terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

KNS020.08 A vingança do bandido

Harry estava em manifesta desvantagem. Numa fração de segundo, pensou que o futuro de Maria estava nas suas mãos. Mas Simão não disparou. Parecia comprazer-se daqueles últimos segundos de vida que lhe concedia.
—Esperavas escapar, não é verdade, amigo Freyer?
—Sim.
— Vamos! Entra para aí. E tu faz o mesmo! — disse para Maria.
—O que esperas para me matar? — perguntou Harry.
— Matar-te? — riu Simão. — Para que servem os mortos? Não, Harry. Já vi muitos mortos e todos eles eram tão inúteis como qualquer destas pedras. Tu serves-me muito melhor sem um só arranhão. A morte pode esperar. Tendo-te vivo, posso negociar com os que chegam, não como um vencido, mas em pé de igualdade. Compreendi que és para eles uma peça muito valiosa.
—Custa-me a crer que tenhas medo.
--Já me vista alguma vez com medo?
—Desta vez estás perdido.
—Nem com a corda à volta do pescoço me sentiria perdido.
Simão pareceu impacientar-se.
—Vamos! Entra!
Harry tentou ajudar Maria.
—Eu encarrego-me dela! —disse Simão.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

KNS020.07 Desmascarado

Naquela manhã o tenente Mac Clody recebeu uma desagradável notícia. Um cavaleiro que acabara de chegar a Tryton comunicou-lhe que o homem que levava o correio para Phoenix tinha sido assaltado por bandidos pertencentes à quadrilha de Horácio.
O semblante de Mac Clody alterou-se visivelmente, ao escutar a notícia. Acabava precisamente de enviar os seus superiores uma informação detalhada da fuga de Harry Freyer, e explicava os motivos que o seu subordinado tinha para manobrar assim e os fins com que o fazia. Dirigiu-se imediatamente ao local, onde, convenientemente vigiado, se encontrava um dos mais perigosos foragidos da comarca homem que noites antes, tinha sido enviado por Harry Freyer. com a mediação do «sheriff» de Truenberg.
Andy Black Face não tinha perdido o humor, apesar do cativeiro a que estava submetido. Ao reparar quem era o visitante, levantou-se e inclinou-se exageradamente numa cerimoniosa reverência.
—Bem-vindo ao meu humilde aposento, Excelência! —saudou ao mesmo tempo que levava uma mão peito. —A que devo a honra da vossa visita?
— Acabo de me inteirar de uma coisa. Sabes o que é? — perguntou Mac Clody.
Black Face olhou-o pensativo.

domingo, 9 de fevereiro de 2020

KNS020.06 Terceira prova ultrapassada com sucesso / o chefe da banditagem

O regresso de Simão tinha sido inesperado. Havia voltado sozinho e sem que ninguém tivesse dado conta disso. Não havia ainda entrado na sua casa, quando Maria o procurou, para o advertir do que queriam fazer com Harry Freyer.
Na manhã seguinte, muito cedo, reuniu todos os homens do povoado. Em seguida foi à procura de Vera e obrigou-a a acompanhá-lo. Vera vestia de novo a sua indumentária masculina. Encerrava-se num hermético mutismo e olhava tudo com indiferença, com uma expressão quase ausente.
— Quem esteve contigo, ontem à noite? — insistia Simão ante a atitude reservada daquela mulher, que parecia desprezá-lo. — Continuas empenhada em não falar? Asseguro-te que quando Horácio chegar terá motivos mais do que suficientes para te obrigar a desatar a língua.
Depois, percorreu a longa fila de homens reunidos na rua, esperando encontrar neles a expressão delatora da sua cumplicidade com aquela diabólica mulher.
De repente, ao passar diante de Johnny, notou, uma leve alteração no rosto deste.
—Onde estiveste, ontem à noite?
— Na minha casa.
—Com quem?
— Sozinho.
— Mentes! Fui lá. e não te encontrei! Além disso viram-te a rondar a casa de Maria!

sábado, 8 de fevereiro de 2020

KNS020.05 Nas garras de Satã

Horácio apoiou-se à parede, junto da porta de casa. os seus olhos brilhavam com um estranho fulgor e nos lábios dançava um sorriso de satisfação.
— Agora ele saberá como são castigados os da laia dele.
Harry estava diante de Horácio. Tinha acabado de chegar ao povoado e não perdeu um minuto a contar-lhe o sucedido.
— Julguei que gostarias de guardar uma recordação de Black Face. E entregou-lhe o cinto e o revólver que tinha tirado ao bandido de Lodge.
Horácio tomou-o e contemplou-o durante uns segundos. Depois riu, como se aquilo tivesse graça.
— Agradeço-te, rapaz! É a melhor oferta que poderiam fazer-me! Prometo que vou guardá-la como se tratasse de uma preciosidade. Queres beber alguma coisa, Harry?
—Não. Só quero lavar-me e mudar de roupa. Como está meu pai?
—Teu pai? Bem, magnificamente bem. Oh! Tens de perdoar-me o meu pouco tacto. Devia ter pensado que estavas preocupado com a sua sorte. Queres ir vê-lo?
— Não. Quanto mais tempo ignorar que eu estou aqui, melhor.
—Como quiseres — disse o bandido, encolhendo os ombros. — De qualquer maneira, dei ordens para que o tratem da melhor forma e não lhe falte nada.
— Obrigado.
No seu alojamento, esperava-o uma surpresa. Maria aguardava-o. Vestia um trajo encarnado e o cabelo estava preso com uma fita da mesma cor. Estava verdadeiramente encantadora, e Harry permaneceu uns segundos contemplando-a, assombrado.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

KNS020.04 Segunda missão cumprida com êxito

Horácio regressou quando despontava o dia. Harry viu-o próximo do meio-dia, quando ele o avisou que fosse vê-lo. Estava pálido e as feições tinham covas. O braço esquerdo estava enfiando num lenço pendente do pescoço. Harry suspeitou que ele tinha tido algum encontro em que se salvara a custo.
— O que é que te sucedeu ontem à noite? — perguntou Horácio. — Quando estiveres fora daqui e um dos meus homens te mandar para o inferno, limitar-me-ei a encolher os ombros. Mas jamais consentirei que não respeitem a hospitalidade que dou a um amigo.
—Não consegui reconhecê-los.
— Procurarei que os reconheças.
E voltou-se para os que o acompanhavam, dando uma ordem. Meia hora mais tarde, no largo do povoado alinhavam-se meia centena de homens.
— Vem comigo — disse Horácio a Harry, que observava aqueles preparativos.
Harry observou um por um todos os homens, sem acusar ninguém. Ao passar diante de Thory, Horácio estendeu a mão em direção ao rapaz.
—Fixa bem este!
Thory nem mexeu, sequer, um músculo.
— Não o posso assegurar — disse Harry. — Estava muito escuro.
-- Continuas a não reconhecer os atacantes?
— Sinto-o, mas não é possível acusar sem fundamento.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

KNS020.03 Primeira missão cumprida com êxito

Dez milhas antes de chegar ao cruzamento de Mamas, Harry Freyer descobriu uma carroça que se dirigia a Trayton. Desviou-se para evitar que o vissem e continuou a sua marcha para a estalagem.
Declinava o dia quando chegou à estalagem. O dono não estava. Mas a sua filha não demonstrou a menor surpresa ao ver o jovem. Deduziu que nada sabiam da sua suposta deserção.
—Levaram Langson numa carroça — disse a rapariga. — Os outros feridos morreram hoje mesmo e enterraram-nos do outro lado do vale.
— Harry compreendeu que devia apressar-se se queria alcançar o veículo que levava o ferido a Trayton. Uma vez ali, seria pouco menos do que impossível livrá-lo daqueles que o conduziam. Voltou atrás e esporeou o cavalo para o obrigar a recuperar o tempo perdido. Estava a anoitecer e confiava que os que o conduziam parariam em qualquer abrigo para passar a noite.
Depressa escureceu e tal circunstância obrigou-o a refrear o galope do animal. Ainda não tinha decorrido muito tempo quando um esplendor o advertiu que a carroça tinha parado e se dispunham a passar a noite ali.
Harry desmontou e prendeu o cavalo a uma árvore. Aproximou-se da carroça, procurando não ser visto. Junto da fogueira estavam dois homens. Do ferido que conduziam, não se via o menor rasto. Por isso Harry pensou que estava dentro da carroça.
Não podia ali chegar sem ser visto. Devia actuar abertamente sem perda de tempo. Tirou o revólver e avançou lentamente. A pouca distância da carroça, parou de novo.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

KNS020.02 Infiltrado na quadrilha

Simão, que ia adiante, deteve-se e esperou que Harry o alcançasse.
— Dispara uma vez e depois outras três seguidas. o suficiente para que nos permitam a passagem sem sermos incomodados.
Harry fez como lhe ordenaram. Imediatamente do alto das rochas escarpadas responderam com dois disparos.
— Podemos continuar — disse Simão.
Seguiram por uma espécie de carreiro natural na margem direita. Um silêncio imponente envolvia aquele lugar. Sem dúvida, Harry experimentava a sensação de que mais de um par de olhos seguiam com atenção a sua marcha através do vale. Possivelmente estavam ali entrincheirados alguns homens de Horácio.
 Ao fim do vale, uma garganta de reduzidas dimensões comunicava com um vale de incomparável beleza. Era um amplo vale, aberto a oeste. Uma das ladeiras estava coberta por um extenso bosque. A outra, era rochosa e desnuda como a palma da mão, mas oferecia a vantagem de estar escalonada.
O que mais chamou a atenção de Harry foi um verdadeiro povoado que se erguia na extremidade oposta, do outro lado da corrente de água que cruzava aquela terra maravilhosa.
— Que povoação é esta? — perguntou a Simão.
—A minha — riu Simão, como se achasse graça à resposta.
Cinco cavaleiros aproximavam-se deles.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

KNS020.01 Deserção forçada

Começava a declinar o dia. A Estalagem na encruzilhada de Llamas, estava envolta num profundo silêncio. Nos pastos, junto ao rio, viam-se alguns bois, passeando tranquilamente.
Uma mulher saiu da pousada e dirigiu-se ao poço. Mas quando ia a tirar a água, divisou uma nuvem de poeira, do lado de Alamares.
Imediatamente a mulher retrocedeu e desapareceu porta adentro. Uns minutos mais tarde chegavam oito cavaleiros. Aparentemente, tratava-se de um grupo de vaqueiros; mas para um bom observador, aqueles homens nenhum ou muito pouco contacto tinham com as reses.
—É, rapazes — exclamou o que ia à frente do grupo. —Descemos aqui para molhar a língua!
Desmontaram todos exceto um dos homens, um indivíduo alto e de feições secas, que se dirigiu ao poço. Ali deixou que o seu cavalo se refrescasse na celha cheia de água. Os demais homens entraram na pousada.
— Então não nos dás de beber, rapariga? — perguntou um dos homens, que aparentava ter quarenta anos, de tez escura e farto bigode negro. Apesar da sua indumentária tipicamente texana, advertia-se a sua origem mexicana.
— Tens medo?
—Não senhor — respondeu a interpelada, que estava com medo daqueles desconhecidos. Foi buscar copos e duas garrafas.