quinta-feira, 26 de abril de 2018

CLF043.99 Epílogo

Aurora San Roman, mais formosa do que nunca, estava a cantar no tablado do seu «saloon», enquanto centenas de olhos contemplavam a sua esbelta e felina figura.
De vez em quando, olhava para a porta, por onde não deixavam de entrar e sair homens.
Callender, completamente curado do queixo, ocupava o seu lugar junto da roleta, enquanto Davison baralhava as cartas como um mago.
Por entre as mesas, Lorna e Marisa repartiam sorrisos, e esquivavam-se cada vez que algum mais atrevido se destacava.
Somente os que estavam pendentes da atuação de Aurora compreenderam que o seu semblante se alterava ainda que todos soubessem que tinha deixado de cantar. As cabeças voltaram-se todas para ela.
Depois olharam para a porta e compreenderam tudo. Sorrisos maliciosos começavam a aparecer em todas as bocas.
E Joe Milton avançou para o tablado. Os homens abriram passagem, enquanto Aurora o olhava como que fascinada. Finalmente, o jovem deteve-se diante dela. Com o olhar ávido percorreu aquela gentil figura e depois, ante o espanto de todos os presentes, e a própria Aurora, saltou para cima do pequeno tablado.
Aurora não retrocedeu nem moveu um só músculo. Imóvel, parecia uma estátua de pedra, mas uma formosa e chamativa estátua, com o seu vestido aberto; Joe não falou, limitou-se a estender os braços, agarrou-a pela cintura, e carregou-a ao ombro, como se fosse um saco. Ela não reagiu até Joe chegar ao meio do «saloon».
— Bruto! Selvagem! Canalha, Larga-me!...

quarta-feira, 25 de abril de 2018

CLF043.13 De volta ao lar

Sob as árvores, esperava que chegasse a noite, e, com esta, a saída da Lua. Jimmy mantinha-se muito pensativo. Admirava-se de conhecer aquele terreno, que julgava não ter visto nunca, como as palmas das suas mãos.
Do local onde se encontrava, não via o rancho de Joe Milton, mas sabia que estava por detrás da pequena colina que tinha em frente. Sabia também que se encontrava nos terrenos que eram propriedade daquele rancheiro.
E Jimmy pensou no que diriam os vaqueiros se o surpreendessem por ali. Como resposta, encolheu os ombros e pensou em Aurora San Roman. Sabia-se enamorado dela e por isso fugira. Nada lhe importava o seu passado. Mas era tão especial nas suas coisas, tão amante da sua liberdade, que preferia afastar-se sempre de um lado para outro.
Há três meses que abandonara Dumas, deambulando sempre de um lado para outro, aproximando-se calmamente do rancho de Joe Milton.
Depois Jimmy traçou um simples plano. Podia dizer-se que o tinha elaborado pelo caminho. Pensava apresentar-se no rancho de Joe Milton, pedindo trabalho.
Apesar do seu oficio de pistoleiro, sabia-se muito bom cavaleiro e melhor ainda vaqueiro. Nada importava o seu aspeto exterior, e contava para isso com a sua boa estrela. Tinha quase a certeza de que por ali faltavam bons vaqueiros, apesar de se encontrar em pleno Texas, onde eles eram tão frequentes.
Se tivesse sorte e fosse admitido, fá-lo-ia sob um nome falso. Ali ninguém sabia que ele se chamava «Procura Sarilhos» Jimmy.

terça-feira, 24 de abril de 2018

CLF043.12 Os perseguidores passam por Dumas

Rotos, esqueléticos, cheios de suor e de pó, com os olhos brilhantes, os três homens chamaram a atenção imediatamente.
Os olhares dos homens e mulheres que circulavam de um lado para outro, fixaram-se num deles, talvez o que acusava mais o desgaste da viagem.
Alto como uma arvore, forte e poderoso, parecia agora a estampa viva da derrota. As suas roupas vaqueiras tinham rasgões por toda a parte. E tanto estas como o chapéu estavam cheios de pó.
O cabelo, ainda que não se distinguisse à primeira vista, era negro, e os olhos cor de âmbar.
O nariz aquilino, o queixo pontiagudo, e a boca grande, cruel.
Apesar do seu cansaço, o cavaleiro cavalgava direito sobre a sela, e as armas, contrastando com o negrume que o envolvia, estavam limpas e brilhantes.
As mesmas características ofereciam os seus companheiros. O que ia à sua esquerda chamava-se Dick Sulivan. Era de estatura normal, magro por natureza.
O rosto amarelo, de pómulos salientes, e os olhos pequenos e vivazes. Aparentava uns trinta anos, mas tinha apenas vinte e um. A sua boca era grande, e o sorriso fácil, mas naquele momento, só pensava no homem que os contratara e que podia já não estar naquele povoado, como acontecera noutros sítios. Andavam atrás de um fantasma. Tal como o primeiro, levava dois «Colt» 45 e na sela uma «Winchester».
Finalmente, o terceiro, Jack Pearce, tinha uns trinta e cinco anos. Nos seus bons tempos, fora um homem relativamente gordo, e que agora podia comparar-se com um pau de fio. Olhos verdes, como os de um gato, dentes perfeitos, o queixo quadrado. Nunca costumava sorrir. Um só «Colt», também de calibre 45, junto da «Evans» 30-30 que levava na sela, eram todo o seu armamento.

segunda-feira, 23 de abril de 2018

CLF043.11 Um homem que procura a identidade

A bala passou uns centímetros acima da cabeça de Lorrigan.
O jogador balbuciou algo entre dentes e lançou-se ao chão no momento em que nova bala de Jimmy passava no local onde ele estivera momentos antes.
E ante o espanto de Aurora, Jimmy levantou-se, correndo para a porta do «saloon».
Mas não chegou a ele. Um balázio passou junto a ele, roçando-lhe uma orelha.
Jimmy deteve-se e puxou os dois gatilhos dos «Colt» ao mesmo tempo.
Lorrigan nao teve tempo de se afastar e recebeu uma bala entre os olhos. Deu umas quantas voltas sobre si mesmo, antes de cair sobre o parapeito da janela, e em seguida para a rua.
O jovem nem sequer o olhou. Os seus olhos estavam fixos na deliciosa figura de Aurora, que já se levantava.
Aproximou-se dela e olhou-a nos olhos.
A jovem aguentou o olhar, com aquele gesto de desafio que lhe era tão habitual. Jimmy viu como lhe tremiam os lábios.
— Já és a dona de Dumas. Agora nao necessitas de mim para nada.
E Jimmy deu meia volta para se afastar. Aurora agarrou-lhe um braço e ele voltou-se para a olhar com gesto duro.
— Tens algo a dizer?
— Não, Jimmy — respondeu ela, enquanto ele voltava a notar o tom empregado por ela, cada vez que pronunciava o seu nome. — Nada, Jimmy. É por causa desse homem que te vais? Por Joe Milton?
Jimmy sorriu geladamente.
— Somente em parte, Aurora. Também estás tu. És uma formosa gatinha, mas demasiadamente ambiciosa para o meu gosto.

domingo, 22 de abril de 2018

CLF043.10 Dumas: a batalha final

Jimmy ficou tenso, sobre a cama, escutando. As suas mãos acariciaram as coronhas dos revolveres. Segundos depois, levantou-se sem fazer o menor ruido.
No seu quarto, Aurora também se punha em pé, com um «Colt» na mão. Ambos, cada um no seu quarto, se aproximaram da janela, perscrutando a rua. Depois foram ate a outra, que dava para as traseiras, onde estavam os estábulos.
Nas traseiras descobriram as figuras de dois homens, que avançavam lentamente.
E precisamente ao ver as latas que levavam nas mãos, Jimmy compreendeu o que eles iam fazer, e assim compreendeu, também, qual o ruido que o tinha alertado: foram os cavalos, que estavam nervosos ao notar ali perto, a presença de gente estranha.
Sempre com a luz apagada, Jimmy abriu a janela da varanda que dava para as traseiras. Colou-se à parede e olhou para o chão. O salto era fácil, para um homem como ele. Então olhou para os dois homens. Estava escuro e não pôde distinguir as suas feições; só o brilho das latas de petróleo.
E sorriu geladamente, compreendendo donde partia a agressão. Lon Lorrigan não tinha muita paciência. E Jimmy pensou que entre os agressores não estaria Galento.

sábado, 21 de abril de 2018

CLF043.09 Um segredo que permance escondido

A expressão de Aurora não mudou muito até que ele saiu do seu lado.
Empalideceu um pouco, e depois a ferida que havia no seu rosto desapareceu por completo, dando lugar a uma amarga desilusão.
Aquele selvagem tinha-se ido embora. Aquele grande estúpido não sabia que se tivesse insistido um pouco, lhe tivesse dado mais um beijo, ela teria claudicado.
E era esse precisamente o temor de Aurora, o de saber-se mole como a cera, perante ele, já que cometera a insensatez de lhe confessar o seu amor. Por todos os meios tentara afastá-lo de si, até que tivesse acabado com Lon Lorrigan. Feito isto, já nada a importava, visto que no final seria o casamento.
Todos estes raciocínios eram feitos por Aurora, estendida sobre a cama, soluçando amargamente, sem compreender que tudo o que pensava tinha falta de lógica, assim como o seu comportamento.
Meia hora depois, Aurora levantou-se e enxugou as lágrimas com as costas da mão. Depois foi até ao espelho e, sabiamente, tirou todas as marcas do choro. Feito isto, desceu ao «saloon».
Jimmy soube-o sem a ver, pois todos os olhares se dirigiram para ele, que acabava de beber o seu quarto copo de «whisky».
Lorna e Marisa, que deambulavam pelas mesas, dando e recebendo piropos dos vaqueiros, detiveram-se também para o olhar. Mas Jimmy voltara-se de cara para o balcão, corn ar insolente e depreciativo. Pediu mais «whisky», e começou a bebê-lo em pequenos sorvos.

sexta-feira, 20 de abril de 2018

CLF043.08 Mulher casada deve ser recatada

Já no escritório, olharam-se. Sem dizer palavra, e sem fazer um gesto agressivo, Lorrigan sentou-se na mesa. Jimmy permaneceu de pé, em frente dele, pensando que aquele homem era demasiado perigoso.
Bastante alto, de modos elegantes, tanto como o seu bem cortado trajo.
De cabelos negros e olhos cinzentos, cintura estranha e amplos ombros, tinha umas pernas compridas e firmes.
Jimmy viu tudo isto num simples olhar, e compreendia que estava a ser observado.
Permaneceu em silencio, à espera que este começasse, apesar de ser quem dissera que lhe queria falar. Lorrigan falou, por fim.
— Disse que queria falar-me, Jimmy. Sobre quê? Suponho que não será para dizer-me que em menos de vinte e quatro horas matou quatro dos meus homens, pois nao?
Jimmy sorriu geladamente.
— Simplesmente três, Lorrigan. Black Galento somente perdeu os sentidos.
— Só isso?
— Não. Ainda há mais. Vim dizer-lhe que deixe de mandar pistoleiros ao a saloon» de Aurora San Roman. A mexicana é negócio meu.
— Paga muito, por isso?

quinta-feira, 19 de abril de 2018

CLF043.07 Matança no «saloon» rival

Com um esforço reprimiu-se, mas dirigiu-se a ela, cheio de fúria:
—Maldita sejas, Aurora San Roman! Que queres? Porque a mim não me podes enganar. Sei o que se esconde por debaixo de tudo isto.
Aurora sorria, sem mostrar o menor assomo de temor no seu lindo semblante. Jimmy levantou uma mão, parecendo ir descarregá-la sobre o rosto de Aurora, mas desistiu, lançando uma maldição.
Depois deu uma patada no solo e saiu para a rua.
Aurora ficou ali, olhando-o, com um mundo nos seus olhos. Porquê, se aquilo era verdade?... Ela estava disposta a casar-se imediatamente sem dizer nada.
Depois, se as coisas se voltassem contra ele, odiá-la-ia, chamando-lhe oportunista. E ao chegar aqui, Aurora encolheu os ombros, pensando que só o presente lhe interessava... O passado estava para trás e o futuro era algo que de momento não merecia a pena pensar nele.
Aurora voltou-se para o balcão, olhando para o não menos atónito «barman», que não perdera um só detalhe da cena.
— Onde diabo estão Kirby e Davison?
— Lá em cima, patroa. Ainda dormem, se não me engano.
— Pois que se levantem em seguida, Pete. Mas antes, vai à cavalariça e prepara o meu cavalo. Rápido!
-- Sim... sim... patroa.
Aurora sorriu como em sonhos. Sentia uns desejos loucos de cavalgar pela pradaria, sem que ninguém a incomodasse. Pensar no caso estranho que tudo isto era e, também, no não menos estranho impulso que a levara a escrever a carta àquele homem. O «barman» voltou a aparecer.

quarta-feira, 18 de abril de 2018

CLF043.06 Aurora e Jimmy procuram o mesmo homem

E foi no dia seguinte, quando Aurora desceu do seu quarto, que Jimmy se resolveu a fazer-lhe a pergunta que o trazia preocupado desde a véspera.
Encontrava-se sentado a uma mesa, junto de Lorna e Marisa, que pareciam ter feito, finalmente, as pazes, visto que o forasteiro olhava para a patroa.
Tomavam os três o pequeno almoço, quando Aurora fez a sua aparição, descendo as escadas corá tal aprumo que parecia uma rainha.
Jimmy ficou embasbacado ao vê-la. O caso não era para menos.
Trazia um traje de montar que ressaltava poderosamente as maravilhosas linhas do seu corpo jovem e gentil. Jimmy desviou o olhar, para não ser obrigado a correr para ela e beijá-la. Marisa, apesar de todos os seus pensamentos a respeito da patroa, comia Jimmy com os olhos, enquanto que os de Lorna se mostravam lânguidos.
E foi esta última quem a viu primeiramente. Tocou com o cotovelo em Marisa, dizendo:
— Aí vem a fera.
Disse-o muito baixo, mas Aurora ouviu-o, enquanto avançava, em direção ao trio, que conversava e comia.

terça-feira, 17 de abril de 2018

CLF043.05 A história de Aurora

No centro do «saloon», Aurora San Roman viu-o partir sem saber se sentia desejos de gritar ou de chorar.
Nenhum dos sentimentos que dançavam dentro do seu peito desejava ver aquele rosto impassível como unia máscara. E como fascinada, tal como uma bela estátua, ficou a olhar os batentes, enquanto os pensamentos desencontrados se baralhavam no cérebro.
Mal o vira entrar no «saloon», sentiu algo que lhe subia à garganta, ameaçando afogá-la. Depois, aquela sensação foi substituída pelo desejo de o atar. Esperou que o fizessem os «pistoleiros», e quando os viu fracassar, golpeou-o com a garrafa na cabeça.
Aurora manejara a garrafa com todas as suas forças, mas aquele mastodonte tinha a cabeça dura como uma rocha. Só tinha perdido o conhecimento. E ao vê-lo a seus pés, a jovem compreendeu que não podia acabar com ele daquela forma.
Esperou que ele voltasse a si e disse aquelas palavras, como podia ter dito outras quaisquer. Não sentia desejos senão de o matar.
E ele comportou-se de tal maneira...
Aurora não quis pensar nisto e sentiu desejos loucos de fazer-lhe pagar a afronta. Pelo menos, ela assim julgava. Mas enganou-se.
E ao inclinar-se sobre a figura imóvel de Callender, sentiu que o ódio ameaçava consumi-la.

segunda-feira, 16 de abril de 2018

CLF043.04 Açoitada e humilhada

«Procura Sarilhos» Jimmy chegou ao balcão, sempre no mais completo silêncio, quando ela lhe saltou sobre as suas costas.
Para todos os que contemplavam a cena, Aurora San Roman pareceu um formoso e perigoso puma, e Jimmy sentiu como as pernas dela se lhe enroscavam à cintura.
E todos viram como duas felinas e ferozes serpentes que apertavam cada vez mais a cintura daquele colosso que nem se tinha movido do local onde o surpreendera a inesperada a agressão.
Jimmy estava verdadeiramente surpreendido ante o desejo de guerra daquela mulher fascinadora. Todos os que viam o espetáculo afastaram os olhos dela para se fixarem nele.
A jovem fez algo mais: uma vez sobre as costas dele, as mãos voaram para a cara.
Jimmy compreendeu ao vê-las passar diante do rosto, e conseguiu agarrar a esquerda pelo pulso, mas não conseguiu agarrar a direita e então Aurora, com uma raiva infinita, cravou as afiadas unhas no queixo do jovem.
Por detrás do balcão, o «barman» assustou-se ao ver a expressão de Jimmy, que ela não podia ver.
E então Jimmy deu meia volta, com a mulher sempre às costas, e ficou de costas para o balcão.

domingo, 15 de abril de 2018

CLF043.03 Duelo no «saloon» de Aurora

O local era amplo e espaçoso, e estava a abarrotar de gente, apesar de serem apenas sete da tarde. A um canto estavam as mesas de jogo e uma roleta.
Junto do balcão, duas fantásticas morenas.
O homem que acabava de entrar abriu muito os olhos ao vê-las. Uma delas, sentada, de copo na mão, balanceava suavemente as compridas e bem torneadas pernas.
A outra, de costas viradas para a porta, também era muito formosa. Ambas tinham as saias muito curtas, por cima dos joelhos, e as pernas envolvidas em meias pretas.
Jimmy aproximou-se com movimentos felinos, e parou, encarando a que estava sentada.
Olhou-a com evidente descaro, e disse:
— Olá, linda. Por que não ofereces um copo a um caminhante sedento?
A morena, de olhos azuis, estendeu-lhe o copo, ao mesmo tempo que abria muito os seus olhos, de assombro, examinando aquela gigantesca figura. A outra voltou-se, ficando igualmente pasmada.
Jimmy não se contentou com o copo. Puxou a morena por um braço e beijou-a na boca. «Procura Sarilhos» Jimmy metia-se em mais um sarilho, de consequências imprevisíveis.

sábado, 14 de abril de 2018

CLF043.02 O desafio veio de uma mulher

Os grupos de curiosos tinham-se dissolvido quando o xerife saiu do gabinete, mas permaneceram debaixo dos alpendres, no mais completo silêncio, e olhando para a parte sul da povoação.
McParson compreendeu que os habitantes de Trinidad pensavam como ele. Estavam à espera do regresso de Parris.
Sem dirigir uma palavra a ninguém, simulando não os ter visto, o xerife alcançou a pousada onde se alojava Jim. Ali já tinham conhecimento do sucedido, e deram-lhe o cavalo sem um só comentário.
McParson continuou o caminho, e um quarto de hora depois metia o animal pelas traseiras do gabinete. Depois rodeou o edifício, abriu a porta, e voltou a olhar para os homens que estavam na rua.
Muitos afastaram o olhar, mas outros sustiveram-no, com evidentes amostras de desafio. McParson sorriu. Os habitantes de Trinidad iam sofrer uma desagradável surpresa em não ver o espetáculo que esperavam.
Já frente a frente, os dois homens olharam-se. E foi Jim quem primeiro falou:
— Continuo sem compreender o motivo disto, xerife McParson.

sexta-feira, 13 de abril de 2018

CLF043.01 Uma proposta para novos sarilhos

As portas do «Texas Saloon» abriram-se violentamente sob o impulso de um homem que saiu por elas como um furacão. Cambaleou sob o alpendre e acabou por rodar no pó da rua, completamente inconsciente.
Quase no mesmo instante ouviram-se três disparos, e saiu outro homem, mas de maneira diferente, andando para trás. com as armas nas mãos, e com o peito cheio de sangue. Caminhou assim até que o alpendre se acabou. Então caiu na rua, por cima do companheiro; mas este último estava morto... com duas balas no meio do coração.
E não acabou aqui o assunto para os curiosos que imediatamente se detiveram na rua e olharam para o «saloon», já que um terceiro indivíduo saiu também de lá, mas desta vez pela janela, como um estranho bólide. Caiu precisamente a meio da rua, onde ficou imóvel, morto. Os curiosos formaram um círculo junto a ele.
— Aposto um «whisky» em como isto é obra de «Procura Sarilhos» Jimmy.
A voz partiu de um dos desocupados vaqueiros que vagueavam pela rua. E teve pronta réplica.
— Ganharias, Mike. Jim é o único capaz de uma coisa destas.

quinta-feira, 12 de abril de 2018

CLF043.00 Reencontro com "Procura Sarilhos" Jimmy

(Coleção Califórnia, nº 43)
 
"Procura Sarilhos" Jimmy era um homem que, inconscientemente, procurava a sua identidade. Fugido das masmorras da Guerra da Secessão, amnésico, cruzava o Oeste à procura de um homem com determinado nome, mas não resistia ao chamamento de uma mulher bela. É neste contexto que se cruzou com Aurora San Roman, a detentora de um «saloon» em Dumas cujo passado tinha algo a ver com ele e com o homem cujo nome procurava, proporcionando a esta novela um final de todo inesperado.
 

segunda-feira, 9 de abril de 2018

POL157.09 Uma mensagem de amor, esperança e paz

Igsown deteve o cavalo ao pé da senda arenosa que ia ter à nova residência dos Odd.
A Primavera mostrava-se já com todo o seu esplendor e o perfume das primeiras flores de artemísia chegava até ele vindo do prado.
Os olhos do jovem recrearam-se uns momentos na contemplação da casa recentemente acabada de construir, toda brilhante, com os tijolos agora acariciados pelo sol de Abril. Ouvia também os animais domésticos nas respetivas cortes, como sinfonia longínqua. Da chaminé erguia--se uma suave coluna de fumo.
Enquanto ele assim permanecia, embebido naquela contemplação muda, uma pequena figura humana surgiu muito perto e ficou quieta, com os braços cruzados sobre o peito. Apareceu sem fazer o menor ruído, mas os ouvidos apurados de Igswon deram pela sua presença.
— Há novidade, «Unha Curta»?
— Veio um guerreiro «navajo» com a mensagem de que os grandes chefes trariam hoje as suas prendas à tua «squaw».

domingo, 8 de abril de 2018

POL157.08 Liberdade para o chefe rebelde

Quando Igswon Odd abriu os olhos, urna dor aguda subiu de retina ao cérebro. Tornou a fechá-los, sem se aperceber do local onde se encontrava.
Durante uns segundos, teve a impressão de que despertara num mundo diferente, envolto, porém, nas mesmas sombras que o envolveram pouco depois de ser atingido pelos tiros dos pistoleiros que saíam da passagem secreta.
Mantendo os olhos fechados, procurou recordar-se dos últimos acontecimentos: a resistência na parte do Desfiladeiro do Forno, junto da Passagem dos Cem Guerreiros; Agar e a promessa de ir ter com «Unha Curta» para lhe dar a incumbência de acender as Fogueiras do Concilio; o avanço através do túnel secreto, apoiado no braço de Bucky Allyson e o momento em que uma bala atingiu no ombro o homem que se redimira com o sublime gesto de sacrificar a vida pela salvação de Agar e de ele próprio, Igswon... Por fim, a sensação de mergulhar num poço sem fundo onde tudo eram sombras densas e onde o invadiu uma sensação deliciosa de paz.
As lembranças passavam na sua mente com pormenores, como se estivesse a reviver os episódios. Agora, abria os olhos de novo... Mas...

sábado, 7 de abril de 2018

POL157.07 A povoação do cacique a ferro e fogo

Os bandidos saíram em confuso tropel e gritaram com alvoroço, vendo os seus perigosos inimigos caídos por terra. O que vinha à frente reparou no primeiro deles e, ao reconhecer Bucky, atirou-lhe um pontapé às costelas. O ruivo, que não se resignava a perder qualquer oportunidade, apelou para as derradeiras forças e apertou o gatilho do revólver pela última vez na vida. Também foram as últimas as palavras que então pronunciou:
— Vem comigo... para o inferno... Whosk!
Nada mais disse. Uma bala entrou-lhe pela boca, alojando-se no crânio. E entrou no outro-mundo com a imagem de Whosk a cair morto, varado pelo seu último projétil.
A oportuna chegada de Stephen Ewig evitou que um dos pistoleiros matasse também Igswon, que estava desmaiado.
— Esse não! — gritou o senhor absoluto de Flown Rock, dando uma palmada no braço do bandido. — Quero-o vivo, por agora. Dar-lhe-ei uma lição em público para servir de exemplo aos que pensem levantar-se contra mim. Se é que está vivo ainda.
O pistoleiro agachou-se junto de Igswon e respondeu pouco depois:
— Tem umas duas balas no corpo, segundo parece, chefe. Mas nenhuma é tão grave que o mande ao inferno.
— Antes assim. Mas ele preferiria ter morrido se adivinhasse o que lhe vai acontecer. Tirem por aqui os cavalos e vamos atacar esses rebeldes pela retaguarda.

sexta-feira, 6 de abril de 2018

POL157.06 A morte invade a passagem dos Cem Guerreiros

O Desfiladeiro do Forno era conhecido pelos índios «navajos» do Deserto Pintado com outro nome. Tinha urna espécie de lenda que os peles-vermelhas sabiam de cor e que Igswon Odd ouvira contar uma só vez, anos antes, a um velho «mokis» que trabalhava nas terras do pai.
Em certa ocasião, indo à caça com o grande chefe «Águia Branca» passaram por ali em perseguição de uma peça valiosa, e o índio levou-o por uma entrada secreta. Agora, precisamente, recordava-se Igswon desse pormenor quase esquecido no arquivo da memória. O difícil seria descobrir esse buraco lôbrego, de acesso ao canhão.
Talvez Stephen Ewig e os seus homens nunca tivessem ouvido falar da entrada secreta para a Passagem dos Cem Guerreiros, nome que os índios lhe davam. No entanto, Igswon não compreendia bem por que motivo o cacique escolhera aquele local sem saída para aí estabelecer o acampamento.
O nome dado pelos índios àquele desfiladeiro tinha origem na lenda forjada por um grande chefe «navajo» da época da colonização, quando os primeiros brancos empurraram os índios para as montanhas, de onde logo também foram expulsos devido à ambição sem limite dos «rostos-pálidos».
Então, o grande chefe dos homens de cor era uma mulher. Chamavam-lhe «Raio de Sol». O último acampamento índio situara-se nas margens do «Grande Lago Salgado».

quinta-feira, 5 de abril de 2018

POL157.05 Valente, honrado e... bandido

Os cavaleiros camaradas de Igswon Odd alcançaram dentro de pouco tempo as carroças de Egor e das dez outras famílias que tinham abandonado Flown Rock. Uma vez chegados ao cruzamento para Salt Lake, esperaram cerca de meia hora, a fim de se reunirem a eles os animais trazidos da casa do falecido Yaim Swan, cuja mulher e filhos fugiam à vingança de Ewig.
Quando Matt chegou, reiniciaram a marcha, agora lenta, por causa do passo menos vigoroso das mulas que puxavam os carros. O sol concluíra o seu reinado de luz naquele dia. A noite alargava-se nos prados. Muito em breve as estrelas dominariam a abóbada celeste.
O ar vindo das montanhas do Norte já era fresco. O firmamento apresentava uma estranha cor violácea. Os habitantes de Utá sabiam o que significava isto: na manhã seguinte, os altos picos das Rochosas mostrar-se--iam já vestidos de branco.
Aquele ano o Inverno tardava a aparecer. Agora começava o tempo pior para os mórmones. O frio e a neve principiariam a bater os montes e as planícies com o acompanhamento de ventaneira. As pessoas só saíam de casa quando era indispensável. E muitos dos que saíam não voltavam mais, perdidos na neve ou despenhados em barrancos.

quarta-feira, 4 de abril de 2018

POL157.04 O rapto de Agar

O cavalo irrompeu como enlouquecido no vale dos proscritos e continuou galopando até chegar junto da tenda ocupada por Igswon Odd. «Unha Curta» deu um salto incrivelmente ágil para um homem da sua idade e ficou parado em frente da porta, com os braços cruzados sobre o peito.
Quase no mesmo instante, a pele que cobria a entrada da tenda afastou-se e apareceu Igswon.
— Que se passa, «Unha Curta»? Creio ver nos teus olhos uma nuvem de luto e pelo suor do teu cavalo sei que galopaste desenfreadamente para chegar aqui. Fala!
O índio examinou com olhar grave o interlocutor. Igswon Odd mantinha-se impassível, mas «Unha Curta» sabia ler no rosto dos seus irmãos de raça, e o jovem Odd, se bem que tivesse sido criado com eles, não era tão perito na arte da impassibilidade. O «mokis» adivinhou que Igswon ardia em curiosidade de saber o que teria acontecido. De resto, o jovem Odd, conhecendo-o bem, sabia-o incapaz de efetuar uma galopada daquelas sem haver um motivo imperioso para isso.
Quase não moveu os lábios ao falar:
— A tempestade ruge nos ouvidos de «Unha Curta». Os trovões das «canas de fogo» estão retumbando na casa de Yaim Swan, porque os guerreiros de chefe Ewig têm ouvidos compridos e sabem que falaste com Agar.

terça-feira, 3 de abril de 2018

POL157.03 Nem o veneno da artemísia os fez parar

Avançavam os três cavaleiros como sombras. O que ia à cabeça vestia de preto e preta era também a montada. O luar, quando ele passava em planuras, dava-lhe no rosto arrancando lampejos às suas pupilas. Atrás, os outros jovens cavalgavam inclinados sobre as crinas dos animais para lhes aliviarem o peso.
Não falavam. A missão que pretendiam levar a cabo não requeria palavras. Já as tinham dito: «Guess deve morrer.» Iam cumprir esse imperativo de justiça inexorável.
Durante algum tempo continuaram ainda por desfiladeiros e quebradas, até que finalmente começaram a atravessar os campos de artemísias floridas.
O aroma das flores brancas e amarelas embriagava-os. Apressavam-se a deixar aquelas paragens. A artemísia, durante a noite, é muito perigosa, porque o seu perfume entontece as pessoas e destempera os nervos. Isto na época da florescência. Os índios usam-na medicinalmente. Secam as flores de centro amarelo, cozem-nas e ingerem-nas como remédio para várias doenças. Mas sabem que se alguém dormir num campo de artemísias poderá despertar com o Juízo transtornado pelo veneno que provocam.
Deixados para trás esses campos, os três cavaleiros entraram nos cultivados. Agora o luar vestia-os de prata e alongava as suas sombras na verdura. De tempos a tempos, viam milho e arbustos com frutos sazonados.

segunda-feira, 2 de abril de 2018

POL157.02 Um rebelde com a cabeça a prémio

Stephen Ewig, montado no magnífico alazão, contemplava a cena sem que um só músculo da sua face tostada revelasse o menor sintoma de emoção. Dir-se-ia que era uma estátua de pedra, insensível. Mas o brilho cruel dos seus olhos desmentia a suposição, dando-lhe ao rosto uma expressão diabólica.
A praceta estava pouco menos que deserta. Apenas dez pessoas compunham o quadro selvagem que se desenrolava perante o olhar de Ewig, enquanto o chicote assobiava, traçando velocíssimos ziguezagues no ar e caindo sobre as nuas costas do homem amarrado ao poste de tortura.
Wohim, o ancião pastor de Flown Rock, tinha caído na desgraça de Ewig desde que alguém viu sair de sua casa o filho de Odd. Isto aconteceu um mês antes, mas nessa manhã o primogénito de Wohim partira para a montanha, a juntar-se aos homens de Igswon. Ninguém tornara a ver o jovem Odd, mas todos sabiam que, depois de lançar o repto a Ewig, estava recrutando gente e já contava com alguns dos muitos mórmones que tinham fugido para a montanha, a fim de não caírem sob o chumbo dos de Ewig.
O chicote continuava a flagelar as apergaminhadas costas do ancião. A esposa e as duas filhas choravam, a poucos passos, obrigadas a assistir ao bárbaro espetáculo. Wohim não professava a religião de Young, mas a cristã e por isso tinha uma só esposa e não duas ou mais como é costume entre os mórmones.

domingo, 1 de abril de 2018

POL157.01 O mormon educado pelos navajos

Igswon Odd deteve o cavalo em frente dos restos, ainda fumegantes, da casa dos pais. Os seus olhos pardos contemplaram a cena. Apertou os dentes com força e cerrou os dedos nas rédeas até lhe doerem.
Desmontou devagar e aproximou-se do braseiro, sentindo ardor na tez morena. Assim permaneceu longo tempo, como estátua de bronze, insensível à dor provocada pelo rescaldo do incêndio, na pele e nos olhos.
Tinha chegado excessivamente tarde para sequer intervir na luta. A chamada do pai atrasara-se, Igswon Odd não pôde deter ou contrariar o atentado criminoso. Agora tudo estava consumado.
Sentiu passos à retaguarda. Não se voltou. Parecia petrificado pelas reflexões, com o pensamento posto na grandeza da tragédia. A voz chegou-lhe aos ouvidos como se viesse de muito longe:
— Igswon Odd...
Lentamente, foi-se voltando. Os seus olhos pardos cravaram-se no homenzinho que se mantinha a alguns passos dele. Perguntou-lhe:
— «Unha Curta», como sucedeu isto?