quinta-feira, 19 de junho de 2014

PAS324. Sedução perigosa


O cavalo tinha empreendido já um galope muito rápido através de uma planura deserta. Reg tentou moderá-lo, mas o animal não obedeceu.
— Não compreendo como sai com um cavalo tão nervoso — disse, olhando para Marcia —. Poderá dar-lhe um desgosto.
— Gosto de emoções. Deixe-o correr.
Reg soltou as rédeas. Permaneceram em silêncio enquanto o cavalo galopava. Finalmente, cansado da corrida, deteve-se, ofegante, entre duas ladeiras completamente ladeadas de pinheiros. O ar fresco da noite fazia-os sussurrar, abanando suavemente as suas copas. O rosto de Márcia emergiu lentamente das trevas como se acabasse de nascer delas. O luar iluminou primeiro metade do seu rosto e dos seus lábios vermelhos e entreabertos, até revelar finalmente as suas feições e aqueles olhos que o fitavam de uma maneira obcecante. Os seus lábios vermelhos aproximaram-se de Reg.
— Sinto uma estranha sensação, Bud. É como se acabasse de nascer agora e me encontrasse perante ti, limpa de pecado, limpa de todas as manchas que possam existir na minha vida. Creio que jamais conheci um homem como tu nem vivi uma situação como esta.
Foi Marcia quem o beijou, porque Reg não a queria beijar depois que ela lhe tinha chamado Bud, o nome do morto. O beijo de Marcia foi sábio, lento e pleno de um estranho deleite. Durante esse beijo Reg sentiu mais que nunca, a cada pancada do coração, o bater surdo do seu sangue. A mulher separou-se e os seus olhos brilhantes perscrutaram o rosto do jovem.
— Nunca havias beijado, Bud?
— Há muitos anos que não beijava uma mulher.
Marcia estremeceu.
— Não sabes o que isso significa para mim. Não sabes como sempre desejei um homem que não conhecesse o amor. 
Naquela mulher existia algo de palpitante, cálido. Reg semicerrou os olhos e então pensou em Irina, a mulher que aguardava a morte na sua cela.
— Voltemos. Nada temos a fazer aqui.
(Coleção Califórnia, nº 1)

 

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