sábado, 23 de março de 2019

COL024.15 Fogo em Virgínia City

McPherson s
orriu, ao mesmo tempo que enchia um copo de whisky.
—É preferível ir preparado. Ninguém sabe quando vêm. Embora não acredite que demorem muito. Os outros dois empregados que tinham ficado junto do jovem também encheram os seus copos. Apenas Palmer permanecia imóvel, encostado no mostrador.
—Eu também acredito que venham cedo. Dentro duns instantes estarão aí. Fico-lhes muito grato pela vossa ajuda, mas deviam ter-se ido embora quando ainda estavam a tempo.
McPherson sorriu.
—Não te ponhas sentimental.
Lentamente passavam os minutos. E aguardavam que chegasse o momento do ataque, que para eles ia ser o último dia da sua existência.
Entretanto, na cantina, Baldwin viu como se reuniam com ele os guarda-costas que enviou para criar a agitação da cidade. Apresentaram-se sorrindo e satisfeitos, mas faltava um.
— Onde é que esse está?
— Ainda não chegou.
Naquele instante abriu-se a porta para dar passagem a Darnell, que sorria triunfalmente.

sexta-feira, 22 de março de 2019

COL024.14 Uma vida interrompida / Uma jovem incita a lutar

Palmer ficou silencioso, vendo como o seu interlocutor se ia embora, Belinda, ao seu lado, contemplava-o com ansiedade. Quando ficaram sós, a rapariga perguntou-lhe:
— O que é que ele quis dizer, Palmer?
Ele virou-se então para ela e sorriu tristemente.
—Uma ameaça mais que razoável, meu amor.
Ela ficou surpreendida ao ouvir aquelas palavras.
—Uma ameaça mais do que razoável? Não percebo, Palmer. Que interessa o que ele possa dizer? Tu defenderás a verdade ao opores-te a essa disposição, e todos te hão-de seguir. Ê injusta.
Surpreendida, reparou que ele não parecia entusiasmar-se com as suas palavras. Pelo contrário, mantinha-se frio e reconcentrado, como sob os efeitos duma grave comoção.
— Responde-me, Palmer. Não te oporás a essa infâmia?
Ele abanou a cabeça.
— Parece-me que não o farei — disse. — Compreendo que é uma má ação para com essa gente, mas depende disso toda a minha vida.
A rapariga sentiu-se como se lhe descarregassem um golpe no crânio e estremeceu.

quinta-feira, 21 de março de 2019

COL024.13 Novas propostas

Baldwin entrou no escritório do jovem, sorrindo e estendendo-lhe a mão.
—Meu amigo, estimo muito vê-lo de novo por aqui. Claro que o senhor nunca abandona as suas obrigações.
—E preciso esforçar-me para continuar para a frente.
—Por esse motivo o aprecio tanto, Leroy. Sei que quando começa alguma coisa não a abandona com facilidade.
Palmer indicou-lhe uma cadeira, e quando o outro se sentou, perguntou:
— A que devo a sua visita, Baldwin? Não julgue que não folgo muito em vê-lo, mas o senhor é também um homem prático e não perde o tempo.
Kain concordou.
— Vim vê-lo para tratar do assunto que lhe falei no outro dia. Já pensou naquilo?
—Sim —respondeu Palmer. E relembrando aquilo que tinha acontecido no dia anterior, continuou: — E acho que devemos organizar o Conselho Municipal. Parece-me que nos apoiarão.
Kain sorriu satisfeito.
— Com certeza — continuou como se não lhe desse importância —, Brett Darnell encontra-se nas proximidades da cidade.
Pretendia com isto advertir o seu interlocutor de que lhe convinha muito mais colocar-se do seu lado, visto que tinha um inimigo nos arredores. Porém, guardou para melhor ocasião referir-lhe a revelação que o outro lhe tinha feito do passado de Leroy.

quarta-feira, 20 de março de 2019

COL024.12 As defesas duma cidade

Ninguém conhecia aquele cavaleiro, mas todos compreenderam que ia causar mais um desgosto. Apoiado no mostrador da cantina, ia bebendo em silêncio, catando o whisky ou apurando-o de um só golo. De quando em quando dirigia um olhar em seu redor como se esperasse que alguém se decidisse a enfrentar-se consigo. Mas o proprietário e as empregadas da cantina estavam tão certos como os clientes que ia acabar por promover algum escândalo.
De repente uma linda mulata passou pelo seu lado e ele agarrou-a pelo braço.
— Vá, rapariga; vem cá e diverte-te.
Ela, assustada, tentou libertar-se dele e gritou:
— Largue-me, senhor; eu não o conheço.
O cavaleiro descarregou-lhe uma bofetada, enquanto dizia:
—A mim não me respondas. Compreendeste?
Naquele momento um jovem negro, alto e bem constituído, lançou-se sobre o forasteiro tentando dominá-lo. Este, com rapidez, puxou o «Colt» e fez fogo, derrubando-o.
A mulata lançou um grito de terror, enquanto chamava com desespero o seu noivo. Mas o cavaleiro, retorceu-lhe o braço, obrigando-a a ajoelhar-se a seu lado.
—Vamos — gritou; — faz aquilo que te digo se não queres sofrer a mesma sorte.
Depois dirigiu-se aos que se encontravam em seu redor e mandou:
—Embora daqui todos. A partir deste momento a cantina é minha.

terça-feira, 19 de março de 2019

COL024.11 Os expoliadores

Belinda entrou no seu quarto, impressionada pelo que acabava de contemplar. Palmer referiu-lhe o sucedido, e embora ela não visse os cadáveres, compreendia muito bem a onda de terror que se ia estender sobre a povoação.
Era quase impossível viver tranquilo quando se sabia que seres tão desapiedados e violentos imperavam em Virgínia City. A cidade não tinha autoridades, e qualquer dia, que poderia ser a manhã seguinte, os que assaltaram aquela mina poderiam entrar na povoação semeando a morte, o saque e a desolação. Palmer não podia evitar que isso acontecesse, apesar de que todos, como haviam demonstrado, tivessem confiança nele.
Ao abrir uma das portas viu dois homens e uma mulher sentados num sofá, esperando pacientemente. Belinda sorriu ao descobri-los.
— Até que enfim; até que enfim que chegaste — exclamou.
Os três puseram-se em pé e a mulher respondeu em tom de recriminação:
—Tenho a certeza de que não notaste a nossa falta. Durante todo este tempo só pensaste nesse jogador.
Belinda largou uma gargalhada e apertou nos braços a mulher:
—Tia Agatha, não sejas rabugenta. Sabes muito bem que desejava ter-te a meu lado. —Depois dirigiu-se em direção aos dois homens, e disse afetuosamente àquele que usava barba: -- Tu, Reinhardt, és o único que podes acompanhar-me bem ao piano. Tu ensinas-me a minha arte e sabes aquilo que deves corrigir-me. —Depois contemplou o homem de cabelos brancos. —E tu, Blier, és o único que sabe encontrar bons contratos para mim. Porém, além disso, os três são meus amigos. E isto é o mais importante. Estiveram a meu lado sempre e prometeram defender-me. Não tenho outra família além de vocês.

segunda-feira, 18 de março de 2019

COL024.10 Os cavaleiros da noite

O negro manto tinha-se estendido pela terra de Nevada e o mundo parecia sumir-se num universo de fantasia e de expectação que se misturava com infinita paz. As estrelas brilhavam desde o alto, e na obscuridade da noite, bem protegidos dos seus inimigos, os grilos entoavam a sua eterna canção.
Na mina, os trabalhadores descansavam, brincando, bebendo e jogando as cartas. O dia tinha sido duro, mas eles desejavam gozar uns instantes de paz antes que o sono os afastasse do mundo em que viviam para sonhar com a futura riqueza.
Tão só uma sentinela armada se achava no exterior, sentada com o rifle entre as pernas, protegida contra o frio e contra os possíveis adversários. De repente ouviu o trote de um cavalo que avançava em sua direção e pôs-se em pé, armando o rifle.
— Alto aí, quem vem lá?
— Calma, amigo, calma. Sou um homem de paz. Viajo até Virgínia City. Posso ficar aqui por uma noite e comer um pouco?
A sentinela não podia negar-se a isso. A lei de hospitalidade da fronteira indicava que todo o viajante que pela noite solicitasse albergue, ter-se-lhe-ia de conceder.
— Está bem, amigo — respondeu a sentinela —, aproxime-se.
Os mineiros, que tinham ouvido este breve diálogo, não prestaram atenção. A sentinela viu como o cavaleiro se aproximava, sem pretender ocultar-se.

domingo, 17 de março de 2019

COL024.09 Conversas

Palmer estendeu a mão ao homem que se encontrava no seu escritório.
— Como está, Baldwin?
Kain Baldwin sorriu pela sua vez. Estava um pouco mais gordo, mas conservava-se forte e enérgico, cheio de vida. Os satélites que sempre o acompanhavam estavam reunidos ante o mostrador, bebendo por conta da casa.
Kain sabia que ali não eram precisos. Ninguém se atrevia, a menos que se expusesse a perder a vida, a promover escândalos no saloon de Leroy.
— Vim para ver essa estrela nova que o senhor contratou — disse Kain com ar sorridente. —Falaram-me muito na sua beleza e no seu trabalho. Mas não venho com propósitos pessoais. Nem a minha idade nem o meu aspeto físico me permitem sonhar com aventuras amorosas. E, além disso, tão-pouco desejo enfrentar-me com o senhor.
Palmer sorriu, porém, sem negar que molestar Belinda podia resultar perigoso para o homem que o tentasse.
— Quer um whisky? Trouxeram-me um novo carregamento dos mormões. Nunca soube dizer não a isso —respondeu Baldwin.
Uma vez servidos os whiskies, Leroy perguntou:
— Que tal andam os teus negócios, Baldwin?
Kain mexeu a cabeça.
— Não é por causa disso. Não venho para que o senhor me empreste dinheiro. Porém, já agora que o mencionou, há umas quantas coisas que me preocupam muito. Eu e o senhor, Leroy, somos dois cidadãos importantes e acho que podemos entender-nos.

sábado, 16 de março de 2019

COL024.08 Novo encontro

Belinda contemplou o enorme local. O saloon era muito mais amplo do que aquilo que tinha imaginado quando lhe ofereceram atuar lá. E muito mais luxuoso e de melhor gosto do que aquilo que costumavam ser os outros locais do Oeste.
Um público numeroso, alegre, disposto a divertir-se, enchia o local. E não se advertia a ânsia de violência que reinava inclusive em alguns sectores de São Francisco. Não era frequente tão-pouco o entusiasmo que por Leroy sentiam os seus subordinados, e que ela advertiu no músico durante os ensaios. Era um sentimento natural e espontâneo. Pelos vistos, a Leroy tinha-se aberto caminho. E ela alegrava-se com o triunfo dele. De repente ouviu junto dela a voz de Palmer.
— Olá, Streean. Desejava falar comigo?
Leroy não podia vê-la donde se achava, porém, ela via-o muito bem falando com um mineiro de largas costas e semblante curtido pelo sol.
—Sim, Leroy; preciso de pedir-lhe um favor.
—Está bem, o senhor dirá o que é.
O mineiro deu duas voltas ao chapéu e depois, coibido, disse:
— Não é fácil explicá-lo, Leroy; mas estou num momento de aperto, precisamente quando estou prestes a encontrar a veia principal do meu jazigo.

sexta-feira, 15 de março de 2019

COL024.07 Comoção em Virgínia City / A chegada da artista

A cidade ia esquecendo a guerra. Um ano era muito tempo na fronteira, um tempo que se perdia no esquecimento quando cada dia surgiam novos problemas.
Apenas alguns grupos de veteranos se reuniam de vez em quando para relembrar as sangrentas batalhas em que tinham participado. A causa da riqueza e os diversos acidentes daquele ano, a cidade tinha crescido e tinha já diligência direta com Carson City, a capital do Estado.
Isto dava-lhe uma grande sensação de importância, e cedo outras linhas de diligências enlaçá-la-iam com diversas povoações do interior. A casa de postas constituía, como em todas as terras do Oeste, um centro de reunião a certas horas de certos dias, quando o veículo chegava da capital.
Os forasteiros e aqueles que não tinham trabalho agrupavam-se ali para esperar a diligência, que bem poderia oferecer-lhes alguma surpresa. Além disso, os condutores sabiam qualquer coisa de interesse geral.
Naquela manhã, os desocupados aproximaram-se ao ver avançar o veículo aos tombos pela estrada cheia de pó. Esperaram que parasse e contemplaram o coche.
De repente um murmúrio de assombro estendeu-se por entre o público, e os detrás empurraram os da frente para se aproximarem ainda mais.

quinta-feira, 14 de março de 2019

COL024.06 O golpe decisivo

Palmer e o seu amigo saíam do hotel. Dispunham-se a enfrentar-se com a cidade, no caso que estivesse enfurecida pelo sucedido, ou a estudar as suas possibilidades no caso de que estivesse esquecida.
Avançaram em silêncio pela rua principal de Virgínia City, contemplando as luzes dos saloons e ouvindo a música que deles saía. Unia bizarra multidão misturava-se com os dois amigos, que olhavam à direita e à esquerda para se assegurarem de que não iam receber uma bala à traição.
Encontravam-se ali mexicanos, chilenos, chineses, índios, alemães gigantescos, italianos de rosto expressivo, espanhóis morenos, ingleses fleumáticos, irlandeses violentos, texanos frios e perigosos, yankees rudes, sudistas orgulhosos, e toda a gama de homens que acudiam àquela comarca à chamada do ouro e da prata.
De repente, McPherson tocou-lhe no ombro.
— Ninguém repara em nós. Isto parece-me um bom sinal.
— Espera um pouco. Ainda não repararam que nós tínhamos saído à rua. Talvez mais adiante se mude a situação.
Continuaram a andar. Como se o jovem o tivesse surpreendido, notaram que a gente, conforme os iam reconhecendo, afastava-se com cautela e admiração para permitir-lhes a passagem.
Lee Barrett, entretanto, encontrava-se oculto numa esquina. Seco, mal-encarado, espiava os dois amigos, decidido a acabar com eles. Mas não desejava expor-se. Já tinha visto que Palmer Leroy era um homem muito perigoso para ser desafiado de frente. Por outra parte, tão pouco desejava que o linchassem. Entrou na taberna mais próxima e falou a três de seus amigos.
— Há dinheiro para todos — disse. — O único que precisamos é de decisão

quarta-feira, 13 de março de 2019

COL024.05 O homem mais temido da cidade

Na manhã seguinte, Palmer encaminhou-se para o armazém geral para realizar umas compras. McPherson ia com ele, perguntando-se o que seria aquilo que se propunha o seu amigo, com quem tinha desafiado tantos perigos e que ainda não conhecia bem.
—Ouve — disse de repente — que é que tu pretendes?
Palmer olhou-o surpreendido e sorriu.
— Ainda não percebeste? Parece que não é tão difícil de descobrir. Virgínia City é uma cidade que oferece tudo quanto o homem pode desejar; dinheiro, poder e aventura. Vou tentar possuir tudo isso.
—Então, vamos transformar-nos em mineiros?
—Um pouco mais ou menos. Vamos tratar de arranjar um saloon. Gosto muito do «Hanrahan's».
Seguido pelo surpreendido McPherson, entraram no armazém. Ali adquiriram outra vez roupas, para se libertarem do que vestiam ao chegarem à cidade. Palmer vestiu-se de novo com a levita, o chapéu amplo e as brilhantes botas de montar. Conservou, porém, a pistola no cinto.
Ao sair à rua, ninguém poderia reconhecer naqueles dois homens vestidos com certo luxo, os esfarrapados que chegaram à cidade dois dias antes.

terça-feira, 12 de março de 2019

COL024.04 Um novo astro na cidade

Quando Leroy e McPherson entraram no saloon mais importante de Virgínia City, chamado «Hanraha's», todo o mundo os contemplou com atenção.
Palmer esperava este interesse por parte da multidão, visto que o seu rápido desafio com Hobbs, que devia ter uma justa fama de terrível, e a sua inesperada amizade com Kain Baldwin, deviam ter preocupado a população que só pensava em sangue, sucesso e prata.
Vestidos ainda com as suas roupas de viagem, mas limpos, os dois jovens encaminharam-se para o mostrador e Leroy pediu:
—Dois whiskies.
Depois dirigiu um olhar em redor. O local, amplo, cheio de fumo e atestado de clientes e de dançarinas, lembrava-lhe as tabernas de Wesport, que então se chamava Kansas City, e os elegantes estabelecimentos de Nova Orleãs. Constituía um termo médio entre eles.
Uma bailarina loira e sorridente, aproximou-se deles, contemplando-os com expressão interessada.
— Pagam-me qualquer coisa?
Palmer assentiu, distraído.
— Sim, rapariga. Pede o que quiseres.

segunda-feira, 11 de março de 2019

COL024.03 Um homem importante

Virgínia City não tinha perdido com a guerra civil. Pelo contrário, parecia que tinha adquirido maior riqueza. Então, finda a campanha, com os caminhos abertos aos correios, um núcleo muito maior de emigrantes se lançaria sobre as minas de prata.
Um grande número de antigos soldados de ambos os bandos acudiam à cidade enquanto mudavam o uniforme pelas roupas civis. E alguns nem sequer tinha podido desprender-se por completo dos uniformes militares.
Assim, viam-se mineiros com chapéus cinzentos, outros com capas azuis, alguns com altas botas de montar, e cavaleiros com calças do exército dos Estados Unidos do Norte.
A maior parte tinha ainda no cinto o emblema da sua unidade, do qual pendia o revólver.
Cidade rica, cheia de surpresas e de mudanças de fortuna, tinha um número extraordinário de bares que permitiam aos mineiros gastar os seus ganhos em troca duma boa diversão.
Ninguém prestou demasiada atenção aos dois cavaleiros que entraram em Virgínia City naquela noite, avançando ao passo das suas montadas. E verdade que pareciam cansados e que tanto os cavalos como a roupa dos viajantes vinham cobertas de pó, mas isso não constituía nenhuma novidade. Pelo contrário, cada dia chegavam homens como eles.
As suas roupas não ofereciam tão-pouco nada de particular, com a exceção de que não usavam uma única prenda militar.

domingo, 10 de março de 2019

COL024.02 Um homem violento desespera a jovem cantora

Ned disse:
—Esta será a cidade da nossa sorte. Ainda bem que nos expulsaram do barco e pudemos ficar aqui. Deixa-te guiar por mim e vais ver como te converto numa grande artista.
Belinda anuiu, sorrindo para si. Contemplava o jogador, pois isso era sem dúvida, que então conversava com ar amável com uma das empregadas da casa. Quando ela fosse mais velha, dizia para si mesma, a sua fama como artista permitir-lhe-ia também conversar com aquele homem.
— Falarei com o proprietário para que nos contrate. Tenho a certeza de que estará encantado de ter-nos aqui — sorriu, olhando em direção à rapariga e continuou: —tu fizeste-o muito bem. E não te preocupes. Naquele «show boat» nada terias ganho. Eu dar-te-ei explicações a propósito da tua arte.
Belinda insistiu:
— Obedecer-te-ei em tudo, tio Ned, mas tu hás-de prometer-me que não beberás mais e que sempre estarás disposto a trabalhar.
Ned olhou-a surpreendido. Depois sorriu.
— De acordo, Belinda —concedeu.

sábado, 9 de março de 2019

COL024.01 O jogador do rio

Westport rivalizava já com Saint Louis em prosperidade e desenvolvimento. Dum simples porto junto ao grande rio, onde acampavam caçadores e comerciantes à sombra de um forte militar, tinha-se convertido num empório de riqueza.
Saint Louis conservava o prestígio de ser uma velha aldeia francesa situada junto do Mississípi, mas cedo deveria reconhecer que Westport a superaria.
Muitas caravanas que se dirigiam à Califórnia, aos campos mineiros de Nevada ou de Montana e às cidades do Sudoeste, como Santa Fé, iniciavam ali o seu percurso. Os comércios floresciam por todos os lados, e com eles os artesãos e os granjeiros que podiam proporcionar tudo aquilo que aqueles desejavam.
Mas também com os cidadãos honrados chegaram os jogadores, as bailarinas e os negociantes menos honestos.
Nas ruas apareceram as tabernas, saloons, teatros de má fama e casas de pasto, assim como cantinas que atraíam a bizarra e multicor população nómada de Westport.
Viam-se marinheiros do rio com os seus bonés e suas tatuagens, sempre dispostos a dirimir as suas questões com a faca. Os navegadores crioulos ostentavam os seus bonés vermelhos que os distinguiam do resto, e que eles consideravam como um selo de superioridade. Também apareciam por lá trampeiros de expressão adusta, com roupas de cabedal e longas barbas, assim como cavaleiros das planícies, cujo segredo ninguém conhecia, carroceiros hercúleos e ruidosos, colonos sóbrios e seguros de si mesmo, emigrantes de olhar febril por causa do afã que os impulsionava a caminharem em direção ao Oeste, exploradores de expressão decidida e um tanto irónica, soldados rudes, e índios que vestiam uma estranha mistura de roupas selváticas e atavios de homem branco.

sexta-feira, 8 de março de 2019

COL024.00 Reencontro com "O destino de um jogador"


Ainda criança, Belinda foi com o seu tio Ned até à cidade de Westport procurando ambos atuar como saltimbancos para ganharem o sustento, mas um energúmeno matou o seu protetor e Belinda achou-se numa situação desesperada.
Palmer Leroy, um jogador elegante e de fino trato, ajudou a jovem a voltar à casa da família, em Nova Orleãs, dando-lhe algum dinheiro para o regresso. 
Os dois voltaram a encontrar-se em Virgínia City sem que ele a reconhecesse quando, após a Guerra Civil americana e as suas vicissitudes, ele era dono de um bar na qual ela, já famosa pela sua beleza e pelos seus dotes vocais, encontrou um contrato para atuar.
Leroy era então um homem que transportava consigo a mancha de, após ter servido o Sul, se ter envolvido em guerrilhas e o seu estatuto na cidade acabou por ser posto em causa por alguém que o reconheceu.
Mas o apoio de Belinda acabou por o fazer adotar um comportamento correto e encontrar um destino que em determinado momento parecia o de um homem perdido.