Sterling Dross era um homem miudinho, magro, a quem uma úlcera de estômago não deixava viver tranquilo. A sua cara flácida, sulcada de rugas, mais parecia a de um homem de setenta anos do que de cinquenta, que eram os que o banqueiro tinha às costas. Contudo, a sua astúcia para os negócios não era prejudicada pelas dores de estômago. Estava a tornar-se, pouco a pouco, o senhor de Los Alamos.
Negociava com o dinheiro de todos os seus concidadãos, e os lucros só os compartilhava com a sua obesa mulher. Poderia levar uma vida de príncipe, porque ganhava dinheiro às mãos-cheias, mas o estômago não lho permitia. Raramente o viam sair à noite, beber ou cometer excessos de qualquer espécie. Por isso, procurava a sua distração no jogo, embora jogasse quantias tão pequenas como o mais pobre homem da povoação. Tinha medo de perder.
Naquela noite levantou-se da mesa bastante mal-humorado, porque, além de sentir fortes dores de estômago, tinham-lhe limpado cem dólares. E resolveu ir dormir, depois de tomar aquela bodega que lhe preparara o doutor Griffith e que lhe acalmava — decerto por sugestão — as dores da sua maldita úlcera.
Portanto, despediu-se dos seus parceiros e saiu para a rua escura. Estava frio e levantou a gola da sobrecasaca. O Outono aproximava-se e tinha de começar a pensar em agasalhar-se à noite.
A sua casa ficava quase defronte do casino. Só tinha de atravessar a rua e de caminhar uns passos pelo passeio oposto, até ao prédio da esquina. Não se via vivalma por ali. Quando subiu o alpendre, os seus pés miúdos fizeram ressoar as tábuas. Talvez por isso, não ouviu o homem que lhe apareceu diante inesperadamente. Na escuridão, não lhe pôde distinguir a cara, mas viu o revólver que acabava de lhe pôr diante do nariz.
— Boas-noites, senhor Dross. Parece que se está a levantar uma aragenzinha, não acha ?
O comentário não estava, evidentemente, muito de acordo com a presença daquele revólver ameaçador. Sterling Dross não soube corno interpretá-lo. Ficou apatetado, a olhar para a arma, e até lhe passou a dor de estômago.
— Que quer ? — perguntou. — Se pretende roubar-me, fique sabendo que apenas trago dez dólares na algibeira. Perdi tudo ali dentro.
— Alguma coisa lhe restará — redarguiu o desconhecido, ironicamente — e eu contento-me com pouco... basta-me que traga na algibeira umas chaves.
Dross exclamou:
— Umas chaves ? Exato. Sua esposa, que está agora com uns amigos meus, disse-nos que o senhor traz consigo as chaves do Banco. Por isso, pensei...
Dross deu um salto.
— Ouça — guinchou —, que fizeram à minha mulher'?
— Nada. Não se assuste. Não lhe acontecerá nada se o senhor for tão amável que me acompanhe ao Banco e abra o cofre. Mas se tentar resistir...
Sterling Dross compreendeu. Aquela era uma forma original de assaltar um Banco: à meia-noite e sem se incomodarem a arrombar as portas. Claro que, doutro modo, teriam de fazer demasiado barulho, e a povoação em peso cair-lhes-ia em cima.
O homenzinho não sabia que fazer. O sangue parecia ter-lhe fugido do corpo. Só raciocinou quando o outro se pôs atrás dele e lhe encostou o cano do revólver à nuca.
— Podemos ir — disse-lhe.
E Sterling Dross começou a andar pelo passeio, sem protestar.
De soslaio, viu que outro homem se juntava ao primeiro e que um terceiro se adiantava pela beira do caminho, explorando o terreno para evitar surpresas. Ou seja, que muito dificilmente se livraria de entregar àqueles homens o conteúdo do seu cofre-forte. E tinha naquele momento mais de quinze mil dólares em depósito! Só de pensar nisso se lhe punham em pés os poucos cabelos que lhe restavam na cabeça. Mas que outra coisa podia fazer?
Levaram-no a toda a velocidade até à porta do Banco. Uma porta de grade de ferro, que só uma boa carga de dinamite conseguiria arrombar. No entanto, ia abrir-se com pouco barulho. O que lhe apontava a arma disse:
— Levante agora os braços como se fosse coçar-se.
O homenzinho obedeceu e umas mãos ágeis revistaram-no até encontrar o chaveiro. Os outros dois tinham-se colocado de ambos os lados da porta, a vigiar a rua deserta.
Passou um momento. Assim que se abriu a porta, todos se precipitaram para dentro, levando o banqueiro bem seguro. A abertura do cofre-forte apresentou as mesmas dificuldades. De nada valeram os protestos e os rogos de Sterling Dross. Obrigaram-no a abrir o cofre e, à luz de simples fósforos de madeira, tiraram todo o dinheiro e guardaram-no numa bolsa de couro.
— Amarrem-no e amordacem-no — ordenou o que tinha a bolsa e que era, além disso, o que tomara a iniciativa desde o principio.
Dross protestou debilmente, mas ninguém lhe deu ouvidos. Começaram a amarrá-lo.
Quase no mesmo instante, ouviram-se passos firmes e pausados no passeio. Os três assaltantes ficaram um momento imóveis.
— Vai ver, Dean — disse o chefe do grupo. Um deles deslizou para a porta e espreitou discretamente. Os passos aproximavam-se. Fechou a porta sem demora e voltou para junto dos companheiros.
— Deve ser o xerife a fazer a ronda — explicou. — Vi-o verificar se estava bem fechada a loja que fica ao lado.
O chefe perguntou:
— Fechaste a posta à chave? — Sim.
Esperaram. Um instante depois, os passos detiveram-se diante da porta do Banco e ouviu-se o que estava lá fora experimentar se a grade cedia. Mas a fechadura interior segurava-a.
Os passos soaram de novo, afastando-se. Sterling Dross não quis, decerto, fazer aquilo. Foi uma força superior á sua vontade o que o obrigou a gritar de súbito:
— Estão a roubar-me, xerife!
Ninguém o pôde conter. Os três homens atiraram-se a ele e taparam-lhe a boca, praguejando. Mas era tarde. Os passos regressaram precipitadamente ã porta do Banco, enquanto Rod Jensen, o magro ajudante do xerife — que era quem fazia a ronda --, chamava aos gritos:
— Senhor Dross! Está aí dentro?
O chefe dos assaltantes agarrou o banqueiro pela sobrecasaca e puxou-o para si, furioso.
— Você assim aqui! — rugiu.
E bateu-lhe brutalmente com o cano do revólver na cabeça. Uma pancada que soou a ossos partidos e que mergulhou o homenzinho num mundo de sombras.
— Depressa! Temos de sair daqui! — guinchou um dos ladrões.
Os três precipitaram-se para a porta, em tropel, abriram a grade e saíram a disparar a torto e a direito. O ajudante do xerife, que ainda hesitava, disparou de qualquer maneira contra os assaltantes. Foi uma troca rapidíssima, ensurdecedora, de balas.
Um dos assaltantes caiu de bruços, mal chegou à grade. O outro foi atirado contra a parede, girando como um pião. O terceiro, a coberto dos corpos dos seus amigos, crivou de balas o ajudante, que caiu de cabeça no caminho. Tudo numa veloz fração de segundos.
O que ficara encostado à parede, ordenou:
— Avisa os outros, Dean. Depressa. Espero-os junto dos cavalos.
— Acertaram-te ? — quis saber o outro.
Mas o ferido tranquilizou-o:
— Não é nada. Despacha-te!
O chamado Dean partiu a correr. O chefe do grupo, sem largar a bolsa de couro, afastou-se da parede e começou a andar tropegamente para a esquina, como se estivesse bêbedo. Entretanto, a rua encheu-se de ruídos, de vozes, de gente que saia de todos os lados.
A despeito dos seus ferimentos, o assaltante conseguiu alcançar o beco mais próximo, antes de lhe cortarem o passo, e continuou a correr, a coberto da escuridão. Mas mal andara uns vinte metros, a partir da esquina, notou que avista se lhe nublava e as pernas lhe fraquejavam.
— Maldito estúpido! — resmungou, pensando no banqueiro.
Deu mais um passo, a cambalear, e caiu no solo. O sangue golfava-lhe abundantemente da ferida aberta no ventre. Sentia-se morrer. Mas não largava o saco. E começou' a arrastar-se, ajudado pelas mãos. Dean Kennedy chegou como um raio a casa do banqueiro e gritou da rua:
— Hubert! Norton! Depressa!
Quase Imediatamente, ouviu-se correr no andar de cima e os dois homens galgaram os degraus três a três. Um deles perguntou:
— Que aconteceu?
— O banqueiro deu o alarme. Mas já temos o dinheiro. Dick está à nossa espera.
Deitaram a correr pela rua fora. Tinham deixado os cavalos perto, mas o chefe ainda não chegara. Ali estavam os cinco animais.
— Onde está o dinheiro? — perguntou o chamado Hubert.
— Tem-no o Dick.
— E se o apanharam?
Dean Kennedy pensou um segundo. Depois disse:
— Vamos ver!
Montaram apressadamente e Dean segurou nas rédeas de mais um cavalo. Partiram a galope para o Banco, onde o povo se juntara. Assim que os viram, alguém gritou:
— Devem ser esses! Alto!
Mas, como única resposta, os três assaltantes começaram a disparar para o grupo e provocaram uma debandada geral. Dois homens ficaram caídos na rua e para eles correram os cavaleiros. Mas Dick Duff não estava ali.
Dean virou o cavalo e gritou aos companheiros:
— Deve ter fugido! Vamos procurá-lo!
Dos passeios, os dispersos habitantes de Los Alamos começaram a disparar contra eles, quando já tinham empreendido a retirada. Como a escuridão era completa, atiravam à sorte, sem apontar. Os três cavaleiros alcançaram a rua por onde fugira o seu chefe e desapareceram num segundo.
— Não os deixem fugir! — gritou alguém.
— Onde está o xerife?
— Está aqui Jensen, mas mais morto do que vivo!
Alguns, por sua conta, arranjaram cavalos e empreenderam a perseguição. Mas com poucas esperanças, porque compreendiam que naquelas circunstâncias só uma ação bem ordenada e dirigida poderia dar frutos.
Outros apressaram-se a entrar no Banco e encontraram Sterling Dross no meio de um grande charco de sangue, com a cabeça partida. O cofre-forte estava aberto de par em par, vazio de dinheiro.
No meio da indignação e da perturbação gerais, começou a preparar-se a perseguição organizada. Mas quando o xerife Daniels compareceu e tomou o comando, já tinham passado mais de vinte minutos, desde a fuga dos três cavaleiros, e era absurdo pensar em procurar vestígios, com aquela escuridão.
Não tiveram outro remédio senão dividir-se em grupos e seguir em diferentes direções, à sorte. Durante toda a noite, os habitantes de Los Alamos andaram como loucos de um lado para o outro e percorreram milhas e milhas à procura dos assaltantes.
Quando o sol ainda não nascera e já regressavam muitos expedicionários, cansados e desanimados, alguém encontrou um homem ferido, nos subúrbios da povoação. Era Dick Duff, o chefe da quadrilha de malfeitores, reclamado pela Lei havia alguns meses. E não estava morto, embora, quando o encontraram, tivesse perdido muito sangue.
Negociava com o dinheiro de todos os seus concidadãos, e os lucros só os compartilhava com a sua obesa mulher. Poderia levar uma vida de príncipe, porque ganhava dinheiro às mãos-cheias, mas o estômago não lho permitia. Raramente o viam sair à noite, beber ou cometer excessos de qualquer espécie. Por isso, procurava a sua distração no jogo, embora jogasse quantias tão pequenas como o mais pobre homem da povoação. Tinha medo de perder.
Naquela noite levantou-se da mesa bastante mal-humorado, porque, além de sentir fortes dores de estômago, tinham-lhe limpado cem dólares. E resolveu ir dormir, depois de tomar aquela bodega que lhe preparara o doutor Griffith e que lhe acalmava — decerto por sugestão — as dores da sua maldita úlcera.
Portanto, despediu-se dos seus parceiros e saiu para a rua escura. Estava frio e levantou a gola da sobrecasaca. O Outono aproximava-se e tinha de começar a pensar em agasalhar-se à noite.
A sua casa ficava quase defronte do casino. Só tinha de atravessar a rua e de caminhar uns passos pelo passeio oposto, até ao prédio da esquina. Não se via vivalma por ali. Quando subiu o alpendre, os seus pés miúdos fizeram ressoar as tábuas. Talvez por isso, não ouviu o homem que lhe apareceu diante inesperadamente. Na escuridão, não lhe pôde distinguir a cara, mas viu o revólver que acabava de lhe pôr diante do nariz.
— Boas-noites, senhor Dross. Parece que se está a levantar uma aragenzinha, não acha ?
O comentário não estava, evidentemente, muito de acordo com a presença daquele revólver ameaçador. Sterling Dross não soube corno interpretá-lo. Ficou apatetado, a olhar para a arma, e até lhe passou a dor de estômago.
— Que quer ? — perguntou. — Se pretende roubar-me, fique sabendo que apenas trago dez dólares na algibeira. Perdi tudo ali dentro.
— Alguma coisa lhe restará — redarguiu o desconhecido, ironicamente — e eu contento-me com pouco... basta-me que traga na algibeira umas chaves.
Dross exclamou:
— Umas chaves ? Exato. Sua esposa, que está agora com uns amigos meus, disse-nos que o senhor traz consigo as chaves do Banco. Por isso, pensei...
Dross deu um salto.
— Ouça — guinchou —, que fizeram à minha mulher'?
— Nada. Não se assuste. Não lhe acontecerá nada se o senhor for tão amável que me acompanhe ao Banco e abra o cofre. Mas se tentar resistir...
Sterling Dross compreendeu. Aquela era uma forma original de assaltar um Banco: à meia-noite e sem se incomodarem a arrombar as portas. Claro que, doutro modo, teriam de fazer demasiado barulho, e a povoação em peso cair-lhes-ia em cima.
O homenzinho não sabia que fazer. O sangue parecia ter-lhe fugido do corpo. Só raciocinou quando o outro se pôs atrás dele e lhe encostou o cano do revólver à nuca.
— Podemos ir — disse-lhe.
E Sterling Dross começou a andar pelo passeio, sem protestar.
De soslaio, viu que outro homem se juntava ao primeiro e que um terceiro se adiantava pela beira do caminho, explorando o terreno para evitar surpresas. Ou seja, que muito dificilmente se livraria de entregar àqueles homens o conteúdo do seu cofre-forte. E tinha naquele momento mais de quinze mil dólares em depósito! Só de pensar nisso se lhe punham em pés os poucos cabelos que lhe restavam na cabeça. Mas que outra coisa podia fazer?
Levaram-no a toda a velocidade até à porta do Banco. Uma porta de grade de ferro, que só uma boa carga de dinamite conseguiria arrombar. No entanto, ia abrir-se com pouco barulho. O que lhe apontava a arma disse:
— Levante agora os braços como se fosse coçar-se.
O homenzinho obedeceu e umas mãos ágeis revistaram-no até encontrar o chaveiro. Os outros dois tinham-se colocado de ambos os lados da porta, a vigiar a rua deserta.
Passou um momento. Assim que se abriu a porta, todos se precipitaram para dentro, levando o banqueiro bem seguro. A abertura do cofre-forte apresentou as mesmas dificuldades. De nada valeram os protestos e os rogos de Sterling Dross. Obrigaram-no a abrir o cofre e, à luz de simples fósforos de madeira, tiraram todo o dinheiro e guardaram-no numa bolsa de couro.
— Amarrem-no e amordacem-no — ordenou o que tinha a bolsa e que era, além disso, o que tomara a iniciativa desde o principio.
Dross protestou debilmente, mas ninguém lhe deu ouvidos. Começaram a amarrá-lo.
Quase no mesmo instante, ouviram-se passos firmes e pausados no passeio. Os três assaltantes ficaram um momento imóveis.
— Vai ver, Dean — disse o chefe do grupo. Um deles deslizou para a porta e espreitou discretamente. Os passos aproximavam-se. Fechou a porta sem demora e voltou para junto dos companheiros.
— Deve ser o xerife a fazer a ronda — explicou. — Vi-o verificar se estava bem fechada a loja que fica ao lado.
O chefe perguntou:
— Fechaste a posta à chave? — Sim.
Esperaram. Um instante depois, os passos detiveram-se diante da porta do Banco e ouviu-se o que estava lá fora experimentar se a grade cedia. Mas a fechadura interior segurava-a.
Os passos soaram de novo, afastando-se. Sterling Dross não quis, decerto, fazer aquilo. Foi uma força superior á sua vontade o que o obrigou a gritar de súbito:
— Estão a roubar-me, xerife!
Ninguém o pôde conter. Os três homens atiraram-se a ele e taparam-lhe a boca, praguejando. Mas era tarde. Os passos regressaram precipitadamente ã porta do Banco, enquanto Rod Jensen, o magro ajudante do xerife — que era quem fazia a ronda --, chamava aos gritos:
— Senhor Dross! Está aí dentro?
O chefe dos assaltantes agarrou o banqueiro pela sobrecasaca e puxou-o para si, furioso.
— Você assim aqui! — rugiu.
E bateu-lhe brutalmente com o cano do revólver na cabeça. Uma pancada que soou a ossos partidos e que mergulhou o homenzinho num mundo de sombras.
— Depressa! Temos de sair daqui! — guinchou um dos ladrões.
Os três precipitaram-se para a porta, em tropel, abriram a grade e saíram a disparar a torto e a direito. O ajudante do xerife, que ainda hesitava, disparou de qualquer maneira contra os assaltantes. Foi uma troca rapidíssima, ensurdecedora, de balas.
Um dos assaltantes caiu de bruços, mal chegou à grade. O outro foi atirado contra a parede, girando como um pião. O terceiro, a coberto dos corpos dos seus amigos, crivou de balas o ajudante, que caiu de cabeça no caminho. Tudo numa veloz fração de segundos.
O que ficara encostado à parede, ordenou:
— Avisa os outros, Dean. Depressa. Espero-os junto dos cavalos.
— Acertaram-te ? — quis saber o outro.
Mas o ferido tranquilizou-o:
— Não é nada. Despacha-te!
O chamado Dean partiu a correr. O chefe do grupo, sem largar a bolsa de couro, afastou-se da parede e começou a andar tropegamente para a esquina, como se estivesse bêbedo. Entretanto, a rua encheu-se de ruídos, de vozes, de gente que saia de todos os lados.
A despeito dos seus ferimentos, o assaltante conseguiu alcançar o beco mais próximo, antes de lhe cortarem o passo, e continuou a correr, a coberto da escuridão. Mas mal andara uns vinte metros, a partir da esquina, notou que avista se lhe nublava e as pernas lhe fraquejavam.
— Maldito estúpido! — resmungou, pensando no banqueiro.
Deu mais um passo, a cambalear, e caiu no solo. O sangue golfava-lhe abundantemente da ferida aberta no ventre. Sentia-se morrer. Mas não largava o saco. E começou' a arrastar-se, ajudado pelas mãos. Dean Kennedy chegou como um raio a casa do banqueiro e gritou da rua:
— Hubert! Norton! Depressa!
Quase Imediatamente, ouviu-se correr no andar de cima e os dois homens galgaram os degraus três a três. Um deles perguntou:
— Que aconteceu?
— O banqueiro deu o alarme. Mas já temos o dinheiro. Dick está à nossa espera.
Deitaram a correr pela rua fora. Tinham deixado os cavalos perto, mas o chefe ainda não chegara. Ali estavam os cinco animais.
— Onde está o dinheiro? — perguntou o chamado Hubert.
— Tem-no o Dick.
— E se o apanharam?
Dean Kennedy pensou um segundo. Depois disse:
— Vamos ver!
Montaram apressadamente e Dean segurou nas rédeas de mais um cavalo. Partiram a galope para o Banco, onde o povo se juntara. Assim que os viram, alguém gritou:
— Devem ser esses! Alto!
Mas, como única resposta, os três assaltantes começaram a disparar para o grupo e provocaram uma debandada geral. Dois homens ficaram caídos na rua e para eles correram os cavaleiros. Mas Dick Duff não estava ali.
Dean virou o cavalo e gritou aos companheiros:
— Deve ter fugido! Vamos procurá-lo!
Dos passeios, os dispersos habitantes de Los Alamos começaram a disparar contra eles, quando já tinham empreendido a retirada. Como a escuridão era completa, atiravam à sorte, sem apontar. Os três cavaleiros alcançaram a rua por onde fugira o seu chefe e desapareceram num segundo.
— Não os deixem fugir! — gritou alguém.
— Onde está o xerife?
— Está aqui Jensen, mas mais morto do que vivo!
Alguns, por sua conta, arranjaram cavalos e empreenderam a perseguição. Mas com poucas esperanças, porque compreendiam que naquelas circunstâncias só uma ação bem ordenada e dirigida poderia dar frutos.
Outros apressaram-se a entrar no Banco e encontraram Sterling Dross no meio de um grande charco de sangue, com a cabeça partida. O cofre-forte estava aberto de par em par, vazio de dinheiro.
No meio da indignação e da perturbação gerais, começou a preparar-se a perseguição organizada. Mas quando o xerife Daniels compareceu e tomou o comando, já tinham passado mais de vinte minutos, desde a fuga dos três cavaleiros, e era absurdo pensar em procurar vestígios, com aquela escuridão.
Não tiveram outro remédio senão dividir-se em grupos e seguir em diferentes direções, à sorte. Durante toda a noite, os habitantes de Los Alamos andaram como loucos de um lado para o outro e percorreram milhas e milhas à procura dos assaltantes.
Quando o sol ainda não nascera e já regressavam muitos expedicionários, cansados e desanimados, alguém encontrou um homem ferido, nos subúrbios da povoação. Era Dick Duff, o chefe da quadrilha de malfeitores, reclamado pela Lei havia alguns meses. E não estava morto, embora, quando o encontraram, tivesse perdido muito sangue.
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