sábado, 30 de abril de 2022

CLF057.11 Duelo de morte no povoado

A notícia correu como um foguete, por toda a rua Maior: «Mataram Evan Haskell». 

Era meio-dia e Alphens Ludlow acabava de fechar o seu escritório e dispunha-se a abandonar o Banco quando Rube Donnell apareceu afogueado, dizendo: 

— Ludlow, acabam de matar o seu cunhado, o jovem Haskell! Foi no «saloon». Clayton e Wiley entraram... houve sarilho... 

Uma ligeira contração dos músculos faciais foi toda a reação de Ludlow. Donnell, desiludido, afastou-se e continuou a correria que tinha interrompido. Atrás de Ludlow estavam ainda os dois homens que tinham trazido de fora para a sua guarda pessoal. 

Ludlow começou a pensar. Não duvidou nem um segundo que tinha sido Shannon, fora ele com certeza que tinha disparado sobre Evan, dando-lhe morte certa e rápida. Morte rápida, pensou Ludlow. E justiceira. 

Evan, servindo os seus fins ocultos, tinha-lhe sido útil para ajudar a expulsar os pequenos e modestos rancheiros do deserto. Ludlow tinha sabido descobrir cada uma das faces do irregular carácter do seu cunhado, e aproveitou as suas fraquezas como um bom marinheiro aproveita os furacões para avançar. 

Ludlow nem por um segundo sentiu a morte do seu cego aliado. De antemão sabia que Evan tinha que morrer assim, violentamente, às mãos de algum dos seus inimigos. E financeiramente falando, a morte de Evan era um negócio limpo para ele. 

Terry e Josephine herdariam de Evan, e pela parte de sua esposa entrariam nos domínios de Ludlow outros cinquenta mil acres de terra rica em pastos, além dos milhares de cabeças de gado e ainda algum dinheiro... Ludlow de repente voltou-se para os seus homens e ordenou: 

— Venham comigo. 

Os três saíram para a rua. Alguns homens corriam de um lado para outro, umas quantas mulheres comentavam excitadamente à porta de suas casas, Walter Moten saía do seu escritório ajustando o cinto com os revólveres. Ludlow chamou Moten. 

— O jovem Haskel acaba de ser morto por Shannon — disse-lhe —. Shannon não deve sair vivo da cidade. 

As notícias que Moten tinha não eram aquelas. Mas como devia o seu lugar de xerife a Ludlow, calou-se como de costume, tinha adquirido o hábito de obedecer sem replicar às ordens do seu patrão. 

Moten juntou-se a Ludlow e aos dois pistoleiros, e os quatro juntos começaram a andar pelo meio da rua. O povo olhava-os e retirava-se apressadamente para suas casas. Diante da porta do «saloon» havia um pequeno grupo de homens excitados. 

Ao aparecer o xerife, o grupo desfez-se, Shannon e Clayton ficaram sós, perto da porta. Wiley e Clayton trocaram um olhar: 

— Monta e vai-te embora — disse Wiley ao seu cunhado. 

— Não — respondeu Clayton. Tinha os lábios brancos e os olhos brilhantes —. Haskell foi o executor do crime, mas tu e eu sabemos quem estava por trás. 

— Bem — disse Wiley. 

A rua Maior tinha ficado repentinamente deserta e silenciosamente, branca e deslumbrante pelo reflexo do Sol no pó branco que a cobria. 

Wiley e Clayton saíram para o meio da rua, separaram-se e aguardaram quietos com as mãos apoiadas nos cabos dos respetivos revólveres. As suas feições sob as abas dos chapéus pareciam talhadas em granito. 

Os quatro homens que avançavam pelo centro da rua detiveram-se e afastaram-se. Ludlow estava a um extremo perto do passeio. Moten no outro extremo e os dois pistoleiros ao centro com os seus «rifles». Aos vinte passos, os quatro homens pararam, como de comum acordo. Um dos pistoleiros perguntou: 

— Atiramos? 

A resposta de Ludlow foi: «Sim». 

Os homens puxaram as alavancas dos seus «rifles». Wiley e Clayton puxaram dos seus revólveres. Moten «sacou» do seu revólver e Ludlow correu a ocultar-se atrás de uma coluna, «sacando» de um revólver que tinha oculto debaixo do braço. 

Uma bala de Clayton arrancou lascas de madeira da coluna onde se tinha ido esconder Ludlow. 

Wiley disparou rápido. Os dois pistoleiros morderam o pó da rua, Moten correu, disparando, mas deteve-se em plena corrida, atingido por uma bala disparada por Clayton, retrocedeu e caiu de costas. 

Ludlow deitou uma olhadela à rua, abandonou a coluna e correu até à próxima esquina, a qual dobrou a tempo de evitar uma bala disparada por Clayton a qual fez saltar a cal da parede. 

Clayton correu, fazendo soar os saltos no passeio, de repente, Ludlow apareceu e soaram dois tiros simultâneos... 

Clayton Tompkins pareceu tropeçar e caiu de joelhos.   

Ludlow tinha desaparecido de novo. Wiley correu pela rua, arrastando a sua perna inutilizada, chegou ao passeio e inclinou-se sobre Clayton. 

Tompkins levantou o rosto pálido. Um fio de sangue corria-lhe pela boca. Um estranho véu começava a cobrir-lhe as pupilas e com uma mão ocultava uma mancha vermelha que se ia estendendo sobre a camisa. 

— Clayton! — gritou Wiley. 

— Segue-o.., não o deixes escapar. 

— Mas... 

— Segue-o, não o deixes escapar! — gritou Clayton, furioso. 

Antes de chegar à esquina, Wiley percebeu o ruído surdo do corpo do seu cunhado que caía sobre as tábuas do passeio. Wiley sentiu um calafrio percorrer-lhe a espinha dorsal, mas não voltou a cabeça para trás. Com o «Colt» engatado na mão, saiu de um salto para o meio do beco. Não ouviu o disparo que esperava, mas ainda conseguiu ver Ludlow, que dobrava a esquina final do beco. 

Wiley começou a correr pelo beco. Ao correr, ia dando estranhos e grotescos saltos arrastando a sua perna inutilizada. Era uma coisa rara ver aquele rapaz correndo aos saltos, com o rosto transtornado e deitando fogo pelos olhos, um espetáculo que o povo de Benton recordaria por muitos anos ainda, depois do acontecimento, e que, ao recordar, todavia lhes faria sentir um estremecimento de emoção. 

Wiley, por fim chegou à esquina e parou. As probabilidades de que Ludlow voltasse por ali eram de nove contra dez, e não demorou que Wiley ouvisse passos apressados, amortecidos pelo pó que cobria o beco... 

Wiley, de repente, deu um salto, afastando-se da esquina. A menos de vinte passos estava Ludlow, que se deteve ao vê-lo e levantou o seu revólver. Dois tiros ressoaram no beco. O chapéu de Wiley voou, arrancado por uma bala de Ludlow, mas não teve oportunidade de melhorar a pontaria, pois um tiro de Wiley Shannon acabava de atravessar-lhe o coração. 


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