Moten, imediatamente cavalgou até onde se encontrava Barclay e deu-lhe a notícia. Barclay ordenou a Moten que reunisse os rapazes, mas os vaqueiros estavam muito dispersos naquele momento, de modo que Barclay só tinha junto de si naquela altura Moten e outro vaqueiro chamado Bates, quando o grupo capitaneado por Tompkins chegou junto da cabana.
— Ora viva — exclamou Barclay tentando ganhar tempo, enquanto os seus homens acudiam. — A que se deve a honra de ver aqui reunido tanto rancheiro.
Foi Tompkins quem respondeu:
— Deixemo-nos de rodeios, Barclay, esse gado doente tem de sair daqui e voltar para as terras de Ludlow.
—E quem o vai tirar?
— Vocês, creio eu.
— Não creio.
— Então, seremos nós mesmos quem o vai fazer. Agarraremos essa manada, vamos levá-la a Ludlow e colocá-la em sítio onde possa contagiar o resto do seu gado com a «Glosopeda». De resto, foi isso mesmo que Ludlow fez ao trazer para cá o seu gado doente. Não foi, Barclay?
Barclay, que tinha empalidecido, disse:
— Não sei o que quer dizer, Tompkins, mas vou fazer-lhe uma advertência. Não tente tocar numa só rês de Ludlow. Não tem o direito de manejar o gado alheio como se fosse seu. E depois... bem, eu não lho permitiria!
— Eu, no seu lugar, não tentaria impedi-lo, Barclay — disse o velho Tompkins, ameaçador. — Previno-o de que viemos dispostos a tudo. Diga pela última vez se vai ou não retirar o seu gado.
— Maldito seja! Não! — berrou Barclay furioso.
Tompkins voltou-se para o seu filho.
— Avante, Clayton. Vão reunir esse gado.
Clayton fez um sinal a Wiley. Este voltou-se para os seus vaqueiros e todos montaram, obrigando as suas montadas a seguir a passo em direção do vale, onde mugia a manada lastimosamente.
Barclay olhou primeiro para o velho Tompkins, depois voltou os olhos coléricos para o grupo de cavaleiros que naquele momento passava ao seu lado.
— Volta, Clayton, maldito sejas! Não dês mais um passo ou...
Barclay acionou a alavanca da «Winchester» que tinha nas mãos e pôs a culatra ao ombro, apontando às largas costas de Clayton.
Antes que Barclay pudesse disparar o velho Tompkins empunhou a sua pistola e fez fogo, do cavalo em que estava montado.
Wiley, que tinha deitado mão ao seu revólver ao perceber o ranger do mecanismo do rifle, ainda conseguiu ver Barclay, quando este dava um salto e girava sobre si mesmo caindo de costas no chão.
Todos tinham acorrido em menos de um segundo. Moten e Bates, ainda com os rifles nas mãos, olharam atónitos para o seu capataz que esperneava no pó deitando uma golfada de sangue, pelo buraco _que a bala tinha feito ao atravessar-lhe o pescoço. Clayton e os mexicanos tinham parado e davam sinais de aturdimento.
Goldbeck, Shannon, Asbury, Ross e os demais vaqueiros seguiram com lúgubre e eloquente silêncio a curta agonia de Barclay.
— Matou-o pelas costas! — gritou Moten, acusando o velho Tompkins.
Tompkins, pálido e sombrio disse:
— Ele ia disparar contra o meu filho pelas costas. Que queriam que fizesse?
— De qualquer maneira, matou-o pelas costas! — tornou a gritar Benton.
Bill Tompkins apertou os finos lábios. Shanoon disse:
— Fecha essa boca de vez, Moten, imbecil!
Moten calou-se fazendo uma careta.
Entretanto. Bates inclinara-se sobre Barclay.
— Morreu — disse ele.
Shannon, um pouco fora de si, disse.
— Ouve isto, Moten. Vais reunir os teus companheiros, rodear o gado de Ludlow e levá-lo para fora deste vale e para as suas terras.
— Não pode fazer isso — gritou Moten. — O gado está demasiado doente para percorrer uma distância tão grande. Os animais morreriam pelo caminho.
— Não se preocuparam muito com isso até agora. Se Ludlow tinha decidido sacrificar esse gado, o mesmo faz que morra aqui ou no deserto. Fora, levem esses malditos bichos daqui!
Moten olhou para Bates e fez um sinal de assentimento. Os dois, de comum acordo, pegaram nos seus cavalos pelas rédeas e começaram a descer a encosta. Pouco depois reuniam-se ao seu grupo.
O grupo manteve acalorado diálogo, pois Moten esbracejava, apontando para os rancheiros. Finalmente puseram-se de acordo e afastaram-se, começando a reunir a manada.
87
O Verão continuou com os seus dias de calor e as suas tormentas que nunca chegaram a humedecer o abrasador chão do deserto.
Na montanha, os Shannon mantinham uma luta desesperada contra a peste, que ameaçava exterminar a sua manada.
De igual maneira, ainda que de modo menos angustioso, os Tompkins e Goldbeck sustinham outra bata-lha parecida contra a peste do gado.
Asbury, Ross e Penny juntamente com outros rancheiros acudiram também a prestar a sua valiosa colaboração. A solidariedade daqueles pequenos rancheiros era admirável, e no fundo era animada por um egoísta interesse, pois que combater a peste em terreno alheio, o que faziam na realidade era contribuir no esforço comum para que a peste não se estendesse mais e alcançasse os seus próprios rebanhos.
Enquanto isto se passava na montanha, ao cabo de algumas semanas, Alphens Ludlow regressou da sua viagem. O seu pedido em San António devia ter sido atendido, pois Monroe partiu e o nome do seu Banco foi mudado por outro: «Ludlow & Haskell».
Quando Ludlow regressou, o sacrifício da sua manada estava consumado. Os animais doentes que tinham sido obrigados a sair das montanhas, pelos pequenos rancheiros, como se esperava, não conseguiram chegar nunca ao rio da fronteira das terras de Ludlow.
Um rasto de ossadas e de caveiras que o sol começava a esbranquiçar, marcava a rota por onde a pequena manada se tinha arrastado penosamente para por fim' não chegar a parte alguma...
— Gostaria de saber como recebeu Ludlow a notícia — disse Wiley um dia, referindo-se ao desastroso final da manada.
Porém ninguém lhe soube responder. Ludlow não teria sido um bom jogador se tivesse expressado cólera ou outro sentimento qualquer pelo qual o seu inimigo pudesse descobrir o seu jogo.
E Ludlow era um bom jogador. Tinha apostado muito forte numa só cartada, e estava disposto a sair vencedor. Naturalmente não tornou a mandar gado para o deserto, não querendo expô-lo a que contraísse a doença que dizimava as manadas de Tompkins de Goldbeck e de Shannon. Mas, a guerra estava declarada.
Ludlow, com o bloqueio do Banco de Monroe tinha feito uma boa jogada. Nenhum novo empréstimo seria concedido aos pequenos rancheiros. E aqueles que tivessem algum pagamento pendente seriam obrigados a liquidá-lo o mais depressa possível.
Ludlow de momento, limitava-se a esperar. Esperava que a «Glosopeda» acabasse por estender-se a todas as manadas do outro lado do rio e esperava que, uma vez arruinados, os pequenos e modestos rancheiros se apressassem a amontoar os seus haveres nos carros e a abandonar a comarca àqueles que depois deles quisessem tentar ali a sua sorte.
Isto já tinha acontecido outras vezes. Porém, desta vez nenhum novo rancheiro viria com a sua pequena manada tentar a sua sorte de criar gado onde outros tinham fracassado. Ludlow, que esperava esta ocasião, assenhorear-se-ia de tudo. Por isso Ludlow aguardava, tranquilamente sentado à secretária do seu escritório de banqueiro, tendo já montado uma fronteira junto do rio na qual tomava cuidadosas precauções que nenhuma rês atravessasse para não contaminar as suas.
Em Setembro, Ludlow esteve mais perto do que nunca de alcançar os seus propósitos. Tompkins e Goldbeck tinham todos os seus animais doentes, os Shannon tinham metade da sua manada e a peste começava a contagiar as outras manadas. Praticamente sem meios, os rancheiros continuaram sem descanso, multiplicando-se para acudir a todos os lados. Tompkins e Goldbeck perderam metade das suas manadas, os Shannon viram cair pelo menos um terço da sua, e parecia que tudo ia acabar num desastre coletivo, quando a Providência acudiu em socorro daqueles homens desesperados.
Em Outubro, por fim, a tão esperada chuva chegou em forma de tormentas com grande aparato elétrico. O céu abriu-se de par em par, caiu uma grande carga de chuva, e aqui e acolá, em todos os cantos da montanha apareceram cascatas que se despenhavam correndo pelas rochas em direção do rio.
A chuva molhou homens, cavalos e reses. Limpou os germes das rochas, lavou a• terra, remoçou o verde-escuro dos pinheiros e ativou o crescimento de novas plantas. A temperatura refrescou repentinamente, a epidemia deteve-se, os animais atacados de «Glosopeda» começaram a melhorar...
No deserto, os cactos deitaram novas flores, a erva brotou da terra húmida. Tinha chegado o momento de abandonar a montanha, para levar o gado aos seus pastos de Inverno. Mas os rancheiros prolongaram a sua estadia por mais umas semanas, até terem a certeza de que o perigo da epidemia tinha passado e não reapareceria novamente no deserto cálido.
Os Shannon deram-se por satisfeitos por ter conseguido salvar dois terços da sua manada, mas as perdas de Tompkins e Goldbeck eram realmente consideráveis quando a epidemia deixou de desenvolver-se.
Tudo aquilo agravou a saúde do velho Tompkins, muito afetado desde o dia em que tinha morto Barclay. Clayton, em vista disso, fez com que o seu pai regressasse ao rancho em companhia de um mexicano, logo que o estado do rebanho o permitiu.
Duas semanas mais tarde, os Shannon preparavam--se para abandonar o acampamento da montanha quando receberam a visita do «sheriff» de Benton. A expressão do rosto de Talbot era pouco mais ou menos igual àquela em que viera dar a notícia do incêndio do rancho de Shannon, o que fez temer Wiley que tivesse acontecido qualquer outra calamidade.
— Que se passa, «sheriff»? — perguntou Wiley, apenas Talbot desmontou. — Para que é essa cara de funeral? Será que ardeu de novo a nossa casa?
— A vossa não — disse Talbot. — Esta vez foi o rancho de Tompkins.
— Valha-nos Deus! Era o que lhes faltava, aos nossos pobres amigos. O velho Tompkins deve ter ficado muito abatido...
— Sim. Ardeu com a casa.
— Como?
— O seu cadáver apareceu carbonizado entre os escombros do edifício. Vai ser muito duro de contar a Clayton. Por isso preferi vir eu mesmo comunicar a notícia. Tu és muito amigo do jovem Clayton...
— Quer que seja eu a dizer-lhe?
Anne e Stuart Shannon chegaram nesse momento junto do «sheriff». Talbot teve de repetir a notícia, o que causou viva impressão tanto em Anne como no velho Shannon.
— Mas, como pode ter acontecido isso? — exclamou Anne. — O pobre Clayton vai ficar desesperado quando souber. Primeiro as perdas tão elevadas que sofreram na sua manada... agora isto.
Talbot assentia com mudos movimentos de cabeça. Porém o «sheriff» ainda não tinha dito tudo. O pior veio depois.
— Como se originou o incêndio? — perguntou Wiley. — Não estava o criado mexicano com ele?
— Sim. O mexicano dormia numa cabana retirada da casa...
—Compreendo. O mexicano não chegou a notar nada até que já era demasiado tarde.
— Esse pobre diabo foi encontrado estendido entre a cabana e a casa... crivado de tiros — disse Talbot como se fizesse um grande esforço para contar aquilo.
Os Shannon estavam estupefactos e olhava -se entre si.
— Meu Deus! Então... foi assassinado? — gemeu Anne.
— Pelo que parece regaram a casa com petróleo e depois largaram-lhe fogo. Quando o mexicano saiu da sua cabana e correu para a casa, mataram-no a tiro. Foi um acto de vingança, sem dúvida alguma. Não só ardeu a casa, como também as cabanas e os celeiros cercas e tudo...
— Os autores?... — perguntou Shannon franzindo o cenho.
— Não pudemos averiguar quem foi.
— Que dizes, maldição? — rugiu Wiley apertando os punhos. — Como é possível que arda um rancho... que morram dois homens e que não apareça sequer um suspeito?
— Todos nós suspeitamos de quem foi, mas não podemos provar.
— Onde estava Ludlow na noite em que se deu o incêndio?
—Estava em Benton, jogando até muito tarde no reservado do «s8. Prossegue o ataque aos rancheiros pobres
Walter Moten, que tinha passado a pertencer ao grupo de Ludlow ao mesmo tempo que Barclay, foi o primeiro a divisar o grupo de cavaleiros que se aproximava do acampamento.
Moten, imediatamente cavalgou até onde se encontrava Barclay e deu-lhe a notícia. Barclay ordenou a Moten que reunisse os rapazes, mas os vaqueiros estavam muito dispersos naquele momento, de modo que Barclay só tinha junto de si naquela altura Moten e outro vaqueiro chamado Bates, quando o grupo capitaneado por Tompkins chegou junto da cabana.
— Ora viva — exclamou Barclay tentando ganhar tempo, enquanto os seus homens acudiam. — A que se deve a honra de ver aqui reunido tanto rancheiro.
Foi Tompkins quem respondeu:
— Deixemo-nos de rodeios, Barclay, esse gado doente tem de sair daqui e voltar para as terras de Ludlow.
—E quem o vai tirar?
— Vocês, creio eu.
— Não creio.
— Então, seremos nós mesmos quem o vai fazer. Agarraremos essa manada, vamos levá-la a Ludlow e colocá-la em sítio onde possa contagiar o resto do seu gado com a «Glosopeda». De resto, foi isso mesmo que Ludlow fez ao trazer para cá o seu gado doente. Não foi, Barclay?
Barclay, que tinha empalidecido, disse:
— Não sei o que quer dizer, Tompkins, mas vou fazer-lhe uma advertência. Não tente tocar numa só rês de Ludlow. Não tem o direito de manejar o gado alheio como se fosse seu. E depois... bem, eu não lho permitiria!
— Eu, no seu lugar, não tentaria impedi-lo, Barclay — disse o velho Tompkins, ameaçador. — Previno-o de que viemos dispostos a tudo. Diga pela última vez se vai ou não retirar o seu gado.
— Maldito seja! Não! — berrou Barclay furioso.
Tompkins voltou-se para o seu filho.
— Avante, Clayton. Vão reunir esse gado.
Clayton fez um sinal a Wiley. Este voltou-se para os seus vaqueiros e todos montaram, obrigando as suas montadas a seguir a passo em direção do vale, onde mugia a manada lastimosamente.
Barclay olhou primeiro para o velho Tompkins, depois voltou os olhos coléricos para o grupo de cavaleiros que naquele momento passava ao seu lado.
— Volta, Clayton, maldito sejas! Não dês mais um passo ou...
Barclay acionou a alavanca da «Winchester» que tinha nas mãos e pôs a culatra ao ombro, apontando às largas costas de Clayton.
Antes que Barclay pudesse disparar o velho Tompkins empunhou a sua pistola e fez fogo, do cavalo em que estava montado.
Wiley, que tinha deitado mão ao seu revólver ao perceber o ranger do mecanismo do rifle, ainda conseguiu ver Barclay, quando este dava um salto e girava sobre si mesmo caindo de costas no chão.
Todos tinham acorrido em menos de um segundo. Moten e Bates, ainda com os rifles nas mãos, olharam atónitos para o seu capataz que esperneava no pó deitando uma golfada de sangue, pelo buraco _que a bala tinha feito ao atravessar-lhe o pescoço. Clayton e os mexicanos tinham parado e davam sinais de aturdimento.
Goldbeck, Shannon, Asbury, Ross e os demais vaqueiros seguiram com lúgubre e eloquente silêncio a curta agonia de Barclay.
— Matou-o pelas costas! — gritou Moten, acusando o velho Tompkins.
Tompkins, pálido e sombrio disse:
— Ele ia disparar contra o meu filho pelas costas. Que queriam que fizesse?
— De qualquer maneira, matou-o pelas costas! — tornou a gritar Benton.
Bill Tompkins apertou os finos lábios. Shanoon disse:
— Fecha essa boca de vez, Moten, imbecil!
Moten calou-se fazendo uma careta.
Entretanto. Bates inclinara-se sobre Barclay.
— Morreu — disse ele.
Shannon, um pouco fora de si, disse.
— Ouve isto, Moten. Vais reunir os teus companheiros, rodear o gado de Ludlow e levá-lo para fora deste vale e para as suas terras.
— Não pode fazer isso — gritou Moten. — O gado está demasiado doente para percorrer uma distância tão grande. Os animais morreriam pelo caminho.
— Não se preocuparam muito com isso até agora. Se Ludlow tinha decidido sacrificar esse gado, o mesmo faz que morra aqui ou no deserto. Fora, levem esses malditos bichos daqui!
Moten olhou para Bates e fez um sinal de assentimento. Os dois, de comum acordo, pegaram nos seus cavalos pelas rédeas e começaram a descer a encosta. Pouco depois reuniam-se ao seu grupo.
O grupo manteve acalorado diálogo, pois Moten esbracejava, apontando para os rancheiros. Finalmente puseram-se de acordo e afastaram-se, começando a reunir a manada.
O Verão continuou com os seus dias de calor e as suas tormentas que nunca chegaram a humedecer o abrasador chão do deserto.
Na montanha, os Shannon mantinham uma luta desesperada contra a peste, que ameaçava exterminar a sua manada.
De igual maneira, ainda que de modo menos angustioso, os Tompkins e Goldbeck sustinham outra bata-lha parecida contra a peste do gado.
Asbury, Ross e Penny juntamente com outros rancheiros acudiram também a prestar a sua valiosa colaboração. A solidariedade daqueles pequenos rancheiros era admirável, e no fundo era animada por um egoísta interesse, pois que combater a peste em terreno alheio, o que faziam na realidade era contribuir no esforço comum para que a peste não se estendesse mais e alcançasse os seus próprios rebanhos.
Enquanto isto se passava na montanha, ao cabo de algumas semanas, Alphens Ludlow regressou da sua viagem. O seu pedido em San António devia ter sido atendido, pois Monroe partiu e o nome do seu Banco foi mudado por outro: «Ludlow & Haskell».
Quando Ludlow regressou, o sacrifício da sua manada estava consumado. Os animais doentes que tinham sido obrigados a sair das montanhas, pelos pequenos rancheiros, como se esperava, não conseguiram chegar nunca ao rio da fronteira das terras de Ludlow.
Um rasto de ossadas e de caveiras que o sol começava a esbranquiçar, marcava a rota por onde a pequena manada se tinha arrastado penosamente para por fim' não chegar a parte alguma...
— Gostaria de saber como recebeu Ludlow a notícia — disse Wiley um dia, referindo-se ao desastroso final da manada.
Porém ninguém lhe soube responder. Ludlow não teria sido um bom jogador se tivesse expressado cólera ou outro sentimento qualquer pelo qual o seu inimigo pudesse descobrir o seu jogo.
E Ludlow era um bom jogador. Tinha apostado muito forte numa só cartada, e estava disposto a sair vencedor. Naturalmente não tornou a mandar gado para o deserto, não querendo expô-lo a que contraísse a doença que dizimava as manadas de Tompkins de Goldbeck e de Shannon. Mas, a guerra estava declarada.
Ludlow, com o bloqueio do Banco de Monroe tinha feito uma boa jogada. Nenhum novo empréstimo seria concedido aos pequenos rancheiros. E aqueles que tivessem algum pagamento pendente seriam obrigados a liquidá-lo o mais depressa possível.
Ludlow de momento, limitava-se a esperar. Esperava que a «Glosopeda» acabasse por estender-se a todas as manadas do outro lado do rio e esperava que, uma vez arruinados, os pequenos e modestos rancheiros se apressassem a amontoar os seus haveres nos carros e a abandonar a comarca àqueles que depois deles quisessem tentar ali a sua sorte.
Isto já tinha acontecido outras vezes. Porém, desta vez nenhum novo rancheiro viria com a sua pequena manada tentar a sua sorte de criar gado onde outros tinham fracassado. Ludlow, que esperava esta ocasião, assenhorear-se-ia de tudo. Por isso Ludlow aguardava, tranquilamente sentado à secretária do seu escritório de banqueiro, tendo já montado uma fronteira junto do rio na qual tomava cuidadosas precauções que nenhuma rês atravessasse para não contaminar as suas.
Em Setembro, Ludlow esteve mais perto do que nunca de alcançar os seus propósitos. Tompkins e Goldbeck tinham todos os seus animais doentes, os Shannon tinham metade da sua manada e a peste começava a contagiar as outras manadas. Praticamente sem meios, os rancheiros continuaram sem descanso, multiplicando-se para acudir a todos os lados. Tompkins e Goldbeck perderam metade das suas manadas, os Shannon viram cair pelo menos um terço da sua, e parecia que tudo ia acabar num desastre coletivo, quando a Providência acudiu em socorro daqueles homens desesperados.
Em Outubro, por fim, a tão esperada chuva chegou em forma de tormentas com grande aparato elétrico. O céu abriu-se de par em par, caiu uma grande carga de chuva, e aqui e acolá, em todos os cantos da montanha apareceram cascatas que se despenhavam correndo pelas rochas em direção do rio.
A chuva molhou homens, cavalos e reses. Limpou os germes das rochas, lavou a• terra, remoçou o verde-escuro dos pinheiros e ativou o crescimento de novas plantas. A temperatura refrescou repentinamente, a epidemia deteve-se, os animais atacados de «Glosopeda» começaram a melhorar...
No deserto, os cactos deitaram novas flores, a erva brotou da terra húmida. Tinha chegado o momento de abandonar a montanha, para levar o gado aos seus pastos de Inverno. Mas os rancheiros prolongaram a sua estadia por mais umas semanas, até terem a certeza de que o perigo da epidemia tinha passado e não reapareceria novamente no deserto cálido.
Os Shannon deram-se por satisfeitos por ter conseguido salvar dois terços da sua manada, mas as perdas de Tompkins e Goldbeck eram realmente consideráveis quando a epidemia deixou de desenvolver-se.
Tudo aquilo agravou a saúde do velho Tompkins, muito afetado desde o dia em que tinha morto Barclay. Clayton, em vista disso, fez com que o seu pai regressasse ao rancho em companhia de um mexicano, logo que o estado do rebanho o permitiu.
Duas semanas mais tarde, os Shannon preparavam--se para abandonar o acampamento da montanha quando receberam a visita do «sheriff» de Benton. A expressão do rosto de Talbot era pouco mais ou menos igual àquela em que viera dar a notícia do incêndio do rancho de Shannon, o que fez temer Wiley que tivesse acontecido qualquer outra calamidade.
— Que se passa, «sheriff»? — perguntou Wiley, apenas Talbot desmontou. — Para que é essa cara de funeral? Será que ardeu de novo a nossa casa?
— A vossa não — disse Talbot. — Esta vez foi o rancho de Tompkins.
— Valha-nos Deus! Era o que lhes faltava, aos nossos pobres amigos. O velho Tompkins deve ter ficado muito abatido...
— Sim. Ardeu com a casa.
— Como?
— O seu cadáver apareceu carbonizado entre os escombros do edifício. Vai ser muito duro de contar a Clayton. Por isso preferi vir eu mesmo comunicar a notícia. Tu és muito amigo do jovem Clayton...
— Quer que seja eu a dizer-lhe?
Anne e Stuart Shannon chegaram nesse momento junto do «sheriff». Talbot teve de repetir a notícia, o que causou viva impressão tanto em Anne como no velho Shannon.
— Mas, como pode ter acontecido isso? — exclamou Anne. — O pobre Clayton vai ficar desesperado quando souber. Primeiro as perdas tão elevadas que sofreram na sua manada... agora isto.
Talbot assentia com mudos movimentos de cabeça. Porém o «sheriff» ainda não tinha dito tudo. O pior veio depois.
— Como se originou o incêndio? — perguntou Wiley. — Não estava o criado mexicano com ele?
— Sim. O mexicano dormia numa cabana retirada da casa...
—Compreendo. O mexicano não chegou a notar nada até que já era demasiado tarde.
— Esse pobre diabo foi encontrado estendido entre a cabana e a casa... crivado de tiros — disse Talbot como se fizesse um grande esforço para contar aquilo.
Os Shannon estavam estupefactos e olhava -se entre si.
— Meu Deus! Então... foi assassinado? — gemeu Anne.
— Pelo que parece regaram a casa com petróleo e depois largaram-lhe fogo. Quando o mexicano saiu da sua cabana e correu para a casa, mataram-no a tiro. Foi um acto de vingança, sem dúvida alguma. Não só ardeu a casa, como também as cabanas e os celeiros cercas e tudo...
— Os autores?... — perguntou Shannon franzindo o cenho.
— Não pudemos averiguar quem foi.
— Que dizes, maldição? — rugiu Wiley apertando os punhos. — Como é possível que arda um rancho... que morram dois homens e que não apareça sequer um suspeito?
— Todos nós suspeitamos de quem foi, mas não podemos provar.
— Onde estava Ludlow na noite em que se deu o incêndio?
—Estava em Benton, jogando até muito tarde no reservado do «saloon». Depois foi dormir ao hotel. A sua mulher estava com Josephine no rancho de Haskell.
—E Moten e Bates? Onde estavam?
— No rancho de Ludlow. Mas naquela noite não saíram. Pelo menos é isso que afirma Evan Haskell.
— Evan Haskell estava no rancho de Ludlow... naquela noite?
— Sim, estava lá. Evan fez sociedade com o seu cunhado e levou as suas coisas para a casa de Ludlow.
— Claro, e você considera bastante garantia a palavra de Evan Haskell para deixar de suspeitar de Moten, Bates e dos outros vaqueiros que se encontravam com Barclay quando este morreu às mãos de Tompkins.
—Há uma espécie de conjura naquele rancho. Fui lá. Interroguei toda a gente, mas ninguém sabia nada. Não posso agarrar em Moten e levá-lo à forca sem ter provas. Principalmente, não posso fazê-lo tendo vários amigos e companheiros que afirmam que ninguém saiu de casa de Ludlow ou cruzou o rio para os lados do rancho dos Tompkins.
— Muito bem, «sheriff». E agora diga-me: que julga você que fará Clayton quando souber o que fizeram ao seu pai? — perguntou Wiley.
— Clayton não deveria fazer nada. Isso é o que alguém lhe deveria dizer, e é isso mesmo que eu quero que tu lhe digas. Ele é teu amigo. Deves tentar acalmá-lo.
Wiley Shannon refletiu durante uns segundos. Depois disse:
— Não tenho vontade nenhuma de acalmar Clayton, Talbot. Mas de qualquer maneira vou.
— Se na verdade és amigo de Clayton e desejas ajudá-lo, Wiley, farás bem em aconselhá-lo que tenha calma e paciência. Quando vários cúmplices cometem juntos um crime como o que cometeram contra Tompkins, mais tarde ou mais cedo algum deles deixa escapar um indício delator. Os que assassinaram Bill Tompkins eram vários. Mais dia menos dia eles se denunciarão.
— Está bem — disse Wiley. — Vou dizer isso mesmo a Clayton. E Deus queira que me oiça!
Minutos depois os dois homens saiam a cavalo em busca do acampamento de Clayton Tompkins.
aloon». Depois foi dormir ao hotel. A sua mulher estava com Josephine no rancho de Haskell.
—E Moten e Bates? Onde estavam?
— No rancho de Ludlow. Mas naquela noite não saíram. Pelo menos é isso que afirma Evan Haskell.
— Evan Haskell estava no rancho de Ludlow... naquela noite?
— Sim, estava lá. Evan fez sociedade com o seu cunhado e levou as suas coisas para a casa de Ludlow.
— Claro, e você considera bastante garantia a palavra de Evan Haskell para deixar de suspeitar de Moten, Bates e dos outros vaqueiros que se encontravam com Barclay quando este morreu às mãos de Tompkins.
—Há uma espécie de conjura naquele rancho. Fui lá. Interroguei toda a gente, mas ninguém sabia nada. Não posso agarrar em Moten e levá-lo à forca sem ter provas. Principalmente, não posso fazê-lo tendo vários amigos e companheiros que afirmam que ninguém saiu de casa de Ludlow ou cruzou o rio para os lados do rancho dos Tompkins.
— Muito bem, «sheriff». E agora diga-me: que julga você que fará Clayton quando souber o que fizeram ao seu pai? — perguntou Wiley.
— Clayton não deveria fazer nada. Isso é o que alguém lhe deveria dizer, e é isso mesmo que eu quero que tu lhe digas. Ele é teu amigo. Deves tentar acalmá-lo.
Wiley Shannon refletiu durante uns segundos. Depois disse:
— Não tenho vontade nenhuma de acalmar Clayton, Talbot. Mas de qualquer maneira vou.
— Se na verdade és amigo de Clayton e desejas ajudá-lo, Wiley, farás bem em aconselhá-lo que tenha calma e paciência. Quando vários cúmplices cometem juntos um crime como o que cometeram contra Tompkins, mais tarde ou mais cedo algum deles deixa escapar um indício delator. Os que assassinaram Bill Tompkins eram vários. Mais dia menos dia eles se denunciarão.
— Está bem — disse Wiley. — Vou dizer isso mesmo a Clayton. E Deus queira que me oiça!
Minutos depois os dois homens saiam a cavalo em busca do acampamento de Clayton Tompkins.
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