sexta-feira, 20 de junho de 2014

PAS327. Declarada inocente


O Juiz, pálido e suado, levantou a cabeça sobre a secretária. O Presidente do Júri fez o mesmo. Ambos pareciam mortos. Trocaram um tímido olhar de inteligência e o Presidente gaguejou:
— Ino... Ino... Ino... Inocente!
— Inocente — sussurrou Irina, enquanto as lágrimas lhe enchiam os olhos — . Inocente!
Reg aproximou-se lentamente dela. As suas mãos compridas e duras, mãos que pareciam feitas para lutar, acariciaram suavemente os cabelos da jovem. E ela apertou essa mão entre as suas, frenética e desesperadamente, e Reg notou como pela sua pele corriam as lágrimas da jovem.
Os agentes do xerife estavam recolhendo os cadáveres e procurando dominar o tumulto. Apesar da confusão tinha-se aberto um corredor, desde a teia até à porta, para que Irina pudesse sair livremente. Quando a rapariga olhou o fundo da sala, e compreendeu que ali estava a liberdade, quase não o quis acreditar. As suas lágrimas tornaram-se mais intensas e também mais doces. Porque agora, ao seu lado, tinha o homem que amava.
— Iremos recolher a filha de Márcia e sairemos imediatamente da cidade — murmurou Reg, pensando que o problema da sua falsa personalidade ainda não estava resolvido — . Precisamos de actuar com a máxima rapidez. Já fiz aqui tudo o que tinha a fazer.
Mas Reg Spencer ainda tinha que sofrer outra violenta surpresa naquela manhã. Não sairia tranquilamente para a rua como tinha pensado. Porque junto da porta esperava-o o homem da barba branca. O homem que vestia de luto.
— Não esperava encontrar-me mais, Reginald Spencer? -- murmurou, olhando-o fixamente.
Reg deteve-se. Aquele homem tinha chegado a ser um enigma, uma obcecação para ele. Afastando um pouco Irina, para o caso de haver luta, perguntou:
— Como sabe quem eu sou? E quem diabo é você, se acaso tem nome?
O homem continuava a olhá-lo intensamente, mas de uma forma muito estranha. Reg teria jurado que tinha os olhos húmidos.
— Sou o vice-governador deste Estado, embora ainda ninguém me conheça em El Peso, visto ter sido nomeado há poucos dias. Reconheci-o e sei o seu nome por um álbum de desenhos de antigos condiscípulos do meu filho. E quanto ao meu nome, meu amigo... chamo-me Robert Sherman. Sou o pai de Bud Sherman.
(Coleção Califórnia, nº 1)

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