sexta-feira, 27 de outubro de 2017

PAS799. Uma jovem no riacho de águas frescas

Perto do carro de Rebeca, havia um pequeno riacho de águas frescas, limpas e a jovem queria tomar banho. Enquanto Morris, Shanks e Maddox tinham ido buscar lenha para a fogueira e os condutores tratavam das mulas, Rebeca dirigiu-se a um canto isolado, onde o riacho tinha pouca profundidade, e começou a despir-se. Aproveitando a luz do entardecer, já quase noite, entrou na água, mas não reparou que os três bandoleiros atiravam com a lenha para o chão e seguiam-na até ao riacho.
Steve Craige, conforme um velho hábito, foi limpar os revólveres, enquanto erguiam o acampamento.
Slater e Clinton examinavam os eixos dos carros, pois receavam que, pelo menos, dois se partissem antes de chegar a Santa Fé. Se isso acontecesse, o acidente não se revestiria de grande, importância, mas seria melhor tomar precauções para o evitar.
Steve acabou de limpar os revólveres e, depois de os guardar no cinturão, passou as mãos, num gesto de carinho, pelas coronhas, como quem se despede de dois bons amigos. Mas levava-os de um lado e de outro; não os podia deixar em qualquer parte... eram os seus camaradas de todos os momentos; bons e maus, sorrisos e lágrimas. Amigos prontos a sacrificarem-se... Acariciou-os novamente...
O mais baixo dos Mendoza, auxiliado pelo irmão, deitou lenha na fogueira e as chamas subiram para o céu, como se desejassem cobrir de fumo as grandes nuvens que se amontoavam umas sobre as outras e formavam centenas de figuras, centenas de imagens projetadas em sonhos alucinantes, centenas de apelos inacessíveis...
Syms e os outros condutores permaneciam junto das mulas, num grupo apertado, em boa união. Slater atravessou o acampamento e foi cheirar o aroma que se evolava da cafeteira, colocada sobre uma parte da fogueira já reduzida a carvão, embora incandescente. O vaqueiro pegou na cafeteira e colocou-a no chão, onde não havia fogueiras nem carvões incandescentes, pois o café já estava a ferver. Clinton foi ter com o amigo Slater e ambos lançaram um olhar perscrutador, embora disfarçado ao grupo, já citado, dos condutores que, descansadamente, ainda continuavam junto das mulas.
Steve atirou o cigarro para longe e teve pena, pois o cigarro exibia-se quase inteiro. Mas estava furioso, e não se podia conter. A atitude de Morris e dos seus dois companheiros de vagabundagem e patifarias de toda a espécie atraíra, irresistivelmente, a sua penetrante atenção. Viu bem como saíam do bosque e se dirigiam para o riacho. Caminhavam quase a medo, com a maior cautela, à maneira de peles-vermelhas em busca de presa importante, valiosa.
Steve afastou-se do carro e seguiu os três bandoleiros. Esperava qualquer infâmia da parte deles e estava disposto a desmascará-los, embora tivesse de empregar a força dos braços ou a eficácia das balas. A violência, em suma.
Slater também notou que pairava no ambiente algo de anormal e deu uma valente cotovelada ao amigo. Clinton abriu a boca para protestar com a máxima energia dos seus fortes pulmões, mas ao ver o sinal de Slater, indicando, sorrateiramente, o último carro, que era o de Rebeca, o domador de cavalos fechou de novo a boca e calou-se. Os dois homens foram buscar os revólveres que tinham deixado em cima de um barril de farinha e, sem pronunciar uma palavra, quase sem respirar, encaminharam-se para o riacho.
Já próximo da corrente de água, Steve ouviu um abafado, sufocado grito de Rebeca. O carro não lhe permitia ver o que estava a suceder, mas não levou muito tempo a compreender... Tirou o revólver da direita e engatilhou-o, avançando destemidamente, como sempre.
 O espetáculo que viu ao chegar mesmo junto do riacho obrigou-o a soltar um uivo como se fora um leão enraivecido. Rebeca tinha sido apanhada de surpresa quando ia a sair do banho.
A rapariga mal teve tempo de se cobrir com as suas roupas... Don Morris abeirou-se, velozmente, dela e uma das suas mãos caiu selvaticamente sobre a fina blusa e a outra esmagou-lhe os lábios para a impedir de gritar.
Apesar de tanta brutalidade, Rebeca ainda pôde articular um grito de socorro, quase estrangulado pela mordaça de carne suja que lhe fechava a boca.
A presença de Steve, a implacável decisão que irradiava, alarmou os três energúmenos, até esse momento apenas entregues à tarefa de levar avante os seus criminosos desígnios, com a maior tranquilidade. Shanks e Maddox voltaram-se rapidamente e agarraram os revólveres.
Don Morris não largava a rapariga, mas ao ver Craige compreendeu que a sua única salvação era Rebeca. Do corpo dela tinha de fazer um escudo, para evitar que as balas de Steve o atingissem.
Steve não prestou atenção alguma a Shanks e a Maddox. Seus olhos só podiam ver o nojento rosto de Morris... e adivinhou o que ia acontecer.
Se a repugnante criatura se escondesse atrás do corpo de Rebeca, conseguiria fugir, o que Steve não queria, embora arriscasse a própria vida. No Sudoeste, as mulheres eram sagradas e até os bandidos, os criminosos mais insensíveis, as respeitavam... Por isso, Morris devia pagar definitivamente, liquidar as suas contas de modo a não poder contrair outras. Steve tinha o revólver assestado e, antes de Morris se esconder atrás do corpo de Rebeca, premiu o gatilho.
O ruído de asas, rasgando fortemente o ar, podia ser comparado ao grito de agonia de Morris. O projétil de Steve atingiu-lhe um dos lados da cabeça, abrindo um orifício de forma circular, e, ao sair pelo lado oposto, destroçou-lhe o parietal.
Morris cambaleou e, na queda, arrastou a jovem. Ficou estendido de bruços, com a ensanguentada cabeça mergulhada na fria água do pequeno riacho. A água adquiriu uma cor avermelhada e brincou com os cabelos do bandoleiro.
Rebeca, de joelhos ao lado do cadáver, contemplava-o, aterrada: os seus olhos, desmesuradamente abertos, traduziam bem o que sofrera. E ainda não era capaz de compreender nada. Tudo tinha sucedido com demasiada rapidez. Ainda não decorrera um segundo, aquele homem tinha-a apertado brutalmente e sentia o nauseabundo hálito de Morris...
Lod Shanks reagiu mais rapidamente. Chegou a tirar um dos revólveres, mas, ao levantar o percutor, uma sombra ergueu-se ao lado dele, como se a terra a tivesse expelido. O bandoleiro reconheceu Slater e torceu, desdenhosamente, a boca. Julgava que esse inimigo não tinha a importância de Steve. Viu, também, Clinton saltar detrás do carro e cair sobre Maddox... E não viu mais nada, porque Slater agiu com a rapidez de...
O vaqueiro não quis desperdiçar uma só bala com Shank. Enterrou ferozmente o cano da espingarda no ventre do bandoleiro, depois ergueu-o e o acerado cano quebrou a mandíbula de Shanks. O tremendo choque esmigalhou o osso e o bandoleiro soltou um alucinante grito de angústia, ao cair de joelhos.
De novo, o cano do revólver traçou um arco no espaço e foi esmagar a fronte direita de Shanks, arrancando-lhe a pele e a carne. O sangue jorrou e salpicou o revólver e as mãos de Slater.
Quando o bandoleiro caía para a frente, com os dedos enclavinhados na coronha do revólver, o vaqueiro tornou-o a espancar com a coronha da espingarda.
A cabeça de Lod Shanks abriu-se como um fruto maduro caído de uma árvore. Slater afastou-se disposto a prestar auxílio ao seu velho amigo Clinton, mas o domador de cavalos, também, terminara com o inimigo, empregando o mesmo sistema de Slater: a coronha da espingarda.
Quando Kent enterrou o cano no ventre de Shanks, ele estava a um passo de Maddox. Bateu, violentamente, com a coronha no rosto do bandoleiro. Ao receber a pancada, recuou. Dir-se-ia impelido por dois coices de uma mula.
Clinton não lhe deu tempo para reagir, nem esboçar um gesto. Cerrou os lábios e o revólver traçou um molinete no espaço e a coronha atingiu Maddox um pouco acima da orelha esquerda.
Se ao receber a primeira pancada tinha recuado, ao receber a segunda o bandoleiro saltou, bruscamente, para a direita. Seus pés afastaram-se do solo... e perdeu todo o contacto com a terra, e o ar também não lhe interessava, porque já não tinha necessidade de respirar. A segunda coronhada terminara a sua larga carreira de infâmias.
Steve Craive ouviu nitidamente o ruído de ossos partidos, um estalido que significava ter deixado de existir um homem.
O cavaleiro, ainda de revólver assestado, ficou surpreendido ao ver que do cano continuava a sair um ténue fio de fumo que subia em aspirai no ar tranquilo do entardecer. Aquele fumo indicava claramente que os três bandoleiros tinham abandonado o mundo com uma diferença de poucos décimos de, segundo, entre eles.
— Cuidado, amigos, vêm aí os condutores e não tenho muita confiança neles — advertiu Slater.
A voz do vaqueiro fez reagir Rebeca. Tinha aprendido a confiar nessa voz que não era desagradável.
Viu a cabeça de Morris mergulhada na água e os seu, lábios começaram a tremer. Sentiu na boca o sabor adocicado do sangue, pois a pressão exercida por Morris fendera-lhe os vermelhos lábios.
Começou a erguer-se lentamente e viu sangue no solo, entre os pés... e mais sangue, um pouco mais longe... Sangue em toda a parte, mesmo na sua blusa clara. Pequenas gotas vermelhas formavam um fio de sangue no seu convulso peito.
Passou, instintivamente, a mão pelos lábios e também apareceu sangue na pele. Compreendeu, então, todo o horror que acabara de viver e começou a tremer com violência, enquanto o estômago se lhe contraía, produzindo--lhe uma sensação muito parecida a náuseas... E descobriu Steve Craige.
A rapariga, num impulso, correu para ele de braços estendidos como se desejasse prender-se ao pescoço do cavaleiro para ele a ajudar a sair desse vermelho mar de sangue.
Steve rodeou-a fortemente com os braços, enquanto os dois vaqueiros vigiavam Syms, os Mendoza e os outros três condutores. Rebeca estremecia, sacudida por soluços que não se convertiam em pranto, em virtude do forte abalo nervoso.
— Steve...Suplico-te... leva-me daqui... — pôde, finalmente, dizer.
— Sim. Vamo-nos embora, já está tudo pronto — disse ele.
Ao notar que as pernas da rapariga fraquejavam e não a mantinham de pé, levantou-a nos braços e conduziu-a até à fogueira. Depois de a pousar no chão, Rebeca continuava encostada a ele e fitou-o com os olhos repletos de lágrimas:
— A teu lado sinto-me em segurança — murmurou.
Steve não respondeu, inclinou ligeiramente a cabeça e seus lábios apoderaram-se dos lábios da rapariga, sem lhe importar o sangue que nele havia.
— Já não te afastarás de mim, Rebeca — afirmou Steve, acariciando os loiros cabelos, ainda húmidos.
— Seguir-te-ei para aonde fores..., mas não me abandones, porque a recordação e o medo do que se passou, acabariam por me enlouquecer — exclamou a rapariga.
— Esquece tudo, querida — respondeu Steve, suavemente.
 

quinta-feira, 26 de outubro de 2017

PAS798. Expedição ao local da noite negra

Na manhã seguinte, os vaqueiros selaram os cavalos, repuseram as armas nos respetivos coldres e conseguiram saber os nomes dos três salteadores contratados por Rebeca.
Chamavam-se Don Morris, Lod Shanks e Hank Maddox. Todos usavam dois revólveres, colocados muito baixo e andavam sempre juntos, como se não quisessem ser surpreendidos longe uns dos outros.
A jovem saiu do carro quando um dos condutores tocou uma grande caçarola para anunciar que o café estava pronto. Slater abriu desmesuradamente os olhos ao ver Rebeca... Trazia ajustadas calças azuis, a modelarem as suas formas perfeitíssimas, e uma fina blusa amarela que ameaçava rebentar pelas costuras. Na cabeça, um chapéu cinzento de copa direita e trazia botas de montar texanas com enormes esporas mexicanas.
--- Vamos ter conflitos com toda a gente — disse, unicamente, Slater ao contemplar a patroa.
Terminado o café, a jovem deu ordem de marcha. Montou uma bela égua e foi colocar-se entre os dois vaqueiros, à frente da pequena caravana. Os três salteadores iam no fim.
Para seguir a velha rota de Santa Fé, tiveram de atravessar a. cidade, observados por curiosos olhares dos madrugadores habitantes e, também, pelos que não se tinham deitado.
Quando se encontravam ao meio da rua principal, Kent Slater descobriu um homem a cavalo que ia desmontar diante de uma estrebaria pública. Com um movimento de cabeça indicou-o ao amigo, e disse:
— Receio bem que antes de anoitecer o coveiro de Dodge City tenha bastante trabalho.
— Steve Craige! — exclamou Clinton, surpreendido.
A rapariga examinou detidamente o homem que tanto impressão causara nos guias. Era alto, forte e tinha o rosto queimado pelo sol. Compreendeu que não podia deixar de ser um homem perigoso e que irradiava inabalável confiança em si próprio, audácia e inteligência.
Teria cerca de trinta anos e vestia todo de preto. Usava chapéu de copa direita, atirado para trás e os seus ondulados cabelos negros, muito curtos, caíam sobre a ampla fronte.
Os olhos cinzentos do homem e os verdes da jovem encontraram-se e Rebeca não pôde reprimir inesperado estremecimento. Nunca conhecera um homem que transmitisse aquela selvática impressão de força e destruição.
— Quem é? — perguntou em voz baixa.
— Steve Craige, um homem que anda à procura dos assassinos do pai. Até agora já matou cinco, em diversos Estados e territórios. Iniciou a terrível vingança há seis anos... e ainda não terminou — respondeu Slater.
— Quando acamparmos esta noite contar-lhe-ei a história dele. Steve e eu somos amigos. Vivemos durante alguns anos na mesma cidade — disse Clinton, erguendo a mão em gesto de cumprimento.
Steve Craige correspondeu e Rebeca pensou que o duro rosto que parecia talhado em granito se humanizara um pouco ao cumprimentar Dexter Clinton.
A caravana prosseguiu e a rapariga voltou-se ligeiramente para fixar bem na retina o homem que a impressionara tão profundamente.

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

PAS797. A vingança no chinês

Os dois vaqueiros desprenderam os cavalos e acompanharam a nova patroa. Atravessaram a aldeia e, já nos arredores, viram três grandes carros perto dos currais destinados ao gado procedente de Texas.
Uma enorme fogueira crepitava no centro do local onde estavam os veículos e à volta da fogueira viram nove homens a jantar, exatamente como os vaqueiros: acocorados e com prato de latão numa das mãos.
Todos se ergueram ao ver a patroa e Kent Slater examinou-os um a um. Seis deles eram condutores de carros que, sem dúvida, fizeram parte de alguma caravana desfeita devido ao adiantado da estação.
Os colonos que se dirigiam para a Califórnia tinham sempre em conta as alterações do tempo. E sabiam que atravessar as Rochosas com o Inverno já próximo significava pura e simplesmente a morte. Esta razão obrigava muitas caravanas a esperar a chegada do bom tempo em Dodge ou noutras aldeias e, como os colonos não podiam dar-se ao luxo de pagar a vários homens, despediam-nos.
A atenção de Slater, e também a de Clinton, deteve-se, particularmente, nos três homens da escolta. Os vaqueiros notaram, quase logo, que eram bandoleiros. Bandoleiros profissionais ou, talvez, homens fugidos à Justiça e andavam de um lado para outro, sem se fixarem em parte alguma das imediações, porque em Dodge City havia um xerife bastante enérgico.
— Vamos dar um passeio esta noite, patroa — disse Slater, depois de tirar a sela e outros arreios ao cavalo e de o prender ao lado dos outros.
— Não se esqueça que chegámos hoje mesmo do Texas, sempre a conduzir uma irrequieta manada de três mil reses — acrescentou Clinton que seguira ' o exemplo do amigo.
— Partimos amanhã, peço-lhes o favor de não se esquecerem — disse-lhes Rebeca, antes de entrar para um dos carros.
— Temos boa memória — respondeu Slater, tirando uma pistola do coldre da sala.
— Agora já estamos metidos na rede — afirmou Clinton, enquanto tirava a sua «Winchester».
Os três bandoleiros examinaram atentamente os dois vaqueiros, mas estes não prestaram atenção alguma ao exame. Tanto Slater como Clinton sabiam o que se podia esperar deles.
— Vamos fazer uma visita a Huong e aos seus dois cães — disse Slater.
— Era isso que estava para te dizer — respondeu Clinton.
Para os dois vaqueiros foi autêntico suplício terem de regressar a pé à cidade. As suas arqueadas pernas estavam afoitas a cavalos e não a andar pelas poeirentas e sujas ruas de Dodge City, mas o desejo de fazer passar um mau bocado aos chineses era superior ao incómodo que sentiam percorrendo alguns quilómetros.
Huong ia fechar a porta do restaurante, quando o cano de uma pistola se lhe encostou ao peito e brandamente o empurrou. Teve de retroceder.
— Olá, Huong, maldito chinês nascido em Omaha. Ou és um dos seus descorados filhos? — perguntou Slater, ao entrar no restaurante.
— Sou Huong — respondeu o chinês cujo rosto amarelo começara a adquirir uma cor terrosa.
— Agrada-me imenso! É um nome bonito... O meu querido amigo Clinton vai encarregar-se dos teus veneráveis rebentos. Agora, vamos até à cozinha — ordenou Slater.
— Queres matar-me? — perguntou Huong.
— Que julgas, então?... Chamaste-nos ladrões, apontaste as tuas espingardas para nós e envergonhaste-nos diante de todos os teus clientes. Que podes esperar? —perguntou Slater, enquanto fincava mais a pistola nas costas do chinês para o obrigar a caminhar mais depressa.
Huong não revelou o que pensava... porque apanharia com uma bala na parte do corpo que se expunha mais a fazer as reverências. O chinês garantia que nenhum vaqueiro texano se envergonharia facilmente, que não sabia o que era a vergonha... mas não disse nada.
Ao entrar na ampla cozinha viu os filhos de rosto para a parede, e as mãos muito altas, como se pretendessem tocar no teto, e, atrás deles, pistola em punho, descobriu Clinton, sorridentíssimo.
— Desejava tornar a ver-te, montão de nata azeda. Queria, apenas, dizer na tua cara que és um porco. Além disso, um homem que tem um negócio como o teu deve ser mais humano. Nunca disse mal dos teus guisados, embora algumas vezes me tenhas dado carne de cavalo afirmando ser de vitela e obrigaste-me a pagar como se realmente fosse vitela... E quando um dia me encontro sem dinheiro para liquidar a conta, quiseste furar todo o meu corpo com as tuas malditas espingardas. Achas bem? - perguntou Clinton.
— Digníssimo senhor eu...
— Fala claro ou quebro-te todos os dentes com a coronha da pistola — interrompeu-o Slater.
-- Vão matar-nos, pai! — guinchou um dos filhos.
— Apanha o balde para sangue, Kent — disse, alegremente, Clinton.
— Vamos, primeiro, aplicar-lhes a sentença que a nós aplicaram. Irão lavar já todos os pratos. Mexam-se, canários! — ordenou Slater.
Havia um enorme monte de pratos, com certeza todos quantos serviram durante a semana e os vaqueiros pensaram que os chineses nunca os lavavam. Quer dizer, os clientes comiam em pratos sujos.
Huong e os filhos não os obrigaram a repetir a ordem e, sob a permanente ameaça das pistolas, começaram a lavar. Demoraram mais de uma hora a terminar, mas Slater examinou os pratos e, acenando negativamente a cabeça, disse:
— Não estão muito limpos, parece-me... Vamos recomeçar, chinesinhos do diabo!
Enquanto Huong e os filhos voltaram a lavar os pratos, Clinton encontrou uma garrafa de uísque e, depois, de ter mandado limpar dois copos, umas doze vezes, ele e Slater encheram os copos.
Quando os chineses terminaram o trabalho pela segunda vez, o próprio Clinton foi verificar se os pratos estavam decentes.
— Não... Não... E não! Isto é uma porcaria. Os pratos não estão limpos. O melhor é parti-los todos e os canários tem de comprar outros novos e limpos — disse e, ao mesmo tempo, com a pistola atirava para o chão um grande monte de pratos.
Huong esteve quase a desmaiar, ao ouvir o ruído da louça a fazer-se em cacos. Slater pensou que os chineses tinham sido já bastante punidos, e disse:
— Deixa-os em paz, Dexter. Não convém quebrar os pratos todos porque estes porcos amarelos são capazes de servir as refeições mesmo em cima das mesas. Vamos amarrá-los para não fazerem escândalo e o xerife viria logo saber o que se tinha passado.
— Não diremos nada... podem estar tranquilos, honrados cavaleiros; não diremos nada, nada! — exclamou Huong que não esperava sair facilmente e ileso das mãos dos vaqueiros.
— Não tenho confiança nem na minha sombra. Vou amarrar-te e amanhã, quando fores desamarrado já estaremos longe de Dodge City... E como o xerife nunca sai da cidade, poderemos rir de tudo isto despreocupadamente!
Depois de amarrar os três chineses e de os terem amordaçado, os vaqueiros apagaram as luzes e saíram, sem se esquecerem de fechar a porta. Regressaram ao acampamento de Rebeca. Antes de adormecerem, Clinton perguntou ao amigo.
— Estás a dormir?
— Sim, estúpida criatura!
— Bem, sei perfeitamente que estás acordado. Pensava neste momento que fui um porco ao obrigar o chinês a lavar os pratos.
— Acontece-te sempre o mesmo. Gostaria de saber que diabo estás a pensar agora. Por que te recordas do chinês?
— Porque graças a ele perdoaste-me os sete mil dólares que te devia e eu, ingrato, parto-lhe um monte de pratos! — esclareceu Clinton, reprimindo o riso.
— Porco do inferno! Já não me lembrava da dívida... Mas eu disse que não queria saber-te morto e a dever dinheiro... e ainda não morreste! — exclamou Slater.
Como os dois vaqueiros tinham estendido as suas mantas debaixo de um dos carros, a cabeça de Slater bateu fortemente nas traves do fundo. Este acontecimento alegrou Clinton ainda mais o qual, reprimindo as gargalhadas, se deitou outra vez.

terça-feira, 24 de outubro de 2017

PAS796. Uma jovem quer volter ao local da noite negra

A rapariga levantou-se e atravessou o restaurante. Andava lentamente e o fino tecido do seu belo vestido envolvia-lhe as pernas, modelando pormenorizadamente a perfeição das suas linhas. Dexter Clinton esqueceu-se de Huong, dos filhos, das três espingardas, dos pratos e do balde destinado a recolher o sangue... só era capaz de pensar na beleza daquela mulher.
Kent Slater sorriu enquanto as suas sardas mudavam de cor. Isto demonstrava que o vaqueiro estava a ruborizar-se. Suas largas mãos correram pela espalhafatosa camisa e suspirou.
— Deixa-os, Huong, parecem boas pessoas — disse a j ovem suavemente.
— E somos, não há dúvida, senhora... apressou-se Clinton a confirmar.
— Wigmore, Rebeca Wigmore — disse a jovem.
— Todos parecem boas pessoas, mas poucos o são, na verdade. Há muitos anos que lido com vaqueiros e julgo conhecer todas as suas manhas — asseverou Huong, abaixando a espingarda.
— Oh! Mas ele fala tão bem como tu e eu! — exclamou Clinton, surpreendido.
— Melhor, seus pés tortos, muito melhor que tu e o teu companheiro. Só falo mal quando me apetece, e, par dormires tranquilamente, sempre te direi que nasci em Omaha e meu pai chegou aos Estados Unidos quando tinha doze anos. Vamos, filhos... Mas fique um de você a vigiar a porta. Não duvido da palavra da menina Wigore, mas qualquer destes dois tinhosos é capaz de a matar e fugir com o dinheiro.
— Maldito prato de leite-creme! — vociferou Clinton, levando a mão ao revólver.
Mas afastou-a rapidamente por ter observado que os filhos de Huong continuavam a sorrir... com as espingardas prontas a disparar. O domador de potros sorriu também, a pensar que chegaria a oportunidade de se desforrar do mau bocado que esses três canários sorridentes lhe tinham feito passar.
— Venham para a minha mesa, quero falar convosco — disse Rebeca.
Os dois vaqueiros seguiram-na sem hesitações. Tanto Kent como Dexter estavam satisfeitos por se terem livrado dos pratos... Apesar de preferirem morrer, antes de isso suceder lavariam os pratos.
Rebeca indicou-lhes umas cadeiras e ela sentou-se na mesma que ocupara havia momentos. Chamou Huong que acorreu entre reverências, e disse-lhe:
— Uma garrafa de uísque e dois copos para os meus amigos.
Dexter Clinton sentiu imenso desejo de se levantar lançar o grito dos condutores de manadas, mas pensou que isso era muito estridente para a doce e encantador mulherzinha do Leste... e calou-se.
— Por que foi socorrer-nos, «miss» Wigmore? — perguntou Slater, o mais prático dos dois... embora emprestasse dinheiro ao amigo.
— Vou responder-lhe com outra pergunta: é verdade que são excelentes cavaleiros e profundos conhecedores de todos os caminhos que partem de Dodge até à fronteira do Rio Grande? — inquiriu a jovem, observando atentamente os dois vaqueiros.
— Eu nasci num carro que ia de Dodge para Santa Fé, ainda Dodge City não existia no mapa. Depois, todos os anos, voltava a percorrer o mesmo caminho — respondeu Clinton, nascido no Texas, mas que, realmente, conhecia bem as rotas do sul.
— Meu pai era guia de caravanas, e eu aprendi com ele — afirmou Slater, sem torpedear a verdade, coisa rara nele, pois, como bom vaqueiro, tendia para o exagero e até para inventar algumas historietas.
— Nesse caso, devo esclarecer que decidi pagar a conta porque necessito de dois homens nas vossas condições. Tudo está pronto para seguirmos até alcançarmos o sul, mas não encontro guias — disse Rebeca.
— A que região do Sul pretende ir? — volveu Slater.
O vaqueiro possuía olfato especial para desvendar mistérios, e quase nunca falhava. Pelo menos, não falhava duas vezes consecutivas. Nesse dia, porém, tinha falhado já uma vez ao ceder à tentação de jogar com batoteiros profissionais, e nem se apercebera do logro...
Todavia, na questão de Rebeca Wigmore o seu olfato especial não falhava. Era estranho que, não havendo manadas a conduzir nem caravanas de Califórnia para Texas, nessa época do ano, não tivesse a rapariga encontrado nenhum guia, pois viajar com tão linda boneca devia ser autêntica delícia.
— Quero ir a Arizona, mesmo ao centro da região que se estende entre os rios Salt e Gila, nas proximidades dos limites que separam Arizona do Novo México — respondeu Rebeca, sem titubear, francamente.
— Co'os diabos! Em pleno território «apache»...! — exclamou Clinton, afastando o copo de uísque, que tinha já na boca.
— Ninguém quererá acompanhá-la, não tenha dúvidas. Aquilo é o inferno com as letras todas. E, ainda por cima, os «apaches» são piores que os demónios — afirmou Slater.
— Nada, ninguém me impedirá... Tenho de ir ao planalto do Mogolão. Encontra-se lá o cadáver de meu pai e quem sabe se descobriremos o tesouro que também as areias do deserto escondem — insistiu Rebeca.
— Quando morreu seu pai? — perguntou Clinton.
— Não sei bem... Há mais de dois anos que esteve nesta aldeia com outros dois professores da Universidade de Pensilvânia. Iam em dois carros e levavam quatro mestiços como guias. Sei que chegaram a «Fort Combie» e que certo comandante Spencer lhes forneceu uma escolta... Depois não tivemos mais notícias deles até que, há quatro meses, um soldado encontrou vários objetos pertencentes à expedição do meu pai. Como num deles estava gravado o nome da Universidade, o comandante enviou-os aos seus legítimos proprietários.
— Onde foi que o soldado encontrou esses objetos? — inquiriu Slater.
— Numa aldeia «apache». E um dos prisioneiros disse que tinham chacinado todos os componentes da expedição.
— Não tenha dúvidas. Os «apaches» são mesmo assim.
Aonde eles caem, ninguém fica vivo... nem as serpentes cascavéis. Como sabe o sítio exato em que a expedição do seu pai foi atacada? — perguntou Clinton.
— Não sei bem, mas tenho um mapa traçado por meu pai. Quero seguir a rota que ele marcou até encontrar os restos da expedição.
— Não conseguirá o que pretende. Se tiver muita sorte, ainda chegará ao território dos índios, mas duvido que alcance as margens do rio Canadian. Não é trabalho para mulheres como a senhora, e até seria fatal para muitos homens. Além disso, ninguém há-de querer aventurar--se por essas terras, consigo ou com outra pessoa qualquer — explicou Slater.
Tenho já três carros e dois condutores para cada um deles. Contratei mais três homens que servirão de escolta. Preciso, agora, de um guia... e se forem dois, muito melhor — respondeu Rebeca.
 - Não conte connosco. Os «apaches» são autênticos demónios e aparecem quando os homens, que passam por essas terras, menos esperam. Embora o Exército esteja a persegui-los em toda a parte e os agricultores não lhes concedam um momento de repouso, há pequenos grupos espalhados pelo interior. Um desses grupos, apenas de trinta homens a cavalo, atacou «Fort Combie» e matou a guarnição toda... incluindo o comandante Spencer — afirmou Slater.
— Desde Santa Fé, em Novo México, até Fénix, capital do território de Arizona, e sem contar os «apaches», há por ali centenas de bandos de indesejáveis, e criminosos de várias categorias, ainda piores que os peles-vermelhas... e a senhora é demasiadamente bonita — acrescentou Clinton.
— Que pretende insinuar? — perguntou Rebeca, surpreendida.
— Que, para eles, «miss» Wigmore seria o melhor despojo de guerra — afirmou Slater, brutalmente.
— É impossível! Estamos nos Estados Unidos e a Lei' defende os cidadãos da República. A Lei protege-nos... — disse Rebeca.
— Nesses territórios, a Lei é desconhecida. Cada homem impõe a sua lei... e obriga os mais cobardes a cumpri-la... à força de balas. Não se esqueça... Dodge City, ao lado de outras regiões selvagens, é um verdadeiro oásis de paz e tranquilidade... Uma coisa mais ou menos parecida com o céu — pormenorizou Slater.
— Não posso desistir... Nem quero... Tenho de terminar a obra do meu pai! É um dever moral! — exclamou Rebeca.
— Isso é lá consigo... Desejamos-lhe felicidades. Vamos, Dexter — disse Slater, erguendo-se.
Deu uns passos em direção da porta. Queria respirar. Mas, ao ver os dois canos da espingarda que o filho de Huong empunhava, retrocedeu rapidamente e voltou a sentar-se. Esquecera-se, por completo, dos chineses e, na ânsia de estrangular o susto que a traiçoeira arma lhe tinha causado, encheu o copo de uísque e esvaziou-o de um só trago.
— Que aconteceu? — perguntou Clinton, que não tinha reparado em coisa alguma.
— Eu vou despertar a vossa memória... — disse Rebeca, a sorrir; — O filho de Huong vigia a porta e disparará se fugirem do restaurante sem ter pago o jantar.
— Mas a senhora disse que pagaria tudo! — exclamou Slater.
— Disse, não há dúvidas... no caso de anuírem à minha proposta. Hão-de compreender que não estou disposta a pagar as despesas feitas por dois simples desconhecidos — volveu Rebeca, a sorrir, mas não como os chineses. Era um sorriso calmo e sincero.
— Por essa é que eu não esperava! -- apostrofou Clinton. — Com mil raios!
-- Acautelem-se, digo-lhes eu, pois estão a apontar uma espingarda para os matar, ali, da porta da cozinha, e creio que os chineses disparam com muita facilidade. Que horror! — preveniu a rapariga.
Clinton voltou-se e gemeu aflitiva e prolongadamente, ao ver as ameaçadoras espingardas de dois canos apontadas diretamente para as suas. costas. Nunca soube quem assestava a miserável' arma contra ele... Seria o pai, o tal Huong? Seria um dos filhos? Mistério! Para Dexter, os três chineses eram exatamente iguais.
— Entre chineses, pratos, espingardas e índios «apaches»... prefiro os peles-vermelhas. Pelo menos, ainda estão muito longe daqui — observou Slater.
— Sou da mesma opinião. Quando saímos de Dodge Cite? — perguntou Clinton.
— Amanhã de manhã. Devo, porém, avisá-los que já dormirão esta noite no meu acampamento e que sou capaz de os mandar amarrar para não fugirem — advertiu Rebeca.
— Não é preciso mandar amarrar-nos. Quando damos a nossa palavra, sabemos cumpri-la, seja como for — retorquiu Slater, com a maior seriedade.
- Estou certa disso — afirmou Rebeca, num acento grave e sério. — Quanto vamos ganhar, patroa? — perguntou Clinton.
— Duzentos dólares por mês. Sim, é um pouco mais do que ganhavam a conduzir manadas — declarou a jovem, que sabia já muito bem quanto era o ordenado dos vaqueiros.
— Sim, é quase três vezes mais... Não se esqueça, porém, dos «apaches». Valem um dinheirão! — disse Clinton.
— Bem, já nos podemos retirar; a não ser que ainda queiram comer alguma coisa — disse a rapariga, deixando umas notas em cima da mesa.
— Eu não quero mais nada. Só gostaria da garrafa de uísque. Tenho a garganta cheia de pó, de terra... nem já sei há quantos dias e receio que vá ter mais pó e mais terra na garganta antes de tirar a porcaria que está encafuada nesse maldito corredor... O uísque é o melhor remédio para semelhantes enfermidades — respondeu Clinton, com a garrafa já bem segura.
Huong apareceu logo, desdobrado em reverências muito especiais, dedicadas ao solene ato de receber dinheiro. O chinês instituíra três graus de reverências. Primeiro grau — reverências para atender os clientes: várias incli-nações do tronco até à cintura. Segundo grau — reverencias para anotar os pedidos dos clientes: simples movimentos de cabeça e alguns «breves» sorrisinhos. Terceiro grau — reverências de «receber dinheiro», nas quais participavam todos os músculos do seu magro corpo, desde os músculos da cabeça até aos dos tornozelos... E, ao receber o dinheiro, estremecia como um pudim de gelatina.
— Boas noites, senhores; boas noites, «miss» Wigmore — desfez-se o chinês em cumprimentos de despedida.
— Talvez voltamos a estar na presença um do outro, muito brevemente — comentou Clinton em voz baixa, ao sair do restaurante.

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

PAS795. A noite negra

Os homens estavam absolutamente exaustos depois de violenta marcha sob aquele sol arrasador. Vagas de intenso calor brotavam da ardente terra do deserto.
O sargento Miller, da Cavalaria dos Estados Unidos, estava furioso. Furioso com o comandante Spencer, de «Fort Combie», que o nomeara chefe da escolta. Furioso com os três professores da universidade de Pensilvânia que incorreram na estupidez de penetrar em território «apache». Furioso com o sol, o calor, a areia, o suor e a imundície.
Estava, igualmente, furioso consigo mesmo por ter obedecido à absurda ordem do comandante Spencer. Seria, na verdade, sensato se não acatasse a referida ordem. Na pior das hipóteses, compareceria num conselho de guerra a fim de ser julgado pelo crime de desobediência ou por insubordinação, e seria condenado a cinco anos de prisão militar — o que não era agradável.
Por outro lado, obedecendo como um carneiro à disparatada ordem de proteger a expedição dos três professores da universidade, tinha amarrado uma corda em volta do pescoço.
Uma corda que os índios se encarregariam de apertar e puxar. O sargento Miller sabia que, ao acatar a ordem do comandante Spencer, lavrara a sua sentença de morte e, também, a dos oito soldados do pequeno destacamento.
O sol do meio-dia caía a prumo sobre os cavalos e os pesados carros, fazendo ranger os toldos de lona. As camisas dos soldados pareciam engomadas, tanta quantidade de suor e pó se aderiu a elas.
— Estou farto deste sujo deserto! — resmungou um homem chamado Lee.
— Isto não se pode chamar deserto. É o inferno sem tirar nem pôr. Estamos rodeados de areia, poeira, terra seca, desfiladeiros, canhões, nascentes de água quase inacessíveis... e serpentes da raça cascavel! — acrescentou outro de apelido Jackson.
— Compreendo, agora, por que ninguém descobre os esconderijos dos índios — disse um terceiro soldado, de nome Marks.
— É melhor estarem calados! — advertiu, secamente, o sargento que ia à frente da pequena coluna.
Os oito soldados de cavalaria e o sargento abriam a marcha. Atrás, seguiam os dois carros, conduzidos por mestiços que os professores contrataram na aldeia de Dodge. Eram quatro homens que o sargento, se pudesse, teria enforcado imediatamente, ou, não encontrando árvores, fuzilado com o maior prazer.
Quatro mestiços cuja presença o diabo não queria no inferno e, contudo, os professores da universidade de Pensilvânia pagavam-lhes cento e cinquenta dólares mensais, além da alimentação e das bebidas... e eles bebiam mais do que comiam.
O sargento Miller estava plenamente convencido de que os mestiços eram assassinos e aguardavam, apena-, oportunidade de os matar a todos.
Confessara as suas suspeitas ao professor Herbert Wigmore, chefe da expedição. O professor não tomou o caso a sério, e riu.
— Não seja pessimista, sargento. Contratámos os mestiços em Denver e atravessámos com eles parte do Kansas, o território índio e todo o Novo México. Se quisessem, já nos tinham assassinado — disse o professor Walter Chambers, que se encontrava ao lado do colega.
O sargento Miller não se atreveu a dizer que havia um deus especial a proteger os loucos, os bêbados e os apaixonados... mas ele decidiu ter os índios sob a mais estreita vigilância.
O terceiro professor da expedição chamava-se Ronald Murrow e, como Wigmore e Chambers, só abandonava o carro não havendo outra solução.
Wigmore era professor de História; Chambers, de Arqueologia e Murrow, de Literatura.
Tinham já todos cinquenta anos e realizavam, nessa altura, a primeira expedição... Segundo Miller, também a última.
Apesar do calor selvagem, os professores continuavam a vestir-se como na cidade, incluindo os chapéus altos, dos chamados «tubo de chaminé».
Herbert Wigmore usava óculos de arcos de metal e sempre os colocava na ponta do nariz. Quando falava com os colegas ou com Miller, olhava por cima dos vidros. Chambers era um homem pequeno, magro, de barba esbranquiçada que acariciava continuamente. Murrow, alto e excessivamente escanzelado, causava sempre a impressão de passar fome.
Desde a partida de «Fort Combie» a cem milhas a oeste de Santa Fé, em Novo México, o sargento Miller perguntava a si mesmo que diabo estariam aqueles três malucos a procurar, pois o sargento havia chegado a esta conclusão: tinham perdido de todo o juízo. Não estavam apaixonados, visto serem já velhos e, durante os dois meses de convivência, nunca os vira beber. Todas essas circunstâncias levavam Miller a afirmar que não podiam deixar de ser loucos, dada a proteção que o deus desconhecido lhes dispensava, dia e noite.
Vira-os a cavar no deserto, sob aquele sol de matar vacas... e eles não sofreram nem sequer ligeira insolação. Também os vira a caminhar por entre serpentes cascavéis e nenhuma delas ousou morder-lhes.
— É o que eu digo... Os loucos, os bêbados e os apaixonados... são sempre especialmente protegidos pelo deus que só eles conhecem — murmurava" Miller.
Naquele meio-dia abrasador, quando os cavalos estavam quase a desfalecer, o professor Wigmore, os óculos a oscilar na ponta do _nariz, saiu do segundo carro e, tirando uns binóculos militares do estojo, examinou atentamente o terreno.
Depois, chamou o sargento que se apressou a voltar o cavalo a fim de se colocar ao lado do carro.
— Às suas ordens, professor — disse, erguendo os dedos até à pala do poeirento boné.
— Acamparemos além. Creio estarmos no local indicado — respondeu o professor, apontando para uma depressão de terreno.
O sargento Miller julgou que o sol estava a pregar--lhe valente partida... pois, a cinco milhas de distância, estendia-se um amplo vale rodeado de altos penhasco, e rochas escarpadas.
Quando se aproximaram, meia milha se tanto, Miller verificou que a zona leste do vale era constituída por alcantilada muralha de pedras avermelhadas, na qual se rasgava longa série de enormes fendas, semelhantes a aberturas de covas.
No vale, havia uma nascente de água, límpida e fresca, algumas árvores e ervas a crescer em redor da nascente. O vale era um oásis no meio do deserto.
Se o sargento Miller fosse entendido em tais questões, saberia que se encontrava numa região limitada pelos rios Salt e Gila, próxima da fronteira entre os territórios, do Arizona e Novo México.
Não podia adivinhá-lo, porque a expedição chegara ao vale procedente do Norte e o que ele chamava deserto, era apenas o vasto planalto do Mogolão.
Encontravam-se no Arizona e a mais de trezentas milhas da aldeia menos distante, em pleno coração do território índio.
Acamparam nas imediações da nascente e o sargento estremeceu ao ouvir o professor Wigmore.
— É necessário procedermos a escavações à volta da muralha situada a leste. Creio que essas aberturas correspondem a casas construídas por algumas tribos de índios.
— Podem informar-me do que estão à procura? perguntou o sargento, enquanto os seus homens examinavam o terreno.
— Um tesouro, Miller, um fabuloso tesouro que todos os museus do mundo gostariam de possuir — afirmou Morrow.
Um tesouro? O mais certo é encontrarem um montão de ossos! — declarou Miller, resmungando.
— Está enganado. Logo à noite, explicar-lhe-ei tudo, pormenorizadamente. Não iniciaremos as escavações hoje — disse Wigmore.
O sargento encolheu os ombros... Se aqueles três maníacos pensavam ficar eternamente no deserto, era uma felicidade terem escolhido esse vale e não um antro de serpentes.
Os mestiços começaram a descarregar os carros e ergueram uma grande tenda de lona para os professores descansarem.
Os soldados de cavalaria desencilharam os cavalos, deram-lhes de beber e prenderam-nos, depois, uns aos outros. O sargento nomeou dois homens para montarem a guarda.
— É preciso ter os olhos abertos, rapazes. Quero regressar a «Fort Combie», o mais depressa possível... e vivo.
— Índios... Índios até debaixo das pedras... Não é verdade, sargento? — perguntou o soldado Lee, conhecedor daquela parte do território.
— Sim, índios «apaches». Amanhã, construiremos uma espécie de fortim, junto da muralha situada a leste. Precisamos de um reduto em condições de repelir o ataque dos índios — retorquiu Miller.
— Mas eles atacarão? — perguntou um dos soldados.
O sargento olhou para ele demoradamente, como se estivesse na presença de um rematado imbecil. Depois, fixou a sua atenção em Lee e perguntou-lhe:
— Quem é o estúpido que pretende saber se os índios atacam ou não?
— Não o conheço, sargento. Com certeza é algum protegido do comandante. Spencer — respondeu o soldado, muito sério.
— Pois faça favor de lhe explicar a espécie de anjinhos que são os índios... e pergunte-lhe, também, para onde enviaremos as suas roupas e mais coisas quando morrer... porque um indivíduo tão estúpido como ele, será o primeiro a cair morto — disse o sargento, afastando-se a largos passos.
Um dos mestiços principiou a fazer o jantar e, depois de o sol ter desaparecido além dos rochedos avermelhados, foi acesa uma enorme fogueira a seis metros da nascente.
Miller colocara sentinelas à volta do acampamento, embora soubesse perfeitamente que os índios não atacavam de noite, mas pensou na provável existência de outros inimigos naquela desértica solidão, sem contar os peles-vermelhas.
— Depois de andar tanto a cavalo, é agradável descansar e pensar que a sela tem tempo de arrefecer — disse Miller, quando o cozinheiro serviu o café.
— O senhor e os seus homens terão oportunidade de repousar algumas semanas, sargento. Encontrando ou não o que procurámos, procederemos a escavações — asseverou Morrow.
— Bem, Miller. O comandante Spencer foi bastante amável em proporcionar-nos uma escolta e, embora ele conheça a natureza da nossa expedição, o senhor ignora-a. Por isso, vou elucidá-lo a esse respeito e, assim, poderá, também, esclarecer os seus homens — começou Wigmore a dizer, descendo os óculos para a ponta do nariz.
— Estou a ferver de curiosidade! — exclamou Miller, que, de facto, não se interessava nada pelo assunto.
A sua única preocupação eram os índios e os mestiços. Os índios poderiam cair sobre eles inesperadamente e exterminá-los antes de prepararem qualquer defesa.
Toda a fronteira sul, a partir do rio Gila até Laredo, constituía a zona mais perigosa dos Estados Unidos. Os índios tinham empreendido uma guerra de extermínio e eram comandados por homens tão famosos como Cochise, Jerónimo, Manuelzinho, «Mangas Coloridas» e Vítor.
Arizona, Novo México e Texas surgiam como verdadeiros infernos. O destruidor vento da morte varria, frequentemente, extensas superfícies desses territórios, deixando, apenas, ruínas fumegantes, cadáveres estendidos ao sol e campos devastados.
Por causa da revolta das tribos apaches, o comandante Spencer, cumprindo ordens de Washington, dispensara nove dos seus homens e, embora Miller o ignorasse, também ele, comandante, estava furioso com esses três doidos que se metiam, jubilosamente, no centro da região mais temível.
Spencer, contudo, não podia negar-lhes auxílio, pois os citados professores eram personalidades célebres. Quando o comandante lhes expôs a questão, limitaram--se a encolher os ombros e a dizer:
— Iremos sem escolta. Não precisamos de semelhante coisa.
O comandante poderia, se quisesse, fechar os três sábios em qualquer calabouço do forte, mas não ousou fazê-lo. Desejava subir de posto e nomeou o sargento Miller chefe da reduzida escolta, sob' as ordens diretas dos professores. Escolheu três ótimos cavaleiros e, depois, outros cinco menos hábeis, porque não estava disposto a perder nove homens de extraordinárias qualidades. E pensou que bastavam, apenas, quatro.
Seguramente o sargento teria assassinado o comandante, se tivesse podido desvendar os seus pensamentos mais íntimos, porque Spencer, vendo partir a insignificante expedição para o sul, quis chamar o tenente-tesoureiro e dizer-lhe que poderia riscar os nomes daqueles nove homens.
O comandante, na realidade, já os considerava mortos... mortos e enterrados em qualquer lugar do sul. Spencer era um homem duro, mas angustiava-o a ideia de enviar os seus soldados para a morte inevitável, sem possibilidade alguma de sobreviver.
— Já ouviu falar da Noite Triste? — perguntou o professor Wigmore.
— Tenho conhecido muitas noites tristes, professor. Noites de licença, com as algibeiras limpas, porque desbaratei o ordenado a jogar o «poker». Sei o que significa a noite triste asseverou Miller, francamente.
— Refiro-me à Noite Triste da História, a noite em que os espanhóis foram expulsos da cidade do México pelos astecas... — elucidou o professor.
Miller atirou o chapéu para a nuca e, depois, de coçar, furioso, a cabeça, redarguiu:
— Não faço a menor ideia. Sucedeu importante?
— Deve saber que há séculos, os espanhóis, comandados por Fernando Cortez, conquistaram o México...
— Hum! — resmungou o sargento, como a afirmar conhecimentos históricos.
— ...Apoderaram-se de enormes quantidades de objetos de ouro, que transportaram para a cidade do México. quando os astecas atacaram, os espanhóis abandonaram a cidade, levando esse tesouro imenso. Todavia, dos mil e trezentos homens, salvaram-se, apenas, quatrocentos e quarenta. Os restantes, pereceram na luta ou foram sacrificados aos deuses astecas. Estes factos ocorreram na noite de um de Julho de mil quinhentos e vinte -- explicou o professor.
— Já há algum tempo — comentou Miller, a perguntar a si mesmo que diabo teria ele com os espanhóis, os factos ocorridos há tantos anos e os seus problemas atuais.
— Um capitão, Álvaro de Bazan, com uns doze homens e um pesado carro, logrou descobrir o caminho do norte, auxiliado por uma índia. Nunca se conseguirá saber como pôde alcançar esta parte do Arizona. A verdade, porém, é que chegou... e no carro ia o tesouro. Volvidos muitos anos e prosseguindo as investigações, os meus colegas e eu reunimos os elementos possíveis, e Morrow fez uma viagem à Espanha para obter mais informações. Resumindo: o tesouro dos astecas encontra--se neste vale... ou nas imediações.
— Há trinta anos, cinco indivíduos assaltaram um banco e levaram lingotes de ouro avaliados em cinquenta mil dólares... e ainda estão à procura do ouro. Se os senhores esperam descobrir o tesouro roubado há trezentos e cinquenta anos...
— Trezentos e cinquenta e seis — corrigiu Chambers, maníaco da exatidão.
— Garanto-lhes: os senhores são os homens mais varridos de juízo que tenho conhecido na minha atormentada vida e se me tivessem esclarecido a esse respeito em «Fort Combie», desertaria ali mesmo, para não mais ser visto. Também devo dizer-lhes que não explicarei nada aos meus homens, pois deixariam de me respeitar. Boas noites — disse o sargento, afastando-se da fogueira.
Dera, apenas, seis passos quando se voltou, e os surpreendidos professores ouviram o sargento Miller dizer:
— E apaguem a fogueira imediatamente, pois não quero que se descubra o nosso acampamento. Os doidos à solta aqui, chegam muito bem para irmos direitinhos ao inferno.
Afastou-se, depois, a fim de se reunir aos seus homens e, enquanto caminhava a largos passos, ia murmurando: _
 — Noite Triste... ouro dos astecas... trezentos e cinquenta e seis anos... doídos varridos... sim, senhor, doidos... Maldito comandante Spencer... Gostaria de o ver metido nesta complicação.
Quando adormeceu, teve inumeráveis pesadelos... mas, já de pé, continuou a tê-los, pois viu logo os professores e os quatro mestiços a escavar junto da muralha situada a leste.
Miller deu uma série de ordens relativas à construção de uma espécie de parapeito no local mais indicado, do qual pudessem dominar, perfeitamente, a maior extensão de terreno em volta.
Decorreram seis dias, sem qualquer novidade. Mas na manhã do sétimo dia, o professor Wigmore chamou o sargento e, mostrando-lhe um capacete cheio de terra, disse:
— Sabe o que é isto?
— Pode ser muitas coisas, desde uma panela até uma armadilha para caçar esquilos — respondeu Miller, examinando, fugidiamente, o objeto que o professor lhe mostrava.
— É um capacete... um capacete igual aos dos homens de Cortez, e essa descoberta demonstra que estamos no bom caminho — explicou o professor, cujos pequenos olhos míopes brilhavam de satisfação.
— Bem, se encontrar mais algum, não venha incomodar-me. Parece-me que os «apaches» andam próximos daqui... tão próximos que não nos podemos sentir em segurança.
— Se aparecerem, falarei com eles — afirmou o professor, muito sério.
O sargento Miller não lhe quis dizer que, se os índios aparecessem, nem ele, nem qualquer outra pessoa poderia falar muito. A única solução seria combater à maneira de verdadeiros diabos, em defesa das próprias vidas.
Ao entardecer, o professor Morrow encontrou um pequeno ídolo de ouro puro e os três homens deram saltos de alegria. Naquela noite pouco dormiram, passando o tempo a examinar o ídolo e a trocar impressões.
O sargento Miller coçou novamente a cabeça, a pensar... Talvez tivessem razão. Ali poderia estar escondido um tesouro. Por esse motivo, na manhã seguinte, quando recomeçaram as escavações, Miller foi assistir aos trabalhos dos professores.
— Se não me engano, o mestiço disse que o café, o presunto frito e os pães já estão prontos — disse Miller, chamando a atenção dos professores que se tinham levantado de madrugada e, sem se levarem, nem comer nada, principiaram, imediatamente, a escavar.
— Temos de proceder com serenidade. O ídolo encontrado ontem é astecas, mas talvez tenha sido roubado por algum homem de Bazan e o tesouro esteja noutro sítio — afirmou Wigmore, sacudindo a terra das mãos.
— Sim. A verdade, porém, é que seguimos a autêntica pista — comentou Morrow.
— Tenho fome — insistiu Miller.
Os quatro homens regressaram para junto do carro, próximo do qual ardia a fogueira que servira para preparar o café. À volta, encontravam-se os mestiços e os seis soldados livres de serviço, pois os outros montavam a guarda.
Quando o sargento Miller levantava a fumegante caneca de latão cheia de café, ouviu um ruído seu velho conhecido: o peculiar silvo da flecha ao desprender-se do arco, e, depois, o desagradável «chop» produzido ao cravar-se na carne.
Nas costas de um dos mestiços aparecera a flecha. O ferido lançou um arrepiante grito de agonia e caiu de bruços, mesmo em cima da fogueira, espalhando nuvens de faúlhas... Mas ninguém pôde socorrê-lo porque o inferno desencadeou toda a sua fúria no acampamento.
Nenhum homem de Miller conseguiu alcançar o improvisado fortim, junto da muralha situada a leste. Os dois soldados reuniram-se, instintivamente, à volta do chefe e apontaram os revólveres.
— Fogo, rapazes! Fogo sem parar! — ordenou Miller.
Uma flecha atingira o professor Wigmote ao meio do peito e morrera sem poder falar com os índios. Os peles-vermelhas arrastaram-se até às imediações do acampamento, a fim de utilizaram a proteção oferecida pelos acidentes do terreno e os que possuíam arcos serviram-se deles, mas descoberta a presença dos índios, estes mudaram de tática.
Ouviu-se enorme gritaria atrás de um pequeno planalto e Miller compreendeu perfeitamente o que iria acontecer. Mais de trinta «apaches», montados em velozes e resistentes cavalos, atiraram-se contra os brancos.
Os soldados ergueram os revólveres e começaram a disparar. Alguns índios foram arremessados ao chão, mas os restantes caíram sobre eles, como irresistível avalanche.
Uma bala no ventre fez o professor perder o equilíbrio e, ao pretender levantar-se uma lança «apache» atravessou-lhe o peito, cravando-o na terra. Morrow, seu colega, morreu com uma bala na cabeça.
Morreram todos, em poucos minutos. Apenas o sargento Miller, completamente ensanguentado, continuava a disparar o revólver. Apoderara-se, primeiro, da arma de Lee e depois utilizou a de Marks. Mas, ao inclinar-se para apanhar o revólver do homem que lhe perguntara se os índios atacariam, um pele-vermelha destroçou-lhe a cabeça com a coronha da espingarda. Os «apaches» apoderaram-se das armas e de tudo quanto, para eles, tinha algum valor; incendiaram, depois, os dois carros e levaram os cavalos.
Deixaram, apenas, cadáveres e colunas de fumo negro. A destruição e a morte estenderam-se no pequeno acampamento dos homens que procuravam o tesouro. A universidade de Pensilvânia perdera três sábios professores e o comandante Spencer podia eliminar nove homens da folha de pagamentos.

domingo, 22 de outubro de 2017

BIS142. Tem de morrer um homem

 
(Coleção Bisonte, nº 142)


Os espanhóis, comandados por Fernando Cortez, conquistaram o México, e apoderaram-se de enormes quantidades de objetos de ouro, que transportaram para a cidade do México. Na noite de 1 de Julho de 1520, quando os astecas atacaram, os espanhóis abandonaram a cidade, levando esse tesouro imenso. Todavia, dos mil e trezentos homens, salvaram-se, apenas, quatrocentos e quarenta. Os restantes, pereceram na luta ou foram sacrificados aos deuses astecas. Um capitão, Álvaro de Bazan, com uns doze homens e um pesado carro, logrou descobrir o caminho do norte, auxiliado por uma índia. Nunca se conseguirá saber como pôde alcançar o Arizona. A verdade, porém, é que chegou... e no carro ia o tesouro. Mas a sua caminhada terminou em território apache e o tesouro para ali ficou.
Volvidos muitos anos e prosseguindo as investigações, alguns professores reuniram os elementos possíveis, e iniciou uma expedição para descobrir o tesouro a qual foi dizimada pelos índios. Rebeca, filha de um desses investigadores, resolveu procurar o local em que o pai tinha sido morte e reúne nova expedição. Nesta, para além de três perigosos salteadores, incluiu dois valentes vaqueiros, alguns mexicanos e um pistoleiro que procurava fazer justiça relativamente a quem tinha cometido atos cobardes perante a sua família.
Eis uma novela bem contada de Henry Keystone que reproduziremos no «Novelas»

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

BUF149. A vida é um jogo

 
(Coleção Búfalo, nº 149)
Jogador... pistoleiro... brigão e... amável.
Desta vez, o rodapé da capa diz tudo acerca do livro. O homem que não é intrinsecamente mau e, num assomo de consciência, abandona os que o acompanham numa vida violenta e desonesta e apoia os que lutam por uma sociedade ordeira onde a lei é um apoio para todos e não apenas a expressão do mais forte.
Ricky Dickinson é um autor com 24 registos em Portugal, todos em livros da APR.
A capa, não assinada, parece uma magnífica expressão da utilização diferenciada da luz.

quinta-feira, 5 de outubro de 2017

BUF145. O proscrito

 
(Coleção Búfalo, nº 145)
 
Era um homem perseguido por ter morto um oficial do exército vencedor e, desde então, toda a sua vida se tinha mantido graças à sua destreza com as armas. Um dia, resolveu voltar à sua terra e comoveu-se com as recordações dos tempos passados enquanto crescia, tempos em que fora feliz e em que nada lhe anunciava a triste vida que levava.
Reencontrou a mãe e a irmã e voltou a matar por esta ter sido abandonada por um indivíduo sem escrúpulos. Foi ferido e os favores de um criador de cavalos permitiram-lhe resistir e recuperar. As filhas deste enamoraram-se dele e, quando quis partir, o apelo do amor foi mais forte.
Trata-se de uma novela de Fred Dennis que mostra como aquele sentimento pode derrubar todas as barreiras, embora torne transparente que o vil metal pode comprar muitos daqueles em quem confiamos... A honra e a traição estão, aqui, sempre presentes.

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

BUF144. Ninguém morre por capricho

 
(Coleção Búfalo, nº 144)
Este livro é mais uma vez sobre a rivalidade entre vaqueiros e ovelheiros desta vez atravessada por um estranho pacto entre um rancheiro e um possuidor de rebanhos que se conluiaram para se apoderar de toda a região.
Os planos sairam-lhe furados por causa de uma corista amante do ovelheiro a qual detestava o traidor à causa dos rancheiros. Acabaram por se matar um ao outro na refrega final entre as duas classes de produtores...
A capa, não assinada, e num estado lastimoso mostra uma jovem a amparar a cabeça do pai no final da refrega. Mal ela sabia que ele era o traidor à causa dos rancheiros...