terça-feira, 26 de junho de 2018

BUF167.12 Uma família em apuros

O pai de Robert Joyce costumava deitar-se tarde, devido à sua paixão pela leitura. E o Banco dava-lhe tanto trabalho que, a não ser de noite, não podia ler nada.
Naquela noite, tinha ficado no escritório, entregue à sua única diversão, quando ouviu bater à porta. Sem levantar a cabeça, chamou:
— Joana! Estão a bater à porta! Vai abrir, por favor.
No mesmo instante, lembrou-se de que a criada já estaria deitada, havia muito tempo. Em casa, já toda a gente dormia, exceto ele. Pousando o livro em cima da secretária, foi abrir, murmurando:
— Quem poderá ser, a estas horas?
Era uma pessoa demasiadamente confiada, o que o levou a abrir a porta, sem primeiro ver ou perguntar quem era. E viu-se perante o cano de um revólver, apontado para a sua testa...
Recuou, instintivamente. A arma acompanhou-o, ao mesmo tempo que uma voz seca lhe ordenava:
— Não grite nem chame ninguém, se não quer ser o causador da morte de quantos se encontram nesta casa!
Sob a ameaça do revólver, continuou a recuar. Viu um grupo de homens avançar pela casa. Jim Galluro, muito satisfeito dirigiu-se-lhe, em tom trocista:
— Deita-se muito tarde, senhor Joyce. Onde estão as outras pessoas?
Joyce murmurou, impressionado:
— Dormem. Quem são vocês? Não sejam insensatos. Há muito poucos valores nesta casa, não cometam a loucura de...
— Está a insultar-nos, senhor Joyce. Ninguém pretende roubar-lhe nada... por enquanto! Vocês, oiçam. Eu vou ficar a fazer companhia ao nosso banqueiro. Levantem os outros da cama. Primeiro o rapaz e tenham cuidado com ele, que é muito rápido com as mãos!
Joyce quis opor-se:
— Não se atrevam a molestar a minha família! Eu... Jim Galluro, abandonando a atitude de falsa amabilidade que até então exibia, deu-lhe uma pancada na cabeça, atrás da orelha, com a coronha do revólver.
O banqueiro tombou no solo, de olhos arregalados. Galluro demonstrou, então, que estava muito mais nervoso do que queria admitir.
— Apressem-se — ordenou. — E sem ruído. Primeiro o rapaz. As mulheres não me preocupam.
Os homens desapareceram, silenciosamente. Até o som dos passos resultava inaudível, abafado pelas alcatifas. Jim ficou a vigiar o banqueiro, que gemia, no solo. Bob foi surpreendido no primeiro sono. Ao acordar com a estranha sensação de que algo metálico lhe tocara o pescoço, quis levantar-se, rapidamente, mas o seu Impulso foi contido por uma voz áspera:
— Quieto, rapaz! Isto é um assalto. O que tens no pescoço é a ponta de um punhal bem afiado. Se fizeres barulho, tratamos-te da saúde e o teu pai passará um mau bocado...
Bob demorou alguns instantes a compreender o que se passava. Mesmo assim, voltou a tentar levantar-se, mas foi agarrado por várias mãos. Alguém acendeu uma vela. Foi arrastado para fora da cama e um dos bandidos fez-lhe sinal para que se vestisse.
— Vê lá o que fazes! — voltaram a avisá-lo. — Não queiras ser o causador da desgraça de quantos moram nesta casa!
Vestiu-se, sempre estreitamente vigiado. Ainda não compreendia bem o que se passava, mas não queria desencadear qualquer ação que pudesse vir a molestar a família... e que lhe acarretaria morte imediata. Empurraram-no para o rés-do-chão, onde foi encontrar o pai sentado numa cadeira, ainda estonteado, devido à pancada que recebera.
— Que lhe fizeram estes canalhas, pai? — exclamou.
— Tropeçou no meu revólver... Uma carícia sem importância
— Não é nada, filho. Estou bem -- tranquilizou-o o senhor Joyce. — Não resisto. São muitos e...
Bob avistou e reconheceu Jim Galluro, no momento em que este se aproximava.
— Você! — exclamou. —É assim que pretende vingar-se dos socos que lhe dei, em luta leal?
Galluro encolheu os ombros.
— Deixe-se de divagações e não se mova, até trazermos as mulheres para aqui.
— Canalhas! Não toquem na minha mãe, se não querem que...
— Nada receies, rapaz! — troçou um dos bandidos. — Só nos agradam as mulheres novas!
O senhor Joyce pretendeu levantar-se, furioso e ofendido, mas Jim voltou a empurrá-lo com a arma, ao mesmo tempo que ameaçava:
— Mais uma loucura como essa e um dos dois morrerá! Espero que sejam prudentes, até porque preciso de ambos.
Alguns dos homens tinham saldo do escritório. Bob perguntou, procurando dominar a raiva que sentia:
— Que é que vocês querem? As pratas da casa? As joias que possuímos?
— Não, não queremos nada da casa. Pretendemos, «apenas», todo o dinheiro que houver no cofre!
Rubro de cólera, o banqueiro explodiu:
— Esse dinheiro é dos meus clientes! Prefiro morrer, a entregá-lo!
Galluro apontou o revólver para a cabeça de Bob.
— Talvez queira ver saltar em pedaços a cabeça do seu filho, não?... Quer que eu aperte o gatilho? E olhe que ele sabe muito bem com que prazer o farei!
— Afaste essa arma! — suplicou o senhor Joyce. —Não faça mal ao meu filho!
Bob sorriu, desafiador.
— Nada receies, pai. Ele não se atreverá a assassinar-me. Uma coisa é roubar e outra matar. Ele não se atreverá a tanto! — repetiu.
Galluro riu-se, asperamente.
— Nunca se sabe, rapaz — disse. — Você ignora o que somos capazes de fazer... Mas talvez tenha razão... em parte. Não utilizaremos os revólveres. Temos outros meios...
Nesse momento, entraram dois homens, arrastando uma mulher de cabelo embranquecido e que parecia prestes a perder os sentidos.
— Rosa! — exclamou o senhor Joyce. — Não lhe toquem, malditos! Não...
Galluro deu-lhe um empurrão, desequilibrando-o, ao mesmo tempo que intervinha:
— Não se ponha a dramatizar, velho! Seja realista. Apanhámo-lo e é tudo. Você poderá denunciar o roubo, atirar com toda a população para a nossa pista e nunca ninguém o criticará por ter ficado sem o dinheiro. Dê--nos as chaves, amigo. O seu filho irá connosco, para abrir o cofre.
Bob exclamou, furioso:
— Não, pai! Seria a nossa ruína!
Galluro olhou para o jovem e disse, com sarcasmo:
— E vocês acharão preferível arruinar a saúde e a vida da sua mãe?... Um dos meus amigos faz habilidades extraordinárias com o punhal. Não queremos chegar a extremos, mas, em caso de necessidade, saberemos ser desagradáveis!
Voltou-se para os homens que acabavam de entrar e ordenou:
— Ponham a senhora nesse sofá. Onde está a criada?
— Desmaiou. John ficou a vigiá-la.
A senhora Joyce foi atirada para o divã e três dos bandidos apontaram as armas para cada um dos componentes da família.
Bob tremia de raiva, mas não se atrevia a mover-se, com medo de que lhe matassem os pais. O banqueiro, por seu lado, receava o que pudesse suceder à mulher e ao filho. Galluro voltou a tomar a palavra:
— Agora, com toda a família reunida, as coisas irão melhor. A senhora dirá a seu marido e a seu filho que nos entreguem as chaves do Banco. Isto é apenas uma questão de dinheiro e que importa o dinheiro, quando estão em jogo as vidas das pessoas que nos são queridas?
Firmemente, a senhora Joyce disse:
— Não lhes deem as chaves!
Bob sorriu, com orgulho, enquanto Jim Galluro encolhia os ombros.
— Isso é com vocês... — murmurou, ameaçador.
Fez um sinal a um dos homens e este aproximou-se da senhora, empunhando um punhal curto. A senhora Joyce deu um grito de horror, ao ver a arma.
— Quietos! — voltou a prevenir Jim, prevendo qualquer reação da parte dos Joyce. — O primeiro que tentar intervir é abatido, sem dó nem piedade! No vosso lugar, não hesitaria. O senhor Joyce importar-se-ia, acaso, de gastar toda a sua fortuna, até à completa ruína, se uma doença da sua esposa o exigisse? Sejam sensatos, cavalheiros!...
O banqueiro fechou os olhos e disse, em voz baixa:
— Está bem, malditos! Tirem essa arma da frente da minha mulher...
As chaves estão na secretária do meu escritório, na gaveta da direita, que poderão abrir com esta outra chave. Retirou uma pequena chave do bolso do colete e entregou-a a Jim.
O bandido recebeu-a com uma gargalhada de satisfação. Enquanto Jim Galluro abria a gaveta, Bob afirmou, com voz alterada pela ira:
-- Hão-de apanhá-lo, canalha! O dinheiro do Banco pertence à população de Tucson e esta gente não gosta de ser roubada...
— Não se preocupe connosco, rapaz. E levante-se, para vir abrir o cofre, na nossa companhia.
Bob pôs-se de pé. Distraidamente, apoiou-se na secretária. Dentro da gaveta da correspondência, entreaberta, havia um pequeno revólver.
Sem pensar duas vezes, meteu a mão e empunhou a arma. Tinha sido rapidíssimo. Porém, o nervosismo do pai, ao aperceber-se do que ia tentar, denunciou-o.
Jim Galluro pôde voltar-se a tempo, dando-lhe uma forte pancada no braço. O jovem deixou cair a arma, com um gemido de dor.
Cego de furor, ao ver que um pequeno pormenor ia provocando o malogro do seu plano, Jim voltou a agredir Bob, desta vez na cara, vociferando:
— Imbecil! Isto não é uma brincadeira para crianças!
Um dos homens interveio:
— Não batas no rapaz, que precisamos dele.
Bob tinha tombado no solo, inanimado.
— Cala-te e dá-me essa jarra!
Recebeu-a e despejou a água que continha na cabeça do jovem, que não tardou a dar sinais de recuperar. A pancada recebida tinha sido violenta, mas não aplicada num ponto suscetível de causar grandes danos.
— Levanta-te! — intimou Jim. — Há alguns milhares de dólares à minha espera e estou com pressa!
Bob levantou-se, com esforço.

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