domingo, 24 de abril de 2022

CLF057.05 Uma oferta inesperada pelo rancho

Burt Webster foi o primeiro que, ao sair do estábulo e ao olhar para o caminho, viu o cavaleiro que se dirigia para o rancho àquela hora tão matutina. 

Webster ficou a olhar para o cavaleiro, tentando compreender o que destoava nele, até que finalmente reparou que ele montava com um estribo mais comprido do que o outro. 

Assim que identificou o cavaleiro que se aproximava, montou, em pelo, o cavalo que acabava de tirar do estábulo, e partiu a galope. Desmontou de um salto e atravessou o pátio correndo de tal maneira que, ao entrar em casa, ia chocando com a menina Haskell que vinha da casa de jantar. 

— Que se passa, Burt? Para quê tanta pressa? 

—Senhorita— disse Webster, engasgando-se. —Wiley Shannon vem em direção ao rancho. 

O lindo rosto de Josephine transfigurou-se. Primeiro pôs-se pálida, depois corou até à raiz dos cabelos. Josephine pensou no seu irmão, ausente do rancho. Mas não era só por ele que temia, era também por si. 

Apesar de tudo não era uma mulher de pedra como tinha demonstrado apaixonando-se por Shannon. A dignidade e o orgulho de Josephine tinham saído muito maltratados pelo desprezo de Wiley. Depois destas reflexões disse: 

— Está bem, Burt. Faz com que entre para o meu escritório. 

Webster que, por solidariedade com os seus patrões detestava Shannon, olhou para ela com assombro. Assentiu resmungando e saiu. 

Josephine, parando em frente do espelho do vestíbulo arranjou o cabelo com um gesto mecânico de coquetaria. Pouco depois ouvia os passos irregulares de Wiley e o resmungar mal-humorado de Webster, que conduzia o visitante ao escritório. 

— Olá, Wiley — disse Josephine, que estava de pé, com as mãos atrás das costas, balançando-se sobre os seus pequeninos pés. 

Ainda que tentasse aparentar desdém e indiferença corou de tal maneira que as suas sardas ficaram da cor do resto da pele. Seguidamente sentou-se na cadeira giratória que havia junto da secretária, estirando as belas pernas em atitude pouco feminina, enquanto lhe indicava uma cadeira para ele. —Não te queres sentar? 

— Onde está o teu irmão? 

— Procuras Evan? Não está. Terry sentia-se um pouco abandonada e Ludlow pediu a Evan que fosse uns dias para o seu rancho fazer-lhe companhia. 

—Bem, não me interessa que ele não esteja — disse Wiley, com brusquidão. Continuava em pé, com o chapéu numa das mãos e a bengala na outra. — Se é coisa de teu irmão é também coisa tua. Ele nunca fez nada sem te consultar primeiro. 

—Devias conhecer Evan, desde que fizemos três partes do nosso rancho e ele tomou parte da sua. Parece um homem diferente. De qualquer maneira, de que se trata? 

— Da nossa casa. Ou será que ignoras que um incêndio destruiu o nosso rancho? 

— Ouvi falar acerca de um incêndio fortuito... 

— Fortuito? — Wiley não a deixou acabar. — Vamos, Josephine, não te faças ignorante. Tu sabes tão bem como outro qualquer, que não foi um fogo casual o que destruiu o nosso rancho. Tu e o teu irmão foram os autores de tal facto. 

— Que dizes? — gritou Josephine, encolhendo as pernas e fazendo girar a cadeira até encarar com Wiley. — Tu estás louco? 

— Claro que estou louco! — gritou Wiley com voz mais forte ainda. — Louco de raiva e cansado de aturar os vossos golpes baixos. Como julgas que se pode sentir um homem encurralado que não vê outra saída que agarrar num revólver e sair em vossa procura para acabar de uma vez para sempre com as vossas miseráveis rixas? 

—Então, Wiley... vieste disposto a matar? 

— Vim saber o que há de certo na minha suposição, Josephine. E se fosse verdade... 

— Se nós tivéssemos incendiado o teu rancho... matar-nos-ias? Também me matavas a mim, Wiley? —perguntou, incrédula, a rapariga. 

Wiley respondeu: 

—Estás a pôr-me o pé no pescoço, Josephine. Um homem é capaz de qualquer barbaridade a partir do momento em que o desespero lhe faz perder o tino. Não sei se seria capaz de matar-te, mas creio que seria suficiente que matasse o teu irmão para que tu te arrependesses. 

— Já estiveste quase a fazer isso no outro dia, em Benton, não é verdade, Wiley? 

— Não era esse o meu propósito, mas tu avisaste o teu irmão, ele empunhou o revólver e só com muita sorte conseguiu escapar. Isso é uma prova do que pode acontecer quando alguém precipita os acontecimentos a tal ponto que cada um tem que guiar-se pelos seus impulsos sem tempo para refletir. 

— Nós não incendiámos o teu rancho, Wiley. 

Josephine mantinha o seu olhar fixo em Wiley enquanto pronunciava estas palavras, este sentiu-se inclinado em acreditar nela. 

— Tu não foste. Está bem. Mas podes afirmar que o teu irmão seja alheio a isto? 

— Posso pôr as mãos no fogo em como não foi ele. De qualquer maneira vou perguntar-lhe — como ele tentasse interrompê-la, ela enérgica, acrescentou —: vais deixar que seja eu a falar com ele, e se houver qualquer coisa do que tu estás a pensar, serás indemnizado na justa medida. — Wiley fez um gesto de assentimento e Josephine continuou: — Por outro lado, Wiley, não seria má ideia que deixasses de te meter com o meu irmão. 

— Há-de passar muito tempo antes que eu me esqueça que estive à beira da sepultura por culpa dele. E a melhor maneira de esquecer não é andar sempre a meter-se comigo. 

— Ninguém se mete contigo, Wiley. Julgas que todos estão contra ti desde que fugiste com Terry e fracassaram os teus planos de casar com ela. 

— Isso é outro assunto sobre o qual ainda não foi dita a última palavra. 

— Deixa a minha irmã em paz, Wiley, faz caso do que eu te digo — disse Josephine com acento ameaçador —. Ela agora é feliz com Ludlow, ou será dentro de pouco tempo, quando esquecer a sua deceção. 

— Terry ainda gosta de mim — protestou Wiley com voz rouca 

— Tu estás errado com respeito a Terry. Ela é tão inconstante como um catavento. Ela é volúvel, coquete e caprichosa... 

— Estás a dizer coisas que te deveriam envergonhar, Josephine. Terry é tua irmã. 

— Precisamente por que é minha irmã e a conheço melhor do que ninguém é que te digo isto, Wiley. Ludlow tem um atrativo especial para as raparigas como Terry e ela estará apaixonada dentro de pouco tempo. E se não acreditas, verás com o tempo. 

— Nisso estás tu enganada, José. Não darei tempo a Ludlow para que prove os seus atrativos em Terry. De qualquer maneira, seja como for, eu hei-de roubar-lha. 

—E Ludlow perseguir-te-á até ao fim do mundo e te encontrará. Além disso esqueces uma coisa. É muito possível que Terry não te queira seguir segunda vez numa aventura como essa. — José fez uma transição, passando da cólera e da ameaça à súplica persuasiva—. Mas que viste nela para arriscar a tua vida tão estupidamente? Terry é agora uma mulher casada o que torna mais difícil e graves as consequências de um acto desses. Há outras mulheres no mundo... 

— E tu és uma delas. Não é isso que queres dar a entender, Josephine? 

Wiley fez esta pergunta de tal maneira insultante que depois se arrependeu. Viu que Josephine corava para depois empalidecer apertando os lábios e olhava para ele furiosa, através das lágrimas que brilhavam nos seus grandes olhos. 

Com ar de dignidade ofendida, ela disse: 

— Ainda que aquilo que eu disse noutra ocasião te faça pensar que me estou oferecendo a ti, a verdade é que eu não pensava nisso agora. Já uma vez cometi o erro maior que uma mulher apaixonada pode cometer; entregar-se com docilidade e facilmente ao homem que na realidade não a pediu. Achas que tendo reconhecido o meu erro cairia nele segunda vez? 

Wiley sorriu, guardando silêncio. Ela pôs-se em pé, dizendo: 

— Na mesma noite em que te fiz a absurda confissão compreendi que nunca te teria para mim, Wiley. Poderíamos ao menos ser bons amigos? 

— Julgas que posso esquecer tão facilmente, Josephine? Julgas que posso fazê-lo? 

— Sei o que estás a pensar. Porém, o meu dever era persegui-los, alcançá-los e impedir esse casamento que não era do agrado de meu pai. 

—E entrava também nos teus deveres entregar Terry a Ludlow como esposa, mesmo contra sua vontade? Era teu dever enganar a tua irmã com a minha falsa morte para que ela mais facilmente se entregasse? 

Pálida e com os lábios apertados Josephine continuava calada. 

— Queres que esqueça tudo isto e que te perdoe, Josephine?

— Não, Wiley. Agora compreendo que não podes perdoar. 

Wiley inclinou a cabeça, voltou as costas e abandonou o escritório. Minutos depois abandonava o rancho de regresso a Benton. 

Quando regressou a Benton, Wiley encontrou o velho Shannon furioso. Wiley disse-lhe onde tinha estado. 

— Podia ter sido pior — resmungou Shannon — tinha medo de que tivesses ido ao rancho de Ludlow por causa dessa rapariga. Que tinhas que fazer no rancho de Haskell? 

— Tive uma conversa com Josephine. Negam terem sido eles os provocadores do fogo que destruiu a nossa casa. 

— Provavelmente foi um incêndio casual, Wiley. Talvez seja melhor que pensemos assim — disse Shannon. 

Naquela tarde, enquanto contratavam os serviços do carpinteiro no «saloon», Ludlow entrou no «bar» e foi direito à mesa que ocupavam os Shannon. Stuart despediu-se do carpinteiro combinando encontrar-se com ele mais tarde. Ludlow, que vestia com a sua costumada elegância, disse, sentando-se: 

— Soube que vocês estavam em Benton e não quis deixar de aproveitar esta oportunidade para tratar de um assunto de muito interesse. Shannon, tenho uma oferta para você. 

— Quere dizer que tem uma oferta sobre o meu rancho, Ludlow? 

— Bem, o seu rancho já não existe na realidade; foi isso que me deu ânimo para lhe falar no assunto. Compro-lhe o seu gado; pago-lho bem. A vocês provavelmente tanto lhes faz reedificar a casa com todos os gastos que isso representa, como agarrar nuns milhares de dólares e ir comprar o rancho noutro sítio qualquer. 

Wiley, antes de que o seu pai tivesse tempo de perguntar qualquer coisa, interrogou: 

— Por que supõe que é a mesma coisa? 

—Julgo ter ouvido dizer que o seu pai queria vender tudo e partir. Se isso fosse verdade, esta seria uma boa oportunidade de pensar no assunto. 

— Não há nada que meditar — disse Wiley, bruscamente —. Estamos bem aqui, gostamos da terra e dos vizinhos. Não queremos mudar de lugar. 

Ludlow olhou interrogativamente para Shannon. 

— Essa é a sua vontade, Shannon, ou prefere algum tempo para pensar? 

— Bem, o que eu tenho há-de ficar para os meus filhos — disse Shannon vacilante —. Eu sou demasiado velho para mover as minhas pernas em busca de outro lugar. 

— De qualquer maneira, Shannon, não deixe de me visitar se em qualquer momento mudar de opinião. Isso, naturalmente, antes de que seja demasiado tarde. 

— Demasiado tarde, Ludlow? Para quê? — perguntou Wiley avançando agressivamente. 

— Quero dizer, antes que tenham empatado demasiado dinheiro na reconstrução do rancho. Não poderia pagar-lhes por essa casa nem metade do que vocês gastaram com ela. A mim não me serviria para nada. Boa-tarde. 

Os Shannon ficaram calados durante um bocado, depois que a porta guarda-vento se fechou nas costas de Ludlow. 

— Bem — resmungou Shannon —, que estão a pensar? 

— É curioso que a nossa casa se tenha incendiado justamente a tempo de facilitar o negócio para Ludlow. 

— Não voltes a pensar nisso, Wiley. Esquece — disse o velho Shannon. 

A ideia, porém, estava dentro do seu pensamento e ele não podia afastá-la. Ludlow? Haskell? Qualquer dos dois tinha um bom motivo para incendiar o rancho. Haskell, por vingança, Ludlow, para animar o velho Shannon a vender a manada. Restava uma terceira possibilidade: que o fogo tivesse sido casual ou provocado por algum desconhecido descuidado. Mas Wiley não acreditava. 


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