domingo, 29 de junho de 2014

PAS341. Encontro no cemitério



O cemitério de «Plata» era um pequeno recinto sobre um planalto próximo da aldeia. Alguns cidadãos escrupulosos com a última morada dos familiares tinham rodeado o vasto terreno com uma tosca cerca. O pequeno carro de Danner ia à frente, carregando com o negro ataúde onde repousava Ben. Atrás, a pé, Brett, Marcus, Niky, Luke e Asherson caminhavam silenciosamente.
Ninguém se atrevia a fazer companhia à família, mas muitos curiosos seguiam da vila a marcha da comitiva encosta acima. Todos tiraram o chapéu quando atravessaram a parta de ingresso. A brisa do crepúsculo agitou os cabelos brancos de Brett O'Malley e os caracóis louros de Niky. Danner, completamente de negro e mais solene do

que nunca, desmontou o ataúde, auxiliado por Asherson e Marcus.
De repente, todos se detiveram, rígidos e surpreendidos. Na porta do cemitério recortou-se uma silhueta a que a obliquidade dos raios solares emprestavam uma forma fantástica.

Brett apertou os lábios, até se tornarem numa linha rectal. Olhou as botas, as bainhas brancas das calças negras, a camisa de igual cor, o rosto pálido ainda tumefacto devido aos golpes recebidos no dia anterior. Nas mãos agitava-se um chapéu impecável.

Frank Daly ou Fess Dobson, como até então era conhecido, olhou todos alternadamente. Relanceou a vista sobre Asherson, que segurava as argolas do caixão; Marcus que não tinha modificado a expressão; Donnes, que desejava que a terra se abrisse sob os pés; Luke, crispando a fisionomia com um ódio animal; Brett, arrogante, duro, feroz. Finalmente olhou para Niky, em cujos olhos obscuros perpassou um raio de ódio intenso.

— Lastimo este encontro. Não o desejava— disse dirigindo-se a todos em geral.

— Por medo? — silabou Luke, com as mãos próximas das armas.

Frank limitou-se a sorrir palidamente.

O mais novo dos O'Malley encrespou-o:

— Diga, assassino!

— Luke! — interrompeu Brett, geladamente. O velho nem sequer olhou para o filho, mas este calou-se ainda que mantivesse a expressão de ódio.

-- Vá-se embora, Dobson. Não desejo nada de si... Venho enterrar o meu filho, assim como você vem enterrar o seu irmão.

— Sim, nisso estamos de acordo. Sobre a minha agressão e...

— Nada sei sobre isso!... — Brett parecia um bloco de gelo. — Investigue, mas não se equivoque no caminho, Dobson.

-- Sei quem foram os autores. E o meu nome já não é Dobson. Esse morreu quando assassinaram o meu irmão e Luke e Asherson me assaltaram.

— Mente! — rugiu Luke, dando um passo em frente. O velho voltou-se bruscamente. A sua mão sólida, bronzeada, desferiu uma violenta bofetada nos lábios do filho. Luke, lívido, retrocedeu, cambaleando. Um fio delgado de sangue escorreu pela ferida aberta nos lábios e o mesmo ódio animal de há pouco tornou a espalhar-se nos seus olhos, depois cio gesto do pai. Sob o olhar severo deste, inclinou a cabeça.

— Disse-te para te conservares calado — disse Brett calmamente. Tornou a voltar-se para Frank:— Não aceito as suas desculpas, Dobson, Daly, ou lá o que é. Qualquer possível acordo entre nós acabou quando matou Ben. A morte de Harry foi um acidente. A de Ben, não. Você foi deliberadamente ao povoado para matá-lo; o sangue dos O'Malley nunca fica impune e você será castigado; apelarei para todas as minhas energias e não terei escrúpulos de espécie alguma enquanto não o matar. Por enquanto estamos em paz, Dobson, mas quando o último grão de terra cair sobre o caixão de Ben, a guerra estalará entre nós. Quando voltarmos a ver-nos de frente, um de nós sucumbirá. Agora, Dobson, retire-se e recorde-se: os O'Malley nunca perdoam. Frank Daly colocou o chapéu atando-o ao pescoço. Olhou para todos, demorando um segundo em Niky que era imagem viva do ódio. Frank inclinou a cabeça.

Passou entre eles, seguindo pela colina abaixo. Luke pensou como era fácil puxar o revólver, apertar o gatilho e... Mas um olhar fixo nele, pareceu adivinhar o seu pensamento. Quando entraram no cemitério, o seu irmão Marcus observava-o por cima do negro caixão. Nada disseram, mas Luke pressentiu que Marcus «soubera» o que ele tinha pensado.

Em silêncio, todos penetraram no cemitério. Em baixo, Frank Daly observou pela última vez a cruz que despontava sobre o muro branco. Com a fisionomia inexpressiva, subiu para a sela e partiu a trote.

(Coleção Califórnia, nº 5)

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