sexta-feira, 30 de novembro de 2018

BIS170.07 Elogio do pele-vermelha

Os dois feridos de Markham haviam sido atados a pesadas argolas numa cave do edifício, ficando ali à mercê da febre e da dor, sem mais que uma cura sumária, sem delicadeza. Estavam assim há setenta e duas horas quando Rand Allen, coxeando e apoiado no ombro dum vaqueiro entrou no sombrio calabouço. Um deles estava quase agonizante, com a cabeça caída sobre o peito. O outro olhou-o com expressão alucinada, ofegando roucamente:
— Malditos sejam! Matem-nos de uma vez…
— Agua... água...
Rand esperou que lhe colocassem a cadeira que outro vaqueiro trazia e que entrasse dom Pablo Cortés. Sentaram-se os dois vagarosamente sem fazerem caso dos pedidos, maldições e súplicas dos prisioneiros. Dois vaqueiros trouxeram uma pequena mesa e uma toalha sobre a mesma. Depois, ele e um dos vaqueiros colocaram sobre a mesa comida apetitosa, uma cesta repleta de fruta fresca, uma garrafa de vinho, uma jarra de água... Depois de a mesa estar pronta dom Pablo fez um sinal com a mão e os criados saíram, fechando a porta. A luz de um cadeeiro iluminava a expressão ávida e febril dos dois presos.

quinta-feira, 29 de novembro de 2018

BIS170.06 O retrato do canalha Seth Markham

Dava a impressão de ser uma verdadeira povoação fortificada e não outra coisa a fazenda dos Cortés em Valle Hermoso.
Um muro de pedra e argila, de três jardas de altura, circundava o cabeço baixo e arborizado onde se erguia a casa dos donos, formosa e ampla, sólida, de estilo colonial. De espaço a espaço, havia guaritas no muro, preparadas para as sentinelas e apenas duas portas davam acesso ao interior, ambas grandes, resistentes e bem protegidas.
Os pavilhões de adobe dos vaqueiros agrupavam-se a ambos os lados do pátio, havia ainda um moinho de vento e um poço, um grande chafariz para os cavalos e um tanque onde algumas mulheres lavavam roupa, redis para guardar gado, hortas bem cuidadas, árvores de fruto...
Quando a caravana se aproximou saíram-lhe ao encontro vários cavaleiros, à frente, dos quais ia um rapaz espigado, muito parecido com Isabel. A rapariga adiantou-se ao seu encontro e os dois irmãos abraçaram-se alegremente. Depois, ela apresentou-o a Rand.
— Meu irmão Pedro. O senhor Rand Allen, de Marzdland.
O rapaz estendeu-lhe francamente a mão delgada e morena, nervosa como o seu olhar.

quarta-feira, 28 de novembro de 2018

BIS170.05 Caminhar na noite, mesmo feridos

Kent Barclay recebera uma segunda ferida, mas ambas eram de pouca importância, por sorte. Chegou junto deles quando a coxa de Rand já estava a descoberto, pois Isabel havia cortado habilmente a perna das calças com uma tesoura e deitou uma olhadela à ferida que os outros dois também observavam.
O projétil havia atravessado a coxa uns vinte e poucos centímetros acima do joelho, saindo, segundo parecia, sem atingir o osso. A ferida era muito aparatosa e sangrava com abundância. Rand começava a sentir-se mareado e a perna intumescia.
— Façam um torniquete com uma corda molhada — resmungou. — É preciso estancar a hemorragia o mais rapidamente possível.
— Fique um momento com ele, Kent. Volto imediatamente.
A rapariga dirigiu-se apressadamente para o carro e Kent ajoelhou-se com esforço, fazendo uma careta. Rand, entretanto, tapava os orifícios com algodão enrolado num lenço que Isabel trouxera.
— Ao fim e ao cabo tivemos sorte, Allen — comentou. — Estamos vivos e essa gente foi-se, segundo parece sem vontade de voltar por agora.

terça-feira, 27 de novembro de 2018

BIS170.04 Emboscada

A pequena caravana avançava lentamente sob o sol brilhante pela margem duma pequena corrente de água que se encaminhava para o sul e pela parte oriental de um largo vale, entre colinas arborizadas dum lado e lombas de vegetação luxuriante do outro.
Eram dez da manhã do décimo dia de marcha. Isabel cavalgava entre Torres é Rand, uns cem metros adiante do carro e do resto da escolta. A jovem ia falando:
— Chegaremos a casa amanhã ao meio-dia. Este é o rio Navasota. Valle Hermoso fica do outro lado, dessas colinas. Há-de gostar de Valle Hermoso, senhor Allen. Quatrocentos e cinquenta quilómetros quadrados da melhor terra do Texas, oito mil reses e vinte mil ovelhas. Tudo é nosso.
— Têm muita gente ao vosso serviço?
— Sessenta vaqueiros, oitenta pastores de ovelhas e quarenta camponeses. Valle Hermoso é uma verdadeira povoação, de quase quinhentos habitantes. Além disso estamos em relativas boas relações com os peles-vermelhas, pois não esquecem que meu pai foi sempre seu amigo.
— Compreendo. Onde fica o rancho de Seth Markham?
Isabel e Torres trocaram um olhar rápido. A jovem cerrou os lábios e indicou o norte com o indicador.

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

BIS170.03 Em defesa dos índios

Descobriu que o grupo de mexicanos os aguardava e que também havia um carro novo, sólido, pequeno, puxado por quatro excelentes mulas, onde foi metida a bagagem, bastante volumosa, de Isabel.
Com certa surpresa, viu que ela tinha pensado em tudo, pois havia ainda um baio de boa estampa preparado para ele. A jovem sorriu, divertida, quando se referiu ao assunto.
— Não se trata de bruxaria. Em Alexandria mandei um recado ao chefe dos meus homens por um barco que se preparava para zarpar quando nós chegámos. Não se lembra? De resto, eles estão aqui há apenas quatro dias. Quando nos encontrámos a primeira vez, eu não ia para Shreveport, mas sim para Galveston, para, dali, tomar um barco para Nova Orleães. Foi uma casualidade afortunada o facto de nos encontrarmos a bordo do outro...
Possivelmente. Mas agora ele, Rand Allen, sentia que tinha sido como aprisionado numa teia de aranha gigantesca, e aquela aranha tinha os olhos mais belos e mais aveludados do mundo.

domingo, 25 de novembro de 2018

BIS170.02 Como abdicar da liberdade numa partida de cartas

O forasteiro estava a acabar de comer a sua pouco refinada mas abundante refeição quando a rapariga entrou na sala de jantar do hotel dirigido pela senhora Hogdson. E não pôde deixar de lhe dirigir um olhar.
Ela era de estatura mediana, cintura estreita e busto opulento; vestia de azul-escuro e usava o cabelo, de um castanho brilhante, preso num rolo gracioso, sobre a nuca. Não devia ter muito mais de vinte anos e era, sem dúvida, uma beleza, sobretudo comparada com as mulheres que, então, se podiam encontrar no Texas. Também tinha todo o ar de uma senhora.
Acompanhavam-na dois tipos jovens, um alto e o outro de estatura média, ambos bem armados e vestidos de maneira diferente. O mais baixo era, sem dúvida, um mexicano, o outro, americano.
Segundo parecia, os dois homens constituíam a sua escolta, muito necessária, realmente...
A rapariga distinguiu-o com um olhar rápido, indo depois ocupar, com os seus companheiros, uma mesa afastada. Enquanto lhe serviam o jantar não deixou de o olhar com uma intensidade superior à normal numa rapariga da sua classe aparente.

sábado, 24 de novembro de 2018

BIS170.01 O orador é executado

— Neste Estado de Texas, soberano e livre, nesta primavera de 1843, toda a gente faz o que lhe apetece, com a única condição de ter força suficiente para impedir que outros lho proíbam.
O orador foi premiado com uma salva de palmas unânime. A reunião política efetuava-se no estabelecimento mais amplo da cidade de Westdale, comunidade do uns quatrocentos e oitenta habitantes brancos, fundada havia cinco anos precisos, aquando da independência do Texas, por um punhado de aventureiros procedentes do Nordeste e chegados ali, como quase todos os americanos que se dirigiam para o flamante Estado, com a esperança de enriquecerem rapidamente.
As cento e tantas famílias em que se tinham convertido as trinta e duas primitivas, falavam alto das ótimas condições das terras dos arredores e, na verdade, poucas se poderiam encontrar tão boas para pastagens e agricultura nas margens do rio Trinidad.
Também é verdade que, pelo menos uma quinta parte dos duzentos homens da comunidade trabalhava o menos possível; mas isso era pecha do lugar e da época, se bem que o facto sempre tenha sido um fator comum a todos os lugares e a todas as épocas do mundo.

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

BIS170. Texas, terra da violência

 
(Coleção Bisonte, nº 170)
 

No estado de Texas, soberano e livre, nesse verão de 1843, toda a gente fazia o que lhe apetecia, com a única condição de ter força suficiente para impedir que outros lho proibissem.

Nesse contexto, a vingança era algo que estava sempre presente no dia a dia dos habitantes.
Rand Allen foi contratado para vingar a esposa de um velho texano que tinha sido abatida numa emboscada movida por um americano presente na região e que tudo conseguia sem escrúpulos. Vários fatores facilitaram o contrato, a beleza de uma jovem e o facto de ter contas pendentes com o abusador.
 
Este livro de Jess McCarr é extremamente palavroso e constitui, por vezes, uma oração a favor dos índios despojados das suas terras pela invasão branca. É, nesses moldes, um tanto diferente de tantos outros que já apresentámos do mesmo autor debaixo desse pseudónimo ou sob o de Cliff Bradley que em determinado momento até considerámos profundamente reacionário.

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

BIS169. O degenerado

 
(Coleção Bisonte, nº 169)
 
O xerife Fischer, da pequena povoação Little Mountain, procurava infrutiferamente apanhar um bandido autoapelidado de «Jaguar» que não deixava em paz os ranchos da região nem o transporte de valores sendo responsável com a sua quadrilha por inúmeros crimes. Os poderosas já falavam em o demitir.
Decidiu, por isso, apelar a três amigos para o apoiarem. Conheciam-se desde os tempos da guerra civil e a sua amizade era inquebrável. Apenas um faltou ao apelo... e um dia em que Fischer viu o «Jaguar», entendeu que algo de conhecido havia nele...
A suspeita está presentea do princípio ao fim nesta obra de Louis Rock até no desfecho em nada esperado pelo xerife…


(Publicado no Novelas do Oeste Distante)

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

BIS168.11 O derradeiro combate / Conclusão

«O destino é mais forte do que tudo», pensou McGinnis, enraivecido com a sua própria pessoa, na incómoda posição em que se encontrava, acocorado no interior do roupeiro de Mabel Lee, Mabs para os íntimos, a rapariga de Hook.
Franck estava bêbado um segundo antes daquelas pancadas na porta; agora, sentia-se, perfeitamente, lúcido.
Escondera-se ali, mais pela rapariga do que por ele mesmo. Se Hook o descobrisse, um dos dois morreria... Ouvia-os falarem:
— Olá, Hook.
— Boas noites.
— Não te esperava. Que sé passa?
— Nada. Estou aborrecido.
— Porque estás a olhar para todos os lados?
— Por nada e deixa-te de fazer perguntas.
— Estás zangado comigo?
— Onde estavas?
— Deitada.
Foram momentos de expectativa. McGinnis do seu esconderijo ouvia tudo. Pensou que ia ficar toda a noite no meio das roupas de Mabel, até que ouviu o rancheiro dizer:
— Vou-me embora.

terça-feira, 20 de novembro de 2018

BIS168.10 Chega o terror

O chicote sibilou no ar e quando bateu nas costas nuas daquele homem deixou ficar uma marca sanguinolenta. Um dos dois homens que o seguravam foi também atingido e praguejou enraivecido: — Diabo, chefe. Não estou a gostar de fazer isto.
— Cala-te! Para tipos da laia desse canalha o chicote é bom demais. Só uma bala entre os olhos — e Hook enraivecido ia bater segunda vez.
O castigado, um vaqueiro pago por ele, chorava de dor e balbuciou:
— Não tive culpa. Ela... — calou-se ao ser golpeado pela segunda vez, com os músculos crispados. Forcejou por libertar-se, mas estava bem preso pelos dois companheiros.
— Se me bates... outra vez... mato-te! — berrou encolerizado.
Ouvindo isto, Graham ficou ainda mais furioso e ia canalizar a sua fúria para a ponta do chicote que empunhava, quando a porta da dependência onde se encontravam os quatro homens se abriu para dar passagem a Patrícia Hook. Esta olhou admirada para aquela cena e depois explodiu:
— Como te atreves? Desgraçado!
— Cala-te! — berrou o irmão. — Por tua causa sou escarnecido pelo mais ínfimo dos meus homens.
— Sou maior e posso escolher as minhas companhias — desafiou.
— Sai! Não és digna sequer de falar para mim!

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

BIS168.09 A tentação surge onde menos se espera

Aqueles três dias de inatividade e falta de notícias passaram penosamente para McGinnis.
Na manhã do quarto dia, resolveu ir ao rancho sob mil e um pretextos que escondiam o principal, e entre estes a escassez de alimentos e tabaco. Entregou a chefia do posto a Grant e partiu. Cavalgava não muito depressa, seguindo a cerca que dividia as duas fazendas em litígio. Resolvera seguir aquele itinerário para verificar o estado daquela. Só muito tarde avistou o cavalo que pastava calmamente do lado dos terrenos de Hook e o vulto caído por terra.
— Socorro! Parecia uma voz de mulher.
McGinnis parou.
— Ajude-me, por favor.
Aquilo podia ser um ardil, pensou o preto.
— Que lhe aconteceu? — gritou. — Caí do cavalo. Creio que tenho qualquer coisa partida porque não me posso mexer! — e juntou um gemido às palavras.
Para o diabo com as precauções — congeminou Franck fazendo a montada saltar por cima da cerca. Ela era jovem e bonita. Estava caída por terra, uma perna dobrada por baixo da outra.

domingo, 18 de novembro de 2018

BIS168.08 Traidor executado

— Passo!
— E tu?
— Fico!
A noite tinha caído há já duas horas. Russel estava de posto e os outros quatro, incluindo Franck, jogavam às cartas. Os três vaqueiros olharam fascinados para as mãos de McGinnis que, com uma mestria surpreendente, baralhava as cartas. Isso vinha provar que, além de bom atirador, era hábil ao jogo.
— Três pedras! — disse Grant.
— Lembra-te do limite — observou McGinnis.
— Qual limite?
— Duas pedras, o máximo.
— Hoje estabelecemos qualquer limite?
— Não. Mas a combinação já vem das outras noites.
— Está bem. Seja. Duas pedras! Vocês viram logo que eu tinha bom jogo e não me querem deixar enriquecer.
Os companheiros riram. Jogavam a pequenas pedrinhas que ali faziam a vez de dinheiro. McGinnis não permitira que se jogasse a dinheiro, o que, aliás, não tirava interesse às jogadas.
— Então, Richard? Decide-te, homem — dizia Grant. — Por mais que olhes para as tuas cartas não consegues valorizar o teu jogo e, já sabes que o meu é bom...
— Passo!
— Passo! — repetiu Franck.
Green ficou indeciso. Olhou para Grant tentando adivinhar a verdade das suas palavras. Estava convencido que o jogo dele não era tão bom como apregoava. Já tinha perdido muitas pedras naquela noite. Desistiu.

sábado, 17 de novembro de 2018

BIS168.07 Vigiando dia e noite

O cavalo veio por ali fora naquela tarde ensoleirada, envolto numa espantosa nuvem de poeira que nada deixava distinguir, galopando endiabradamente e, ao passar defronte dos vaqueiros que tinham sido colhidos de surpresa, algo caiu ao chão rebolando alguns metros.
Era um homem!
O vaqueiro Jenkins logrou segurar o solípede e os restantes correram para o corpo imóvel estendido no solo. O homem chamava-se Tono e era um dos guardadores do gado de Estapoole.
Apresentava pelo corpo indícios seguros de ter sido sovado e o vestuário encontrava-se em farrapos. Pegaram nele e levaram-no para cima de uma pilha de feno, num local abrigado dos raios do Sol.
Nessa altura chegaram Estapoole, o filho Allan, McGinnis e o capataz Mac Donald.
— Que se passa aqui? — perguntou o velho rancheiro.
O pessoal abriu fileiras para ele passar.
— É o Totto — disse um do grupo. — Parece que se meteu em apuros!
Alguém atirou água para cima do rosto do inconsciente, mas demorou muito tempo até este recobrar o conhecimento. Joseff Mac Donald encarregou-se de o interrogar.
— Ouve, Totto, o que foi que te aconteceu?
O ferido rebolava os olhos dentro das órbitas, todavia, parecia ainda distante em pensamento do sítio onde se encontrava. Em voz muito débil, perguntou por sua vez:
— Onde estou eu?
— Estás em casa, homem. Eu sou Mac Donald. Precisamos de saber o que te aconteceu.
O vaqueiro cerrou novamente os olhos. Via-se que sofria. O capataz pegou num cantil com água e introduziu-lho na boca.
— O que se passou, Totto?
Um silêncio de chumbo pesava sobe os circunstantes. Se um cavalo relinchasse ali naquela altura, o som que produziria seria tão atroador como o tiro de um canhão.
— Foi Hook... — sussurrou o ferido.
— O que se passou?
— Eu apanhei Hook... no nosso terreno... levando cinco vacas... estava sozinho...
Hook atirou-se a mim com os seus cinco homens... amarraram-me as mãos a uma corda comprida e arrastaram-me durante muito tempo... atrás de um cavalo... depois fiquei ali... A cabeça do ferido pendeu novamente para o lado, ficando inconsciente.
— Levem esse homem para o seu quarto e prestem— lhe a devida assistência — ordenou a voz crispada do velho Estapoole.
— Sabemos agora — dizia o rancheiro ao jantar —que o nosso gado não foge para o terreno de Hook. Ele é que vem ao nosso terreno apanhá-lo para o levar para lá, onde o marcam com o ferro deles.
— Graham Hook é um canalha e merecia o mesmo castigo que deu ao Totto! — exclamou a voz exaltada de um dos vaqueiros.
— Quando aqui cheguei, rapazes — continuou o rancheiro — o assunto era tratado de modo muito diferente. Imperava a lei das armas e a do mais forte. Um dos dois tinha de morrer... Hook ou eu! Agora temos de agir de outra maneira. Vigiaremos noite e dia os limites do terreno deste rancho e, se esse canalha tentar repetir esta ação, castigá-lo-emos ali mesmo...
A refeição decorreu, a partir daqui, entre conversas exaltadas que visavam um só assunto.
A manhã ainda tardaria muito tempo a romper, quando os cinco homens abandonaram o edifício principal do rancho e se dirigiram para o barracão onde estavam os cavalos. Eram eles Allan, McGinnis, Mac Donald e mais dois vaqueiros.
Começaram a selar as respetivas montadas, sem dizerem uma palavra sequer. À luz difusa da manhã, algo de sinistro luzia na cinta daqueles homens. Armas! Os dois vaqueiros levavam carabinas.
— McGinnis! — chamou uma voz de mulher do exterior.
As cinco cabeças moveram-se para a porta do barracão. Era Helena Estapoole!
— McGinnis! — repetiu.
O preto caminhou na sua direção e ficou parado a alguns passos dela. A jovem olhou em silêncio para a coronha do Colt que sobressaía do coldre suspenso do cinturão. Compreendeu que o homem que estava à sua frente não era o vaqueiro McGinnis, mas o pistoleiro McGinnis, a quem chamavam o pistoleiro preto. Por força das circunstâncias e, quem sabe, talvez por amor à sua pessoa, Franck pusera de parte o seu sonho de uma vida pacífica e ia retornar aos seus tempos passados, numa palavra — lutar! Deram as mãos. Apercebendo-se do embaraço em que se deviam achar os dois jovens pelo facto de estarem a ser observados por todos, Allan disse em voz alta, de modo a ser ouvido por todos:
— Eh, Joseff, fecha-me essa porta. Está uma corrente de vento dos diabos!
Isto equivalia a um pacto entre eles!
— Minha mãe sabe que nos amamos — disse Helena. — Mandou-me entregar-te esta corrente de prata com uma medalha, para que nada te aconteça.
McGinnis não era religioso. Não sabia mesmo rezar. Mas às vezes, quando passava as noites pela pradaria tendo por tecto o céu estrelado, punha-se a pensar que havia de haver uma força poderosa a regular todas as coisas, os homens, as estrelas e as plantas. Deixou que ela pusesse o fio em volta do seu pescoço. As suas mãos estavam frias. Abraçou-a e beijaram-se.
— Adeus, Helena... Até ao regresso...
— Adeus, McGinnis... — e ela afastou-se apressadamente, quase correndo, para que ele não a visse a chorar.
Franck retornou ao barracão. Allan acabara de selar a sua montada.
— Obrigado, Allan... por teres acabado o meu trabalho — montou agilmente, sem pôr os pés nos estribos, à maneira índia.
— Vamos embora antes que amanheça.
No silêncio da manhã ouviu-se o tropel dos cinco cavalos. Por detrás dos vidros de uma janela, um rosto feminino via-os partir, enquanto grossas lágrimas deslizavam suavemente pelo bronzeado da sua pele. E, na janela ao lado, um rosto de homem também seguia com o olhar os cavaleiros matutinos. Era Estapoole...
Os cinco cavaleiros chegaram ao local onde pastava o grosso da manada e foram recebidos pelos gritos de entusiasmo dos vaqueiros que ali se encontravam, que recebiam desta maneira jubilosa o reforço armado.
Desde o que acontecera ao Totto, os guardadores viviam em sobressalto. Havia um homem que eles receberam com mais entusiasmo. Era McGinnis! Sabedores da fama que ele arrastava consigo como atirador — embora nenhum deles o tivesse visto atirar! — a presença dele ali era como uma barreira de segurança contra todos os possíveis inimigos, uma vez que nenhum dos vaqueiros possuía uma arma sequer.
Dada a má vizinhança com Graham Hook, que se arrastava já há um ror de anos, ameaçando de dia para dia tornar-se numa guerra aberta entre os dois rancheiros e, tendo em atenção a extensão do terreno de pastagem — mais de três quilómetros! — Estapoole resolvera montar três postos de vigilância ao longo da vedação que separava as suas terras das do vizinho beligerante.
Em dois deles, encontravam-se sempre quatro homens, noite e dia. O pessoal destes postos era rotativo, mudando-se ao fim da semana, de uns para outros.
No terceiro posto — chamar-se-ia, com propriedade, posto-central — encontrava-se o restante pessoal.
Estes homens viviam em barracões de madeira, onde faziam toda a sua vida, desde o dormir até ao próprio cozinhar das suas refeições. Mensalmente, eram rendidos por pessoal vindo de cima e Estapoole dava-lhes dois dias para se divertirem... e embebedarem! — no povoado.
McGinnis e os companheiros desmontaram defronte do posto-central, um barracão de madeira enegrecida por cuja chaminé saía um fumozinho preto.
— Alô, pessoal! — saudou o capataz.
— Bons dias. Sejam bem aparecidos! Chegam mesmo na altura do café!
— Vamos a ele.
E, ruidosamente, encaminharam-se para a porta da entrada do barracão. Sem ninguém dar por isso, Franck separou-se do grupo, dirigindo-se em direção diferente. Quando notou a sua falta, Allan chamou-o:
— Eh, McGinnis! Não vens?
— Não demoro nada. É só um momento.
Debruçou-se sobre a vedação de toros de madeira, que marcava o limite das terras de Estapoole. Para lá, era zona proibida. No entanto, dum lado e do outro, a paisagem era realmente a mesma: prados verdejantes que se estendiam até perder de vista. Por vontade dos homens, aquela terra igual dividia-se naquele ponto. Para cada um dos proprietários, o lado contrário era zona proibida...
McGinnis demorou-se ainda ali algum tempo. Depois tomou o caminho do barracão. Mac Donald trouxe-lhe uma caneca com café e pão com fiambre. À socapa, os vaqueiros presentes olhavam com admiração para aquele preto musculoso, que diziam ser hábil no manejo do único Colt que trazia pendente do cinturão de couro, repleto de balas. Quando acabou de comer, Franck fez um gesto com ambas as mãos e as conversas morreram ali.
— Tenho um plano para todos...
Sentou-se na mesa, brincando com uma faca de cozinha e os outros chegaram-se para o pé dele.
— Temos três postos de vigilância — continuou. — Cada um de nós — e designou-se a si, a Allan e ao capataz — chefiará esses postos. Mac Donald, a tua presença é mais precisa aqui do que em qualquer outro lado... Allan ficará no posto Sul e eu no do Norte.
O posto Norte era aquele onde se dera o incidente com Tono. Voluntariamente ele oferecia-se para o posto mais visado por Hook e Allan compreendeu, porque começou a dizer:
— McGinnis eu...
— Fico no posto Norte, Allan! — disse terminantemente o preto. — Ninguém te garante que o do Sul não seja brevemente o atacado...
Allan calou-se.
— A gerência e normas de vigilância de cada posto ficarão ao cuidado do chefe do mesmo. No meu, estabelecerei turnos de guarda, rendidos de duas em duas horas. Se se der algum incidente, imediatamente avisaremos o posto a seguir e este, por sua vez avisará o outro. Okay?
— Okay! — responderam-lhe, quase em uníssono, Allan e o capataz.
— Boa sorte — desejou o preto aos seus dois amigos, juntando às palavras uma palmada amigável nas costas de cada um e, dando o exemplo, saiu e montou, partindo em direção ao posto que destinara a si próprio.
Joseff e o filho de Estapoole saíram logo a seguir. Quando McGinnis avistou o barracão de madeira, mais pequeno que o do posto-central, que seria a sua casa durante os tempos mais próximos, abrandou a marcha do solípede. Compreendeu imediatamente a razão porque Hook tinha escolhido aquela zona para as suas surtidas. O terreno era um bocado sinuoso, com altos e baixos, o que facilitava a aproximação dos inimigos. Ia com os olhos fixos no barracão e estranhava por não ver fumo sair pela chaminé, nem ninguém presente ao redor do mesmo. Onde estaria o pessoal? E, o seu coração começou a bater com mais força: teriam sido novamente atacados? Ia esporear a montada, quando uma voz à sua direita lhe freou os intentos:
— Mãos no ar!
Obedeceu prontamente, mas continuou sem ser ninguém. O atacante estava escondido atrás de uns arbustos mas, por qualquer motivo, não queria mostrar-se.
— Faz marcha atrás e vai dizer ao porco do Hook que nós estamos armados e à espera dele. Armados, percebes? E agora desaparece, antes que eu... — a voz soava com bastante aspereza.
McGinnis ficou nó mesmo sítio e fez prodigiosos esforços para não romper às gargalhadas. Sabia agora porque era que o seu atacante não queria mostrar-se...
— Sei que você não tem qualquer arma... — disse. — A sua sorte é eu pertencer ao pessoal do Estapoole e vir como amigo — desmontou. — Venha daí dar um abraço.
O vaqueiro levantou-se imediatamente e ficou hesitante.
Era um homem forte, com a barba hirsuta e o aspeto de quem não pregava olho há muito tempo.
— Chama-se McGinnis?! — perguntou, ainda pouco convencido e receando, talvez, ter caído num ardil.
— O meu nome é Franck McGinnis!
O homem veio quase a correr, aos tropeços, de mão estendida. Parecia que ia chorar de alegria.
— Desculpe. Mas nós não temos armas... e depois do que aconteceu ao Totto! Que havíamos de fazer, senão jogarmos aos policias e ladrões como os meninos da escola? Chamo-me Grant — depois de apertar a mão ao preto, levou ambas as mãos à boca, em forma de concha e chamou: — Richard! Green! Venham cá!
McGinnis viu-os levantarem-se dos sítios onde estavam dissimulados e ficarem em expectativa. Grant repetiu a chamada:
— Venham cá! É um amigo...
— Falta um — disse o preto. — Onde está?
—É Russel, um valente. Está mais longe e tenho de ir lá chamá-lo. Foi ele quem se ofereceu para ir para lá!
Caminharam ao encontro dos outros dois homens. O aspeto era igual em todos: a barba por fazer e os olhos vermelhos de cansaço.
— Não temos medo, McGinnis — afirmou um deles, depois dos cumprimentos. — Se tivéssemos uma arma cada um!
— Vocês devem estar esfomeados!
— Esfomeados?! — desataram a rir. — Não comemos nada desde que Totto foi atacado!
— Se não se importam, sou o novo chefe deste posto — exclamou Franck. — Acho que vamos ser uns companheiros esplêndidos até nos virem render — riu. — Agora, Grant, pegue o meu cavalo e vá chamar esse Russel de uma figa. Entretanto, Richard é mestre cozinheiro e Green é o ajudante da cozinha. Eu ficarei cá por fora.
Os três homens entreolharam-se surpreendidos. Depois trocaram um olhar de inteligência acompanhado de um sorriso, Grant montou o cavalo dele desaparecendo em cavalgada e Richard e Green encaminharam-se para o interior do barracão.
Dentro de minutos, a chaminé fumegava. Russel chegou logo a seguir. Era um mocetão alourado e cumprimentou McGinnis com alegria. O preto afastou-se depois alguns metros da cabana. Ouvia-os a trautear lá dentro, enquanto se barbeavam. Richard surgiu à porta.
— Não vem comer, McGinnis?
— Não, obrigado. Já almocei.
— Bom.
Demoraram-se alguns minutos, até que saíram todos para o exterior. Pareciam outros, lavados e bem-dispostos. Rodearam Franck que estava sentado no alto de uma pedra. Este passou a olhar por todos eles.
— A ordem agora é dormir — exclamou o chefe meio sorridente.
— Mas... — ia a protestar Grant.
— Eu disse, dormir! Okay? Eu ficarei por aqui.
Os quatro vaqueiros não tiveram outro remédio senão dar meia volta e regressar ao barracão. — Este é de fibra — ouviu Russel dizer para os outros. Deviam ter adormecido imediatamente e o silêncio caiu sobre aquelas paragens.
Grant foi o primeiro a acordar e verificou, espantado, que a noite descera. Soergueu-se e viu Richard, Green e Russell a dormirem a sono solto, nas camas ao lado. «O preto deve ainda estar de posto! — pensou. — Uma vergonha!»
Levantou-se, rapidamente, enfiou as botas e renunciando a passar um pouco de água pela cara, para não perder tempo, saiu do barracão. Na claridade da noite, descobriu McGinnis ao fundo, sentado sobre uma pedra. Aproximou-se. O negro volveu o olhar para trás e continuou na mesma posição.
— Está uma noite sem estrelas — disse Franck.
Grant olhou o céu e viu que, realmente, a noite não estava estrelada.
— Se calhar vai chover — concluiu o preto.
Grant, que esperava ouvir uma reprimenda pelo facto de se terem deixado adormecer, ficou boquiaberto com aquelas considerações meteorológicas.
— Desculpe, McGinnis. Adormecemos estupidamente...
— Estavam de facto muito cansados... — concordou o outro e prosseguiu: -- Este lugar de sentinela faz-me lembrar os tempos de tropa, quando nos exercícios cavávamos uma trincheira e ficávamos vigilantes toda a noite, embora soubéssemos que não havia qualquer inimigo...
Grant reparou que ele estava com um cobertor pelas costas.
— Vá-se deitar, McGinnis. Já esteve aqui tempo demais.
O preto passou-lhe o cobertor.
— Tenha particular vigilância ali — e estendeu o dedo em determinada direção. — Daqui por duas horas chame o Richard, este chamará o Green, depois o Russel e, a seguir, eu. Entendido?
— Okay!
— Pegue na minha arma. Raramente me separo dela... mas agora é um momento especial. Entregou-lhe o Colt. — Você fez mal em levantar-se — exclamou. — Está frio! De dia faz calor, mas à noite o vento sopra gelado — e afastou-se para o barracão.
Grant viu-o afastar-se. Depois sentou-se sobre a mesma pedra e concentrou a sua atenção na escuridão envolvente.
— Este preto desconcerta... — murmurou.
Dez dias! Mais de uma semana tinha passado, desde a chegada de McGinnis àquele posto de vigilância. Ocorrências: nenhumas! Tudo calmo, tão calmo como as longas tardes escaldantes, com o Sol a pino e sem uma aragem a refrescar. O cow-boy criara novo ambiente no barracão. Mandara deitar fora as latas de conserva empilhadas a um canto e que quase já atingiam as vigas do tecto, o chão foi varrido, as camas alinhadas, a cozinha lavada, o tecto arranjado e substituídas as tábuas por onde o vento entrava livremente à noite. Resumindo, a cabana ficara com um aspeto mais habitável...
Depois deste serviço, nada mais havia a fazer, pois raramente apareciam por ali algumas vacas de Estapoole, dado que aquele terreno era rochoso e de má pastagem. McGinnis jogava às cartas com os companheiros durante o dia e à noite, quando não estava de turno, pensava em Helena Estapoole, acariciando o fio de pescoço que ela lhe dera. Os dias passaram-se assim, monótonos e sem vida, até ao momento em que Russell, que estava de vigilância, gritou:
— Vem aí um cavaleiro!
McGinnis, Grant, Richard e Green que estavam sobre nas camas, saltaram para o chão como impulsionados por molas. Chegados ao exterior, olharam para os dois lados e não viram nada. Mas não tardou a aparecer o cavaleiro, ao longe, oculto num baixio do terreno.
— Que fazemos? — inquiriu Grant dirigindo-se a McGinnis.
— Aguardamos! — foi a resposta. Pediu a arma a Russel e, quando o cavaleiro desapareceu noutro declive do terreno, correu velozmente para os arbustos ressequidos de onde tinha sido surpreendido por Grant, à sua chegada.
Seguindo o seu exemplo, os quatro vaqueiros dispersaram-se também. O cavaleiro estava agora mais próximo. Trazia um volume atrás na montada. McGinnis esperou que ele passasse à distância de alguns metros do sítio onde se encontrava escondido. Depois quando o recém-chegado estava de costas, levantou-se rapidamente e saltou para o caminho.
— Faça alto e levante as mãos!
O cavaleiro parou e obedeceu, sem se voltar. Franck rodeou-o até ficar de frente.
Era um homem aí de uns quarenta anos, forte, que trajava à vaqueiro, sem armas. Os olhos estavam cravados na arma que o preto apontava.
— De onde vem e quem é?
O homem não chegou a responder, porque a voz de Grant deu a resposta nas costas de McGinnis:
—É o Hunster! É dos nossos, McGinnis.
— Não o conheço — disse este.
—O Estapoole tinha-o mandado às margens do Rio Cimarron levar uma carta a um irmão dele que lá vive. Quando Franck guardou a arma, o homem desceu do cavalo e abraçou os companheiros.
— Que trazes aí? — quis saber Russel, apontando para o embrulho.
— São armas para vós.
— Bravo! — gritou Grant e atirou-se logo à embalagem.
Eram carabinas de repetição, novinhas em folha.
— O velho comprou isso agora. A acompanhar as armas vinha uma caixa de munições.
— Distribuí igual quantidade nos outros postos — informou o visitante. — Allan manda dizer que qualquer dia aparece aqui.
Hunster naquela noite ficou ali, pois os companheiros estavam ávidos em saber notícias do rancho e do povoado. E, ele trouxe uma novidade: Hayman City brilhava agora com mais uma beldade.
Chamava-se Mabel Lee e não era osso para qualquer. Tinha havido cenas de tiroteio por causa dela e o xerife Flanagan via-se em apuros com tanto serviço.
Toda a gente lamentou que, naquela noite, não tivesse havido nada que originasse a estreia das novas armas. Mas McGinnis meditou até altas horas da noite que, embora sem notícias de Estapoole, se ele mandava aquelas armas era porque a situação se agravava...
Dois dias depois de Hunster partir, chegou Allan. Desta vez, ele foi recebido a pé firme e de armas na mão por todos e ninguém teve necessidade de se esconder. Para um só homem, cinco chegavam e sobravam...
Allan desmontou, abraçou McGinnis e perguntou se não se arranjava nada de comer. Grant, que estava de cozinheiro naquele dia, correu para a cozinha e, daí a segundos, o filho de Estapoole estava diante do melhor manjar que era possível arranjar: carne enlatada e café! Todavia, Allan pareceu não notar a frugalidade da refeição e comeu com apetite. No fim, afirmou:
— Vocês estão mais abastecidos do que nós! Hoje os meus homens ficaram só a café! Que raio de vida! Meu pai parece que quer obrigar-nos a uma prova de sobrevivência!
A seguir a alguns minutos de cavaco com os vaqueiros daquele posto, Allan acompanhou McGinnis num passeio pelos arredores.
— Tens recebido notícias do rancho, Allan?
O jovem olhou-o e sorriu. Sabia em que ele estava a pensar.
— Não, amigo. Parece que se esqueceram que nós existimos!
— Teu pai mandou-nos armas. Isso pode significar um agravamento no caso. Mas continuamos às escuras, como náufragos agarrados a uma tábua, à espera nem sabemos de quê... Meus homens são formidáveis. Recusaram-se a serem rendidos no prazo habitual e formamos um autêntico bloco. No entanto, não me sinto satisfeito. Que diabo, precisamos de saber o que se passa!
— Tens razão, McGinnis. Concordo contigo. Porque não dás lá uma saltada? — sugeriu o jovem, mais na intenção de proporcionar ao amigo um motivo para ir ao rancho e consequentemente visitar a irmã, do que qualquer outra razão.
— É o que vou fazer se continuarem a olvidar-nos.
Allan permaneceu todo o dia naquele posto e à noitinha partiu, debaixo de uma ruidosa despedida.

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

BIS168.06 A história de Mc Ginnis

No Oeste, como aliás em todos os países de clima quente, quando acontece chover a água cai do céu em torrentes e alaga tudo em muito pouco tempo.
Naquela manhã, Joseff Mac Donald que além das suas funções de capataz parecia ter vocação para adivinho meteorológico, já por mais de uma vez plenamente comprovada, anunciou que, dentro de uma hora, o máximo, ia chover torrencialmente. Em face deste aviso, toda a gente se entregou à faina de arrecadar tudo o que se encontrava no exterior que ficasse prejudicado com a chuvada. McGinnis estava entre eles e ouviu um dos vaqueiros avisar:
— Aí vem Hook!
Franck olhou pelo canto do olho e viu efetivamente Graham Hook e mais três correligionários aproximarem-se a passo lento das suas montadas. Enquanto Hook continuava na direção onde eles se encontravam, os três companheiros ficaram parados à porta do edifício principal e distanciaram-se entre si. Todos os vaqueiros estavam desarmados e McGinnis que trabalhava dentro do armazém, ao lado de Allan, voltou as costas para a entrada para não ser reconhecido.
— Eh, rapaziada, onde está o vosso patrão? — bradou Hook do cimo da sua montada.
— Deve estar em casa — disse um dos vaqueiros.

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

BIS168.05 Baile no rancho dos Harrison

Por ordem de poderio, o rancheiro Harrison estava em terceiro lugar, a seguir a Hook e a Estapoole. Raro era o mês que passasse sem uma festa em casa dos Harrison e, esse facto devia-se à gente nova que lá habitava. Os filhos do casal eram cinco: Greaf de vinte e cinco anos, Tommy de vinte quatro, Sofie de vinte e dois, Red de vinte e um e Marie de dezoito. McGinnis foi convidado por Allan Estapoole.
— Não sei se vá... — tartamudeou ele. — Essa gente nem sequer me conhece...
Allan compreendeu a razão das evasivas de Franck: a eterna questão da sua cor! Mas, isso não obstava à sua ida. Os Harrissons eram gente decente e, certamente, já tinham ouvido falar nele.
— Isso não é motivo, McGinnis. Se não fores zango--me... Os Harrisson são boas pessoas.
O cow-boy compreendeu o alcance das palavras «os Harrisson são boas pessoas» e concordou.
Assim, na manhã seguinte, obtida a aquiescência do velho Estapoole, Allan, o capataz MacDonald e McGinnis, partiram montados nos seus cavalos.
O rancho Harrison ficava situado no fundo de um vale e, do alto dominava-se toda a fazenda. Os três cavaleiros chegaram lá ao anoitecer e todas as janelas do edifício principal estavam iluminadas.

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

BIS168.04 Um rancho para trabalhar

Seguindo as instruções que o xerife lhe fornecera, McGinnis deu sem dificuldade com o rancho de mister Max Estapoole.
Era uma bela fazenda, que se adivinhava extensíssima, delimitada por uma cerca construída com toros de madeira, a toda a volta. À entrada havia um arco, com os dizeres:
 
RANCHO ESTAPOOLE

Ao fim desse caminho, ficavam as casas de habitação.
Quando entrou, dois vaqueiros, que se encontravam sentados sobre a cerca, olharam-no com curiosidade e surpresa.
McGinnis levava o seu Colt suspenso do coldre à cinta, acedendo assim aos rogos de Flanagan que o convidara a que fosse armado. O bom homem, certamente, receava que ele fosse atacado, mas tal, em boa verdade, não acontecera, e a viagem desde o povoado decorrera sem incidentes de qualquer espécie.
Franck desmontou defronte da entrada principal do edifício. Um vaqueiro abeirou-se dele. Era, ainda, bastante novo e trajava, genuinamente, à moda dos vaqueiros.
— Quem procura aqui?
— Quero falar com mister Estapoole.
— Sou Allan Estapoole! — e o jovem estendeu a mão ao forasteiro. Foi aquele aperto de mão, afinal, que viria a selar uma grande amizade. — Meu pai espera-o.

terça-feira, 13 de novembro de 2018

BIS168.03 A última morada de Lily Carmena

— Que tal se sente? — esta voz libertou McGinnis dos seus pensamentos.
O xerife Flanagan sorria-lhe da entrada, mas no seu semblante adivinhava-se uma certa apreensão, talvez pelo rumo que os acontecimentos estavam a tomar.
O cow-boy ficou calado e tentou sentar-se, o que conseguiu embora sentindo dores enormes em todo o corpo. O xerife foi lá dentro buscar uma cadeira e veio sentar-se ao pé dele.
— Livrou-se de boa! Hook ia matá-lo, não tenha dúvidas. Consegui arrancá-lo às mãos dele e minha mulher fez-lhe os primeiros curativos.
— Agradeço a ambos.
— Falei com Max Estapoole sobre um emprego para si. Está tudo arranjado. Logo que possa deve dirigir-se àquele rancho. Estapoole é uma excelente pessoa e vai ver que vai ficar contente.
— Lily Carmena? — perguntou, simplesmente, McGinnis como exteriorizando um problema que lhe dominava a mente. Jack Flanagan franziu o sobrolho.
— Morreu! — disse.
Notou que os punhos de Franck se fechavam com desespero.

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

BIS168.02 Pratos para o homem branco

Vista de longe, Hayman City nem chegava sequer a parecer uma cascata. Era, simplesmente, um aglomerado de barracões, alinhados uns ao lado dos outros, que tinham sido aproveitados para armazéns e dois saloons, onde os rancheiros que viviam nas vizinhanças, e eram em grande número, vinham aprovisionar-se de víveres e outras coisas mais necessárias nas suas fazendas.
O forasteiro montava um belo cavalo malhado e entrou em passo moderado na povoação, olhando com curiosidade para todos os lados. Vestia um blusão de couro, calças pretas que terminavam dentro das botas de montar e na cabeça trazia um enorme chapéu de abas de corvo que o resguardava do sol. À cinta sobressaía do interior do coldre a coronha de uma arma.
Toda a gente veio à porta para observar o estranho. Os forasteiros eram raros no povoado, porque Hayman City ficava longe das rotas das diligências. Mas não era bem isso que atraía a curiosidade daquela gente. Era a cor do forasteiro! Ele era preto, não mulato cor de café com leite, mas preto retinto!
— Um cow-boy preto! — houve quem murmurasse com assombro.

domingo, 11 de novembro de 2018

BIS168.01 Uma sova no preto

O campo de visão de Franck McGinnis estava circunscrito àquelas duas botas de montar, de couro forte, bastante gastas e sujas de lama. Se fizesse um maior esforço, levantando a cabeça, poderia ver outras botas iguais àquela e atrás desta, mas esse movimento era doloroso e ficava-se, apenas, com o olhar fito naquelas, bem próximas do seu rosto.
Franck McGinnis estava deitado no chão poeirento daquela praça larga da povoação, de barriga para baixo, com as mãos atadas atrás das costas. As botas pertenciam a Graham Hook, um tipo alto e forte, de músculos vigorosos, que era o proprietário da maior extensão de terra nos limites do povoado e, por via disso, o dono de Hayman City, sem sombra de dúvida. Mas Franck sabia mais: Hook era também o dono de Lily Carmena, a rapariga mais bonita que ele jamais vira em Hayman City, e era por causa disso que estava a ser sovado, publicamente.
McGinnis fechou os olhos ao ver Graham levantar a bota pela décima vez. A pancada desferida na base da cabeça doeu-lhe, profundamente.
— Toma, maldito negro. Ou desapareces para sempre desta terra, ou dou cabo da tua miserável pele. Não queremos miseráveis da tua laia a conviver connosco!
Estas palavras doeram a Franck, muito mais do que a pancada. Era sempre assim! O branco arranjava todo e qualquer pretexto para troçar da sua cor.

sábado, 10 de novembro de 2018

BIS168. O pistoleiro negro

 
(Coleção Bisonte, nº 168)
 
Joaquim Ferreira Martins é um autor português que normalmente utiliza o pseudónimo John Washington. Desta vez, um erro denunciou este truque da APR de esconder a nacionalidade do autor português conferindo à obra uma aparente origem semelhante à de outras das suas coleções.
O tema da obra em questão também é normal nos nossos autores: ele explora uma situação pouco provável, neste caso, a condição de um pistoleiro de raça negra quando o normal seria o homem estar submetido aos elos da escravatura.
Para animar, o pistoleiro é super-rápido apesar de querer uma vida afastada das armas depois de ter exercido funções de agente federal e o futuro patrão até nem é racista e tem como criada uma mulatinha que vai servir para dar um fim romântico à novela.   

 

sexta-feira, 9 de novembro de 2018

BIS167. O xerife da sobrecasaca preta

 
(Coleção Bisonte, nº 167)

O xerife de Carrizo foi assassinado por vários homens obedecendo a um maquiavélico plano de Killer Evans que pretendia assaltar o banco local após um conjunto de transações de gado.
Linn Colder, um pistoleiro com a cabeça a prémio em vários estados, abateu os assassinos do xerife e conseguiu ser nomeado o representante da lei local para facilitar os planos de Killer. Mas o homem tinha consciência e o contato com os filhos do xerife assassinado levou a que, no momento definitivo, optasse pelo lado correto da lei.
Eis uma narrativa muito interessante de Ros Talbot publicada no volume 167 da coleção Bisonte


(Publicado no Novelas do Oeste Distante)

quinta-feira, 8 de novembro de 2018

BIS166. A noite do enforcado

 
(Coleção Bisonte, nº 166)

Um homem, Windows, aguarda junto do guarda, que é seu amigo, o momento da execução.
A confiança que os une leva-o a contar-lhe a razão da sua condenação. Ele não suportara a atitude do patrão apostado em apoderar-se das terras de uma comunidade mórmon para engrandecer o seu império e... abatera-o.
Eis uma novela muito interessante, diferente de todas as outras, onde até encontramos uma jovem que gosta de tocar piano... embora desafine. E o final é mesmo o que não se espera: o «herói» não escapa e é executado.

(Publicado no Novelas do Oeste Distante)

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

BIS165. Vou enlouquecer

 
(Coleção Bisonte, nº 165)
 
Aquele homem sabia que, quando atingisse os trinta anos, estava condenado a enlouquecer. Era um problema hereditário...
Uma jovem, herdeira rica de um rancho, era prima de dois bandidos que pretendiam assassiná-la para se apoderar dos seus bens. Pensou assim em casar-se por forma a quebrar o elo hereditário e entendeu que aquele jovem, que atingia os trinta anos, a poderia ajudar.
Eu não sei se o autor está louco com um argumento destes, se o homem ficaria mesmo louco, ou se sou eu quem vai ficar neste estado após estas leituras. O certo é que, com esta trama, com um fio condutor tão frágil, Spencer Curtis consegue urdir um livro interessante que culmina com uma carta de um médico a informar o potencial louco que ele tinha sido adoptado e que portanto não tinha que se preocupar com o futuro...
Spencer Curtis é um autor com apenas 7 registos em Portugal todos na APR entre 1963 e 1967.
A capa, não assinada, mostra um pormenor da luta do homem condenado à loucura...

terça-feira, 6 de novembro de 2018

BIS164.13 O tesouro ao legítimo dono

O ganadeiro e o ajudante do xerife irromperam como um furacão dentro do recinto rochoso. Os seus rostos estavam descompostos.
— Loveland — exclamou Granwley com voz rouca —, sabe quem é um dos três indivíduos que estes homens mataram? Chill Talbott!
— Chill Talbott? — murmurou o xerife, perplexo.
Um silêncio súbito e pesado envolveu a atmosfera. Paul Keener devia sentir-se muito cansado pela cavalgada que acabava de fazer. Aproximou-se de uma das rochas mais pequenas e sentou-se nela colocando a muleta contra outra rocha situada atrás dele. Não a devia ter colocado devidamente porque escorregou entre as rochas, acabando por cair... entre os penhascos onde Cole Derry enterrara o cofre vazio.
Os dois jovens cruzaram um olhar cintilante, as faces descoradas por uma repentina lividez. O único que notou a mudança operada em Boyds e Derry foi Granwley em cujas pupilas fulgurou, instantaneamente, a luz do receio.
Antes de que Boyds e Derry pudessem correr para junto de Keener para lhe apanhar a muleta: já o inválido se havia inclinado e os seus dedos se fechavam sobre a madeira polida e redonda.
Uma exclamação surda, entrecortada, brotou de improviso da boca do coxo:
— Céus, este cofre...!

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

BIS164.12 Lutando pelo tesouro

O combate, a partir daquele momento, adquiriu uma virulência extraordinária. O mesmo desejo possuía os dois jovens: fugir quanto antes dali. Haviam conseguido os seus propósitos. O que se impunha, portanto era pôr terra entre eles e os seus inimigos para poderem desfrutar do tesouro.
— Cole, isto complica-se — sussurrou Boyds, indicando-lhes a parte sul do regato. — Esses tipos, se não anda-mos depressa para apanharmos os cavalos, acabarão por nos envolver.
O sardento olhou na direção indicada por Brian. Viu três cavaleiros atravessarem o riacho. A distância era tão grande que não os alcançaria nem mesmo com as espingardas. O seu olhar endureceu.
— Desta vez não atirarei a ferir — murmurou com voz surda. —Defenderei o nosso tesouro com unhas e dentes.
Brian Boyds era do mesmo parecer. Não estava disposto a deixar que outros levassem numa bandeja o que considerava de sua exclusiva propriedade. Mataria, se fosse preciso. Os três tipos, que continuavam abrigados atrás das árvores, aumentaram o fogo, pretendendo com os seus tiros distrair a atenção dos dois jovens.
— Eu me ocuparei deles — sorriu Derry —, tu encarrega-te dos outros três.

domingo, 4 de novembro de 2018

BIS164.11 Procura-se um tesouro

O quarto que Brian Boyds ocupava na pousada «O Cervo» era contíguo ao do sardento. E os dois davam para uma estreita ruela, pessimamente iluminada por um candeeiro de petróleo, colocado na esquina. Naquela noite, porém, não iluminava nada. Alguém o devia ter tomado por alvo para a sua pontaria e o pulverizara com um tiro ou uma pedrada.
O primeiro a chegar, naquela noite, ao seu quarto foi Brian Boyds. Riscou um fósforo na parede e acendeu um candeeiro. Um sorriso duro entreabriu-lhe os lábios. ao ver a janela entreaberta.
— Bem a coisa começa a animar — murmurou por entre os dentes.
Não pareceu admirar-se muito ao ver a sua cama desfeita e o colchão estripado e rasgado por um longo golpe. A lã formava um branco e volumoso tapete no chão. Alguns golpes suaves na parede lateral fizeram-no desinteressar-se de tudo. Respondeu às pancadas com outras e depois sentou-se sobre a cama.
Segundos depois, Cole Derry entrava no seu quarto sem produzir ruído.

sábado, 3 de novembro de 2018

BIS164.10 Em defesa de Cinthia

Cole atacou com bom apetite os grossos bifes com batatas que Cinthia acabava de lhe servir. Tinha de recompor as energias. A sova que Frost e os seus dois cúmplices lhe haviam aplicado tinha-o deixado muito quebrantado.
A sala de jantar estava quase vazia. Em frente do sardento sentavam-se dois indivíduos de rostos patibulares. Não cessavam de rir e de beber enquanto comiam carne estufada. Em várias outras mesas alguns vaqueiros tomavam as suas refeições em silêncio.
Cinthia, junto da entrada da porta da cozinha estava atenta a qualquer chamada dos clientes. Um dos indivíduos que faziam barulho voltou de improviso o olhar para a jovem.
— Linda, vem cá — gritou com um sorriso que mais se assemelhava a uma careta.
A jovem aproximou-se com o rosto sério, interrogando homem com os olhos. O tipo percorreu com o olhar torvo todo o corpo da rapariga. Deu um estalo com a língua, satisfeito:
— És a única coisa bonita que há nesta terra asquerosa, pequena.
— Que desejam tomar agora? — perguntou a jovem com frieza.

sexta-feira, 2 de novembro de 2018

BIS164.09 As histórias de dois candidatos ao tesouro

No pensamento dos dois jovens corriam os mesmos pensamentos. Os seus lábios, porém, continuavam cerrados, refratários a qualquer expansão, como se um temor oculto os selasse.
O solo, formado de placas soltas de xistos, brilhantes e escorregadios, obrigava os cavalos a retardar o passo. Continuaram a descer a montanha abrupta e inclinada. O caminho era sinuoso e desabrigado, com profundas ravinas abertas aos lados. Um vento frio e cortante açoitava-lhes os rostos.
Só quando chegaram ao leito largo e arenoso de um ribeiro perderam a sua rigidez de estátuas. Dali em diante o caminho até Bay Sping era tão plano como a palma da mão.
Foi Cole quem começou a falar. Tirou a sua bolsa do tabaco e começou a enrolar um cigarro, calmamente, conduzindo o cavalo com os joelhos, à maneira dos índios. Disse com aparente volubilidade:
— Tenho a impressão de que os nossos passos se cruzarão mais de uma vez.
Brian Boyds pensava da mesma maneira. Por várias razões. Olhou fixamente para o sardento.

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

BID164.08 Assalto à cabana

Encontrou Brian Boyds no «saloon» «Duas Estrelas». Ocupava uma das mesas do fundo e entretinha-se a fazer paciências com um baralho de cartas. Num dos cantos da mesa tinha uma garrafa de uísque e um copo meio.
— Eh! Keener vem cá tomar uma bebida connosco!
Não fez caso dos que o chamavam do balcão com voz irónica. Atravessou o estabelecimento coxeando e aproximou-se da mesa de Boyds que havia colocado as cartas sobre a mesa para olhar o inválido.
— Posso sentar-me, Boyds? — perguntou o coxo em voz baixa. — Vim falar consigo. Disse-me alguém que se encontrava aqui.
Brian havia notado a palidez do rosto do jovem. Fez um sinal ao empregado indicando-lhe que trouxesse outro copo.
— Obrigado, Boyds, mas não aceito — sorriu Keener. — Prometi a minha irmã. O que aceitaria de boa vontade era um cigarro.
Falava com rapidez, sem olhar para a garrafa. Brian observava-o, surpreendido. O comportamento daquele homem começava a intrigá-lo.