quinta-feira, 19 de junho de 2014

PAS325. A hóspede do quarto 13


Reg chegou a um pequeno corredor onde havia oito quartos, quatro de cada lado. O último tinha o número 13.
Bateu suavemente à porta. Não obteve resposta.
Voltou a bater e como não ouvisse qualquer ruído, empurrou a porta. O quarto estava às escuras. Dentro sentia-se o cheiro a perfume caro e a roupas de mulher. Um silêncio sinistro imperava na habitação. Mas não havia ninguém no quarto. Talvez a mulher tivesse saído por um momento, mas Reg não se fiava de uma explicação tão simples. Identificou o lugar onde estava o candeeiro de petróleo e acendeu-o, procurando não oferecer as costas à escuridão. Uma luz triste e mortiça estendeu-se pela habitação.
Evidentemente que não havia ninguém ali. Mas Reg, com um estranho meio sorriso, puxou pelo revólver. Tinha visto um frasquinho de perfume derrubado sobre a mesa, junto do candeeiro. Era perfume bom e fino, que valia uma montanha de dólares; tinha-o cheirado mesmo antes de entrar. E uma mulher não abandona o seu quarto deixando que se perca estupidamente o seu melhor perfume.
Reg notou então que os aposentos se compunham de duas divisões. Aquela em que se encontrava era o quarto e havia uma porta entreaberta. Reg aproximou-se, suavemente, endireitou o revólver e abriu-a de repente.
A mulher estava ali na pequena divisão que servia de roupeiro, mas não como ele tinha esperado encontra-la. Com as roupas ainda desordenadas pela luta, pendia de uma fina corda que por sua vez estava presa a uma das vigas do teto. As suas mãos estavam inutilmente crispadas, quase à altura do pescoço. Tinha os olhos abertos e olhava-o a ele, a Reg.
Lentamente, com uma espécie de fatalismo, voltou a fechar a porta. Mas aqueles que o conheciam sabiam que aquele fatalismo não era mais que essa solene calma que precede a tempestade.
A mulher tinha sido assassinada precisamente porque tinha combinado encontrar-se com ele. Alguém receara a sua traição e por isso decidira eliminá-la. Não existia a menor possibilidade de um suicídio porque os olhos experimentados de Reg já tinham captado uns quantos detalhes denunciadores.
Reg procurou refletir, porque no dia seguinte reunir-se-ia o Júri e Irina seria condenada. Foi, então, quando viu aquele papel.
Estava dobrado sob a almofada e sobressaia um pouco. Quem o pusera ali tinha-o deixado de maneira que pudesse ser visto facilmente. E só se compreendia que os assassinos o não tivessem visto pela sua precipitação. Reg estendeu o braço e agarrou o papel.
Estava escrito com letra de mulher e dizia:
«Suspeito que me pode acontecer alguma coisa. A pessoa que nos contratou, viu-nos falar esta manhã. Pode pensar, com razão, que me sinto arrependida. Aceitei o encargo de enterrar Irina, porque eu era uma mulher ambiciosa e me pagavam bem. Não sabe até que ponto o lamento agora. Mas se me acontecer alguma coisa, saiba que os culpados são...»

Aqui terminava a mensagem. As últimas palavras tinham sido escritas rapidamente. Sem dúvida a mulher tinha ouvido passos que se aproximavam do seu quarto e não tivera mais tempo além de dobrar o papel e ocultá-lo. Depois aconteceu o inevitável. E ela não falaria mais.
Reg levantou-se pesadamente, abriu a porta e saiu do quarto. O corredor pareceu-lhe repentinamente uma coisa obscura e tétrica. Dirigiu-se ao encarregado da receção que escrevia no livro de registo.
— Tem que avisar o xerife. Assassinaram a hóspede do quarto 13.
— Histórias. Não subiu ninguém...
— Talvez tenham entrado pela janela. O primeiro andar não está a muita altura. Mas a verdade é que a mulher que ocupava esse quarto foi... enforcada. Houve um minuto de angustioso silêncio. O encarregado do hotel estava tão assustado que começou a suar. Reg deu uma palmada sobre o balcão:
— Vamos! Não pode ficar quieto. Avise o xerife!
Foi nesse momento, ao voltar um pouco a cabeça, que Reg viu novamente aquele homem. Estava sentado numa zona de obscuridade e mal se distinguia, devido ao seu fato negro. Mas a sua barba branca ressaltava das trevas de uma forma um pouco sinistra. Os seus olhos também brilhavam na escuridão.
— Eu posso encarregar-me de avisar o xerife — disse o homem —. Mas, entretanto, que fará o senhor?
Reg olhou-o. Viu as suas mãos compridas e brancas. Os seus olhos profundos nos quais brilhavam chamas. Aquele homem não usava armas, mas tão--pouco as necessitava para produzir uma sensação onde o respeito se misturava com o terror.
— Vimo-nos esta mesma manhã na sala do Tribunal, se não me engano — disse Reg, procurando não perder a calma.— Perguntou-me se há muito tempo que eu atuava como promotor. Agora sou eu quem lhe vai fazer uma pergunta: Quem é e que faz aqui?
— O meu nome pouco importa — disse o homem da barba branca —. Mas se o deseja conhecer pode consultar o livro de registos do hotel. E estava simplesmente a pensar, naquele canto, quando o ouvi dizer que acabavam de assassinar uma mulher.
Uma enorme quantidade de perguntas acudiu de «mel à mente de Reg. Se aquele homem estava ali sentado há muito, devia ter visto entrar ou sair alguém, devia ter sentido algum ruído suspeito ou seria ele próprio o culpado... Mas decidiu nada perguntar. Algo lhe dizia quanto mais longe estivesse daquele homem, melhor seria. Retrocedeu um passo.
— Vou à prisão — disse —. Se foi assassinada uma mulher, não há razão para que o não seja outra. E gostaria de encontrar o culpado, por simples curiosidade: a de saber quanto chumbo pode digerir o seu estômago.
— Vá tranquilo... senhor Sherman — disse o homem da barba branca, com entoação especial, olhando-o nos olhos — . Eu me encarregarei de avisar o xerife e de lhe dar conta da sua descoberta. Desejo-lhe muita sorte na busca do assassino.
Reg nada respondeu. Na realidade, aquele homem confundia-o tanto que não sabia que responder. Deu meia volta e saiu do hotel, dirigindo-se' para a prisão com passo rápido. Encontrou esta em grande reboliço. As luzes estavam acesas e os três guardas corriam de um lado para o outro como se estivessem possuídos pelo demónio. Um deles, ao vê-lo chegar, fitou-o com olhos de visionário.
— Quem procura? Irina Wells?
Reg sentiu que algo amargo lhe percorria a garganta. Fez um gesto afirmativo com a cabeça.
— Pois fugiu! Fugiu ainda não há quinze minutos. E não temos o menor rasto dela!
(Coleção Califórnia, nº 1)

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