sexta-feira, 17 de agosto de 2018

CLF030.11 O chefe

Shady Dolan não se deteve diante da assombrosa descoberta. Ele já tinha suspeitado algo de anormal, quando começou a disparar. Tinha todos os fios da intriga na mão. e este era o decisivo que resolvia o mistério.
Saiu do seu esconderijo, protegido pelos disparos constantes dos seus aliados do Sul, bem oportunos como calculara, quando partira com Dodds antes de se aventurar naquela luta surda contra uma inteligência cruel e astuta como poucas.
Procurou com o olhar, febrilmente, Alice Lyman. Lançou um rugido de fera, ao perceber o seu corpo enlutado, estendido debaixo dum alpendre, com uma mancha vermelha sobre o peito e uma mão estendida que se agarrava desesperadamente a um pequeno livro de capas negras...
Lívido, cerrando os dentes, Shady correu para ela, agachou-se, pensando que ela ainda estaria viva, enquanto que no resto da rua, os pistoleiros e os aliados de Dodds se batiam violentamente.
Ainda não estava morta, como temera a princípio, mas a ferida da bala era profunda e Dolan tomou-a nos braços, procurando alguém a quem pudesse confiar o tratamento da abundante hemorragia que a ia despojando dos últimos vestígios de vida.
Naquele momento, uma voz rouca soou por detrás de si.
—Era assim que te desejava encontrar, Shady Dolan! É a minha oportunidade de te despachar deste mundo!

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

CLF030.10 Violência

— Por quem pergunta, senhor?
Dolan olhou fixamente o homem que apareceu na enorme porta dos grandes estábulos imediatos ao grande edifício de ladrilhos rotulado com o nome de Sidney Crooks; entretanto, continuava o descarregar de selas de montar flamantes e trabalhadas, e a passagem de cavalos de magnífica estampa.
— Pelo patrão do negócio — disse, lentamente, — Sidney Crooks.
— Lamento, senhor, mas o senhor Crooks não pode receber ninguém agora — replicou o empregado, deixando de atender a descarga de vários carros de mato parados em frente do edifício. — Acaba de chegar de uma grande viagem de negócios, e está muito fatigado.
— Diga-lhe que quem o quer ver traz uma mensagem do seu irmão Albert, morto em Fort Copper. Fui a última pessoa que o viu, antes que os soldados o matassem. Talvez isso o convença.
O homem mudou de expressão. Examinou com profundo interesse o visitante, erguido na sua frente, para o que percorreu a sua figura dos pés à cabeça.
— Aguarde um momento — disse, por fim, dispondo-se a entrar. — Avisá-lo-ei. Possivelmente conceder-lhe-á alguns minutos. O seu nome por favor?
— Shady — sorriu com suavidade Dolan. — Shady Carter. Ele não me conhece.

quarta-feira, 15 de agosto de 2018

CLF030.09 Os milhões do «Profeta»

— Dodds?
Shady Dolan estava de pé em frente ao homem de farto ca5elo e grande personalidade.
Agradava-lhe o seu rosto nobre, de traços duros. Agradava-lhe também a lealdade, um pouco ácida, das suas pupilas cor de âmbar, sob as espessas sobrancelhas grisalhas.
— Então você é o homem por quem vim até Coffeyville?
—É possível — admitiu o outro, com tom suave. — Tudo depende do que lhe disse... alguém.
— Crooks falou-me de você — observou uma agitação desusada à sua volta, mas prosseguiu, sem soltar a mão cálida de Virgínia: —E pouco depois de o fazer, encontrava a morte. Como Douglas Lyman, como Ferguson Mason... Talvez seja o último homem que os viu vivos... antes de se encontrarem com os federais que os mataram.
— E o que lhe disse Crooks, além de me mencionar, Dolan?
— Poucas coisas. Ele contava continuar a viver, uma vez fora do forte. Ainda não cheguei a compreender como o apanharam. Transpostas as muralhas, tudo estava a nosso favor. Eu escapei, eles poderiam tê-lo feito também. E no entanto deixaram-se apanhar.
— Sabemos de que maneira morreram — disse lentamente Dodds. — Foi lamentável, depois de uma luta tão árdua para escapar da pena de morte. Mereciam melhor sorte.
— Claro que sim. Compartilhei a sua cela algumas horas, escapei com eles. Sei a classe de homens que eram.
— Fizeram o mais difícil, e depois... — suspirou Dodds.

terça-feira, 14 de agosto de 2018

CLF030.08 Coffeyville, cidade perigosa

Aquilo era Coffeyville. Oklahoma distava apenas três milhas deste amplo agrupamento de edifícios de ladrilho, madeira e pedra, que era um ponto estratégico, abundante em milícia de uniforme azul, com a qual Shady Dolan e a sua inseparável companheira se cruzaram, nas ruas de acesso à cidade, aparentando total serenidade.
Rondas de vigilância militar, solicitavam documentos ou passaportes militares aos viajantes de aspeto suspeito que entravam em Coffeyville. mas evidentemente Dolan e a rapariga, não faziam parte desse número, porque ao cruzar com total indiferença e ostentação o portão guarnecido do quartel unionista, soldados e oficiais olharam, meio curiosos meio admirados, a bela loira sem pensar sequer em importuná-los.
— Primeira prova satisfatória — disse olhando Dolan de soslaio.
Shady sorriu. Virgínia tinha a virtude de fazer o perigo divertido. Como se em vez de arriscar a vida a cada passo, estivesse fazendo um alegre jogo sem consequências.
— Veremos se há tanta sorte na segunda vez — comentou entre dentes.
Essa segunda vez não tardou a surgir... começou com uma violentíssima explosão quase em frente deles ao dobrar uma das labirínticas vielas do bairro extremo da cidade, cujos edifícios apareciam ainda cheios de influência colonial.

segunda-feira, 13 de agosto de 2018

CLF030.07 Heroísmo

Shady que tinha empunhado rapidamente o revólver, baixou-o com um sorriso trocista vagando-lhe nos lábios, ao identificar o recém-chegado. O olhar de Virgínia Hodgins saltou de seu pai para o fugitivo, e de novo para a imponente figura do militar.
— Tem razão, juiz — disse depois dum silêncio dramático. — Estou perdido..., apesar de ter ainda duas balas no revólver. Uma poderia ser para mim, outra para minha filha ou para você...
Hodgins sorriu com acritude.
— De qualquer modo seria o fim. Mas ao menos ficar-lhe-ia o consolo de matar o homem que o sentenciou, não é verdade?
— Não sou homem para me contentar com estas soluções, juiz. Não sou um assassino.
— Mas é um traidor? — ironizou o magistrado militar.
—Em todo o caso seria um sulista. Nunca se deve chamar traidor a alguém, só porque não compartilha os nossos ideais. Pode vir a ser ele o prejudicado, não lhe parece?
— Para mim, não — interrompeu violentamente o juiz.
Deu alguns passos até ele. Olhou a filha de soslaio:
— Virgínia, estavas a ajudar este homem a escapar?
— Sim.
Era admirável a coragem daquela adorável criatura, pensou Dolan emocionado.

domingo, 12 de agosto de 2018

CLF030.06 Uma mulher

Antes que tivesse tempo de disparar o seu revólver, já o impacto duma bala fazia tombar o indivíduo do bar. A detonação soou no tranquilo entardecer de Elmdale, enquanto que o homenzarrão soltava a arma e crispava as mãos em volta do ventre, por onde jorrava sangue aos borbotões.
Apareceram duas cabeças à porta do saloon. Dolan disparou uma única bala que levantou estilhas de madeira quando embateu no umbral da porta. As cabeças retrocederam, rápidas, e o tiroteio começou a ser dirigido contra ele, enquanto a larga e redonda praça deserta se povoava de zumbido e balos que procuravam Shady Dolan.
O alto forasteiro fugindo em ziguezague para o seu cavalo, não respondeu ao fogo.
Os cavalos, agitados pelas detonações e pela presença do corpo caído que se esvaía em sangue, relinchavam, tentando rebentar as amarras. Um homem surgiu no alpendre, empunhando um revólver, e disparou contra Shady.
A bala roçou-lhe os cabelos, continuando na sua trajetória. Rapidamente, Dolan apertou o gatilho da sua arma e via cambalear o adversário. Alguém gritou, no interior do bar:
— Apanhem esse homem! Apanhem-no a todo o custo! É um fugitivo sulista, um condenado à morte que fugiu de Fort Cooper! É Shady Dolan, um confederado!

sábado, 11 de agosto de 2018

CLF030.05 A tragédia

— Temos que nos separar. Unidos, mais cedo ou mais tarde, cairemos em poder dos soldados.
Três rostos encalorados, inquietos e decididos rodearam Shady Dolan enquanto este expunha as suas razões. Diante deles, o mato selvagem ondulava ao vento; mais adiante, perdia-se a trilha prateada dum rio. Ao longe, atrás deles, ouvia-se o ruído surdo do tropel de cavalos.
—É uma decisão acertada — admitiu Crooks. — Separamo-nos aqui.
— Combinado — concordou Mason que estava muito pálido se agitava nervosamente sobre a sela. Apertava uma mão crispada contra o ombro donde escorria um pequeno filete de sangue. Indagou, vacilante: —E quando nos reunimos?
—Nada se pode garantir, neste género de coisas — replicou duramente Crooks, que perscrutava com os olhos brilhantes, as trevas que os rodeavam. — Mas, apesar disso, proponho, Coffeyville.
— Coffeyville? — repetiu inexpressivamente Dolan.
— Coffeyville? —insistiu Lyman, com uma nota de nervosismo na voz.
— Sim. Reunimo-nos lá. O lugar, já sabem qual é. O dia quem saberá? Você, Dolan, se chegar vivo a Coffeyville, dirija-se ao armazém de Dodds. Ali o conduzirão até nós.
— Isso quer dizer que me consideram como um dos vossos? sorriu Shady.

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

CLF030.04 Fuga

-- Mudaram os guardas — disse Mason surdamente, afastando-se da janela. O ruído duns passos perdeu-se ao longe. — Isto indica que são doze horas exatas.
Shady, deitado na tarimba, não respondeu. O olhar vagueava distraidamente pelo tecto. Esperava. Não sabia o quê, mas esperava. Alguma coisa tinha que suceder. Bom ou mal.
Reinava um clima de tensão na cela. As horas passavam, a noite caminhava para o seu fim, nada perturbava a calma do forte. Fora do forte, Rio Cobre dormia pacificamente.
Crooks estava sentado na tarimba, Lyman parecia dormir. Só meia hora depois, soaram os passos do carcereiro na onda habitual da meia-noite, ao longo do corredor mal iluminado.
Uma figura alta e corpulenta, vestida de azul, movia-se pesadamente tilintando as chaves que carregava à cintura. Ninguém se moveu e os músculos e os nervos crisparam-se. A sentinela passou lentamente perscrutando o interior da cela.
Shady Dolan endureceu. Sabia que a prisão militar tinha uma saída no extremo oposto. O carcereiro voltou novamente e estacou diante da entrada da cela. Olhou-os inquisitorialmente.
— Não conseguem dormir, porcos confederados? — indagou o carcereiro, rudemente.
— Enquanto andas nas proximidades, será impossível replicou Mason. — Falas demais, para que se possa adormecer
— Ah, sim? —O carcereiro riu-se entre dentes. Uma das mãos dirigiu-se para o revólver enquanto que com a outra soltou as chaves. — Vais-me repetir isso, se tiveres coragem

quinta-feira, 9 de agosto de 2018

CLF030.03 Três homens e um segredo

— Só um louco é que faria isso — declarou Albert Crooks, examinando com interesse e receio o quarto homem da cela.
— Sou-o há muito tempo — Shady Dolan encolheu os ombros, ocupando a borda da tarimba. — Só que desta vez fui louco de mais.
— Vai pagar essa loucura naquela parede... — acrescentou Lyman sarcástico. — A isso chamo eu falta de inteligência.
— Contudo, não se esqueçam de que a possuo. Está aqui sobre os meus ombros, no cérebro.
— Por quanto tempo? — riu ironicamente Mason.
— Algumas horas...
— As guerras são sempre más, mas apesar disso os homens continuam a combater.
— Com quem combateu você, Dolan? — proferiu Crooks subitamente. — Com o Norte ou com o Sul?
— Isso importa?
— Muito. Ainda estou vivo e interessa-me saber com que classe de homem é que vou morrer. Lyman e Mason conheço-os bem, mas a você, não.
— Por que deseja conhecer-me? Eu não os conheço, e não é isto que me tira o sono. A ideia de acordar amanhã ante o pelotão de fuzilamento será talvez a única coisa capaz de me produzir insónias.

quarta-feira, 8 de agosto de 2018

CLF030.02 Três sentenciados

Os três homens olharam-se entre si. Profunda e silenciosamente, como de costume depois de conhecer a terrível sentença. O mais jovem e magro dos três, Douglas Lyman, foi o primeiro a falar:
— Esperar... esperar e esperar, mas, esperar o quê, meu Deus?
Mason e Crooks olharam-no com simpatia, compreensivos. Qualquer deles ultrapassava a idade de Lyman em dez anos. Eram homens duros, experimentados em todos os perigos, veteranos de todos os incidentes da vida. Desta vez terminavam as suas ações com a sentença do implacável Hodgins. Quarenta e oito horas mais tarde, chegaria o fim definitivo e inapelável. Um final sem esperanças, sem nada para confiar, porque a guerra estava longe e o campo de batalha também. E o fim da guerra ainda nem se pressentia. Só uma amnistia, uma rendição de Lee, salvaria as suas vidas. Essa rendição não podia acontecer em dois dias, nem em dois anos. Por isso nada esperavam, não confiavam em nada nem em ninguém.

terça-feira, 7 de agosto de 2018

CLF030.01 O homem do cavalo chamado «Ulisses»

«Réus de traição à União, serão fuzilados na manhã de dez de dezembro de 1863, os espiões da Confederação Albert Crooks, Ferguson Mason e Douglas Lyman, que confessaram o seu delito contra o Governo Federal dos Estados Unidos.

«Rio Cobre, dezembro de 1863. Estado de Kansas».


O grupo de curiosos reunidos em torno do panfleto recém colocado na tabuleta de avisos do posto militar de Rio Cobre, trocou entre si os mais diversos comentários. O território de Kansas pertencia à União. Talvez houvesse em Kansas um grande sector do povo e povoações que simpatizassem com a causa da Confederação, mas Rio Cobre era uma cidade intrinsecamente yanque (*) e por ela nunca desfilaram soldados a não ser os que envergavam fardas azuis.
Crooks, Mason e Lyman seriam fuzilados no pátio da prisão, dois dias depois da publicação daquele anúncio. Era o desfecho dum julgamento apaixonante. Um desfecho que tinha satisfeito todos... exceto os três sentenciados.
O juiz militar Arckibald Hodgins saiu do edifício fortificado da guarnição local quando o grupo de curiosos começava a dispersar-se lentamente, com expressões contrariadas na sua maioria e invariavelmente dirigidas para as paredes de troncos que formavam os bastões de Fort Cooper.
 
(•) Yanque é o nome vulgarmente dado à população do Norte dos E. U. A. Naquela data significava os adeptos da União Federal enquanto que os sulistas eram partidários da Confederação, durante a guerra civil que separou as populações do Norte e Sul dos E. U. A. (N. T.).
 

segunda-feira, 6 de agosto de 2018

DAL011. O maldito

Reecontro com "Um alto forasteiro"

 
Enquanto nortistas e sulistas lutavam pelos seus ideais, surgiam os oportunistas que se pretendiam aproveitar das suas contradições para tirar partido da situação.
Esta novela retoma a história do carregamento de oiro que era oferta ao exército do Sul por parte de apoiantes em outros países da América. Três homens procuram o rasto desse carregamento, são presos pelo Norte e condenados à morte. Um apoiante da causa do Norte é colocado na mesma cela que eles para tentar apurar o que sabem. Uma fuga é idealizada e posta em prática envolvendo os quatro homens.
Mais uma vez Donald Curtis enaltece os que lutaram por um ideal nesta guerra fratricida e consegue mostrar como uma colaboração momentânea entre pessoas de um e outro lado retirou da cena indivíduos sem honra em tudo comparáveis a malfeitores.

DAL010. O braço da lei

 
(Coleção Dallas, nº 10). Capa e texto indisponíveis