sexta-feira, 26 de novembro de 2021

BIS116.13 Epílogo

Ann Smith sempre vestiu o seu traje de noiva e para casar com John Barton. 

A boda constituiu um acontecimento em Winona. Não se casaram no dia marcado. John levou tempo a sarar as suas feridas. Pat também não se restabeleceu logo. Os arranhões provocados pelas garras do coiote deixaram-lhe profundas cicatrizes pelo corpo. Mas que importavam as cicatrizes do corpo, se tinha salvo o espírito, a sua alma? 

Já não era o mesmo que anteriormente, como também Winona já não era a mesma cidade. O exemplo de John Barton servira para levantar o moral dos que queriam viver it tranquila e honradamente. 

Quando se casou, John quis renunciar ao cargo de xerife. Queria dedicar toda a sua atividade e todos os seus esforços à sua casa, ao rancho. Pat foi dos primeiros a opor-se a essa decisão. 

— Não, John, deves continuar a ocupar estie cargo. Em Winona faz falta um xerife como tu, senão voltaria tudo a ser como dantes. Aliás... 

— Aliás, o quê? 

— Aliás, não deves preocupar-te com o rancho. Eu ficarei lá a cuidar dele. 

— Isso é verdade, Pat? 

— Tão verdade como também eu nunca voltar a pôr as mãos num baralho. Tu bem viste como pode trazer más consequências. 

E bem más consequências poderia ter-lhes trazido! 

Mas o passado morrera. Tinham à sua frente o presente e o futuro. Um presente tranquilo e um futuro cheio de promessas de felicidade. 

— Então, Pat, já sabes, amanhã mesmo... 

— Sim, amanhã mesmo estarei no rancho. Verás, havemos de convertê-lo no melhor da região. Ninguém terá melhores cavalos do que nós, nem melhores vacas, nem melhores colheitas... 

John Barton ria-se do entusiasmo de Pat. 

— Claro — disse. — Se estamos juntos outra vez. 

E Pat acrescentou: 

— Para toda a vida. 

Tinham razão. Estiveram juntos toda a vida e o rancho dos Barton voltou a converter-se no melhor da região. 

Além disso, Pat cumpriu a sua palavra. Nunca mais tornou a pegar em cartas nem a pôr os pés no «Ás de Copas». 

Claro que o «Ás de Copas» deixou de ser o antro onde só entravam batoteiros, malfeitores e gente de má nota como acontecia no tempo de James Claer. O xerife John Barton não permitia que se demorassem em Winona os tipos dessa laia. 

Aliás, como o sabiam, procuravam passar de largo. É que John Barton era citado como modelo de xerife, muitas milhas em redor. E ao falar dele, diziam: 

— Muito o ajuda o irmão, o Pat! 

— Como não havia de ajudá-lo, se é do mesmo sangue…!? 




FIM




quinta-feira, 25 de novembro de 2021

BIS116.12 De novo juntos e... para sempre

Pat Barton soube o que é sentir o hálito de um coiote junto do rosto, a baba pestilenta escorrendo-lhe pelas faces, pela boca, os golpes das suas garras pelo corpo, e a ameaça de uns colmilhos que lhe procuravam o pescoço num instinto feroz. 

Suportou aquela rude prova, que jamais esqueceria. Debaixo do coiote, esforçava-se a todo o custo por se desembaraçar dele. Com uma das mãos segurava o pescoço fortíssimo do animal, a fim de evitar que lhe fincasse os dentes; e com a mão livre procurava no chão, às apalpadelas, o «Colt» que lhe caíra. 

Milímetro a milímetro, o coiote ia aproximando dele a boca, enquanto lhe fincava as garras no corpo e grunhia furiosamente. 

Entretanto, as forças de Barton iam-se esgotando pouco a pouco. Mas não podia largar o pescoço do animal. 

quarta-feira, 24 de novembro de 2021

BIS116.11 Novo perigo: ataque dos coiotes

Acabava de ouvir o distante uivar das feras. Pousou John no chão e olhou em volta, se existissem árvores por ali, poderia ter acendido uma boa fogueira; mas só cresciam cactos e alguns cardos secos bastante distanciados uns dos outros. 

De qualquer modo, apanhou destes todos quantos pôde encontrar e, apressadamente, acendeu uma fogueira. Os uivos dos coiotes ouviam-se mais perto. 

As chamas afastaram as sombras. De quando em quando, Pat avivava o fogo com mais combustível do monte que formara junto de si. 

John continuava sem sentidos. Os coiotes andavam rondando pelos arredores. Só o fogo os impedia de assaltar os homens. 

terça-feira, 23 de novembro de 2021

BIS116.10 O cobarde vira herói

Perdeu demasiado tempo. Gozava vendo Pat Barton retroceder aterrorizado, sem sequer tentar levar as mãos aos «Colts». 

Não tinha a mínima reação viril. A sua entrega era absoluta. Dava-lhe asco. 

Para Barton nada mais existia, naquele momento, além do revólver de cuja boca sairia o projétil que lhe aniquilaria a vida de uma vez para sempre. 

Olhava-o obcecado, ofegante e mudo, entrechocando os dentes, espaço de tempo que Claer prolongava como quisesse. Nem sequer tinha forças para dar meia-volta desatar a correr. Claer ainda insistiu:

— Tens dois revólveres, Pat. 

Baixou os olhos para eles e olhou-os. As ideias confundiam-se-lhe no cérebro. Sim, tinha dois revólveres, mas não lhe daria tempo de fazer uso deles. Dizia aquilo simplesmente para fazer pouco dele. Bastava uma tentativa para lhes tocar e... 

segunda-feira, 22 de novembro de 2021

BIS116.09 O bandido persegue implacavelmente o cobarde

Pat Barton ouviu que mexiam no trinco. Só podiam John ou Claer. Assustou-se ainda mais do que já estava. Olhou para todos os lados com angústia, procurando uma saída para fugir. Depois de terem mexido no trinco forçavam a porta com insistência. 

— Pat, estás aí? — disseram. Era Claer. 

Retrocedeu até à parede, dominado pelo terror. 

— Claer! — exclamou. 

O outro continuava a dizer: 

— Sim, estás aí. És um cobarde e um traidor; mas não poderás escapar. Tenho de matar-te e hei de fazê-lo como se faz a um cão... 

Recrudesceram os embates contra a porta que estalava ruidosamente. Pat olhava para lá como hipnotizado. Claer acabaria por deitá-la abaixo, e ele sem se mover dali, em pé, no centro do quarto, a tremer, batendo os dentes. 

— Hei de matar-te, hei de matar-te — ameaçava Claer. 

domingo, 21 de novembro de 2021

BIS116.08 Sempre, sempre o irmão...

Clear levantou-se apressadamente da cadeira e, dando um saltinho ridículo, cumprimentou: 

— Viva, xerife, que surpresa! Não o esperávamos por aqui. Não é verdade, Pat? Quantos malfeitores já hoje prendeu? 

John Barton mal o olhou. Repugnava-lhe o seu abdómen proeminente e o seu sorriso falso. Vinha alegre e não queria preocupar-se com ele. 

—Estávamos... estávamos a conversar — acrescentou Claer. — Não é verdade, Pat? 

Nada disso interessava a John, pelo menos de momento. Dando as costas ao proprietário do «Ás de Copas», dirigiu-se ao irmão. 

—Quero falar contigo, Pat — disse. 

— Bom, então saio — decidiu Claer. — Não quero incomodar. 

sábado, 20 de novembro de 2021

BIS116.07 Duelo sob a tempestade

A casa do juiz Smith era muito frequentada por John Barton. Estava apaixonado pela filha do magistrado, uma bela jovem chamada Ann. Ele também não era indiferente à rapariga. Sempre que John saía de casa do juiz, onde, afirmava, ia só pana informá-lo do que sucedia na povoação, Ann corria à janela levantava discretamente a cortina para poder ver a rua. E não arredava dali senão quando o xerife desaparecia ao voltar e esquina. 

Naquela noite, Ann estava mais bonita do que nunca. Era uma cálida noite de Verão, calma, sufocante, sem uma aragem que fizesse agitar as luzes das lanternas de petróleo disseminadas pelo jardim que rodeava a casa do juiz. 

Mais do que jardim, a pequena parcela de terreno podia considerar-se urra reminiscência de selva que em tempos recuados cobria totalmente o espaço agora ocupado pela cidade.

O motivo das luzes no jardim era uma festa, para a qual o juiz convidara várias pessoas, entre as quais se contavam os irmãos Barton. Ann, de branco e com o cabelo caindo-lhe sobre os ombros em loiros canudos, acorreu a receber John. 

sexta-feira, 19 de novembro de 2021

BIS116.06 Junta-te a nós ou morres

Para James Claer, proprietário do «Ás de Copas», a chegada do xerife a Winona, à frente dos seus homens e transportando os cadáveres de Donovan, Karilm e Gaseran, foi como se lhe tivessem dado um tiro. 

Se a lei e a ordem voltassem a imperar em Winona, despareceriam muitas coisas que até então tinham beneficiado um pequeno grupo dos seus habitantes, que não eram, por certo, os mais honrados. Por exemplo, ele próprio e Pat Barton teriam de dar como encerrados os seus negócios. 

Pat também pensava nisso enquanto se dirigiam paira o cemitério para enterrar os assassinos. 

Por sua vontade, ter-se-ia separado dos representantes de lei, evitando exibir-se com eles naquele momento; mas algo superior às suas forças o obrigou a segui-los. Viu Claer à porta do «Ás de Copas», quando passaram em frente do estabelecimento. Baixo e entroncado, parecia uma bola de sebo escorrendo suor. Tinha e roupa colada ao corpo e as altas botas de montar cobertas de pó. Agitou a mão no ar, saudando-os. 

quinta-feira, 18 de novembro de 2021

BIS116.05 Comissário à força, mas... contrariado

Os cinco montaram a cavalo e partiram, pressurosos, em perseguição dos assassinos. O povo de Winona viu-os abandonar a povoação, a galope. Houve então comentários para todos os gostos. 

—John Barton não vai deixar que lhe pisem os calos. 

— O novo xerife acabará com toda esta gentalha que anda por aí. 

Outros, menos amigos da lei e da ordem, torciam o nariz, e fitavam com olhar turvo aqueles que iam em busca dos assassinos e assaltantes da diligência. E, mais ainda, havia alguém que apertava os punhos, raivosamente. 

À frente dos seus homens, John Barton ia sério e concentrado nos pensamentos que o assaltavam. 

quarta-feira, 17 de novembro de 2021

BIS116.04 Ânsia de justiça

Mercê de várias circunstâncias, Winona atravessava uma época difícil, em que poucos podiam viver tranquilos. Imperava a lei do mais forte, do mais ousado. Não passava um único dia sem que se cometessem desacatos, assaltos às diligências, ou em que não aparecesse nas ruas algum homem morto a tiro ou facadas. 

Era uma época de terror, e Winona um campo propício a toda a espécie de patifarias. Chegavam bandos de aventureiros dos mais longínquos recantos do país e tornava-se muito difícil controlá-los, sobretudo se não existiam, como na realidade não existiam, grandes desejos de o fazer. 

Mas ali não viviam apenas aventureiros e gente sem escrúpulos; também havia homens honrados, trabalhadores incansáveis, que lutavam por engrandecer e elevar o nível da povoação. 

terça-feira, 16 de novembro de 2021

BIS116.03 Assim nasce um batoteiro

Passou o tempo e não tardou em desaparecer a paliçada que rodeava a povoação. Winona crescia com rapidez assombrosa. Os «sioux» fugiram mais para o Norte, hostilizados pelo fogo das armas dos novos emigrantes, que acudiam do Este àquelas terras. 

Criadores de ovelhas, «cow-boys», mineiros c aventureiros, converteram Winona numa cidade populosa e próspera. Por essa altura, John e Pat tinham já o seu rancho. Trabalhavam, suados, debaixo do sol abrasador do Verão, quando as vastas- planícies reverberavam e vibravam de calor; e tremiam de frio ao cavalgar de noite guardando o gado nos mercados de fins de Outono. 

Nas suas veias, porém, sentiam o pulsar da vida sã, e exaltava-os a glória de trabalhar e a alegria de viver. 

Só de longe em longe acudiam à cidade e ao «saloon». 'Winona convertera-se numa terra importante pela afluência de viajantes que chegavam de toda a parte. 

O ouro corria às mãos-cheias. Era uma época de prosperidade para todos. 

segunda-feira, 15 de novembro de 2021

BIS116.02 O ataque do jaguar

Nenhum dos dois o viu. Talvez que já há algum tempo lhes viesse a seguir os passos, arrastando-se Sem ruído, esperando a ocasião para se lançar sobre eles. 

De súbito, saltou para a frente. Um salto perfeito, prodigioso, como só as feras sabem dar. Era um jaguar. A boca aberta, as garras poderosas distendidas, o rugido aterrador, anunciando o ataque. 

—John! John! — gritou Pat, querendo avisar o irmão. 

Era tarde, porém. O jaguar saltara sobre ele. Cravou as garras no ombro de John e atirou-o para o chão, de barriga para baixo. O rapaz não podia defender-se, a faca de mato escapara-se-lhe da mão. O peso do animal paralisava-lhe os movimentos. Pat continuava a gritar: 

—John! John! 

domingo, 14 de novembro de 2021

BIS116.01 Emboscada fatal

Pat e John tinham no sangue o espírito da aventura. Vinham de muito longe, de uma pequena povoação costeira de Maryland, onde tinham nascido. Ali todos acabavam por ser pescadores ou marinheiros; mas a eles atraía-os mais a terra do que o mar, mais as selvas inexploradas do que o oceano.

Integraram-se numa caravana e atravessaram com ela o Mississipi. Aquele rio, largo, com uma grande distância entre as duas margens, como se fosse um pouco de mar pela terra dentro, encheu de nostalgia os seus corações, apesar de tudo, um pouco marinheiros.

Foi apenas um momento, um minuto só.

John disse:

— Repara, Pat, é como se fosse o mar.

— Sim, parece — replicou o irmão.

— Estás arrependido de ter vindo para cá?

Pat riu com vontade.

— Arrependido, porquê? Lembro-me um pouco daquilo, mais nada.

Do outro lado do rio estava o mistério da grande aventura que desejavam correr. Não, não lamentavam ter partido para o Oeste.

sábado, 13 de novembro de 2021

BIS116.00 Marty. Do mesmo sangue

 Intenso…

É o mínimo que pode dizer-se desta novela da Coleção Bisonte. Fel Marty tem enorme capacidade para entrar pela mente das suas personagens e descodificar-nos tudo o que lhes vai pela alma nos mais diversos momentos.

A novela nem começa muito bem com aquela viagem dos irmãos John e Pat a caminho do Dakota do Norte. Depois, vai ganhando em conteúdo e interesse. Os anseios de John, um homem honesto, trabalhador e valente, são contrapostos aos de Pat, um vilão, um cobardolas.

Mas a voz do sangue é muito forte.

Pat transformou-se num batoteiro pago por um facínora que explorava um «saloon» e dominava na cidade através de meios menos honestos. John assumiu as funções de xerife e dedicou-se de alma e coração a impor a lei e a ordem.

Para quem se viraria Pat no momento decisivo?

Durante muito tempo, Pat deixou-nos na dúvida, ao sobrevalorizar a sua ambição de enriquecimento rápido, mas, no momento decisivo, a voz do sangue foi a mais forte e John foi transportado por ele às costas, através do deserto para regressar para junto da sua noiva.

Esta novela vai ter publicação integral nos próximos dias…



domingo, 7 de novembro de 2021

ARZ133.12 O xerife encontra uma noiva e termina a sua missão

Uma das coisas que mais surpreendera o xerife fora o ódio repentino que Max Tyler sentira pelo jogador Douglas. Outro pormenor, bastante suspeito, era a personalidade de «mistress» Tyler. A esposa do prefeito era uma mulher aborrecida, incapaz de sustentar uma conversa devido à sua surdez. 

O'Farrell soube mais tarde que as senhoras Tyler e Coleman quase nunca se encontravam e que não eram bastante amigas para fazerem confidências uma à outra. Ela dissera-lhe que não sabia nada do cofre de Coleman e que o marido fora amigo de Barnes. 

Pensava o xerife que Coleman fora atingido pelas costas durante o tiroteio que travara com ele. Isto parecia muito estranho, como se Tyler e Barnes tivessem preparado os acontecimentos e o prefeito houvesse dado ao assassino um bom maço de notas para que desaparecesse de S. Luis. 

sábado, 6 de novembro de 2021

ARZ133.11 Um homem de teatro e cultura morre ao comando do seu barco

William Chapman bebia uma chávena de café sentado no seu minúsculo gabinete do «Loving Kate». Era fácil deduzir que se encontrava satisfeito a contemplar os montes de moedas que pusera em cima da secretária, a primeira boa receita da temporada. Bateram à porta. 

— Entrem. Ainda não se foram deitar? 

O primeiro que apareceu no limiar foi Perry Douglas, logo seguido de Mackley e Alex. O empresário franziu os lábios, surpreendido com tão intempestiva e inesperada visita. 

— Olá, Douglas. Contava a receita do espetáculo. 

Entraram os três e fecharam a porta atrás deles. Alex sentou-se na cama. Mackley fez soar os dólares que estavam em cima da secretária. 

— A sorte das pessoas é variável como um dia de Outono — disse Perry, que passeou a vista pelo aposento. — Você subiu e nós, pelo contrário, estamos quase enterrados. 

sexta-feira, 5 de novembro de 2021

ARZ133.10 Manifestação de puritanos contra a artista impúdica

A brigada encarregada de fiscalizar os espetáculos do embarcadouro obteve um êxito que nem os mais otimistas esperavam. Com o prefeito Tyler à frente, que se convertera em seu paladino, patrulhavam o porto e até, desprezando os preceitos legais, obrigavam os clientes mais assíduos dos «saloons» flutuantes a mudar de caminho. Certa vez, uma multidão exaltada entrou na sala de jogo. 

— Estas mesas têm batota! — gritou o organizador do protesto. 

Puxaram de alavancas e machados e bateram brutalmente nas roletas e nas mesas de pano verde. Douglas não se encontrava lá e os seus ajudantes não se conseguiram opor. 

Esta reação colérica e sistemática prejudicou gravemente os interesses do jogador. Parte da população, a mais ativa, juntara-se para o derrubar. 

quinta-feira, 4 de novembro de 2021

ARZ133.09 Atraído ao local do crime

Chovia ligeiramente naquela noite, como prenúncio da tempestade que pairava no ar. O vento uivava nas árvores que se erguiam ao longo do paredão. 

De longe, ouviu-se o galope de um cavalo. Um pouco mais tarde, o cavaleiro apareceu na travessa e avançou mais algumas jardas. Chegado a umas grandes portas falsas, desceu do cavalo e, sem o largar, abriu e entraram. 

O xerife O'Farrell saiu do esconderijo formado por um recanto entre a fachada e o paredão. Ficou imóvel diante da entrada, expectante e silencioso. Não ouvia nenhum ruído lá dentro, nem passos, nem o cavalo mexer-se. O mesmo acontecia na rua. 

Aproximou-se da porta, empunhou o revólver e levantou o fecho. Rapidamente, entrou na cavalariça. Olhou à sua volta. Era um barracão que servia para resguardar dois carros. Mais adiante havia um pátio e a seguir uma cavalariça. Fora em tempos remotos a casa solarenga dos Coleman, mas o último descendente não a utilizava. 

quarta-feira, 3 de novembro de 2021

ARZ133.08 «Saloons» flutuantes: prós e contras

 Com o correr dos dias, tornou-se mais firme a decisão do prefeito Tyler no tocante ao negócio de diversão em S. Luís. Recebeu uma comissão de puritanos, os quais exigiam uma limpeza drástica da cidade, e prometeu-lhes uma ofensiva em regra contra os negociantes do género de Perry Douglas. A tarde haveria uma reunião municipal, que se calculava seria de grande importância. Não faltou um só vereador de quantos representavam os diversos bairros. 

Max Tyler, tão congestionado como sempre, com a sua grande e desbotada blusa de caçador, cheia de franjas, que vestia, sem dúvida, para significar a sua devoção aos primeiros pioneiros que conquistaram as pradarias através dos antigos caminhos de Santa Fé e Oregão, levantou-se do estrado principal e declarou: 

— O clamor do povo chegou até mim, exigindo que ponhamos termo aos desmandos, aos roubos e à imoralidade. Jogadores, pistoleiros, mulheres de vida fácil, artistas de perna ao léu e espectadores que se embebedam... toda esta gente maldita se instalou na nossa cidade e a emporcalha. Não podemos consentir que isto continue. 

terça-feira, 2 de novembro de 2021

ARZ133.07 Luta por uma mulher bela, mas enganadora

 Passara um mês desde o assassínio de Roy West. Ruth, a jovem viúva, nada pudera revelar ao xerife, porque nada sabia. 

Embora a conspiração do silêncio começasse a ceder, ainda se mantinham muitos pontos escuros e algumas personagens-chaves davam a calada por resposta. O que parecia esclarecido era a origem da fortuna do jornalista: recebera uma parte dos lucros da diversão, sem que o xerife soubesse qual fora a sua participação no negócio. Entre Perry Douglas e Coleman estava o segredo. 

Uma noite, O'Farrell encontrou no restaurante de «mister» Halper o juiz Copeland. Jantaram juntos numa mesa afastada. 

— Vejamos, xerife -- disse Cove S. Copeland, entre duas garfadas. — Cada dia que passa, prendemos mais curtos os jogadores. Conforme você recomendou, publicou-se uma ordem judicial destinada a sanear a festa do «rodeo». Consta-me que terminaram as trapalhices. 

segunda-feira, 1 de novembro de 2021

ARZ133.06 Boicote à tragédia grega a partir do «saloon» flutuante

 Sentou-se num banco e pôs o chapéu em cima das pernas. Quando virou a cabeça, descobriu o prefeito, que tirava uma cadeira de um canto do camarote, para se sentar a sua excessivamente adornada esposa. Tyler também o viu. 

— Suba, xerife — convidou-o, depois de o comprimento. — Terei muito prazer em assistir ao espetáculo na sua companhia. Dizem que o de hoje é muito bom. 

E acrescentou ao ouvido de O'Farrell: 

— Nas outras noites adormeci. Não o pude evitar. As tragédias dos grandes autores gregos são joias do teatro mundial, mas maçadoras como os bêbedos. 

O xerife sentou-se e cumprimentou cerimoniosamente a esposa do prefeito. Ocupou um lugar à direita de Tyler, na parte mais afastada do palco. Faltavam apenas dois ou três minutos para o espetáculo começar, o que não impedia que a sala ao ar livre estivesse menos de meia.