa, matando-o instantâneamente.
Esse duelo marcara uma nova era na sua vida. Frank, somente nesse dia, tivera a prova de que não estava desamparado. As suas armas eram a sua garantia de segurança.
Daí para diante a vida sorrira-lhe. Um abastado rancheiro de Santo António, solteiro e sem família, convidara-o para trabalhar no rancho, como vaqueiro, ao que o rapaz aceitou sem hesitações.
Os anos foram passando e Frank foi nomeado capataz. Tinha então vinte e um anos. Apesar de novo todos o respeitavam pois as suas decisões primaram sempre pela retidão e pela justiça.
Satisfeito com a sua atuação o velho rancheiro chamara-o um dia e propusera-lhe sociedade. O rapaz esquivou-se, mas o patrão fora intransigente e obrigara-o a aceitar.
Depois da escritura feita, o velhote entregara-lhe a direção do rancho e retirara-se para S. Francisco da Califórnia, onde pretendia gozar calmamente os últimos anos de vida.
O rancho prosperara e possuía agora grandes manadas de bois que constituíam a sua principal fonte de receita.
Por motivos diversos, bastas vezes se vira obrigado a atravessar o território índio, razão pela qual o conhecia como aos seus dedos. Sempre que se ausentava de Santo António, no regresso indagava se havia caravanas e, em caso afirmativo, oferecia-se para as guiar, pois sabia de antemão os perigos que iam correr, não tendo quaisquer possibilidades de êxito se não arranjassem um guia experiente como ele.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

BUF106. Território índio


(Coleção Búfalo, nº 106)
 
"Estavam no terceiro dia de marcha e tinham já alcançado o coração do território índio.
Muitas milhas em redor, somente os índios habitavam aquela região e poucos brancos se haviam até então aventurado em tais paragens e os poucos que o tentaram ou foram mortos ou se viram obrigados a regressar a Santo António, muitos deles feridos.
Somente os colonos se permitiam tais aventuras.
Eram homens empedernidos e coadjuvados por verdadeiras mulheres, os que constituíam a maioria das caravanas.
Muitas delas tinham sido destruídas e os seus componentes chacinados depois das mais cruéis torturas. Mais do que uma devia a salvação aos bravos Federais que, apesar de também sofrerem baixas, nunca deixavam sem resposta um apelo daqueles desgraçados." - é este o ambiente deste «Território Índio» assinado por Ajamaro, autor com apenas quatro obras registadas em Portugal, todas publicadas pela APR.
A capa, não assinada, parece mostrar alguém a rezar perante uma sepultura a qual, no fundo, simboliza as inúmeras vítimas da árdua luta sustentada pelos colonos para atravessar aquele território. Uns tiveram sepultura condigna outros ficaram ao Sol à espera dos abutres... No entanto, esta não devia ter sido a capa deste livro, mas sim a do anterior publicado na coleção.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

PAS578. O dia em que Jane se juntou ao seu amado

Passaram-se quarenta anos sobre os factos que acabámos de relatar.
Kansas City tinha-se desenvolvido extraordináriamente e agora é uma cidade próspera e bela, cheia de movimento.
Naquele dia fazia precisamente quarenta anos que Nelson Montgomery morrera.
Como sempre sucedia todos os anos, uma caleche parou no cemitério da cidade. Era a quadragésima vez que tal se verificava àquela mesma hora e naquele mesmo dia.
Uma velhinha encarquilhada e trôpega desceu do veículo ajudada pelo cocheiro. Com passas incertos, dirigiu-se para o portão que abriu e atravessou, Na mão, levava um belo ramo de rosas brancas.
Depois de percorrer diversos arruamentos deteve-se em frente de uma campa.
Na lápide lia-se apenas:

Nelson Montgomery

Ajoelhou-se e com devoção depositou na fria lousa as flores. Orou com fervor. Não chorou. Havia quarenta anos as lágrimas secaram-se-lhe para sempre.
Levantou-se com dificuldade e teve uma pequena hesitação. As pernas tremeram-lhe e caiu desamparadamente sobre a campa agora florida.
Alguns indivíduos que por casualidade iam a passar observaram a cena e acorreram pressurosos. Nada puderam fazer. Jane Taylor, pois era ela, acabava de entregar a sua alma ao Criador.
Uma pomba branca esvoaçou sobre o cemitério...

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

PAS577. Reabilitação que chega em momento de duelo fatal

Os dois adversários encararam-se, tensos, as mãos a tocar nas coronhas. Ambos se conheciam de sobra e sabiam com o que podiam contar.
Na praça o silêncio era impressionante e finalmente, de entre aquela vasta assistência ouviu-se uma voz possante:
— Um... dois... TRÊS!
BUM! Ninguém conseguiu explicar como as coisas se passaram. Ambos empunharam e sacaram os revól veres mas apenas um tiro maior que um trovão se ouviu.
Nelson Montgomery estremeceu violentamente e caiu de costas desamparado.
Um ah! de admiração ouviu-se em uníssono. O valente rapaz fora atingido e pelos vistos com gravidade.
Como uma só pessoa todos olharam para o bandido. Este sorria e os seus revólveres ainda fumegavam. Mas sempre a sorrir, o bandido foi vergando as pernas ao mesmo tempo que dois fios de sangue lhe escorriam pela face, provenientes de dois buracos abertos na testa.
Por fim caiu. Estava morto. O sorriso era somente o esgar da morte.
Entretanto Jane, ao ver o seu adorado cair, perdera os sentidos sem um queixume e caíra também.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

PAS576. Momento estragado pelo aparecimento inesperado do bruto Kansas Kid

Levantou-se e despiu a roupa que envergava. Dirigiu-se à casa de banho e dentro de momentos refrescava-se com um banho de água fria. Depois daquele duche resolveu, fazer a barba, que havia seis dias não era feita.
Em seguida penteou-se com esmero, envergou roupa., limpa e passados momentos percorria as ruas de Kansas City.
Seis dias de imobilidade haviam-lhe emperrado as pernas e andando um bocado a pé, desentorpecia-as.
Todos o fitavam com certo receio e respeito, pois eram já conhecedores das atitudes do rapaz.
Sentiam por ele grande admiração, não só pelo seu procedimento violento, como também pela coragem que demonstrara ao salvar de uma morte certa a filha do rancheiro Taylor.
Haviam-se criado dois partidos. Um, desfavorável ao rapaz, considerava a salvação de Jane como um acaso furtuito. O outro, favorável, considerava aquele ato como prova dos bons sentimentos do jovem forasteiro, relegando para segundo plano as suas qualidades de brigão, que atribuíam à sua juventude fogosa.
Nelson Montgomery continuou o seu passeio, completamente alheio ao que se passava em seu redor.
Não lhe interessava o modo como o classificavam, pois tinha a certeza de que, dentro em breve, a opinião pública se inclinaria a seu favor.
De repente ouviu o barulho de um carro puxado por cavalos e olhou.
Frank Taylor e Jane acabavam de chegar à cidade. Não o viram e pararam em frente de um estabelecimento pertencente a um Dal Cooper, onde se vendiam os mais diversos artigos para ranchos.
Nelson, ansioso por estar com a rapariga, resolveu fazer-se encontrado com eles.