segunda-feira, 23 de junho de 2014

PAS331. Um punhal cravado na mão


Brenda Hunter estava sentada, com as mãos apoiadas na mesa. Um xaile de lã negra cobria as suas mãos.

-- Brenda! -- exclamou, aliviado, o sheriff. -- Está bem?

A mulher não o olhou. Contemplou Desmond com ódio... E inclinou o busto e o rosto para a mesa. O movimento deslocou o xaile. E Desmond Hunter conteve uma imprecação de raiva. Um prego atravessava a mão direita da anciã, cravando-a na mesa. A pele morena estava manchada de sangue.

Jack Blecher, fazendo um juramento, girou sobre si mesmo. A sua mão aberta chocou contra o rosto de Desmond.

-- Por tua culpa, maldito cobarde!

A pancada obrigou Desmond a retroceder, e enrubesceu na sua face a marca da bofetada. Steve Clarke lançou-se para conter o sheriff e amenizou:

-- Ele não tem a menor culpa! Deixe-o...

O sheriff sacudiu a cabeça como para se desanuviar. Clarke largou-o, e o sheriff preferiu lentamente:

-- Nunca simpatizei contigo, Desmond Hunter. Mas agora odeio-te.

Desmond aproximou-se da mesa. Brenda Hunter não estava desmaiada. O martelo jazia no solo, e Desmond pegou nele:

-- Dê-me um pedaço de madeira, alguma coisa...! Aquele livro, Clarke!

Inclinando-se, segurou Brenda por um braço.

-- Doerá, tia Brenda. Fisicamente vai-lhe doer, tia Brenda, mas pela alma da minha mãe... vai-lhe doer menos do que a mim!

Ela levantou a cabeça. As suas feições suavizaram-se, e dos seus olhos desapareceu a expressão de ódio e desdém. Disse:

-- Estou pronta, Desmond.

Steve Clarke colocou o livro sob o pulso de Brenda, e Desmond apoiou na capa a cabeça do martelo, apanhando a do prego entre as orelhas. Puxou com uma rápida torsão enquanto com a outra mão segurava pelos ombros a pobre mulher.

Levantou-a em braços, levando-a para o divã, onde a deitou. Acabou de tirar o prego da ferida. Não tinha rasgado os tendões e saiu facilmente do buraco. Pegou no álcool que Clarke lhe estendia e foi limpando, para depois ligar a mão. Al Rosen, entrando, anunciou:

-- As pegadas vão até à cantina de Parker.

-- Parker...— murmurou o sheriff.— E não sairá das montanhas antes de um mês. Não posso ir ali buscá-lo. Não posso sair do raio do condado.

Brenda Hunter abriu os olhos, mirando Desmond, sem ódio nem desdém. Desmond sorriu-lhe, acariciando-lhe a face e, pondo-se em pé, indicou:

-- Blecher vá procurar um médico e traga-o.

Encarou Steve Clarke para lhe dizer lentamente:

— Agora vai-se convencer da sua, rural. Aproveite-se. Porque vou provocar Don Parker e os seus esbirros. Coisa que o Desmond Hunter que todos conheceram não faria...

Aproximava-se da porta, quando Al Rosen o seguiu. O sheriff perguntou:

-- Onde vais, Al?

-- Com Desmond — e tirando a estrela prateada, atirou-a para cima da mesa, acrescentando: -- Estou farto de ver este rapaz lutar sozinho. Revolta-me que você o tenha esbofeteado, Jack. Vou apoiá-lo, por vê-lo enfrentar com firmeza toda a quadrilha que o envolve. Vamos, Desmond ! Já somos dois!

Galopando, lado a lado com Al Rosen, Desmond Hunter riu alegremente. Há muitos anos que não sentia aquela alegria. Por fim... tinha um amigo.

(Coleção Califórnia, nº 3)

Sem comentários:

Enviar um comentário