segunda-feira, 18 de junho de 2018

BUF167.04 Caravana de salteadores

Clara Trenton acabava de chegar, na companhia de quatro homens, os quais não estavam nada convencidos da veracidade das afirmações dela.
— Tom «El Toro»! Que pode querer de Pecos um sujeito como esse? Aqui, não há dinheiro bastante para ele!
Quando se acercavam de casa, ouviram um tiro de revólver. Apenas um.
Clara exclamou, num grito de espanto:
— Meu marido! Esse homem!...
Recalcando o medo que sentia, chicoteou o cavalo, na garupa, para que puxasse mais rapidamente o carro. Os quatro homens imitaram-na, fazendo galopar as montadas. Começavam a admitir que Clara Trenton não tivesse mentido...
— Se, na realidade, se trata de Tom «El Toro», terremos de atuar com os maiores cuidados, rapazes!...
De bom grado teriam voltado para Pecos, mas não podiam deixar Clara Trenton sozinha, no momento de chegar a casa. Desmontaram, rapidamente, antes de os cavalos se deterem.
Com a pressa, um deles chegou a rolar no solo, junto da carruagem, da qual Clara se apeava. O que comandava o grupo, advertiu, visivelmente nervoso:
— Cuidado! Ele ainda está em casa, com certeza!
Clara, que já tinha avistado o marido, estendido em frente da porta, rugiu:
— Não o deixem sair! Matem-no! Matem-no, como a um cão raivoso!
Os quatro homens já se dispunham a entrar na edificação, quando Juan Rode saiu do matagal. Alertados pelos ruídos produzidos pelas ramarias, os homens de Pecos voltaram-se, agitados. Juan Rode estava furioso, devido à traição dos Trenton, e desesperado com a notícia da morte da filha. E havia muitos anos que a vida dos outros pouco valor tinha, para ele...
Sim, havia muito tempo que, além do mais, pouco ou nada tinha a perder. O chefe do grupo, que tinha uma memória quase fotográfica para tudo o que se referia a rostos e vira muitas vezes o retrato de Tom «El Toro», nos cartazes em que era pedida a sua captura, murmurou:
—E ele... Tom «El Toro»!
Clara Trenton, que se detivera junto do corpo inerte do marido, do qual a vida fugira para sempre, gritou:
—De que estão à espera? Matem esse assassino!
Os quatro homens pareciam incapazes de se moverem. Todavia, graças aos gritos frenéticos da mulher e à lembrança da elevada recompensa pela cabeça de «El Toro», acabaram por reagir.
Como num só movimento, sacaram simultaneamente as armas, apontando-as e engatilhando-as, rapidamente. Clara Trenton, de pé, junto do cadáver do marido, continuava a gritar, exasperada.
Aqueles gritos irritaram Juan Rode, levando-o a disparar primeiro contra ela. Fez fogo, uma só vez. Tom «El Toro» não malbaratava munições...
Clara Trenton deixou de gritar e saiu sobre o corpo ainda quente do marido.
Nesse instante, Juan Rode, que se mantivera praticamente imóvel, até então, largou a correr, furtando-se às balas das armas que os quatro adversários disparavam, furiosamente. Os projéteis sibilavam, ameaçadores.
Os homens de Pecos, ao verem Tom «El Toro» a correr, na sua frente, gritaram de entusiasmo, não parecendo notar que as suas balas o não alcançavam...
De súbito, Juan deteve-se e virou-se, ligeiramente. Tinha um revólver em cada mão e deles partiram duas rajadas de chumbo escaldante.
Os quatro homens de Pecos foram brutalmente abatidos, em meia dúzia de segundos. Tombaram no solo, rugindo de raiva e ainda a dispararem as armas, para logo se imobilizarem, instantes depois.
Juan Rode meteu as armas nos coldres, com gestos comedidos e olhar frio. Aquele era o homem que todos os comissários, xerifes e ajudantes, do Texas conheciam por Tom «El Toro». Um homem a quem as circunstâncias tinham, realmente, transformado num touro bravio e enfurecido.
Em El Paso, ninguém se preocupava a fixar rostos ou expressões, ninguém se incomodava com a eventual identificação de qualquer dos foragidos cuja captura era pedida, nos cartazes profusamente espalhados pela cidade, salvo aqueles que faziam do recebimento das recompensas um verdadeiro modo de vida.
Precisamente por causa destes, Juan Ronde apresentava a cara coberta de barba, quando chegou a El Paso. Já anteriormente e sem disfarces conseguira ver-se livre de alguns daqueles profissionais, mas, agora, precisava de não ser reconhecido e a barba, muito negra, desfigurava-o completamente.
Mal chegou a El Paso, dirigiu-se para um grande «saloon», situado no centro da turbulenta cidade fronteiriça. Sem uma palavra, avançou para o balcão, em cujo tampo depositou uma nota. O empregado aproximou-se, recolheu-a, com o desembaraço e a rapidez de um prestidigitador, ao mesmo tempo que dizia:
— Tem direito a fazer uma pergunta, amigo...
— Quero, apenas, uma resposta. Quem organiza caravanas para a Califórnia?
— Só quer saber isso? E fácil... Dirija-se ao armazém de Tristan. No entanto, deixe-me Informá-lo de que não parece haver muita gente interessada na Califórnia.
Juan saiu e procurou o armazém que lhe fora indicado. Tristan, que negociava em carros, arreios e equipamentos, estava a engraxar umas compridas correias de carroção. A laia de saudação, Juan Rode principiou:
— Disseram-me que vocês organizavam caravanas para a Califórnia.
Tristan olhou-o, por momentos, antes de retorquir:
— É verdade, mas não há nada organizado para os próximos dias. Não lhe interessaria ir até ao Novo México?
Juan negou, decididamente:
— Não, de maneira nenhuma. Vou para a Califórnia.
— Pois, terá de fazer a viagem sozinho.
Olhando fixamente para Tristan, Rode replicou:
— Não estou interessado. Esperarei o tempo que for preciso. Disseram-me que a passagem do rio é perigosa, assim como todo o oeste de El Paso. Não viajarei sozinho. Uma caravana sempre infunde confiança. Não me agradaria que me assaltassem...
Tristan perguntou, como se o assunto lhe não interessasse:
— Leva consigo algo de valor, senhor...?
— Chamo-me Linden. Sim, levo algo de valor. O resultado do trabalho de muitos anos e que destino à aquisição de terrenos, na Califórnia. Saberei cuidar desse dinheiro, amigo!
— Certamente. Mas não tenha ilusões. As terras da Califórnia, as boas terras, naturalmente, são muito caras!
Interrompera o trabalho, enquanto conversava com o recém-chegado. Com um sorriso vaidoso, Juan Rode retorquiu:
— Suponho que, com dez mil dólares, arranjarei algo de jeito, não lhe parece?
Visivelmente surpreendido, o comerciante recomendou:
— Olhe, amigo, mais lhe valerá que não ande por aí a anunciar que possui dez mil dólares! Há muitos bandidos, em El Paso...
— Obrigado pelo conselho, amigo. Até agora, só o disse a você, que é uma pessoa de confiança. Quando lhe parece que haverá uma caravana para a Califórnia?
— Avisá-lo-ei, quando souber. Diga-me onde está alojado...
Juan Rode sorriu, astutamente.
— Não... Prefiro não dizer isso a ninguém. Eu passarei por cá, todos os dias, á cata de noticias.
— Como queira, amigo. Algum dia há-de calhar.
Juan Rode saiu do armazém, sabendo que Tristan o seguia com o olhar. O ódio que o convertera noutro homem ensinara-o a usar de todas as astúcias. Surdamente, monologou:
— Dez mil dólares devem ser uma isca suficiente para o bando de Galluro... Malditos assassinos! Hão-de pagar com a vida a morte da minha filha!
Quando entrava no hotel «Bravo», apercebeu-se de que era seguido. Entrou na sala de jantar e afastou ligeiramente a cortina de uma janela, sorrindo, duramente. Atrás dele, um homem tinha parado diante do edifício do hotel e, depois de olhar para o interior, durante alguns segundos, entrou no vestíbulo.
Juan Rode aproximou-se do cortinado que resguardava a entrada para a sala de jantar e apurou o ouvido. O seu perseguidor perguntava ao empregado:
— O senhor Linden está hospedado neste hotel? E um tipo com uma grande barba negra...
O empregado estendeu a mão, num gesto significativo, muito usado não só no hotel como em toda a cidade.
O homem meteu algumas moedas na mão dele... e logo recebeu a resposta:
— Sim, acaba de entrar na sala das refeições.
O desconhecido olhou para a porta da sala. Juan Rode afastou-se um pouco, com a mão direita apoiada na coronha do revólver. O homem, porém, dirigiu-se para a saída, não tardando a desaparecer.
Três dias mais tarde, Juan soube que tinha alcançado o objetivo em vista. Ao chegar ao armazém de Tristan, este disse-lhe, entusiasticamente:
— Tenho boas notícias para si, senhor Linden! Amanhã, sai uma pequena caravana para a Califórnia!
— Muito pequena?...
— Bem... Três carros, pelo menos. Mas é gente dura. Você irá bem protegido!
Juan sorriu, ao perguntar:
— São todos homens?
Tristan olhou-o com receio, mas a expressão de Juan era inocente.
— Sim — respondeu. — Creio que sim...
— Estupendo! As mulheres são má companhia, numa caravana! Cansam-se, enervam-se, provocam lutas entre os homens... Diga-me, de onde se sai e quando?
— Às oito da manhã, junto do rio. O preço é de cinquenta dólares, amigo. Pouco dinheiro, para um homem tão bem provido de «massa», como você.
— Muito bem! Amanhã, às oito da manhã. Não terão de esperar por mim! Obrigado por tudo, Tristan.
Tristan deu uma gargalhada sinistra, logo que Juan saiu do armazém. No mesmo momento, um homem saiu das traseiras da loja. Um homem alto, magro, de rosto melancólico.
— Aí o tens, Galluro! — exclamou o comerciante. —Um tipo que vale dez mil dólares!
— Veremos... — retorquiu Galluro, o bandido. — Há muitos que falam e, afinal, só têm... conversa!
Tristan propôs:
— Nesse caso, por que não vamos verificar isso esta noite? Assim, evitávamos a comédia da caravana e toda esta embrulhada...
Galluro negou:
— Bem sabes que isso não é possível. Não podemos atuar em El Paso, uma vez que eu me comprometi, com os demais companheiros, a respeitar a cidade. E eu cumpro a minha palavra! Levaremos esse homem até vinte ou trinta milhas do rio e, aí, comprovaremos se é ou não verdade que ele tem dez mil dólares. Com voz rouca, acrescentou:
— Será melhor que os tenha! De contrário, se apenas nos faz perder tempo... vai ter uma morte muito desagradável!
Tristan perguntou, surpreendido:
— Pensas deixá-lo com vida, no caso de ter o dinheiro?...
Com um sorriso sinistro, Galluro respondeu:
— Claro que não! Julgas que sou algum imbecil? No entanto, se tiver o dinheiro, proporcionar-lhe-ei uma morte rápida.
Tristan estremeceu. Tinha um medo horrível de Gal-luro, o homem a quem vendia informações. Por isso, apressou-se a dizer:
— Eu não poderei ir na caravana, Galluro. Compreendes, despertaria suspeitas...
Com uma gargalhada, Galluro troçou do temor do companheiro.
— Não vais, não, descansa. Não fazes falta nenhuma, Tristan. Tenho homens em número suficiente... De resto, não preciso de ninguém, para dar cabo desse ricaço dos dez mil dólares!
Pôs o velho chapéu na cabeça e, sem mais palavras, saiu do armazém. Desamarrou o cavalo, montou e saiu da cidade. Tinha montado o acampamento perto do rio. Seguro da própria força, não se preocupava com esconderijos. Em El Paso, aliás, não havia autoridades que o pudessem incomodar. Dirigiu-se aos homens do bando — quinze, naquela altura — e falou-lhes, terminantemente:
— Levantem-se, rapazes, que temos trabalho. É preciso preparar três carros e equipá-los para uma longa viagem.
— Vamos partir? — estranhou um dos homens. — Estávamos tão bem, aqui!...
Galluro deu uma bofetada no protestante. Este empalideceu mas não disse mais nada. Nem sequer se procurou defender. O bandido aceitou a submissão do homem, com a maior naturalidade. Estava acostumado a ela.
 

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