quinta-feira, 23 de abril de 2020

KNS054.20 E o amor triunfou

Parker foi o primeiro a entrar no «saloon», seguido de Caldwell e de quatro homens bem armados
— Onde está Kleber? — inquiriu.
Ned olhou-os, horrorizado. Compreendia muito bem o que se avizinhava.
— Saiu — respondeu. — Não se encontra aqui.
— Esperaremos — disse Caldwell. — Além disso, o «saloon» é meu. Beckette renunciou.
— Devíamos começar já a impor-nos — sugeriu Parker.
— Primeiro há que esperar por Kleber. Depois, será mais fácil, pois bastará que saibam que o mataste.
Ned não pôde conter uma exclamação de terror, mas Parker avisou-o:
—Tu, serve «whisky» e não te assustes nem faças comentários.
O criado obedeceu, atemorizado, mas decidiu avisar o jovem. Não podia permitir que o assassinassem à traição, como estava seguro de que tinham feito com Beckette. 

*

quarta-feira, 22 de abril de 2020

KNS054.19 A limpeza de indesejáveis

O jovem empunhou os revólveres e dirigiu-se ao encontro da multidão.
— Deixem-na em paz! — gritou com voz estentórea.
Mas ninguém lhe prestou atenção. Então levantou a mão direita e premiu o gatilho. Um energúmeno, de barba revolta e expressão horripilante, caiu para trás com o crânio atravessado por uma bala. A multidão não prestou demasiada atenção ao facto e seguiu, empurrando a jovem, até que outro disparo derrubou um sujo vagabundo. Então voltaram-se, surpreendidos, para ver quem lhes atirava. Nos seus rostos via-se a resolução de se lançarem sobre quem se atrevia a opor-se aos seus desígnios, mas ao descobrirem o atirador afastaram-se para trás, assustados. Um rumor levantou-se entre eles, enquanto se detinham, impressionados pela atitude do jovem, que se mantinha imóvel com os dois revólveres apontados para eles.
— Soltem essa mulher — gritou.
Ninguém se atreveu a contestar e a jovem viu-se livre. No mesmo instante correu ao encontro do homem que também tinha sido libertado. Entretanto, os que se preparavam para saquear a taberna, abandonaram, o seu projeto e contemplaram Kleber, assombrados.
— Será que sois índios selvagens? — gritou o jovem. — Será que sois foragidos capazes dessas barbaridades? Esta cidade deve manter o respeito à Lei e à ordem. Voltem para vossas casas antes que os crive de balas.

terça-feira, 21 de abril de 2020

KNS054.18 Sentimentos de culpa

Quando Stuart deu conta de que Wendy tinha partido efetivamente, compreendeu que a tinha perdido e que também corria perigo. Mas ao chegar ao umbral, na calçada, viu alguns grupos e que a jovem tinha desaparecido sem deixar rasto. Era impossível que tivesse cruzado a rua e desaparecido por alguma das ruelas e, sem embargo, não se encontrava ali Stuart olhou desesperadamente à sua volta e naquele momento ouviu um grito horrível. Era uma mulher quem o proferia e o cavaleiro voltou-se temendo que se tratasse de Wendy. Mas não era ela.
Outra mulher, jovem também, via-se atropelada por um grupo de homens bêbedos e sujos, que riam ao vê-la debater-se desesperadamente. Junto dela, um homem jovem tentava defendê-la, mas a vagabundos maltratavam-na rindo-se dos seus inúteis esforços.

segunda-feira, 20 de abril de 2020

KNS054.17 Uma cidade a saque

Caldwell junto com Dusty Parker, sorria quando abriu a porta para dar passagem a Beckett. Este vinha acompanhado de três homens armados, mas nenhum deles parecia demasiado perigoso.
— E Kleber? — perguntou Caldwell.
Beckett humedeceu os lábios.
— Espera-nos no «saloon». Está ali aguardando ordens para evitar a pilhagem.
Parker falou então.
— Não gosto disso.
Caldwell agregou:
— A mim tão pouco. Kleber devia ter vindo para que discutíssemos os planos de combate. No «saloon» podiam ter ficado outras pessoas.
Não sabia o que era que poderia fazer. Seu grande plano tinha falhado e achava-se em poder do rival. Conhecia bastante bem os homens para dar-se conta de que Parker, aquele desconhecido, era um homem temível.
— Talvez me tenha equivocado — disse — mas creio mais conveniente.

domingo, 19 de abril de 2020

KNS054.16 Encontro com dolorosa separação

Stuart encheu de novo o copo com «whisky». Ned inclinou-se para ele e disse, preocupado:
— Não gosto nada da maneira como isto está decorrendo, Stuart.
Kleber encolheu os ombros e sorriu.
— Nada receie, tio Ned. Ao fim e ao cabo, contra nós não há nada.
—Contra ti, quererás dizer. Temem-te e não te atacam...
Stuart sorriu.
— Você é meu amigo, tão pouco o molestarão.
— Obrigado, rapaz, mas quando os ânimos andam à solta deste modo, é possível dizer quem nos receberá — juntou Ned, acariciando as feridas. —Eu já vi uma cidade vítima do saque. Havia fome nas montanhas e os mineiros invadiram-na. O álcool enlouqueceu-os e todos foram prejudicados.
— Tranquilize-se, aqui não sucederá nada.
Naquele momento Beckett acercou-se do jovem, sorrindo na sua maneira untuosa.
— Parece que as coisas estão piores — disse, melifluamente. — A cada momento chegam novos grupos de vagabundos e já não se contentam com saquear as casas de comidas. Vão-se já dirigindo a outras casas comerciais.
Stuart concordou.

sábado, 18 de abril de 2020

KNS054.15 Noticias de uma cidade dominada por bandidos

Wendy contemplou, surpreendida, os homens que entravam naquele momento no seu rancho. Roberts pôs-se de pé, estendendo a mão.
— Que se passa Reed?
A expressão de Peter era, na verdade, alarmante. Os seus dois companheiros também mostravam nos rostos a inquietação que os invadia.
— Roberts — começou Reed, — a situação é gravíssima.
Wendy contemplou-os estupefacta. Aturdida nos seus sonhos de amor e nos seus projetos, não tinha seguido os acontecimentos e então tudo se descobria de súbito.
— Mas que sucedeu? — perguntou Roberts.
— Não há Lei em New Richmond — explicou Reed. — Os vagabundos indesejáveis são os donos da cidade e se não interviermos acabarão por arrasá-la.
Roberts indagou, surpreendido:
— Não há Lei? E que é feito de Winton?
— Kleber expulsou-o.
Wendy julgou não ouvir bem e perguntou:
— Quem o expulsou?
Reed voltou-se amavelmente para ela.

sexta-feira, 17 de abril de 2020

KNS054.14 Tratado para divisão da cidade

A notícia correu por toda a cidade. O xerife tinha fugido e New Richmond carecia de representante da Lei. Isto significava a livre expansão dos piores instintos e a absoluta garantia de toda a impunidade. Ninguém supôs quem fez circular aquelas notícias, nem quem atiçou o fogo que desde há tempos incendiava os corações. Mas bem depressa se fizeram sentir os primeiros sintomas de revolta. Num «saloon» entraram dois cavaleiros barbudos e sujos, acercando-se do balcão.
— «Whisky» do melhor—pediu um deles à linda mestiça que, por vezes, atendia os fregueses ao balcão.
Esta obedeceu, se bem que assustada pelas olhadelas daqueles homens. Serviu a bebida, mas o outro cavaleiro disse--lhe:
— Vamos, deixa a garrafa e não te vás embora. Gostamos de te ver aqui.
Ela não se atreveu a desobedecer, ainda que desse conta de que a atitude dos cavaleiros não era nada tranquilizadora. O proprietário observava a cena, temendo que de um momento para o outro estalasse a borrasca. Os dois cavaleiros emborcaram o «whisky» e encheram novamente os copos.
— Bem, — disse o mais forte — vamos embora para outro sítio, que este é muito aborrecido.
Pegaram na garrafa, prontos a irem-se embora e naquele momento a mestiça exclamou:
— São quatro dólares!
Os cavaleiros olharam-na, como que divertidos.

quinta-feira, 16 de abril de 2020

KNS054.13 A humilhação do xerife

O xerife despertou sobressaltado ao ouvir aqueles golpes na porta. Estava numa das suas melhores sestas quando teve de despertar pelas imperiosas pancadas que ecoavam em todo o edifício. Meio adormecido, encaminhou-se para a porta para a abrir, mas logo retrocedeu, assustado. Roberts, seguido de Reed e de outros vaqueiros, avançavam ao seu encontro e a expressão deles não era das mais agradáveis.
— Winton — disse o velho rancheiro, — creio que não são necessárias muitas explicações: necessitamos que imponha a ordem antes que aconteça o pior.
O xerife humedeceu os lábios.
— Tenho contido os tumultos o melhor que posso — explicou. — Ontem mesmo, sem ir mais longe, tive de enfrentar-me com uns desordeiros que tentavam um linchamento.
Reed atalhou de mau modo:
— Sabe muito bem o que queremos dizer. Isto era uma cidade tranquila e nós procurámos sempre conservá-la assim. Alguém chegou e tem sido um mau exemplo. É por aí onde terá de cortar o mal.
Winton engoliu a saliva. Todos pareciam estar de acordo para exigir-lhe que se deixasse matar. Enfrentar-se com Kleber, era caminhar para a morte.

quarta-feira, 15 de abril de 2020

KNS054.12 Preocupações com a cidade que todos queriam dominar

A notícia da luta estendeu-se pela cidade, causando profunda emoção em quem a ouvia. Mas como realmente se tinha passado, ninguém sabia exatamente, pelo que cada um dava versões diferentes.
Os mestiços, como era costume, calaram-se, temendo, em parte, os três vaqueiros.
Sabia-se que Stuart Kleber tinha socado uns homens, em plena rua, por causa de uma mulher. Mas ignorava-se quem ela era e as causas que o levaram a fazê-lo. Muita gente, sem meter-se em mais averiguações, deram por certo que o jovem só podia tratar com bailarinas, pelo que supuseram que aquela desconhecida devia ser Cynthia ou alguma outra.
Entre as bailarinas houve curiosidade cm saber quem era a afortunada e várias fizeram o possível para que julgassem ter sido elas, pelo que cresceu a admiração para com o cavaleiro.
Entre os pistoleiros houve a certeza de que a cidade estava sem lei e sem ordem e que em breve poderiam fazer ali o que lhes apetecesse.
Os fazendeiros honrados consideraram que se tinha chegado ao limite da paciência, pois não era lícito que as pessoas andassem lutando pelas ruas. E logo se perguntaram mutuamente para estava ali o xerife.

terça-feira, 14 de abril de 2020

KNS054.11 Em defesa da donzela em perigo

Wendy contemplava as obras da nova escola, que avançavam lentamente. Uns operários mestiços trabalhavam com vontade para que as crianças se pudessem sentir ali comodamente. À jovem parecia ver já a sala repleta de crianças, junto do quadro onde ela explicava as lições. Bem depressa, muito depressa, seria possível ver realizados os seus sonhos. E tudo havia começado graças ao dinheiro com que Stuart contribuiu.
Ruborizou-se ao dar conta de que já lhe chamava pelo seu nome e que os seus pensamentos se dirigiam muito para ele. «Que significava aquilo?» Ficou enleada ao pensar que a resposta lhe fazia medo e, ao mesmo tempo, lhe dava uma grande alegria.
Dirigiu-se ao mestiço encarregado dos operários:
— Baldwin, amanhã tudo deve estar concluído, não é verdade?
Ele assentiu:
— Com certeza, senhorita.
Era, portanto, preciso afastar aquele homem da sua vida. Não podia continuar a pensar nele. Naquele momento ouviu uma voz que dizia:
— Isto é o que me fazia falta.
Baldwin, inquieto, aconselhou:
— Não faça caso, senhorita.

segunda-feira, 13 de abril de 2020

KNS054.10 Continua a limpeza

Kleber deu conta de que o cavaleiro que estava junto de si o olhava com expressão estranha. Não era a primeira vez que tal facto ocorria ao longo da sua aventurosa vida. E assim um segundo sentido pô-lo imediatamente em guarda. Examinou, por sua vez, o vaqueiro, que lhe susteve o olhar.
— Passa-se alguma coisa, amigo? — indagou, para sair de dúvidas.
Ned afastou-se para o lado, ao mesmo tempo que o seu companheiro fazia um gesto de desdém.
— Não sou seu amigo e a única coisa que se passa é que o estou olhando.
O jovem encostou-se ao balcão, adotando uma atitude como se não fosse capaz de qualquer resistência.
— E posso saber o que desperta tanto o seu interesse?
O vaqueiro sentia-se seguro. Tinha entrado ali com o seu companheiro, depois de ter falado com Caldwell, e dispunha-se a enfrentar o temível pistoleiro. Tinha-se colocado ali, decidido a ser o primeiro a desafiá-lo, indo o seu companheiro misturar-se entre os clientes, dissimulando o seu propósito, sentado a uma mesa e disposto a abrir fogo quando fosse preciso, tanto mais que no «saloon» ninguém adivinharia o seu propósito.

domingo, 12 de abril de 2020

KNS054.09 Continuação do trabalho como pistoleiro

A cantina estava repleta de vaqueiros e de cavaleiros sujos c barbudos. O álcool corria livremente e os ânimos estavam muito exaltados.
Havia os que falavam das ações de Stuart Kleber, referindo como matou os seus três inimigos e aqueles que presenciaram a luta viam-se rodeados de um grupo que os convidava a beber.
Um vaqueiro jovem e sujo, de olhar turvo pelo álcool, contemplou aquele que se estava referindo à proeza de Kleber e perguntou:
— Acreditas, de verdade, que esse tipo seja tão rápido como dizem?
— Sim, é como um raio!
O vaqueiro sorriu, divertido.
— Mais rápido do que eu?
Sem mais palavras, empunhou o «Colt» e premiu o gatilho, disparando sobre uma estante com garrafas. O estampido sobressaltou os clientes, que se voltaram levando a mão ao revólver. O proprietário lançou um grito e corajosamente avançou ao encontro do vaqueiro.
— Não admito tiroteios na minha casa — disse com pressão agressiva. — Isto quero que fique bem claro.
Mas o vaqueiro desejava manter a atenção dos outros sobre si.

sábado, 11 de abril de 2020

KNS054.08 Um xerife que gostava do conforto e tranquilidade

Winton acariciou o queixo mal barbeado, procurando dominar assim uma grande inquietação. A cidade estava tomada de uma maneira que não lhe agradava nada. Vários vizinhos influentes tinham ido naquela manhã exigir que tomasse medidas. E todos pronunciavam mesmo nome: Stuart Kleber.
Winton não era homem que gostasse de preocupações, nem tão pouco desgostos. Tinha aceitado aquele cargo por ser cómodo e bem pago, mas se tinha de enfrentar-se com homens como Kleber, o melhor seria ir-se embora. Não estava tão louco que fosse ao encontro de uma morte certa. Mas o problema era o lugar para onde ir. Estava demasiado acostumada a passar os dias naquela casa, sem preocupações e resultava muito difícil começar de novo.
De repente, abriu-se a porta e entrou Caldwell. Winton esboçou um sorriso, mas compreendeu num instante que aquela visita dar-lhe-ia mais do que desgostos. Stuart Kleber tinha-se posto ao serviço de Norman Beckette, o competidor e adversário de Caldwell.
— Bons dias, amigo. Que posso fazer por si? — disse, procurando conservar uma atitude digna e fria.
Caldwell dirigiu-lhe um furioso olhar.
— Aconselho-o a que não adote comigo essa atitude. Não sou um dos muitos parvos daqui.
Winton sorriu mais abertamente.
— Recordo-lhe que está falando com uma autoridade.

sexta-feira, 10 de abril de 2020

KNS054.07 Reencontro e oferta para uma escola

Wendy sorriu ao ver chegar o jovem que conhecera no dia anterior. Não sabia o motivo pelo qual o desconhecido lhe interessava tanto, pois não sabia nada dele.
— Bons dias! — saudou.
Kleber tirou o chapéu e sorriu, inclinando-se.
— Bons dias — disse, por sua vez. — Como vão as obras da escola?
Wendy fez um gesto desgostoso.
— Verá que não se apresenta tão difícil como parecia a princípio. Há já muita gente disposta a contribuir e creio que dentro de pouco tempo poderá abri-la.
— Venho examinar o edifício pensando nas reformas.
— Quanto deverão pagar os alunos? — indagou o jovem — Talvez isso também ajude a construí-la.
Wendy negou com a cabeça.
— Os pequenos não pagam nada. Todos devem vir aqui e os que podem dão um donativo, mas eu não penso cobrar nada pelo ensino. Não é para mim um negócio. — Sem dar-se conta foi excitando-se com a sua própria ideia e continuei — Desejo que isto se converta em algo importante para o vale. Os pequenos poderão aprender algo e ter uma ideia de vida diferente da de seus pais. Talvez então a violência diminua e não creiam que tudo se possa solucionar com sangue.

quinta-feira, 9 de abril de 2020

KNS054.06 Trabalho de pistoleiro

As bailarinas sorriam, dirigindo olhares apaixonados a Kleber, que estava sentado numa mesa contemplando o espetáculo do «saloon».
As mesas de jogo estavam atestadas de clientes, assim como os balcões e a pista de baile. Stuart, até ali não tinha estado empregado senão em ranchos, mas pelo que tinha dito Beckette, o seu trabalho ali iria ser muito parecido.
Naquela tarde, quando visitou Beckette, este, apertando a mãos, explicou que tinha certo receio de que houvesse alguém disposto a tirar-lhe o negócio e queria defender-se. Qualquer bêbado ou qualquer pistoleiro, podia provocar escândalo. Devia evitá-lo. Por isso, devia proteger a sua pessoa e o se negócio.
Beckette dissera-lhe que não era partidário da violência e só a ela recorria pela necessidade. Por outro lado, gostava de viver e deixar viver. Não queria arruinar ninguém. Stuart ocupava o seu posto, esperando que tudo se desenrolasse sem complicações.
New Richmond estava crescendo. Descobriu-se ouro nas colinas. Tudo isto atraía à cidade homens decididos e sem escrúpulos. Mas ainda não tinha havido as violências que havia em Dodge City ou em Virgínia City e, depois, segundo diziam, o xerife Winton era um homem perigoso e tinham-lhe muito respeito.
Beckette acercou-se do rapaz e perguntou-lhe sorrindo:
— Tudo vai bem, Kleber?
— Por agora, não há novidade.

quarta-feira, 8 de abril de 2020

KNS054.05 Contactos de todo o tipo, inclusivamente românticos

Caldwell entrou na cantina e deteve-se à porta. Ao fundo, encontrava-se Stuart falando em voz baixa com a serviçal. Uns risos alegres e divertidos chegaram até ao comerciante. Enfurecido, este foi ao encontro do rapaz.
— Aborreço? — disse.
A criada afastou-se do cavaleiro, enquanto este afastava o chapéu para trás e contemplava com desgosto o interlocutor.
— Eu diria que sim — respondeu Stuart. — Mas, já que aqui está, diga o que quer.
Caldwell sentou-se numa cadeira e observou o pistoleiro, que fumava em silêncio, sem perder a calma e aparentemente tranquilo.
— Creio que já poderá responder à minha proposta de ontem — disse. — Já teve vinte e quatro horas para pensar.
Kleber sorriu, com um ar ingénuo.
— Não, Caldwell. Ainda não tive tempo de pensar bem. E tenha em conta que essas coisas não se podem fazer sem consultar bem a consciência.
Caldwell inclinou-se para ele.
— Kleber, ofereço-lhe sessenta dólares diários. Pense, pois é muito dinheiro. Não está mal para um homem que se há de expor ao perigo.
— Sabe muito bem que não há ninguém capaz de o vencer — disse o comerciante.
O jovem indagou com um sorriso:
— De verdade, você acha-me tão bom?

terça-feira, 7 de abril de 2020

KNS054.04 Uma cidade pouco recomendável

Wendy contemplou a paisagem que se via da janela da sua habitação e sorriu. Efetivamente, era uma região formosa e um lugar como poucos. Não a tinham enganado as suas recordações durante o tempo em que permanecera na escola, vivendo afastado do Oeste e sem voltar a ver seu pai.
As suas recordações indicavam que nada havia parecido a New Richmond, mas não dera conta que tinha crescido com tanta rapidez. Era já uma grande cidade, que todos pretendiam comparar com as mais importantes do Oeste. Seu pai entrou na habitação.
—Que tal te sentes na tua nova casa?
Wendy sorriu.
—Tal como a recordava. Sonhei muito com estas terras e estes lugares. E trago grandes planos a respeito de tudo.
Roberts contemplou-a um instante e indagou:
— Quais são esses planos?
Wendy acercou-se dele e tomando-lhe o braço, explicou:
— As crianças crescem aqui sem ajuda e proteção de ninguém. É preciso ajudá-los e conseguir que saiam de um lado para outro. Sou professora e creio que a minha obrigação é contribuir para o bem-estar dos outros. — Fez uma pausa e prosseguiu com entusiasmo: — Pensei fundar uma escola, onde as crianças possam aprender a ler.

segunda-feira, 6 de abril de 2020

KNS054.03 O preço de um revólver

Stuart Kleber entrou no «saloon», chamado «Os Quatro Ases», acercou-se de uma mesa e chamou aos berros o criado. Este acudiu, olhando-o com certa apreensão.
— Não somos surdos — advertiu.
Kleber sorriu.
— Eu sei. Basta a sua palavra. Agora, chame Juther Caldwell e diga-lhe que venha cá.
O empregado respingou:
— O patrão?
— Sim, é precisamente a esse que me refiro. E traga-me um copo de «whisky» para me entreter enquanto espero. — Fez uma pausa e acrescentou: — Avise-o de que sou Stuart Kleber.
O empregado fungou e, com o seu melhor sorriso, apressou-se a responder:
— Em seguida.
Fez um sinal a outro, que acudiu com a garrafa e um copo e saiu em direção ao interior da sala. Entretanto, Stuart começou a beber em silêncio. Aquela cidade era tão boa como muitas e melhor do que algumas. Ao que parece existia um pleito, razão pelo qual o chamavam, mas isto a ele pouco importava. Há já muito tempo que não se preocupava em saber quem tinha razão ou quem não a tinha.

domingo, 5 de abril de 2020

KNS054.02 Um pistoleiro incómodo

Alguém advertiu, com apreensão:
— Cuidado, aí vem.
Os que falavam com ele voltaram-se para mirar com inquietação para o outro extremo da cantina da casa de pasto onde, com ar fanfarrão, se via um homem alto, de largos ombros, vestido com uma levita.
De súbito, recortou-se na porta uma silhueta delgada, forte e elástica. Vestia como os cavaleiros, mas com certa elegância extravagante, como se quisesse destacar-se de todas as partes. Calçava bota texanas, de alto tacão. Suas calças metidas nas botas tinham um estranho galão nas costuras como a dos mexicanos. Eram escuras e de boa fazenda. Vestia camisa escura, com um lenço verde ao pescoço e um colete branco adornado com bordados índios. Seus músculos pareciam de aço, capazes de destruir todo aquele que se opusesse à sua passagem.
Não só a força física era perigosa como algo que irradiava também da sua pessoa, algo impalpável, mas que todos advertiam num instante. Da sua cintura pendia um cinturão com dois revólveres magníficos, com desenhos em marfim. Tinha a tez curtida e nela ressaltavam seus olhos verdes e audazes e seus brancos dentes que se descobriam com o seu eterno sorriso. Os cabelos loiros surgiam por debaixo do amplo e negro «sombrero» franjado.

sábado, 4 de abril de 2020

KNS054.01 Assim nasce um pistoleiro

Os transeuntes nem sequer lhe prestavam atenção. Ia pela rua fora dando tombos e gritando sem esperar que algum o escutasse. Quando chegou à porta do «saloon» deteve-se e levantou a voz:
—Fora todo o mundo. Eu cheguei e eu vou armar uma bronca fenomenal.
Logo entrou no edifício. Os clientes olharam-no sem muito interesse ainda que alguns vaqueiros jovens, os quais nunca tinham trabalho e passavam o dia nos «saloons», esperando algum meio de entretenimento, sorrissem pensando que lhes havia chegado um meio gratuito de diversão.
— Cuidado — gritou um deles em tom de gozo. —Aí vem Stan Kleber. Afastem-se, senão há mortos.
O aludido, Stan Kleber, deteve-se no centro do local e gritou:
— Hoje venho de mau humor. Hoje morrerá alguém. Quero adverti-lo para que me deixem em paz.
Todos riram ante aquela bravata típica do homem que se havia convertido em fanfarrão do povoado. Kleber encaminhou-se para o balcão, onde se encontravam quatro ou cinco homens.
— Deixem-me em paz — gritou. — Afastem-se todos.
Um dos homens, ainda jovem e corpulento, de grossos bigodes e olhar cruel, contemplou Kleber.
— Quem é esse velho? — perguntou ao seu interlocutor.

sexta-feira, 3 de abril de 2020

KNS054.00 O poder do "Rei Colt"


Stuart Kleber era um miúdo com pouco mais de catorze anos quando um pistoleiro assassinou o seu pai, um homem bêbedo e provocador. Desesperado, pegou numa velha pistola, desafiou o pistoleiro e abateu-o em combate leal. Ficou aí traçado o destino de um homem que ia encontrar nas armas a forma essencial de ganhar a vida.
A partir daquele momento, Stuart desenvolveu a sua capacidade de utilização do revólver e participou em inúmeros duelos de onde saiu vencedor.
Quando chegou a Richmond, a sua fama era conhecida por todo o Oeste. Nesta altura, a cidade era um antro onde se cruzavam vagabundos, mineiros, pessoas honestas e indivíduos sem escrúpulos que queriam viver da exploração dum mundo de vícios. Dois caciques que se odiavam queriam controlar a cidade e os negócios na mesma rodeando-se de gente de poucos escrúpulos.
Ambos os caciques tentaram contratar Stuart que acabou por aceitar a oferta de um deles para proteção pessoal e a sua fama, mais uma vez, se ampliou.
Entretanto Stuart encontrou-se com uma menina, filha de um rancheiro honesto, que queria montar uma escola na cidade. Iniciou-se aí o seu processo de regeneração e, pela sua ação, o rei «Colt» libertou a cidade de indesejáveis.
Com um argumento interessante, este livro tem uma péssima tradução e descamba muitas vezes em ações de pistoleiro perfeitamente desajustadas. Por vezes, dá a impressão que o autor queria preencher páginas, pois pouco adiantam ao desenrolar da ação.