A pequena caravana atravessou o Rio Grande, às nove da manhã, um pouco ao norte de El Paso, penetrando no território do Arizona. Era uma estranha caravana, constituída apenas por três carros e uma quinzena de homens.
Mal saíram, o chefe, o próprio Galluro, falou a Juan Rode.
— Nada receie, senhor, que não há perigo — disse-lhe. — Os bandidos não se atreverão a atacar esta caravana.
Sorrindo, Juan retorquiu-lhe:
— Acredito... No entanto, disseram-me que esta rota é dominada por um tal Galluro, que dizem ser muito perigoso. Segundo parece, os bandidos repartiram os caminhos entre si...
Galluro replicou, num grunhido:
— Nenhum bando se atreverá a atacar quinze homens, senhor Linden, esteja tranquilo...
Juan levava alforjes de coiro, fechados com cadeados. Parecia muito cuidadoso com eles... Galluro lançara-lhes um olhar de curiosidade, quando Juan se unira à caravana. Depois, não voltou a olhar para eles.
A caravana prosseguiu, nos trilhos do Arizona, sem muita pressa. Juan Rode continuava a fazer um esforço tremendo para dominar a raiva que sentia.
«Estes são os assassinos da minha filha! — repetia, para si próprio. — Tenho a certeza! Mas tenho de proceder com cuidado, para não cometer erros. E terei de agir a tempo, na altura própria, antes de tentarem matar-me, para me roubarem!...
Galluro não tardou a cansar-se da viagem, após o primeiro dia. Logo que se encontraram num ponto distante da rota habitual — da qual se tinham afastado por indicação sua — ordenou que se fizesse um alto.
— É preciso dar descanso aos cavalos — argumentou.
Juan perguntou:
— Não é ainda muito cedo para isso, chefe?
— Não. Sei muito bem o que faço. Desmontem, todos! Os carroções detiveram-se e os homens desengataram os cavalos. Galluro ordenou a um dos comparsas que fosse buscar água:
— Ali, à direita, encontrarás um riacho. Leva todos os cantis.
Já não se preocupava com grandes dissimulações. Qualquer ignorante verificaria que aquela paragem fora prematura e, também, que os cantis não podiam estar vazios, tão cedo... E os quinze homens olhavam ansiosamente para Juan Rode, mostrando bem o desejo que sentiam de o atacar e roubar. Esperavam, apenas, pelo sinal do chefe, para começarem a disparar. Juan Rode sabia-o e sentiu-o. Por isso, anunciou, sorridente:
— Vou ajudar este homem a encher os cantis...
Mal saíram, o chefe, o próprio Galluro, falou a Juan Rode.
— Nada receie, senhor, que não há perigo — disse-lhe. — Os bandidos não se atreverão a atacar esta caravana.
Sorrindo, Juan retorquiu-lhe:
— Acredito... No entanto, disseram-me que esta rota é dominada por um tal Galluro, que dizem ser muito perigoso. Segundo parece, os bandidos repartiram os caminhos entre si...
Galluro replicou, num grunhido:
— Nenhum bando se atreverá a atacar quinze homens, senhor Linden, esteja tranquilo...
Juan levava alforjes de coiro, fechados com cadeados. Parecia muito cuidadoso com eles... Galluro lançara-lhes um olhar de curiosidade, quando Juan se unira à caravana. Depois, não voltou a olhar para eles.
A caravana prosseguiu, nos trilhos do Arizona, sem muita pressa. Juan Rode continuava a fazer um esforço tremendo para dominar a raiva que sentia.
«Estes são os assassinos da minha filha! — repetia, para si próprio. — Tenho a certeza! Mas tenho de proceder com cuidado, para não cometer erros. E terei de agir a tempo, na altura própria, antes de tentarem matar-me, para me roubarem!...
Galluro não tardou a cansar-se da viagem, após o primeiro dia. Logo que se encontraram num ponto distante da rota habitual — da qual se tinham afastado por indicação sua — ordenou que se fizesse um alto.
— É preciso dar descanso aos cavalos — argumentou.
Juan perguntou:
— Não é ainda muito cedo para isso, chefe?
— Não. Sei muito bem o que faço. Desmontem, todos! Os carroções detiveram-se e os homens desengataram os cavalos. Galluro ordenou a um dos comparsas que fosse buscar água:
— Ali, à direita, encontrarás um riacho. Leva todos os cantis.
Já não se preocupava com grandes dissimulações. Qualquer ignorante verificaria que aquela paragem fora prematura e, também, que os cantis não podiam estar vazios, tão cedo... E os quinze homens olhavam ansiosamente para Juan Rode, mostrando bem o desejo que sentiam de o atacar e roubar. Esperavam, apenas, pelo sinal do chefe, para começarem a disparar. Juan Rode sabia-o e sentiu-o. Por isso, anunciou, sorridente:
— Vou ajudar este homem a encher os cantis...
Apanhou vários dos que se encontravam no solo, juntos. Ao ver a expressão de contrariedade de Galluro, um dos bandidos adiantou-se um passo, mas logo se deteve a um gesto imperativo do chefe.
Juan e o companheiro afastaram-se, caminhando pelo matagal. Rode ia alerta, prevendo a possibilidade de os bandidos, impacientes, o seguirem, para o matar. Chegaram ao local onde a água corria. Quando o homem que o precedia se ajoelhou, junto do riacho, Juan perguntou:
—Há muito tempo que estás com Galluro?
Maquinalmente, o bandido respondeu:
— Uns três anos...
No mesmo instante, deu-se conta de que Juan não devia conhecer a verdadeira identidade do chefe e voltou-se, rapidamente, olhando-o com verdadeira surpresa. O rosto de Juan estava contraído, num sorriso cruel.
— Há três anos que andas com ele? Lamento-o, por ti... E obrigado por confirmares as minhas suspeitas de que se tratava efetivamente de Galluro.
O bandido abriu a boca, para gritar um aviso aos companheiros, mas nenhum som saiu da sua garganta. Com um gesto rápido e seco, Juan passou ao ataque. O bandido dobrou-se para a frente, devagar antes de cair. O punhal que acabava de lhe trespassar o coração continuava na mão de Juan Rode. Este limpou a lâmina ensanguentada às roupas da vítima, antes de empurrar o cadáver para o arroio.
— Sempre é verdade que se trata de Galluro... — resmoneou, entre dentes.
Baixou-se e recolheu o revólver do homem que acabava de liquidar, verificando que o tambor estava cheio. Enfiou a arma na abertura da camisa, voltou-se e caminhou na direção dos carros.
Sentia-se frio, tranquilo. Estava a enfrentar muitos homens duros e perigosos mas isso pouco lhe importava. Em momentos como aquele, sentia-se Tom «El Toro», o foragido que nada temia, a quem ninguém assustava.
— Tenho dezoito balas e um punhal... Mais do que suficiente! — monologou.
O punhal não era menos importante que as armas de fogo. Manejava-o como um dentista de Nova Orleães e já por várias vezes ficara a dever a vida àquela habilidade.
Ao chegar ao limite dos matagais, olhou, cuidadosamente. Os bandidos rodeavam o seu cavalo. Galluro, pessoalmente, manejava uma enorme navalha, com a qual rompia o coiro dos alforges. Num tom carregado de ameaças, Juan disse, para si próprio:
— À procura dos dez mil dólares, não é verdade? Cambada de imbecis! Só servem para assassinar colonos, mulheres e crianças!
Com um olhar cheio de rancor, levantou o braço armado com o punhal. Um silvo agudo, uma pancada surda. Galluro e os seus homens não ouviram nada. Nem sequer o que recebera o golpe na espádua. Até que o atingido tombou, todos continuaram tranquilamente interessados no assalto aos alforges. Ao aperceber-se da queda do corpo no solo, Galluro voltou a cabeça, explodiu, irado:
— Estás bêbedo ou quê, idio...?
Interrompeu-se, ao avistar o cabo do punhal, destacando-se entre as espáduas do homem. Com um grito de advertência, largou os alforges, no momento preciso em que Juan Rode dizia, em voz alta:
— Escusam de procurar o dinheiro nos alforges. Tenho-o comigo! Assim, terão de mo tirar dos bolsos...
Os homens de Galluro voltaram-se, afastando-se do cavalo de Rode, como se este estivesse atacado de peste. Com um olhar rápido, Galluro verificou que se tinha equivocado acerca de Linden. Estava na presença de um homem muito perigoso — muito mais perigoso do que podia imaginar...
— Você maneja muito bem o punhal, senhor Linden... Ou não será esse o seu nome?
Com ar de desprezo, Juan respondeu:
— Pouco importa o meu nome verdadeiro, agora... Mas posso dizer-lhes como algumas pessoas me chamam Tom «El Toro»...
Galluro e os seus homens tinham ouvido muitas vezes aquele nome. Por isso o chefe dos bandidos voltou a gritar, ao mesmo tempo que levava as mãos às armas. Era o que Juan Rode esperava, para começar a disparar...
Com uma assombrosa velocidade, sacou os dois revólveres. Tinha as mãos grandes e fortes. Umas mãos que nunca tremiam ou fraquejavam, mesmo ao empunhar os pesados revólver «45». Os homens de Galluro corriam, de um lado para o outro, em busca de abrigo, ao mesmo tempo que abriam fogo. No entanto, o nome de Tom «El Toro» impressionara-os em demasia, levando-os a disparar à doida e a movimentarem-se sem nexo.
Muitos deles não chegaram a parte alguma, caindo a poucos passos do cavalo de Juan Rode e dos alforges de coiro, que nada continham de valor. Galluro tomara posição defensiva atrás do cavalo e, de revólver na mão, aguardava uma boa oportunidade para abater o adversário.
Os tiros continuaram, rápidos. Poucos momentos mais tarde, Galluro murmurou, atónito:
— Livra! Abateu dez homens num instante!
Impressionado, agarrou com a mão esquerda a rédea do cavalo que o protegia, para o obrigar a recuar. Galluro, um homem que nunca soubera o que era medo, procurava agora fugir, antes que entre ele e Tom «El Toro» já não houvesse nenhum dos seus homens. Pragas e maldições, disparos e gritos de agonia...
Juan Rode abandonara a posição imóvel em que se mantivera, desde o início da refrega. Os poucos sequazes de Galluro que ainda viviam já se encontravam protegidos e podiam afinar a pontaria...
Juan deixou-se cair detrás de um tronco, no momento em que várias balas passavam, sibilantes, no sitio onde momentos antes estivera a sua cabeça. Ao cabo de alguns instantes, Rode levantou-se, subitamente, premindo o gatilho de uma das armas que empunhava.
Um dos bandidos, ligeiramente descoberto, por breves momentos, recebeu uma bala na cabeça. Galluro empalideceu. Encontrava-se perto de umas árvores. Os cavalos que tinham pertencido aos homens e os carroções estavam a poucos passos de distância, um pouco à retaguarda.
Soou novo disparo de Juan Rode e outro bandido tombou no solo, com um grito de agonia.
Galluro largou o cavalo e, voltando-se, correu para os carroções. Alguém gritou, desesperadamente:
— Não fujas, Galluro! Não nos deixes aqui!
Os dois últimos sobreviventes do bando procuraram unir-se ao chefe. Em má hora o fizeram... Juan Rode abateu-os, impiedosamente, com a arma que tirara ao homem que abatera junto do ribeiro. Depois, levantando-se, gritou:
— Galluro! Já só estamos os dois, tu e eu! Galluro, oculto atrás de um dos carros, apertou raivosamente a coronha do revólver.
— Não julgues que sou tão fácil de apanhar como os palermas dos meus homens! — gritou. — Vais suar muito, se quiseres acabar comigo!
Disparou, rapidamente. Juan pareceu adivinhar-lhe os pensamentos e os gestos, porque saltou para o lado, no preciso momento, iniciando uma rápida corrida. Galluro voltou a disparar, sem conseguir atingir o objetivo. Instantes depois, Juan Rode já se encontrava protegida atrás de outro carro.
— Este maldito, está feito com o diabo! — rosnou Galluro. — Se ele não é o próprio demónio!...
Teve de mudar de lugar, para se furtar à assombrosa pontaria do adversário. Uma bala assobiou, perigosamente, junto da sua cabeça. Procurou serenar o espirito, para encarar a situação com a possível calma. Ele também não era nenhum principiante e já se livrara de situações delicadíssimas.
— Mas nunca tive pela frente um inimigo da categoria de Tom «El Toro»... — admitiu, num sussurro.
Ficou imóvel, pensativo. O adversário não fazia o menor ruído, pelo que era evidente que continuava abrigado no mesmo esconderijo.
— Tenho de o obrigar a sair dali... — murmurou Galluro.
Pensou em empurrar o carro, mas este era demasiado pesado. Todavia, podia tentar uma manobra semelhante com a barrica de água colocada junto da roda. Movimentando-se com cuidado, retirou a tábua que servia de suporte à barrica e esta caiu no solo, sem sofrer qualquer dano. Galluro apressou-se a procurar abrigo atrás dela, agachado. Dali, podia ver as pernas do adversário. Confiado, sorridente, começou a fazer rolar a barrica na direção do outro carroção, enquanto monologava:
— Um pouco mais e poderei atingi-lo nas pernas, obrigando-o a cair no solo. Depois, ficará à minha mercê...
Tinha a certeza de que a grossa madeira de roble da barrica não deixaria passar os projéteis do «45» de Tom «El Toro».
Com um sorriso triunfante a contrair-lhe os lábios, levantou a cabeça, uma vez mais. Sobressaltou-se, ao não avistar as pernas do inimigo. O sobressalto foi de tal ordem que o fez esquecer-se das precauções que devia tomar... A voz de Juan Rode, tranquila, quase agradável, obrigou-o a voltar-se:
— Estou aqui, Galluro. Lamento ter de to dizer, mas não passas de um aprendiz, de um vulgar salteador de caminhos... E o pior é que não vais ter tempo para aprender mais nada...
Galluro premiu furiosamente o gatilho. Juan Rode estava à sua direita, encostado ao terceiro carro, e sabia que a bala disparada por Galluro não oferecia qualquer perigo, uma vez que a sua a precedera de algumas frações de segundo... Galluro caiu de joelhos. Tentou apoiar-se na barrica mas esta rolou, obrigando-o a tombar estendido, no solo. Juan aproximou-se dele, até parar a seu lado. O olhar vidrado de Galluro procurava-o. O bandido apertava o peito com as mãos e um fio de sangue corria-lhe pela boca. Duramente, Juan falou:
— Estás liquidado, Galluro. Agora, posso-te dizer que te trouxe aqui para te liquidar, assim como aos teus homens.
Num murmúrio rouco, Galluro perguntou:
— Mas... porquê, Eu... não...
Juan inclinou-se para ele agarrando-o pela roupa.
— Mataste a minha filha, Galluro! — explicou. — Maldito assassino! Vocês assaltaram a caravana em que ela seguia e aniquilaram todos os viajantes. A minha filha foi uma das vossas vítimas e por isso decidi liquidar-vos a todos! A minha filha era uma garota, apenas com dezoito anos!
Galluro arregalou os olhos, assombrado.
— Uma jovem... de dezoito anos — repetiu, com esforço. — Sim ,parecia-se contigo... Agora... agora me recordo. Chamava-se Cármen...
Com um rugido, Juan estendeu as mãos para o pescoço do ferido, como disposto a estrangulá-lo.
— Canalha! Vou...
Com a voz transformada num murmúrio roufenho, Galluro interrompeu-o:
— Espera... ela não morreu! Mataste-nos por causa dessa rapariga... da tua filha ...ela não morreu! Era demasiado bonita... O meu irmão Jim quis ficar com ela... para seu entretenimento. Ela estava apenas ferida e ele cuidou dela. Porém, quando ficou boa, o idiota tinha-se apaixonado por ela... e ela acabou por o pôr maluco! Foram-se embora, os dois... Jim queria casar-se com ela. Foram para Tucson...
Juan soltou-o. Galluro fechou os olhos e ficou a respirar penosamente. Antes de Juan acabar de preparar o cavalo para partir, já estava morto.
Juan e o companheiro afastaram-se, caminhando pelo matagal. Rode ia alerta, prevendo a possibilidade de os bandidos, impacientes, o seguirem, para o matar. Chegaram ao local onde a água corria. Quando o homem que o precedia se ajoelhou, junto do riacho, Juan perguntou:
—Há muito tempo que estás com Galluro?
Maquinalmente, o bandido respondeu:
— Uns três anos...
No mesmo instante, deu-se conta de que Juan não devia conhecer a verdadeira identidade do chefe e voltou-se, rapidamente, olhando-o com verdadeira surpresa. O rosto de Juan estava contraído, num sorriso cruel.
— Há três anos que andas com ele? Lamento-o, por ti... E obrigado por confirmares as minhas suspeitas de que se tratava efetivamente de Galluro.
O bandido abriu a boca, para gritar um aviso aos companheiros, mas nenhum som saiu da sua garganta. Com um gesto rápido e seco, Juan passou ao ataque. O bandido dobrou-se para a frente, devagar antes de cair. O punhal que acabava de lhe trespassar o coração continuava na mão de Juan Rode. Este limpou a lâmina ensanguentada às roupas da vítima, antes de empurrar o cadáver para o arroio.
— Sempre é verdade que se trata de Galluro... — resmoneou, entre dentes.
Baixou-se e recolheu o revólver do homem que acabava de liquidar, verificando que o tambor estava cheio. Enfiou a arma na abertura da camisa, voltou-se e caminhou na direção dos carros.
Sentia-se frio, tranquilo. Estava a enfrentar muitos homens duros e perigosos mas isso pouco lhe importava. Em momentos como aquele, sentia-se Tom «El Toro», o foragido que nada temia, a quem ninguém assustava.
— Tenho dezoito balas e um punhal... Mais do que suficiente! — monologou.
O punhal não era menos importante que as armas de fogo. Manejava-o como um dentista de Nova Orleães e já por várias vezes ficara a dever a vida àquela habilidade.
Ao chegar ao limite dos matagais, olhou, cuidadosamente. Os bandidos rodeavam o seu cavalo. Galluro, pessoalmente, manejava uma enorme navalha, com a qual rompia o coiro dos alforges. Num tom carregado de ameaças, Juan disse, para si próprio:
— À procura dos dez mil dólares, não é verdade? Cambada de imbecis! Só servem para assassinar colonos, mulheres e crianças!
Com um olhar cheio de rancor, levantou o braço armado com o punhal. Um silvo agudo, uma pancada surda. Galluro e os seus homens não ouviram nada. Nem sequer o que recebera o golpe na espádua. Até que o atingido tombou, todos continuaram tranquilamente interessados no assalto aos alforges. Ao aperceber-se da queda do corpo no solo, Galluro voltou a cabeça, explodiu, irado:
— Estás bêbedo ou quê, idio...?
Interrompeu-se, ao avistar o cabo do punhal, destacando-se entre as espáduas do homem. Com um grito de advertência, largou os alforges, no momento preciso em que Juan Rode dizia, em voz alta:
— Escusam de procurar o dinheiro nos alforges. Tenho-o comigo! Assim, terão de mo tirar dos bolsos...
Os homens de Galluro voltaram-se, afastando-se do cavalo de Rode, como se este estivesse atacado de peste. Com um olhar rápido, Galluro verificou que se tinha equivocado acerca de Linden. Estava na presença de um homem muito perigoso — muito mais perigoso do que podia imaginar...
— Você maneja muito bem o punhal, senhor Linden... Ou não será esse o seu nome?
Com ar de desprezo, Juan respondeu:
— Pouco importa o meu nome verdadeiro, agora... Mas posso dizer-lhes como algumas pessoas me chamam Tom «El Toro»...
Galluro e os seus homens tinham ouvido muitas vezes aquele nome. Por isso o chefe dos bandidos voltou a gritar, ao mesmo tempo que levava as mãos às armas. Era o que Juan Rode esperava, para começar a disparar...
Com uma assombrosa velocidade, sacou os dois revólveres. Tinha as mãos grandes e fortes. Umas mãos que nunca tremiam ou fraquejavam, mesmo ao empunhar os pesados revólver «45». Os homens de Galluro corriam, de um lado para o outro, em busca de abrigo, ao mesmo tempo que abriam fogo. No entanto, o nome de Tom «El Toro» impressionara-os em demasia, levando-os a disparar à doida e a movimentarem-se sem nexo.
Muitos deles não chegaram a parte alguma, caindo a poucos passos do cavalo de Juan Rode e dos alforges de coiro, que nada continham de valor. Galluro tomara posição defensiva atrás do cavalo e, de revólver na mão, aguardava uma boa oportunidade para abater o adversário.
Os tiros continuaram, rápidos. Poucos momentos mais tarde, Galluro murmurou, atónito:
— Livra! Abateu dez homens num instante!
Impressionado, agarrou com a mão esquerda a rédea do cavalo que o protegia, para o obrigar a recuar. Galluro, um homem que nunca soubera o que era medo, procurava agora fugir, antes que entre ele e Tom «El Toro» já não houvesse nenhum dos seus homens. Pragas e maldições, disparos e gritos de agonia...
Juan Rode abandonara a posição imóvel em que se mantivera, desde o início da refrega. Os poucos sequazes de Galluro que ainda viviam já se encontravam protegidos e podiam afinar a pontaria...
Juan deixou-se cair detrás de um tronco, no momento em que várias balas passavam, sibilantes, no sitio onde momentos antes estivera a sua cabeça. Ao cabo de alguns instantes, Rode levantou-se, subitamente, premindo o gatilho de uma das armas que empunhava.
Um dos bandidos, ligeiramente descoberto, por breves momentos, recebeu uma bala na cabeça. Galluro empalideceu. Encontrava-se perto de umas árvores. Os cavalos que tinham pertencido aos homens e os carroções estavam a poucos passos de distância, um pouco à retaguarda.
Soou novo disparo de Juan Rode e outro bandido tombou no solo, com um grito de agonia.
Galluro largou o cavalo e, voltando-se, correu para os carroções. Alguém gritou, desesperadamente:
— Não fujas, Galluro! Não nos deixes aqui!
Os dois últimos sobreviventes do bando procuraram unir-se ao chefe. Em má hora o fizeram... Juan Rode abateu-os, impiedosamente, com a arma que tirara ao homem que abatera junto do ribeiro. Depois, levantando-se, gritou:
— Galluro! Já só estamos os dois, tu e eu! Galluro, oculto atrás de um dos carros, apertou raivosamente a coronha do revólver.
— Não julgues que sou tão fácil de apanhar como os palermas dos meus homens! — gritou. — Vais suar muito, se quiseres acabar comigo!
Disparou, rapidamente. Juan pareceu adivinhar-lhe os pensamentos e os gestos, porque saltou para o lado, no preciso momento, iniciando uma rápida corrida. Galluro voltou a disparar, sem conseguir atingir o objetivo. Instantes depois, Juan Rode já se encontrava protegida atrás de outro carro.
— Este maldito, está feito com o diabo! — rosnou Galluro. — Se ele não é o próprio demónio!...
Teve de mudar de lugar, para se furtar à assombrosa pontaria do adversário. Uma bala assobiou, perigosamente, junto da sua cabeça. Procurou serenar o espirito, para encarar a situação com a possível calma. Ele também não era nenhum principiante e já se livrara de situações delicadíssimas.
— Mas nunca tive pela frente um inimigo da categoria de Tom «El Toro»... — admitiu, num sussurro.
Ficou imóvel, pensativo. O adversário não fazia o menor ruído, pelo que era evidente que continuava abrigado no mesmo esconderijo.
— Tenho de o obrigar a sair dali... — murmurou Galluro.
Pensou em empurrar o carro, mas este era demasiado pesado. Todavia, podia tentar uma manobra semelhante com a barrica de água colocada junto da roda. Movimentando-se com cuidado, retirou a tábua que servia de suporte à barrica e esta caiu no solo, sem sofrer qualquer dano. Galluro apressou-se a procurar abrigo atrás dela, agachado. Dali, podia ver as pernas do adversário. Confiado, sorridente, começou a fazer rolar a barrica na direção do outro carroção, enquanto monologava:
— Um pouco mais e poderei atingi-lo nas pernas, obrigando-o a cair no solo. Depois, ficará à minha mercê...
Tinha a certeza de que a grossa madeira de roble da barrica não deixaria passar os projéteis do «45» de Tom «El Toro».
Com um sorriso triunfante a contrair-lhe os lábios, levantou a cabeça, uma vez mais. Sobressaltou-se, ao não avistar as pernas do inimigo. O sobressalto foi de tal ordem que o fez esquecer-se das precauções que devia tomar... A voz de Juan Rode, tranquila, quase agradável, obrigou-o a voltar-se:
— Estou aqui, Galluro. Lamento ter de to dizer, mas não passas de um aprendiz, de um vulgar salteador de caminhos... E o pior é que não vais ter tempo para aprender mais nada...
Galluro premiu furiosamente o gatilho. Juan Rode estava à sua direita, encostado ao terceiro carro, e sabia que a bala disparada por Galluro não oferecia qualquer perigo, uma vez que a sua a precedera de algumas frações de segundo... Galluro caiu de joelhos. Tentou apoiar-se na barrica mas esta rolou, obrigando-o a tombar estendido, no solo. Juan aproximou-se dele, até parar a seu lado. O olhar vidrado de Galluro procurava-o. O bandido apertava o peito com as mãos e um fio de sangue corria-lhe pela boca. Duramente, Juan falou:
— Estás liquidado, Galluro. Agora, posso-te dizer que te trouxe aqui para te liquidar, assim como aos teus homens.
Num murmúrio rouco, Galluro perguntou:
— Mas... porquê, Eu... não...
Juan inclinou-se para ele agarrando-o pela roupa.
— Mataste a minha filha, Galluro! — explicou. — Maldito assassino! Vocês assaltaram a caravana em que ela seguia e aniquilaram todos os viajantes. A minha filha foi uma das vossas vítimas e por isso decidi liquidar-vos a todos! A minha filha era uma garota, apenas com dezoito anos!
Galluro arregalou os olhos, assombrado.
— Uma jovem... de dezoito anos — repetiu, com esforço. — Sim ,parecia-se contigo... Agora... agora me recordo. Chamava-se Cármen...
Com um rugido, Juan estendeu as mãos para o pescoço do ferido, como disposto a estrangulá-lo.
— Canalha! Vou...
Com a voz transformada num murmúrio roufenho, Galluro interrompeu-o:
— Espera... ela não morreu! Mataste-nos por causa dessa rapariga... da tua filha ...ela não morreu! Era demasiado bonita... O meu irmão Jim quis ficar com ela... para seu entretenimento. Ela estava apenas ferida e ele cuidou dela. Porém, quando ficou boa, o idiota tinha-se apaixonado por ela... e ela acabou por o pôr maluco! Foram-se embora, os dois... Jim queria casar-se com ela. Foram para Tucson...
Juan soltou-o. Galluro fechou os olhos e ficou a respirar penosamente. Antes de Juan acabar de preparar o cavalo para partir, já estava morto.
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